quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Castelos de Areia





Hoje, em meio a uma sociedade que discrimina, que nos separa um do outro como se fôssemos eternos doentes – leprosos (!) – o idoso se vai. Cansado, se arrastando em frente à calçada, na tentativa de ser visto e contar uma história jocosa ou mesmo séria seja para um adulto ou mesmo para um jovem sem rumo, ele vem calado, preso a seu mundo, querendo ser forte e não chorar ao vento...

O mundo é cruel. Nem mesmo os filhos e netos dão mais espaço ao idoso, pelo fato de a grande mídia acelerar o rumo da história e o fazer se perder em sua realidade, esquecendo-se de que, ali, ao seu lado, a história em pessoa claudica, quase se acabando em dores na coluna, no coração... Mas o pior é que a mesma história é uma pessoa e precisa ser ouvida, senão morre e seu castelo desaba em uma praia deserta sem mesmo alguém tê-lo visto, apreciado ou amado... A pior dor é aquela que não há médico para curar.

As ruínas, assim, se fazem. Depois de entender que somos mais cruéis que nazistas uniformizados, não queremos envelhecer. A propaganda maciça em torno do idoso é tão fria e incabível que – para os sensatos – a morte a eles já chegou. A partir do filho, passando pelos netos, família, sociedade, depois governo, observa-se que a há paredões de fuzilamentos metafóricos, nos quais nós mesmos somos o pelotão, com a pior das armas: a tentativa de rejuvenescer com plásticas, cirurgias no corpo, remédios forçosos, enfim, confrontando com a natureza indestrutível, despejando no rosto da vida o ódio de ser idoso esquecido... O ódio e a vergonha de ser velho e com conhecimento em uma era cheia de seres vazios...!

E assim, não há mágoa, nem mesmo uma lágrima. Apenas esquecimento. Como na cultura Iglu, em que os mais velhos, depois de anos, são deixados ao relento... Aqui, a cultura se faz, mas se tratando de Ocidente não temos saída... somos realmente desumanos.

Espelhos

Ao olharmos a espécie humana de forma discriminante, estamos nos vendo em um grande espelho, no qual passamos despercebidos por nossa grande inveja, egoísmo, frialdade (não a inorgânica da terra), e com uma lucidez fora do comum, quer dizer, temos “consciência do que fazemos” (!) e preferimos ser o que (não) somos; alimentar nossos defeitos, levá-los ao jantar à noite, no almoço, no café da manhã, e aos parques junto com os filhos...

Somos realmente insensatos. Preferimos retardar nosso conhecimento e viver uma eterna vida de Hilanders ignóbeis, com nossa alma antiga, a encarar nossas idades e entender que juventude não tem nada a ver com liberdades relativas, mas sim quando temos nosso espírito “banhado de ideais” – como dizia um filósofo.

Mas não é somente a juventude que decrepita ainda mais o homem. É a própria cultura pobre que nos bate à porta com seu cinismo, lembrando do idoso como um ser a ser cultivado com respeito, mas, por trás, a mesma cultura o atropela, o mata, e destrói todas as suas expectativas de vida e morte – nem mesmo a morte o quer, às vezes, pois, em seu leito, demora partir...


Civilização

Mal sabemos nós que, no passado, na longínqua Grécia, na grande Esparta, ser idoso era sinal de conhecimento, divindade. Todos eram tratados como seres divinos que andavam entre os seres normais, pois havia neles tanta juventude, em seu modo de lidar com a vida, em suas doces palavras, que jovens faziam rodas em torno deles, sempre querendo ouvir suas histórias de guerras passadas, de heroísmo, de companheirismo, sempre regadas à filosofia, ou seja, com muita humildade e amor.

Transbordavam contos, mitos, lendas de suas bocas. Seu modo de vestir era tal qual a deuses que transformavam a simplicidade em troféus. Em Esparta, a cada evento esportivo, quando chegavam velhos para a eles assistir, todos se levantavam, aplaudiam, clamavam até aquela criatura doce e ao mesmo tempo forte se sentar.

Na antiga Roma, o senado era feito de senhores anciãos, os quais eram trazidos de famílias nobres, nas quais estes eram como heróis que por disciplina e amor ao país, eram escolhidos para compor o quadro dos grandes homens do senado romano. Não era pouco. O legado desses homens era incomparável. Até mesmo quando Roma era invadida o próprio senado ficava por ultimo, não pela proteção, mas, pelo respeito dos inimigos.

Conta-se uma história que diz que, quando Roma fora invadida pelos bárbaros (de novo!), um dos senadores saiu às ruas para ver a guerra entre os homens. Um dos soldados viu aquele ser fantasticamente vestido, com uma barba branca belíssima, com uma seriedade além do normal em seus olhos, parou, ajoelhou-se vislumbrado, mas fora golpeado pelo senhor que, acima de tudo, era romano.

A Falta de Ideal

A questão, porém, é que fugimos de nossas obrigações tais quais vampiros de cruzes, talvez mais. A velhice mora aí. Na falta de atitudes em relação à própria vida, na falta de objetivos a serem realizados, ainda que estes estejam pertinho de nós; assim, nesse medo de nos depararmos com o mistério da louça lavada, da cama arrumada, das meias enroladas uma nas outras... Percebemos que o maior dos mistérios não é correr à noite, com medo dos traficantes, ou mesmo ir à lua em busca de água, não. Mas ali, em nossa casa, como o cálice do rei que mandara ir atrás dele nas grandes florestas, e que na verdade estava ali, ao seu lado... Ser velho é ter medo de experiências simples, sejam elas quais forem, ou mesmo aquelas que exigem um pouco mais de nós. Ser velho pela idade é acreditar que aquele adolescente que ‘morre’ nos sofá, assistindo à TV, é tão jovem quanto o idoso que dá voltas e voltas de bicicletas no parque, que surfa, que trabalha até altas horas e, no outro dia, nos parece um robô novinho!

Nunca, jamais deveríamos nos reportar a um senhor de idade como se fosse um ser que já terminou seu trabalho na vida, e que já se prepara para a partida final. Tenho a certeza que, partindo desse ponto, estaremos nos enganando sempre... Tudo isso são mistérios naturais pelos quais devemos passar com naturalidade, sem forçar a vida, sem querer ser o que não fomos ou não somos. Um desafio, talvez.

Os mistérios, tais qual o cálice, estão ao nosso redor, loucos para serem desvendados, como crianças que querem brincar de esconder e depois colocar a cabecinha e dizer “achô!”... Querem ser vistos e nos dar mais pistas para novos mistérios, mais, mais e mais... São infindáveis.

De volta ao nosso Século

Olhemos com amor todos eles. Olhemos seu passado, e, a partir dele, sejamos corteses, amigos, irmãos, netos... Sei lá... Mas escutemos o que eles têm a dizer, ainda que sejam coisas simples, bobas, as quais se assemelham a das crianças. Vamos rever nossos conceitos de velhice, de amor ao próximo, de juventude, de humanidade... E se ainda nada em ti modifica, lembre-se: um dia serás um deles. É a lei.






quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Vento Forte

Eu queria fazer um texto em que as pessoas se sentissem bem quando com ele se deparassem com a esperança, com a vontade, com o amor. Um texto que relatasse, sem rodeios, a luta sangrenta, porém glorificada daqueles que saem de casa, beijam a esposa e vão batalhar sob o manto dos ditadores revestidos de capitalistas os quais acreditam, naturalmente, que agem sob o manto de Deus, e que criam leis nas quais o subordinado é a cada dia que anda um escravo assalariado...

Queria dizer nesse texto, se possível, que essas gentes não estão sozinhas, não estão abandonadas ao relento dos poderes pútridos criados somente para fortalecer aquele ditador sorridente, que apanha crianças no colo, que dita o modo de vida do humilde trabalhador... que acredita que entende tudo de solidariedade ao entregar, em mãos, o lixo no final do mês.... Queria dizer que estamos aqui, nós, homens da esperança renovada, formulando um meio em que todos serão respeitados e levados, novamente, à condição de humanos.

Talvez ele – esse ditador – não saiba (ou sim), mas o humilde trabalhador necessita, urgentemente, de ferramentas emotivas, não capitais, não materiais – pois já a temos em demasia. Precisa da comunicação direta, do diálogo quente, no qual as palavras se transformam em armas para o dia a dia, não apenas o teu salário, que compra, que o faz feliz por segundos, e acaba.. Este homem, que representa a grande maioria, precisa ser ouvido, até que suas pobres palavras cheguem ao limite...

Contudo, a cada dia que passamos, nos submetemos à imagens da natureza humana violando um dos preceitos mais básicos de sua existência: a humanidade!... Não apenas em empregos lastimáveis, mas em condições subumanas (!), ou pior... Talvez estejamos em uma época em que somente nela vemos seres disputando comida com urubus, reciclando vermes, consumindo fungos, deixados aos corredores desumanos dos hospitais, pisados em multidões, rodando em mesquitas, explodindo em atentados, jogados nas esquinas...

Talvez eu esteja errado, mas a história, um dia, nos retratou humanos que se preocupavam com humanos, acima de tudo. A prova disso talvez é que, no passado, tivemos grandes mestres nos quais poderíamos confiar e dos seus caminhos partilhar. Todavia, tais mestres se foram e seus resquícios ainda gritam na história tais quais formigas na lua, o que já nos é alentador, pois alguns “iluminados” discípulos tentam, com suas forças, defender, não na teoria, como alguns em cima de uma cama com seu controle remoto, ou mesmo engravatado a falar racionalmente do que é certo e errado, mas com sua vocação em amar o povo, o humilde, o real ser que nos segura a pirâmide colossal dessa sociedade dantesca.

Queria levar essas palavras ao meu pai, que saíra de sua terrinha para se aventurar em um emprego aqui, na Capital; queria homenagear, além dele, todos os milhões de trabalhadores que morreram sorrindo em busca de um cantinho para abastecer seu amor à família – alguns mais heróis que outros, mais fortes que outros, mas todos dentro daquele contexto em que todos – posso dizer – salvaram a nação da falta de história e de moral. Sem eles, não haveria os grandes prédios, as grandes casas, as pequenas, os cantinhos escondidos dos homens de bem... Enfim, estes foram e serão homens com os quais poderemos sempre contar, pois eles nos deixaram ventos que nunca se acabam.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Jovens do Mundo


Vejo nos olhos dos jovens de hoje a refletir a saga, a vontade de viver, correr quarteirões, se envolver na vida a todo custo. Ter amizades com as quais podem se abrir, sorrir, abraçar, cumprimentar de várias maneiras (à americana, quem sabe), cheias de firulas, e, a demonstrar o físico, tatuagens, passar a mão de leve nos cabelos da menina simpática que passa na rua...

E na alma deles...

Vejo a juventude com o sol que nos bate a vitrine pela manhã, a nos dá esperança de um dia melhor. Vejo como um fruto pequeno, simples, de uma árvore bela, com folhas carregadas de um verde forte, e troncos brutos, onde o vento bate e não farfalha, apenas sorri.

Vejo ainda a juventude ao longe, vindo a cavalo – um corcel branco – abraçando a brisa no rosto, pálida, cativa, cheia de aventuras nas veias, ao galope belo em meio aos homens velhos de ideais.

Vejo a montanha ser alcançada em dois passos, sem perigo, sem lágrimas, sem esforços, apenas alcançada pelos jovens que sonham e querem realizar, a todo custo, seu idealismo interno.

Vejo a chuva chegar, molhar a terra, exalar seu cheiro, dar cor e vida a tudo, como a juventude que chega, dá vida, e exala seu cheiro. Todavia, a chuva é passageira, a juventude, não. Ela está em nós, a clamar, como nas histórias antigas, a liberdade de dizer “podemos conseguir”, e levantamos, e almejamos... E Caminhamos!

Assim como heróis do passado, como os grandes generais, como os pequenos exércitos que venceram os grandes, como pequenos injustiçados que viraram grandes homens justos, a juventude brilha em algum lugar de nossa alma, cheia de virtudes e sorri a nossa espera...

Mas no presente...

Esse ainda não é o retrato de uma juventude bela que se encontra em nossos dias, não, não é. Às vezes, para em frente a um computador, tentando bater recordes de permanência na internet, em jogos tecnológicos, nos quais guerras virtuais, brigas e até namoros à distância, é o esporte preferido deles.

Vejo-os no desgaste obscuro dos becos, trocando vidas por drogas. E no mesmo beco, prostituições, ofensas, declínio de gerações que se apegam ao vazio, caindo no fosso frio, na solidão...

Vejo músicas corromperem almas tais quais mordidas de zumbis em shows de sangue ao vivo. Vejo a morte sombrear seu presente em assaltos fúteis, em crimes simples.

Vejo a decadência fértil a cada dia nos olhos dos mandantes, nos interessados pelo estado estático de cada ser que nasce, cresce e morre revolta pelo ensino, pela religião, pelo amor à família ou por uma sociedade melhor.


Vejo a máscara dolorida no rosto dos governos, como máscaras astecas, feias, mas ao contrário destas sem sentimento ou simbologia alguns.

Vejo a estática dos jovens frente ao mundo e sua mudança, a falta de preencher as ruas em um grito uníssono em nome da paz, do amor, da justiça... Não, não há mais.

Na Esperança

Contudo... Enquanto jovem, podemos virar o jogo, ganhá-lo, levantar a taça... Demonstrar que somos livres e dentro dessa liberdade encontrar um meio de voltarmos ao que éramos antes de poluirmos nossas mentes com preguiça, depressões, agressões, corrupções, frialdades que nos consumiram e nos clamam perdedores simplesmente pelo fato de perdermos uma partida...

E depois de vencermos a tudo isso, vivamos em nome do grande espírito belo que roça nossas almas no momento de uma grande poesia, de um belo por do sol, de uma paz silenciosa, na qual até mesmo nossos pensamentos são tráfegos de carros barulhentos, mas, enfim, que podemos pará-los, estacioná-los e ver, de longe, a beirinha do oceano indo e vindo...

E quando isso acontecer, em meio a esse trânsito psicológico, respiramos e continuamos nossa aventura, a aventura de ser jovem.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A Brisa do Mal


Em uma conversa bem informal acerca de tudo, com uma colega de trabalho, fiquei pensativo com o que ela me disse sobre um homem que havia cometido um crime e que havia passado quarenta anos preso. Até aí, normal. Mas o que me fez refletir não foi isso, e sim o que ele disse ao sair da cadeia. “Nossa, como as pessoas estão diferentes. Todas andam apressadas, com telefones no ouvido, outras escutando musicas; elas não olham uma para as outras; realmente, muita coisa mudou!”.

Não sei bem se ele disse dessa forma, ou mesmo disse, não sei o nome dele, nem mesmo o crime que cometeu, mas uma coisa é certa: ele foi em cima de uma ferida que assola uma sociedade: a falta de amor, de humanidade, de carinho... Enfim, não necessariamente nessa ordem, ele simplesmente cutucou, com sua voz sóbria, com seu pensamento simples e profundo, o que se revela nas manhãs, nas noites; o que se revela no trabalho, na família, em todos os cantos do planeta onde há seres humanos: o mal que se alastra em forma de violência, de construção de cercas, de desentendimentos, de corrupção...

Tudo isso gera a separatividade – o medo do próprio ser humano. Medo de que sejamos assaltados, ofendidos, falados, presos, injustiçados, barrados, discriminados nos faz passar perto, olhar para cima, para o lado, olhar de viés, de soslaio; com o olhar para baixo... Não há como parar. É uma avalanche fria de natureza metafórica a desabar nos telhados de nossas casas.

A mãe com medo de deixar o filho brincar com o outro por causa da cor dele, ou pelo fato de ser pobre, ou pelo medo de que as crianças gerem conflitos com os quais o vizinho pode querer se intrigar... Medo da falta de educação alheia, na qual a ofensa é estandarte, e até mesmo a própria violência, em voga em qualquer lugar, se situa.

Criou-se depois do medo o pânico. Uma forma de medo maior. Com ela, não se sai de casa e se assiste a vídeos, escutam-se rádios, mas, na mesma casa, não se falam, não se amam, e se odeiam, pois ideias contraditórias geram discussões, e nelas gera-se separação de irmãos, filhos, mães... Pais.

O pânico nos trouxe a dor não partilhada. Não se fala mais em ajudar a pessoa sem que seja “pelo amor de Deus”, caso contrário, não se ajuda a ninguém... O mal está feito. Está lacrado em nossas mentes. E a construção do século da solidão se vê nas mortes organizadas em boates por jovens que desatinam a se drogar, a dançar ritmos frenéticos em nome do nada ou em nome do tudo que lhe acontece na pobre vida rica.

Lá vem o andarilho a pedir uma informação, pois está perdido, todavia vai continuar... o medo nos fez correr apressados, nos fez ter medo daquele homem com aparência sombria, medo do velho, do novo, da criança que carrega algo, pois, a depender de sua cor, pode ser que seja um pequeno ladrão – e então corremos.

Um homem caído no chão. E vai continuar caído. Não há ninguém que possa perguntar o porquê de seu estado, o porquê de ele estar ali caído, em meio a uma multidão tão fria quanto aquela avalanche.

La vai uma senhora atravessando a rua. Pega-se em seu braço. Leva-se uma cotovelada. Vem um palavrão. O medo criado pelo século dos homens maus a fez criteriosa em relação aos seres humanos. Será que estamos cegos?


A televisão nos ajuda a discriminar -- com exceção de raríssimos programas – e propagar esse mal nas ruas e vias por onde passamos; assim somos obrigados a acreditar na imprensa que determinadas cidades estão hiperviolentas e que os bandidos estão tomando conta das sociedades. Até mesmo os bandidos acreditam nisso! E juntando a fome com a vontade de comer, ninguém sai de casa, apenas o malandro a roubar seu carro, a espreitar sua casa; o bandido, a planejar o assalto a prédios, casas; armados até a cintura, a caminhar em morros, em nossa própria rua, graças às manifestações inconscientes de que o mundo é dos bandidos...

Assim, o medo é deflagrado, surtindo efeito até em autoridades que se julgam justas, mas não saem de suas casas com menos de trinta seguranças. Seriam justas, no entanto, se usassem a inteligência e desmistificasse a lenda do bandido que entra e toma facilmente; desmitificasse a lenda de que somos medrosos e que o a arma é o único remédio a uma sociedade presa em seu próprio lar.

E a cada dia, olhar para o próximo fica cada dia mais difícil. Entender suas pretensões, saber o que guarda em seu coração, saber se somos irmãos, e descobrir que temos ideais em comum, fica mais difícil ainda.




sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Involução Humana – final


Parece-nos familiar tal contexto, não? Quando nos referimos a animais, humanos, cargos, poder... Identidade, estamos em meio a uma historia que virou clássico, escrita à época do Comunismo, mas que todos hoje em dia se sentem obrigados a ler, em razão de uma série de coincidências comparadas à realidade. George Owel, escritor, traduz quase que literalmente o comportamento humano – nos animais --, o qual se ‘desidentifica’, dando margem àqueles tomarem o poder, ou melhor, tornar-se instintivo, animal – em “A Revolução dos Bichos”.

Em uma análise mais aprofundada, Owel quis dizer que estamos nos animalizando com o poder, não nos humanizando. As profissões, a depender de quem as vê, podem servir de pontes para o profano ou para o sagrado. O que significa isso?

Um pouco de Tudo

É preciso buscar um pouco da filosofia para entender. Nas culturas antigas, o trabalho era feito com sacralidade, sacrifício – quando vem de sacro-ofício, dando oficio sagrado --, de maneira que fosse um trabalho voltado aos deuses, às potencialidades responsáveis pela nossa existência, pelo nosso pão de cada dia, pela alma que temos, pelo espírito.

Nada era feito pelo crescimento profissional, e sim interno. Ou achas que as pirâmides, o colosso de Rodes, Os Jardins Suspensos, tudo que de grandioso sustenta os olhares na Europa foi feito por escravos, açoitados?! Houve sangue, sim, mas no sentido de doação, amor, sentimento de paixão aos grandes que eram elos entre a terra, o povo e os deuses – os faraós, os sacerdotes, os reis...

E na involução humana, compreender esse fato é pedir demais. E muito. Mesmo porque a palavra religião, não a palavra, mas a própria religião, passou por um período em que distorceu-se todos os seus valores, e levou consigo os pilares do mundo antigo: Amor, Verdade, Justiça.

E na busca por esses valores, buscamos aqueles que se modernizaram, ou seja, se relativizaram nas leis, a partir de erros humanos. MAS os grandes do passado também eram humanos e conseguiram por meio de suas leis universais cumprirem com os seus deveres!!

A relativização de tudo transforma os interesses universais em humanos – teria que ser o inveso; e os humanos, em mesquinharias, e assim por diante. Não há nada que possa mudar isso. Ou seja, no conto de Owel, os animais que foram determinados a tomar o poder se transformaram em humanos, porque o ser humano já teria ultrapassado a esfera de animal. Somos piores que animais, porque nada pior que um animal que fala, que pensa, que ouve, mas não ama, não têm ideais, não sonha com um mundo melhor.

Este humano – esse animal moderno – interliga-se em referenciais falhos, dos quais não se pode tirar nada, pois as sementes que neles brotam dão frutos podres.

Reversão

Contudo, podemos reverter isso. Claro. Não há problema sem solução. Há problemas que se resolvem a curto prazo, e outros, a longo prazo, e põe longo nisso! Há nesse problema de se encontrar a raiz que dera o fruto que estamos comendo. Encontrar, matar, extingui-lo, e começar de novo.

O período de humanização, infelizmente, não será possível às massas. Apenas alguns blocos de pessoas que se interessam em realizar essa façanha em buscar, entender e praticar a real humanidade – assim como poucos hoje em dia – será claramente possível. No entanto, esse bloco será responsável por um futuro melhor para a maioria, ainda que ignorante dos fatos, pois é preciso um capitão para cada barco. Um capitão que sabe para onde estamos indo, que saiba lidar com o leme, que saiba ser fiel aos seus princípios.

Na visão macro, temos exemplos de heróis que um dia comandaram a humanidade de forma maravilhosa, e que foram expoentes em sua época. Mas esses heróis acabaram e, todos os dias, nascem os falsos heróis, os falsos mocinhos; vimos a origem do interesse humano virar sistemas nos quais governantes são eleitos apenas para sentir o próprio poder; vimos e ouvimos palavras fortes como crianças e acreditamos em cada uma delas, pois não há mais nada em que acreditar senão em miragens.

Na visão micro, temos nós, esse ser complexo física,biológica e psicologicamente, mas não apenas isso. Temos uma parte superior da qual podemos extrai o nosso eu verdadeiro e nele se basear para agir e montar guarda contra os males que nos assolam. Essa parte superior, desmistificada na visão de muitos, nos ensina a ser mais compassivos, mais humildes – não como na visão cristã --, de maneira que sabemos lidar com o que é certo, não duvidoso; com aquilo que é claro, vivido, e ao mesmo templo simples, belo e justo.

Na visão universal, temos cada ser trabalhando em sua esfera, em seu ponto, em seu espaço. Nada é por acaso. A Inteligência os colocou ali, cada um em seu devido lugar, ensinando, além de tudo, que a brevidade existe, pois nada pode ser aquilo que aparenta ser e sim o que fora determinado pelo mistério.

Involução Humana


Sabe, há determinados fatos que me chamam a atenção quando, por si só, independem da Imprensa, quero dizer... Falam alto, gritam aos nossos ouvidos, bradam “O que que está havendo conosco?!”, e me incitam mais um texto. Claro que o blog não chega a ser um diário das histórias pelas quais passo, mas... Mas... Vamos à historieta.

Bem, segundo a mardita imprensa foi assim, um senhor de mais de setenta anos chegou a uma agência de uma instituição – um tribunal – e foi fazer suas transações bancárias, assim como qualquer ser mortal. Ali mesmo, na agência, havia um estagiário que trabalhava na mesma instituição em que o velhinho aparentemente simpático trabalhava. O menino, inocente, com o mesmo intuito do senhor septuagenário, entrou em uma fila, mas nesta não poderia ficar porque o caixa, segundo o segurança, estava fechado – ou com problemas; então resolveu o menino ficar atrás do ‘humilde velhinho’ (não se enganem!), e pronto.

A partir dali, o inferno em forma de pessoa se fez na frente do pobre estagiário, que, na qualidade de cidadão comum, esperava o próximo a resolver seus imbróglios no caixa, mas, perdão, esqueci-me de dizer... O velhinho, além de trabalhar na mesma instituição que o garoto, era dono dela (!). Aproveitando seu cargo, sua idade, sua lucidez, ainda que medíocre, o presidente da Instituição, virou-se para o menino e começou a questioná-lo sobre a sua existência na terra.. “O que você está fazendo aqui? Por que não vai para outra fila ou fazer o que deve ser feito em outro lugar” – mais ou menos isso --, e o humilhado, quase sem voz... “Eu estou atrás da linha amarela, senhor”... O que nos pareceu uma simples forma de dizer ao senhor que não havia nada errado, ao velho foi como se fosse uma afronta ao poder... Ao poder dele.

Depois de meditar... meditar sobre o fato, tirei a seguinte conclusão: mais uma vez, estamos passando por uma transformação psico-material-involuida, na qual seres se confundem com cargos que ocupam, com carros que compram, com o lápis que escrevem, e, antes de mais nada, com as pessoas que vivem, porém nunca com seus atos, pensamentos, enfim, com elas mesmas.

De certa forma, chega a ser natural tal comportamento. Mas ser educado dentro dele como se fosse um refúgio da própria identidade, não é natural, e sim o inicio de uma avalanche decadencial na qual estão inseridas a política, a família, a religião, a ciência, a filosofia... a sociedade como um todo, enfim, a possibilidade de isso se transformar em uma extinção humana (não literal, claro) é muito grande!

Mas não estamos percebendo isso. Pelo contrário. A educação, desde a mais precoce idade, à fase adulta, nos conduz a esse pensamento torto – e arcaico. A criança, desde já, entende, isso na visão moderna, que, ao crescer, deve ter muito dinheiro, com uma profissão não humilhante, como sempre foram vistas as de gari, garçom, balconista, etc, e sobreviver em função disso, dessa desidentificação, ou seja, idealizar algo desde o inicio de sua vida até sua morte, como se fosse a maior busca que se faz enquanto vivo!...

O pior, teorizamos, fazemos palestras, concordamos com o fato de que realmente estamos sendo levado por essa avalanche, porém, ao passar pela porta, nos esquecemos completamente daquilo que somos! E o que somos? Somos seres humanos, e podemos nos identificar com o que fazemos, com o que pensamos, com a dor que sentimos, com o amor que damos e recebemos, etc... E mais, com sol que vemos e chuva que ouvimos; com a poeira molhada e seu cheiro... Com rosa, com lágrima que nos cai ao rosto quando nos emocionamos, com nossos atos elevados!... Mas nunca com o que temos. Talvez pela maneira como o conseguimos --, honestamente ou não; com lutas ou não... Assim: nenhum carro sou eu, nenhum cargo, nenhum lápis, borracha, nem mesmo o meu filho sou eu! – digo pelo exemplo de muitos pais se encontrarem na figura do filho e restringirem seus atos baseados em suas vidas.

Temos nossas características individuais, já perceberam? Cada um levando em si a personalidade que se preparou, educou... E o próprio caráter. Os aspectos físicos são relevantes, e é compreensível se identificar com ele, mas isso é milenar, ou seja, por falta de uma educação psico-filosófica e prática, sempre nos identificaremos com nosso corpo... Nada mais natural. Agora, uma educação que está aquém do que somos pode nos tornar animais no poder, cheios de instintos, cheios de falas racionais, contudo, apenas animais disputando vagas, disputando o que não somos.

- Volto no próximo texto...

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....