Ao olharmos para o sol, temos a certeza de que, ao desmaiar ao fim das montanhas ou serras, vai vir o escuro, a penumbra perfilada pelas poucas luzes, o breu. Ao olharmos a beleza, seja ela qual for seu deslumbre, intuitivamente, refletimos sobre ela e sobre o seu contrário, o feio. O mesmo nos ocorre quando temos medo de algo, e olhamos imediatamente o seu oposto... A coragem (?).
Esses dias em que passei sem escrever uma única palavra, relia o romance "Leônidas e os 300 -- Portões de Fogo", o qual, para mim, deveria ser uma daquelas obras que teríamos por obrigação em ler, reler, ler de novo, como se fosse uma oração secular. Maravilhoso livro.
Nele, o que há para apreciar, além dos treinamentos rígidos pelos quais os espartanos se submetiam com vistas a não temer as batalhas da época, é algo sem palavras. Porém, o que me deixa mais impressionado é o diálogo filosófico antes da grande batalha com os Dez Mil de Xerxes, Imperador persa, aclamado, por onde passava, como o Rei dos Reis.
Ali, apenas a nata espartana, pelos menos uns oito ou nove, já resistente ao que passaram os outros, dialogava como se nada houvesse para enfrentar, ao lado de uma fogueira, junto do seu rei, Leônidas, o qual, um misto de parcimônia e ao mesmo tempo bravura, sorria ao lado dos seus, que o admiravam como uma divindade, que, ao contrário do Imperador persa, que, debaixo de sua tenda real, observava seus soldados morrerem, o rei espartano dava aos seus conselhos, encantava a todos com seus discursos, sempre preocupado com a organização que lhes era inerente, ainda que em meio à carnificina.
Seus homens, em diálogos belíssimos, falavam sempre sobre o contrário do medo, da morte, da vida; falavam do apego ao corpo, aos entes, principalmente aos filhos, os quais, a depender de cada um, o deixaria em casa, se fosse filho único, mas, se não, teria o prazer de levá-lo à batalha junto com o pai-guerreiro, e com ele aprender as idiossincrasias da guerra.
A lógica nos faz perceber que onde há vida, há morte; onde há paz, haverá guerra um dia; nos passa a semântica natural do gelo e do fogo, da dor e do alívio. Assim, quando um ente se vai, percebemos que não apenas viveu em um terreno complexo como esse em que vivemos, mas também passará por outro, não sabemos o quanto será ameno, mas provavelmente continuará sua saga em torno de um outro mundo.
É lógica da vida.
"O contrário do medo é o Amor" (Dienekes, espartano).