terça-feira, 23 de maio de 2017

Silêncio Breve




Quando as folhas farfalham,
na brisa leve do amanhecer,
na ordem das joaninhas livres,
em pétalas cansadas de se embeber,

Um fio laranja aparece,
espantando a sombra da madrugada,
Abre teu sorriso faceiro,
corre o campo trigueiro

No ouvir da Ceres amada.
Corre se abrindo até a prima dama,
derretendo os fios de gelo,
do animal o pelo,

da vida, a esperança.
A grande alma se alevanta,
sua leveza se agiganta,
em nome da matéria bela,

tão singela quanto criança.
Os algodões se foram,
O azul se espraiou,
o prezado ali acorda,

untado à hipocrisia que o gerou.
Lá vem o homem,
e com ele a corrupção,
embriagando a vida,

em nome de tua eterna canção.
Com ele, nasce a morte,
a falta de sorte,
a dor que ao passado carcomia,

Se vão devaneios da ida,
quais féretros mal cheirosos,
se vai a história, e vem a histeria,

A alma de Deus se recolhe,
vem a noite dissaborosa,
contar aos pássaros cansados
que o ninho ainda prosa,

e dizer que esperança há
ainda que não há espera,
na calada infundada
do alvorecer...

Porque a vida é maravilhosa.


sexta-feira, 19 de maio de 2017

Rebelde com Causas

Educação sem prática não existe.



O mundo hoje passa por uma série de violações humanas tanto quanto no passado. E isso me remete a um texto em que fiz um comentário a respeito a dizer que, antes, num passado não muito remoto, em épocas de guerras civis, passávamos por coisas bem piores. Engano meu, Parece-me que, graças a racionalidade e a inteligência humana, estamos superando o passado. Não é nada que possa nos orgulhar. Pelo contrário. 

Em nome de nossas inteligências, de nossas consciências, de nossas descobertas, teríamos que ter aprendido a lidar com os mistérios do materialismos. (O que quero dizer é que) Nunca se falou tanto em interesses políticos voltados a políticos, de guerras em nome de valores aquém-humanos, de genocídios em nome de religiões, de religiões que se perdem em nome da política.

Em outrora, dispensamos tais relatividades, mesmo porque vivíamos em nome de divindades, pelas quais se viam um mundo melhor, ou pelo menos vislumbrávamos. Não tínhamos escolha, ou tínhamos, mas sempre com vistas ao respeito universal, como alunos primários olhando o professor, que sempre, ao abrir seu pronunciamento, nos ensinava tudo da vida -- do respeito ao primeiro ao último ser da terra.

Hoje, precisamos dessa educação, ou pelo menos começar, em formigas, a olhar para nós mesmos e parar de por culpa nos outros, ou mesmo em demônios que criamos. Parar de sustentar a ideia de que Deus vai nos dar, vai nos alimentar, vai cuidar de nós, e que paraísos simbólicos existem com finalidades de nos agradar no pós-morte.

A educação, atualmente, combina-se com um "buraco negro", desses que se alimentam de tudo, mas não se sabe para onde vai a comida. Isto é, apostamos nos pais para nos dar o caráter e nas escolas, universidades, a didática, a informação -- o que não seria de modo algum errôneo --, porém, a questão não se restringe apenas em descobrir onde se está o errado, mas entrar em contato com a prática, determiná-la, pronunciá-la como donas de nossa alma.

Esses dias, fui a uma manifestação que seria contra as mazelas do governo atual, em relação às leis trabalhistas, à Previdência Social, enfim, contra ao que chamo de avião sem comando... Muitos me perguntaram "Por que você está aqui? você ganha bem, ainda que tenha uma Previdência modificada, e sem falar em leis trabalhistas, você não é atingindo!"... 

Antes de sair de casa, antes de colocar minha roupa de "manisfestante", antes até dessa loucura que estão tentando nos empurrar, eu já tinha pensado em um ato como esse, não popular, dentro do que chamam de organização em massa, pensei em me levantar em prol ao grande povo, excluído, romântico, desinformado, o qual nem mesmo sabe o porquê de manifestações, apenas, como diria meu antigo cunhado... "de comida na mesa".

Não queria fazer feio. 
Mesmo em uma ação interessada como essa, me achei o máximo, o salvador, ou a pessoa mais idealista de todas, Claro que sempre nos sentimos assim, após refletir acerca do que somos e podemos fazer em prol de alguém ou de uma coletividade, e isso é bom, Nos dá ânimo para as próximas formas de realizações, pequenas ou grandes, práticas ou não... Entretanto, apenas a prática nos alimenta de esperanças quando levada a fio.

Quando nos formamos na faculdade, parece que somos pequenos deuses realizados no que nos especializamos, e percebo isso em jovens de hoje, nesses senhores do amanhã. os quais sintetizam o que sonhamos ser. Contudo, se olharmos o passado, sábios, filósofos, generais, não eram voltados a uma teoria formatada para adicionarmos à sociedade, mas tinham ideias grandiosas as quais sintetizavam o bem maior da humanidade, não apenas de uma sociedade.

No passado, as chamadas "faculdades" ou escolas iniciáticas -- como as de Platão, Aristóteles, Pitágoras, até mesmo as escolas pré-Socráticas, tinham a teoria forte, levada, cada uma, a uma prática fiel daquele presente, como era o caso das escolas Pitagóricas, nas quais o indivíduo que nela entrasse teria que passar, primeiro, por três etapas, mas a mais importante -- que eu me lembre agora -- é a dos acusmáticos, homens que ficavam calados diariamente, sem abrir a boca o dia inteiro, apenas a ouvir os mestres daquela escola.

É preciso ser assim. Mas sem violações humanas. E quando olhamos o passado, acreditamos que nele houve esse tormento, mas é pura ignorância de nossa parte, mesmo porque a compaixão, naquele momento, só existiria para atrapalhar o caráter do aluno. De caráter eles entendiam tudo.

Hoje, nosso caráter é moldado às profissões, à violência urbana, ao bulyng, ao Deus que nos castiga, ao demônio que nos espreita, ao vizinho que nos observa, ao nada, às contas que não podem atrasar... Ao que mais?... Ao nada que nos massacra ante às informações inúteis e diárias, as quais nos parecem pegas da rua, como um holofote incessante em nome do nada a buscar a mentira em tudo.

A realidade é eterna e a verdade está dentro de nós.

domingo, 14 de maio de 2017

Em Nome de Minha Mãe

Orquídea. A Rosa que a simbolizava.
Homenagem.


QUE saudades tenho daquela senhora querida que não volta mais. Que saudades das risadas, das debochadas leituras, dos sonhos nas alturas, do assobio cintilante, do amor avante, que não volta mais.

Mãe, pensar na senhora tornou-se tão necessário quanto no dia em que te vi pela última vez. Não tem importância, não acredito na morte, mas na continuação desse sonho chamado vida. O que carregamos não vai conosco, apenas a paz que plantamos juntamente com o amor que semeamos. E a senhora deixou e levou todo o amor que tínhamos, e mesmo assim, em nós, volta sempre que pensamos em ti.

Em homenagem à senhora, queria postar esse poema de Casimiro de Abreu, o qual soube transformar em palavras toda essência que a senhora tinha nessa alma enorme, e que por isso chorava quando o lia.


MEUS OITO ANOS


Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !
Como são belos os dias
Do despontar da existência !
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor !
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar !
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar !
Oh ! dias de minha infância !
Oh ! meu céu de primavera !
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã !
Em vez de mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã !
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberta ao peito,
– Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis !
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo,
E despertava a cantar !

Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
– Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Enquanto o outro não chega...

Olhar ao céu, perceber o sol. Temos que voltar a ser humanos.


Fica mais fácil  de perceber que o outro possui defeitos, mas isso não nos faz melhores do que ele. É provável que aquele tenha a mesma visão em relação a nós -- mesmo porque ele é humano, tem seus pontos de vista, opiniões, enfim, tentando buscar o que nele não há para que, depois, possa nos jogar na cara o que somos e o que não somos, baseado naquilo que observou em nós... E nós a ele.

É um jogo relativista, dentro do qual nos esquecemos de tudo, ou seja, que possuímos defeitos, problemas, e que, por isso, às vezes, iniciamos conflitos intermináveis. É um show de egoísmos! Entretanto, mais tarde, percebemos que estamos errados e refletimos acerca do que somos, e friamente sentimos a vontade mudar, mas não mudamos, simplesmente porque nossa educação milenar nos fez esperar ajudas externas, como amigos próximos, irmãos, mães, pais, Deus, enfim... Nada que não possa ser censurado, nem inibido, mas é preciso saber se livrar das algemas sozinhos, às vezes.

O medo nos toma.

Mesmo com todas as armas que nos deram, das portas que nos abrem diariamente, temos medo. É natural. Dar passos em direção "ao desconhecido", a nós mesmos, é pisar em terreno tão misterioso quanto à face de um Deus pessoal que tantos querem ver. A fuga, entretanto, não é a melhor escolha, a vontade de culpar o próximo, ou culpar entidades milenares reinventadas somente para receber o lixo psicológico humano, não é válido.Nem mesmo há dois mil anos faziam isso... Pois sabiam que os deuses, não inventados, mas rotulados por uma necessidade cultural, nãos se "metiam" em nossas vidas, e se o faziam, nada mais era que a própria consequência dos atos humanos em forma de ônus se derramando em cabeças que "desobedeciam" as leis universais...

Lei Natural

Nosso mal, o mal real de hoje, se exprime em uma forma totalitária humana em acreditar que o próprio ser que nasce é melhor do que aquele que morre, ou melhor do que o animal que anda de quatro. Melhor do que aquela pedra que cai das montanhas, do que a lei da gravidade, das estrelas, de tudo.

A hipocrisia se revela quando olhamos ao chão folhas caídas sem nossa "autorização", quando nascem estrelas, quando o sol nasce e se põe... Quando abelhas ironizam um ataque "por nada" em nossas cabeças. As leis são inatas, vieram antes de tudo, até mesmo do próprio homem, que tenta recriar um modo de realizar uma estratégia em prol de si mesmo, e ser dono do própria lei.

Assim... Tenta pular dos muros sem se machucar, pular de paraquedas o abrindo a poucos minutos do chão, andar em cordas perto do último andar dos prédios, sem a mínima proteção. O confronto com as leis naturais continua antes mesmo da morte que o comprime da parede. Ele não quer morrer.

A realidade é que nada o desafia, e sim ele o faz. A natureza nos ensina caminhos, nos dá espelhos nos quais possamos nos ver frente a ela, mudar nossos rumos, olhar para trás, consertar os erros, voltar, viver, transformar, ser bom, humano, e andar conforme as leis infinitas.

Jesus disse, "o reino dos céus está aqui, ali, até mesmo debaixo de uma pedra". 

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Em nome das mães



O MENINO QUE BEIJAVA A MÃE

Eben E. Rexforf


Na varanda do sol ela se sentava
Enquanto a rua eu descia
A prata dos cabelos emoldurava
Como um buquê a face macia
E de um jardim logo me lembro
Onde apesar da neve, do frio gelado,
Do clima cortante de novembro
Cresce tardio o lírio perfumado.

Atrás de mim, um passo ecoou
E o som de um risco cortante,
Sabia que o coração onde brotou
Seria meu apoio reconfortante
Nas horas de atribulação;
Esperançoso, forte e valente;
Pode-se contar com esse coração.
Quando não se está contente.

Virei-me ao ouvir o portão
E encontrei seu já másculo olhar;
Esse rosto me dá a mesma emoção
De um livro agradável de folhear;
Mostra um propósito vivo.
Brava e ousada determinação ---
A promessa desse rosto altivo,
Deus permita a realização.

Ele subiu o caminho cantando,
Em boas vindas, mudas como prece,
Vi os olhos da mulher brilhando,
Como a luz do sol os céus aquece.
"Voltei, mãe querida".
Exclamou, e curvou-se para beijar
A face amada, já erguida, 
Para o que outras mães não têm que a esperar.

Basta ter um menino assim ao lado.
Afirmo que é oura verdade ---
Um rapaz pela mãe apaixonado
cresce um herói de qualidade.
Os maiores corações são os que amam.
Desde o início do mundo.
E o menino que a mãe beijava 
É um homem mais profundo.

Até o outro chegar...

Acrópolis:  cidade alta.
Simbolizando o que podemos ser.

"Nunca esperamos modificações a partir de nós mesmos, sempre esperamos pelo outro", já dizia um grande palestrante filósofo com o qual tive o prazer, um dia, de ter aulas. E ele, sempre bem apessoado, com suas vestes simples, simplificava o que se passava em torno do mundo com frases e máximas que normalmente só entende quem o conhece, mas, nesse dia, pareceu-me que queria que todos o ouvisse, e exclamasse sua indignação às pessoas que reclamam diariamente e nos mantém informadas sobre o que é ela mesma... E na maioria das vezes, nós, seres hipócritas, dizemos "me desculpa, não me interessa"...

Claro que nos interessa! A vida alheia, a sociedade, o mundo, o universo, e a depender do local, até mesmo da briguinha do vizinho não nos passa batido.  Porquê? em algum ponto da História, o homem começou a se importar com o externo, no sentido de tentar entender as guerras, a política que não vai e nem nos leva lugar algum. Desse modo, as soluções se tornaram relativas, passageiras, sempre voltando à tona como monstros que mal matamos, e que nos surgem de dentro dos lixos que deixamos acumular.

Se um dia houve uma classe que se importou consigo mesmo no sentido de mudar o mundo, essa classe foi a dos pensadores e filósofos clássicos, dos quais sempre retiramos não apenas máximas, mas exemplos de modificações estruturais a partir daqueles. É o caso de Cristo, Buda, Platão, de Sócrates, e de outros homens, como generais, os quais tiveram a prudência em viver de acordo com os valores humanos.

Por quê? porque nunca acreditaram em céus e infernos, ou em um salvador da pátria que pudesse nos levar às guerras, ou mesmo ao céu físico, metafórico ou não. Ao contrário. Ou melhor, olhavam no espelho da Natureza e sabiam que seus caminhos estavam corretos, graças as respostas que obtinham quando faziam seus questionamentos a si mesmos.

Tais homens tinham suas visões acerca da política, da sociedade e do mundo, sempre distintas um do outro, contudo, assim como retas paralelas, se encontravam no final em ideais. A mudança do mundo a partir do ser humano. Mesmo porque não há outra forma de modificá-lo a não ser por nós mesmos, como se fôssemos células em uma vastidão cósmica harmonizando com o todo.

Esse todo, esse universo, como diria o grande professor, "reside em nós" -- afirmativa que até a própria Ciência copia --, mas sempre nos preocupamos primeiramente com os defeitos dos outros, não com o nosso. E isso gera profundos males como sistemas que elegem burocratas, populistas, ditadores, os quais refletem a imensidão de nossa ignorância em tentar modificar o mundo começando por fora...



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volto depois.


quarta-feira, 3 de maio de 2017

Uma Pedra no Meu Caminho

"Uma Vida sem reflexões não merece ser vivida" (Sócrates)


Entre devaneios de nossa parte, com uma personalidade cambiante, que não se fixa em galho algum, sempre nos perguntamos, "qual caminho escolhemos?". Cheios de dúvidas acerca do universo, das pessoas, do mundo -- principalmente em relação ao rumo que tomam, do nascimento e morte, o que há depois dela, se existe ou não um demo ou um Deus que nos aborreçam com seus princípios, com seus caldeirões ou tronos de ouro, sempre nos questionamos... "Para onde vamos?"... E assim caminhamos.

Os grandes de nosso tempo, que seguem a Filosofia nata do homem de bem, que seguem a Verdade como a nobre flâmula de uma bandeira que subjaz em nós, singularizam parcerias, entre a harmonia, esperança, integração, reflexão, percepção, inteligência, além de conexões com a divindade por meio de nossa singela alma. Por isso, o Caminho.

Entretanto, como nas brincadeiras, visualiza-se mais luzes foscas, não muito brilhantes de uma locomotiva a mil por hora, do que uma simples luz no fim do túnel. Aquela a representar os homens corrompidos, egoístas, interesseiros e materialistas, os quais influenciam gerações em nome de um Deus criado em um relativo templo.

Os templos, como diria Giordano Bruno, são eternos quando vistos na Natureza, onde realmente se pode ver a face divina incriada, dentro da qual mora o próprio ser humano. Neles, contudo, homens e opiniões se sentem perdidos entre ciências e religiões que desmistificam uma realidade que nos foi deixada há tempos, pelos já citados homens do passado, os quais se remexem em seus túmulos, na tentativa de levantarem-se e dizer.. "Parem, o caminho não é esse!".

O que nos cabe, por fim, é voltar ao passado, reconhecer nossos valores, reedificá-los, espalhá-los com cuidado àqueles que querem ouvir, trabalhar com afinco tais princípios junto com aqueles que se mostram formigas do céu, e fazê-los entender que o tesouro humano foi-lhes roubado, mas o mais importante não foi: nossa alma.





segunda-feira, 1 de maio de 2017

Atos Sagrados


Criou-se o dia internacional do trabalho com vistas a dar valor ao homem que trabalha honesta e dignamente. É nobre, é humano e ao mesmo tempo sagrado. E quando digo sagrado, seleciono apenas aqueles que voltam sua mente às coisas que realmente valem à pena serem  feitas em prol de algo Belo, Justo e Necessário. Sem essa premissa, qualquer trabalho é trabalho, assim como açúcar e farinha no mesmo saco. Temos que separar.


Látego  do faraó: simbolo do trabalho interno e externo


Muitos querem que sua "profissão" seja sagrada, ou seja, tenha uma pequena parcela de justiça e beleza, mas não podemos fazer isso com o próprio universo, que seleciona seus profissionais, os quais são dignos de tocá-lo. Deixe-me ser mais coloquial: não se pode ser um mafioso, que trabalha para o submundo, ou mesmo para um bandido que o faz em prol do comando de favelas; não podemos dizer que crianças que são levadas ao trabalho escravo façam para o sagrado uma atividade que alimenta donos de fazenda; além de mulheres que são levadas a trabalhar no exterior como prostitutas...

Não. Se não houver uma pitada de beleza, de justiça e ou ao menos um pouco de humanidade naquilo que se faz, não é sagrado, é profano. Ainda que Deus seja as duas partes, é preciso sempre se voltar ao lado superior da vida -- não  seu lado material  -- e sim espiritual, religando todos os nossos atos com os seres em essência no universo. Fora  isso, não é sagrado.

Se sou um catador de lixo, devo fazê-lo em prol da humanidade, com amor, com dedicação, com fidelidade ao meu ideal, que mora na natureza interna e externa do homem. Não precisa ser um racional, intelectual, um estudante, enfim, apenas a consciência de que a rua deve ser limpa, e que muitos passarão por ali com intuito de ser harmonizarem com a natureza, e o trabalho, que foi feito em prol do outro, simplesmente contribuiu para o bem de todos, inclusive do universo.

Se sou um político, tenho a obrigação de tentar entender a verdade que está por trás dos mistérios, não apenas de um determinado grupo, mas do lugar em que vivo, da própria sociedade, do mundo, sempre com os olhos voltados para cima, para o céu. Se sou político, ao descobrir a realidade da vida, tenho que tentar explicar a todos -- o que seria algo dantesco -- o porquê da necessidade de ver o que está diante de nossos olhos, escondido friamente pelos homens do passado, com interesses em formar sistemas que se desconectam com o humano.

Assim, há como se elevar em profissões que foram transformadas pelo capitalismo, imperialismo e ditaduras humanas, em atos não apenas civilizatórios, humanitários, sociais, e mais, como também em atos sagrados. É só observar ao seu redor e sentir a harmonia entre o que fazemos e a beleza e necessidade.

"Uma faca pode servir para o corte de um alimento, mas também para a morte de uma pessoa", disse um dia um grande professor, baseando-se em Platão e sua República. Ou seja, o que fazemos também tem tudo a ver com nossas pretensões em relação ao crescimento ou ao desmazelamento de uma sociedade, e por isso a escolha é tão importante.

Há aqueles, no entanto, que trabalham por necessidade, para angariar seu pequeno salário mensal, e alimentar sua família. E sabemos que o sistema atual faz nascer seres assim o tempo inteiro, de modo a distanciá-lo do que realmente se é vocacionado, e na maioria das vezes não tem volta, e morremos sem saber se realmente éramos vocacionados a algo que nos religaria a Deus. 

A solução, no entanto, mora em nós, como uma resposta que está quente como larva a espera de ser questionada. Falo da grande possibilidade de o homem em transformar aquilo que faz, vocacionado ou não, como uma uva que aparentemente não nascera para o vinho, porém quando se leva para a fermentação a pequena fruta, o vinho é tão maravilhoso quanto aquele que um dia nasceu de uma que nascera para tanto.

A resposta é fazer tudo com amor, assim como o próprio sol o faz pelos astros ao seu redor. É ter amor ao humano, a si mesmo, e buscar, na medida do possível, ver mistérios em tudo, pois eles adoram ser desvendados à medida de nosso crescimento. 

Um dia um grande amigo me disse que não acreditava em Platão, porque o filósofo disse que na República cada um teria que trabalhar de acordo com sua natureza e necessidade -- dando aqui o conceito de Justiça. Meu nobre colega entendeu que um sapateiro, ainda que na República, teria outros sonhos além de moldar ou consertar sapatos. Então, ser sapateiro eternamente não seria uma realidade viável ao ser humano.

Acho que Platão é eterno exatamente por isso. Deixou um legado a ser discutido pelas mentes mais brilhantes e ao mesmo tempo mais simples, respeitando sempre suas opiniões. Contudo, para entender uma sociedade perfeita é preciso voltar nossos olhos a um sistema que não seja capitalista, democrático, etc. É preciso  fechar os olhos para essa modernidade que educa crianças para serem advogados, juízes, presidentes, sem mesmo perguntar-lhes o que realmente amam. E se lhes respontem... "quero ser professor", se perturbam pelo salário que recebem e com o desrespeito que até hoje sofrem, dentro e fora de sala de aula.

Vocação é um capítulo a ser dado à parte, mesmo porque não é à toa que o sol é sol e nos transfere seu amor desde que nasceu. Se não temos como ser um sol ou se somos e ainda não demonstramos, graças a um sistema que reprime nossas vocações.

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....