quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Portas e Segredos


Já perceberam que sempre temos que abrir portas, fechar janelas, abrir caixas, fechá-las; abrir portões, entrar, fechar novamente... Não é isso? É sempre assim. Em nossas vidas, dentro de nossas possibilidades, há sempre portas, portões, cujo tamanho varia de pessoa para pessoa, de maneira que cada uma tenha sua liberdade de abrir ou mesmo pensar a vida toda em traspassá-la. Mas o tempo não lhe dá muitas alternativas. Havendo uma porta, ou mesmo uma pequena fresta, entremos, mesmo que o medo se sobreponha além de nossos cabelos.

Ter medo em abrir portas é de natureza humana, mas deixá-la entreaberta dando passos para trás, não; apenas o pânico, filho do desespero, nos torna assim. Mas não estamos aqui para falar do medo ou mesmo pânico, ou de qualquer fraqueza, e sim dos segredos que guardam portas, portões, os quais, em nós, precisam ser repensados como figuras literais do dia a dia.

Sabemos que existe um simbolismo – na realidade, uma metáfora – por trás das palavras a que concebemos diariamente, e porta é uma delas. Quando nos referimos à porta, temos um manancial de possibilidades a adequar em nossos meios. Uma delas, sabemos, refere-se a possibilidades reais de entrar em algo, em alguma coisa – não necessariamente em uma casa, igreja, enfim, e sim em algum emprego, em algum grupo, em uma sociedade específica, dentro da ideologia de cada um.

Explico: quando sua mãe diz a Deus “Ó meu pai, quando é que o senhor vai abrir uma porta para o meu filho?...” ou “Esse emprego é a porta para o seu futuro”... E assim por diante. Aqui, o termo não se perde, pelo contrário, começa a adquirir um teor além-palavra, de acordo com nossos interesses.

Pode-se, ainda, transcender conceitos dentro das próprias civilizações, as quais diziam que, na, maioria das vezes, para o jovem iniciar-se, deveria passar por várias portas (e degraus), o que não deixa de ser uma realidade dentro das pequenas iniciações pelas quais passam os jovens atuais – não necessariamente nas religiões, mas dentro do âmbito humano mesmo, em que portas, nesse caso, seria o elo das experiências nas quais, a cada maturidade, ele, o jovem, traspassaria com a dificuldade (ou não) que lhe é própria...

E o segredo além-porta? É como se o próprio Mistério estivesse à espreita, te esperando na primeira abertura de sua porta. Primeiro nos vem a dor no estômago, depois o passo que se revela frio, sem medo; depois , o segundo, o mais difícil, levando-o a repensar seus valores, seja pelo que decidiu, seja pelo que deixara no passado, ou mesmo no seu lado. O terceiro te mostra que são atitudes simples, sem a dor que pensou que teria... Daí para frente, portas se abrem, portas se fecham, portas se ocultam... mas sempre estarão lá, a nossa espera.

Temos que aprender a ler, no dentro de nossos grãos de vida, o universo que nos ronda, encontrar meios, dentro de nossas caixas, casas, cavernas, uma compreensão mais aprofundada do que somos, assim, palavras, atos, pensamentos serão mais que palavras, atos e pensamentos. Talvez, não sei, sejam instrumentos para a compreensão de algo que se resguarda em nossos corações (ou fora dele!), a fim de almejar, no simbolismo, seja das palavras, dos atos, dos sorrisos alheios (ou mesmo em sua violência), seja do próprio universo, o conhecimento pleno.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

O Divino Ócio


Eu poderia prosseguir com a distorção das palavras até o final de minha vida. Mas não posso. Tenho mais o que fazer. Todavia, gostaria de enfatizar uma outra palavra que se encaixa bem em minhas pretensões de eliminar, de vez, com esse assunto. É a palavra ócio. Não sei por que, mas me veio a vontade de falar um pouco sobre ela. Espero que gostem.

Peguei dez dias de férias – calma, eu já as havia dividido em três períodos, cada um com dez dias, portanto, estes são os últimos... – e acabei por descansar em minha humilde casa dos “mil” dias em que trabalhei arduamente. Sou servidor público, mas ao contrário do que se pensa... Trabalhamos. Não houve época melhor para se tirar dez dias: tenho meu filho, Pedro Achilles, um divino presente.

Suas palavras ainda se formando a sair de seus pequenos lábios, suas manhas, suas caminhadas (as primeiras), depois de um ano de vida; seu amor a tudo e a todos... Foi maravilhoso. Divino.

No entanto esqueci de me policiar em relação às pessoas, ao mundo, vivenciar os mitos, pensar nos grandes que nos inspiram todos os dias com sua coragem; esqueci de levar os conceitos sobre ética, moral, amor, verdade... Ou seja, esqueci de mim mesmo. Foram dez dias pensando em uma criança que precisa de atenção, mas dez dias cujos dias e noites poderiam ser aproveitados em uma vivência mais prática, em relação aos meus defeitos e virtudes.

Os defeitos, todos temos. Virtudes, não sei se as tenho. Contudo, alimento-me delas a partir do momento em que bebo um pouco de sua fonte. O costume ainda me falha. Na realidade muitas coisas ainda me falham, pelo fato eu ser um ser humano, uma espécie que busca tudo, inclusive desculpas para os erros, que, geralmente, são dos outros, não meus. Estranho, não?

O ócio vem daí. A má compreensão leva a tortuosidade prática. Isto é, dormir, comer, beber... Algo que já fazemos há milhões de anos, mas nunca deixamos de apreciá-los. O trabalho? Esse filho do desespero a que tanto chamamos de pena, escravidão vem a ser sempre o bicho papão de nossos últimos dias na terra... Que coisa, hein! Só não contamos com uma coisa, com o trabalho, seja qual for. Contudo, com ele, temos a impressão de que estamos vivos, ativos, participando de um todo. Com o trabalho, a vida existe, portanto não há vida sem trabalho, nem trabalho sem vida.

O ócio a que tanto clamamos nos torna múmias do dia a dia, nos predestinando a atos cheios de inércia, o que é um grande perigo a todos, pelo fato de que não se pode esperar pelo próximo ou mesmo pelo movimento de rotação da terra para nos movimentar em favor de algo. O trabalho, puramente dito, não seria assim a tortura pela qual passamos e vivemos. Todos na terra e no universo trabalham. As partículas trabalham, os átomos, as baratas... os vírus, todos, em com suas vocações, se voltam ao seus objetivos.

Mas os cristãos, em nome de Deus – que descansou no sétimo dia (duvido!) – nos incutem uma realidade que, desde a Idade Média, nos assombra e somos obrigados a acreditar: que trabalho é ruim. Prova disso são crianças que trabalham e são retiradas de suas tarefas e levadas ao colégio para aprender que trabalho é mau. Além de presidiários que se marginalizam mais do que quando estavam do lado de fora, mais uma vez pelo sistema acreditar que os levando a trabalhar em favor de uma sociedade que ele mesmo roubou, usurpou, corrompeu... é ruim. O trabalho virou sinônimo de tudo que é cansativo, exaustivo e triste.

Nada melhor do que levantar-se, olhar para as divindades ao nosso redor e dizer, deem-me coragem – de coração – e me faça uma partícula das que produzem, pelo ideal humano, seu trabalho, com amor e justiça. Sem ideal, não há trabalho...

O ócio, como uma forma de refletir acerca de nosso trabalho frente às divindades, é mais que uma necessidade. Ele nos traduz um segredo que há muito tentamos entender, o segredo de melhorar nossas ações, nossos pensamentos... Enfim, não pedir a Deus, mas, como em uma oração, conversar consigo mesmo, no sentido de olhar mais seu interior, e moldando, como uma pedra que esconde uma linda estátua, nossa alma.

Máscaras


Nasci sob o signo de capricórnio. Isso quer dizer que sou passivo, pacifico, nervoso, desconfiado; um grande colega profissional... E tenho também, além de todos esses quesitos, muitos defeitos, claro, entre eles o físico, o qual é incontornável...

Por que eu disse incontornável? Simplesmente porque há coisas contornáveis, ou seja, aquilo que pode voltar a ser o que era antes, isto é, bom ou mal. No nosso caso – claro que estou falando de uma personalidade, que, em devaneios psicológicos, e, às vezes, sociais, religiosos, familiares, torna-se o que não é.

Nos teatros gregos, lá no início, um mesmo personagem atuava muitas vezes dentro de uma mesma peça, trocando apenas a máscara. O que queriam dizer com isso? Dizer que a Vida é uma, uma potencialidade irrestrita, sem limites, para ser mais claro – não apenas humano, mas em todos os aspectos, os quais precisam estruturar-se, às vezes, partículas, outras vezes em grandes corpos (estruturas físicas), sejam ósseos ou não, porém, não por muito tempo. Tais estruturas em nosso caso podem ser chamadas de máscaras.

Dentro do nosso ponto de vista, hoje, seria entender que somos dotados de máscaras de uma personalidade, que sob a qual vive o que realmente somos – o próprio ser. Seríamos o que subjaz a tudo que pensamos, fazemos, clamamos, vivemos; seríamos mais aquilo do que desejamos, até mesmo o que nosso próprio signo designa, pois ele está revestindo, ou melhor, caracterizando um determinado aspecto de uma personalidade em formação.

Os egípcios lidavam com esses aspectos de maneira que pudessem intuir em vida todas as experiências presentes e passadas e canaliza-las para o ser, quer isso dizer que todas as energias eram voltadas ao sagrado, externamente aos deuses, da maneira mais simbólica possível – para entender melhor, os egípcios sabiam que a própria natureza tinha sua máscara, e que tudo era nada mais que ilusão, ao passo que, por detrás dela, existia o grande ser, o grande mistério, era simbolizado em forma de manifestações – por isso, os deuses.

Em nosso meio, teatros se mostram com resquícios de uma civilização que nos deixou um legado incontornável, a máscara que se desfaz no camarim, a máscara que se desfaz no grande teatro da vida de cada um, do qual apenas um pouco da máscara conseguimos tirar quando estamos em casa, brincando com nossos filhos, sorrindo com nossa família, nos revelando um lado passivo às vezes agressivo de ser – isso quer dizer que, ao pensar que estamos nos desfazendo de uma máscara, estamos nos vestindo de outra...

Tais máscaras são necessárias, no entanto, já que não sabemos lidar com o que realmente somos. Só não podemos dizer que somos cada uma delas, pois é buscar ser um personagem não o ator em uma grande peça teatral – que é o mundo (ou o próprio universo). Assim incorremos em erros quando dizemos, “sou bruto mesmo e não abro mão”; ou “sou incapaz e nunca conseguirei resolver nada” – são afirmações que podem com o tempo ser mudadas. Prova disso são depoimentos de pessoas que se entregam à merce de pastores, padres e deixam de ser incapazes ou mesmo brutos.

Todavia podemos afirmar que somos tudo e ao mesmo tempo nada daquilo que se relatou até agora, pois, quando nos referimos à personalidade, estamos falando de algo que, para nós, é tentar entender uma minicaverna na qual moramos desde pequeno e que só sabíamos disso depois que dela saímos por um breve tempo. Sair um pouco dessa minicaverna, relatá-la internamente, entendê-la, saber que ela tem seus desejos, e que não vive sem você é um passo quase transcendente, pois teríamos que fazer isso em forma de um exercício constante, pelo qual saberíamos nos entender um pouco, sabendo que tudo por que passamos nada mais é que devaneios de uma personalidade mal entendida. Seria o primeiro passo para uma grande jornada rumo ao desconhecido – nós mesmos. Por isso é que Platão nos diz “Conheça a Ti mesmo e conhecerás o universo” – quer dizer, na própria prática diária do conhecer a si mesmo, conhecemos um pouco de nós, essa gota no grande oceano, o qual está em nós e nós nele.

Fazer com que todos aspectos de nossa personalidade trabalhe em função daquilo que somos é necessário, mesmo por que tudo precisa de um referencial, até mesmo o filho que nasce na busca de um herói. E nessa busca eterna de um ator que possa ser o grande manipulador de nossos desejos, legados, vem-nos a luminosidade, pois já na busca pelo que somos nosso caminho se torna mais belo e verdadeiro, sem máscaras.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A Infância dos Homens


Na minha infância, os deuses atuavam com seus anjos ao meu redor, me protegendo de minhas peraltices, ou mesmo de meus atos puros, os quais, às vezes, até eu mesmo poderia senti-los a brincar comigo na ausência de amigos. Isso no inicio de minha vida, quando eu tinha uns cinco ou seis anos. Anos dourados, nos quais árvores, terras, ar e fogo eram presentes tanto quanto meus irmãos e pais.

Minhas lembranças se vão à medida que cresço, à medida que amadureço; mas não se vão em minha alma, que, volta e meia, transforma-se em criança e me faz voltar aos tempos em que a liberdade e o amor eram raízes naturais em minha família. Hoje... Não importa. E por ela relembro, simbolicamente, quem fui e o que sou.

Um episódio que me faz pensar e repensar meus valores foi o da “bacia”: eu não era um aluno disciplinado – assim como todos de minha idade (à época seis anos) eram – e sim um daqueles que eram levados pelos irmãos a uma instituição que possuía vários seres de minha espécie, cujas roupas se pareciam, os tênis, cabelos... Enfim, apenas o andado é que não se parecia. Onde havia seres maiores que nós, sentados à mesa, brincando de levar à lousa letras complicadas, pelas quais tínhamos que seguir e levar um pouco delas para casa e... interpretá-las. O que era tão difícil quanto tomar banho de cabeça para baixo, numa banheira rasa (rs)!.

Tínhamos um barraco forte, feito de madeiras fortes, importadas de cidades já feitas longe de Brasília (que ainda estava sendo feita), a qual irradiava solidão nas esquinas por falta de pessoas que queriam amigos, e sim construir, construir... E meu pai fora uma dessas pessoas, além de minha mãe, que fizera história deixando seus filhos fora das imediações fazer o que queriam – não tinha muito o que fazer senão brigar com outros de esquinas diferentes das nossas ou buscar namoradas que sabiam apenas beijar bem... Que tempo bom!

Eu, um filho que observava de longe o crescimento de tudo, inclusive das estruturas, sorria inconsciente. Apenas sorria, nada mais.

E esse ser puro e belo, que trilhava seu caminho nas ondas da natureza, subiu dentro de uma bacia com intuito de tomar um banho; nu, magrelo, tão fino que o vento não batia, esmurrava a água, deixando-a cair do outro lado, a molhar o chão – ainda não encimentado. A alegria de sentir meu corpo submerso nas pequenas ondas daquele elemento quente subia-me à mente, talvez até além dele, e não sabia. A sensação dos ventos no rosto, de ver as árvores dançando a cada gargalhada minha, a luz do sol a refletir às margens da bacia... Não sei, mas todos elementos nobres da vida pareciam comungar parte daquele cenário luminoso no qual eu, filho de não sei quem, que ia não sei para onde, a escutar sei lá o quê, santificava-se ao ponto de levitar daquele objeto em forma de cunha... Era a liberdade!

Mas não sei o que me fez “descer” às terras dos homens e correr em direção ao meu quarto e trocar-me, ou melhor, vestir-me para aquela instituição cheia de crianças iguais a mim. Não houve correrias, apenas o que me era obrigado a fazer: sair correndo, como sempre, com uma mochila de pano lotada de cadernos e livros – não sei porque até hoje, pois só havia uma aula! – e nos caminhos cheios de pedras, subidas e descidas, que, para mim, eram ruas retas e ladrilhadas, voava ao encontro da pequena carteira de madeira que me servia como luvas.

Lá chegando, não havendo professoras, ou professores em sala, sentei-me. Calado e comportado, ninguém me notou. E assim a alegria se tornou constante naquele dia divino...

A infância dos homens serve, talvez, para relembrar seus dias frente a Deus; naquela comunhão inocente em que nem mesmo o nosso nome nos lembramos. Assim foi o meu dia, o dia da bacia. Sei que todos tiveram o seu e que tentam se lembrar da vezes em que foram crianças reais (não as de hoje que já nascem com o controle-remoto na mão) e que tentam resgatar em seus filhos e filhas tal vida.

Todavia, nascemos sob signos diferentes em meio a batalhas idem, nas quais inimigos e amigos são mais diferentes ainda. E, querendo ou não, fazem a diferença na caminhada frente à consecução de nossos objetivos. Pois deles vivemos e morremos (bem... pelo menos era assim na minha época!), e vivemos e morremos. Mesmo assim, a busca continua, e viramos crianças quando pudemos e nos revelamos ridículos seres na tentativa de educá-los, engatinhando como eles, brincando de bolinhas-de-gude, etc... E, quando nos falta o sorriso, nos vem o choro de vê-los dando seus primeiros passos... É o ápice!

E quando completam um ano, descobrimos que envelhecemos, a desembrulhar, sob lágrimas, seus primeiros presentes: lá vem o caminhão grande de plástico, as bolinhas, os bonecos... Tudo que um dia ganhamos está ali, de novo, como um ciclo. Seu filho se torna você, e você se torna um deus a educar seu filho nas mesmas ondas por que passou...

As tentativas não são vãs. Mas seu filho te olha, sorri e diz, com seus pequenos olhinhos, que te ama, mas não será semelhante ao pai.

Não há importância nisso, apenas queremos que um dia ele tenha respeito à sua natureza e que tenha em seus arquivos mentais uma lembrança de um pai que o ama mais que tudo, até mais que a si próprio, e que a “bacia” será apenas uma das mil lembranças na qual deve se referenciar para não perder a sua essência, apesar do mundo que o aguarda.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Mágicas a Vista

Mágica não tem nada a ver com truques dos falastrões nos palcos dos auditórios dos circos, das tvs, e nas festas de crianças engalobalas, enquanto pais descansam dos pestinhas. A mágica nos passa todos os dias como rios inteiros embaixo dos nossos pés, e na maioria das vezes acima de nossas cabeças. Mas a maior mágica de todas está em nossos corações, quando a vemos diante de nossos olhos, que, assustados, sorriem antes dos lábios demonstrando dentes enormes, rugas nascendo, às vezes acrescidos com uma dorzinha gostosa no pé do estômago... É a mágica da vida!

Lá está ele, fiel, potente, leve como uma pluma, forte como a resistência das rochas, a nascer e a desmaiar por detrás das montanhas; na manhã, tão amarelo quanto ele próprio, e na tarde, suas cores difusas, ao sair do cenário, não relembram nada mais que ele mesmo, o sol, de uma beleza mágica, da qual se extrai todas as vivências, e da qual simbologias divinas foram retiradas há milhares de anos, ainda nos eleva com seu mistério, com a sua divindade.

A mágica do sol é apenas uma entre milhares que deixamos passar diariamente, diante de nossas barbas, o que nos torna tão frios e ranzinzas.

Hoje, entre distintos conflitos em nossa existência – entre eles, o de cunho familiar, social, profissional, até mesmo físicos e mentais, -- nos tornam longínquos moradores num mundo paralelo ao qual temos e podemos nos harmonizar, é o mundo mágico de uma natureza que nos resguarda a lua, o sol, a terra, o cheiro dela molhada, o perfume das flores, o amor humano... o ideal humano...

Um mundo pelo qual se luta apenas em teorias comerciais, nos quais interesses relativos se sobrepõem ao coletivo; um mundo que se esvai em psicologias surdas e mudas aos reais problemas humanos... Contudo o rio se vai. Sem ser atingido, corre puro, cheio de energia inata, como uma criança livre de maldades, como a consciência de um idoso que vira criança na hora da morte...e sorri. E a mágica se faz.

Todavia, podemos ainda vê-la; estamos 'apenas' perdendo o amor à mágica, mas ainda podemos vê-la, e resgatar o que nos toca a alma no seu ponto mais belo. Esquecemos as desavenças por segundos e prestemos mais atenção nos nossos filhos (pequenos mágicos), que, em pequenos, no principio de suas iniciativas, se esforçam tais quais homens grandes no subir de uma montanha, apenas para engatinhar num chão duro, sem medo da dor, nem de sujar o pequeno joelho; e nos meses que seguem sorriem com cabeçadas no chão, choram apenas de sede e fome, e com a falta de carinho – o que lhes é inerente! – disso não podemos mais chorar, e choramos! – mais tarde, na tentativa de andar, transformam suas forças mínimas, que para ele é o máximo, e caem, levantam, caem, levantam... na maior de todas as simbologias demonstradas ao ser que sofre e não se levanta. As crianças também poderiam chorar com as quedas e não quererem mais se levantar, mas o fazem e sorriem, e sorriem... que mágica é essa?!

Há mais que lágrimas desnecessárias entre os olhos e a boca nesse mundo tão frio, sem mágicas. Há o poder sagrado de um universo ao qual, fechando os olhos, podemos acessá-lo. Há a real natureza que podemos buscá-la em nós, tentando ser o que somos, no sentido mais real da palavra, e mais divino também, esquecendo uma personalidade que se embrutece com o dia a dia, moldando-a ao caminho dos milagres que nos acontecem, dentro e fora de nós.

Uma prova de que participávamos das mágicas é o Antigo Egito (há mais de dois mil anos), onde celebravam, todos os dias, o nascer do sol, o pingar das chuvas, o ciclo das estações e, por fim, o nascer da vida dos embriões das belas mulheres. Para eles, o que se via não era senão uma mera ilusão daquilo que estava por trás de tudo, isso sim era o real, o eterno. Celebrar o nascer do sol era celebrar o nascer de todos os sóis dentro do homem, aquele que lhe dava origem, vida, ação, poder... atitude, além do aparecimento da lua, que simbolizava a grande mãe de todos... A mágica realmente estava se fazendo por trás das cortinas de todo esse universo. Assim o era em todas as culturas ameríndias, e noutras e noutras... Mas será que a mágica se desfez com o tempo, com nossa ignorância? Não.

A mágica sempre haverá em qualquer parte da vida, como a própria Vida o é. Apenas o homem e seu coração mudou de rumo, e muito... Mas em nossos corações precisamos entender que podemos voltar às nossas origens e nos conectar a tudo que perdemos de bom. Não porque é mágico, mas porque é preciso.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Relembrar é Viver

Às vezes nos sentamos e relembramos toda nossa infância, nossas peraltices, nossos romances, na adolescência; nossas lutas, na maturidades... É inato a nós, seres humanos. Que bom! Não há outro ser na terra que pode sentar-se na beira de um rio e começar a sorrir sozinho – nem mesmo o mais inteligente ser dos rios, ou mesmo o mais racional quadrúpede da selva, não há. Não há nada melhor que subir em uma montanha e cruzar as pernas e sentir-se um deus e ... Relembrar.

Nossa alma voa ao encontro de um passado ainda que distante, ainda que tão perto quanto nossos botões. Arritimados (cheio de ritmos), se transformam em jatos supersônicos que, em questão de segundos, milésimos, décimos..., correm nossas visões e nos fazem meninos em busca de algo para sorrir ou chorar. E o somos. Pois, quando buscamos uma aventura, mesmo em pensamentos, estamos em busca de uma realidade tão concreta quanto nossas luas e sóis. Sim. O pensamento é concreto.

Ele modifica a estrutura óssea do homem fazendo-o vibrar, “sartar de banda”, correr e viver emoções além de sua natureza plácida. A exemplo, uma morte mal vinda que nos mata internamente, destroçando nossos corações, e por fim nossa alma, que, em busca do espiritual, recua e cai nas águas do poço sem fundo. E voltamos...

Relembrar é viver, é mais que isso: é evoluir. Transcender ao que somos, refinarmos em relação ao que fomos em outrora. Usar de lembranças talvez seja um método pelo qual podemos elevar nossas consciências e sentir “as vestes” divinas roçar em nossa alma peregrina; relembrar é religar-se a si mesmo, em práticas constantes, seja qual lugar for necessário ou não. Não existem “poréns”, nem “contudos”, apenas lições a aprender ou a ensinar e nesse intervalo sentir o corpo e a mente se unirem em favor de uma nova vida.

Hoje, em templos religiosos, os fiéis se elevam em voz alta, combinando mantras (repetidas falas) em nome de Deus, com gestos dançantes, em gritos, às vezes, em silêncio... Eles não estão tentando lembrar, mas alcançar voo com o que têm: braços, pernas – com pulos e canções alegres -- - que desmistificam o poder que temos de evoluir. Aqui fica apenas a lembrança de que foi e será bom, não a reflexibilidade consciente, interna, de uma modificação humana para melhor...

O relembrar tem a concretude de nos fazer melhor a cada dia, numa prática só nossa, seja dentro de um quarto, seja dentro de uma batalha. Prova disso é de um grande estadista na antiguidade, o imperador romano Marco Aurélio, que, durante as batalhas, escrevia suas máximas filosóficas, as quais, até hoje, servem paras as nossas batalhas diárias; além de Julio César, cujo nome o precede, que escreveu suas memórias, relembrando sempre como seguir o caminho que nos é dado pelos deuses. E ele nunca perdeu uma batalha...

Também não perdemos batalhas, aprendemos com elas. Isso nos faz eternos vencedores, mas sempre a partir do momento em que elas nos servem para uma reflexão aprofundada do que somos e como devemos agir ante ao que nos é dado. As vitórias, assim, assim, nos serão eternas.

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....