quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Pólis, o Início

Nas obras de Platão, como podemos constatar, a política gira em torno daquelas formas de governo que nasceram, cresceram e morreram com o tempo. Algumas, no entanto, ainda padecem como velhos teimosos e se fortalecem, pela vontade, para o bem de poucos, os quais, teimosamente, se inclinam a nos enganar todos os dias.

Mas não adianta essa consciência -- de engano, advinda apenas de alguns. É preciso que tenhamos uma queda para as revoluções, como a Francesa, em que havia uma série de pensadores que auxiliaram os burgos a refletirem o que estava se passando... E viram que a injustiça, a miséria, em sua mais completa forma, em contrassenso com a vida dos governantes, batia às suas portas psicológicas e até então adormecida.

A consciência teve que vir de cima, assim como água que, derrubada pela necessidade natural e humana, veio a dar a sobriedade ao povo, que, sofrido, tomara o poder. Este e seus ideais, no entanto, como diria um grande professor, não tinham nada a ver com "Liberdade, Igualdade e Fraternidade",  e sim, mais a ver com Necessidade básica de viver em igualdade com a cúspide da pirâmide. Dali por diante, a França se tornou modelo para outras "revoluções", ainda que tomadas pelo dissenso da mente humana -- ou seja, ainda que revestida de ideais de papel.

Em Platão, a única e poderosa ferramenta de Revolução seria o ser humano. Um revolução na qual teríamos um papel essencial, se partimos do princípio que somos apenas humanos, não exemplos de poder, de força, de elementos destruidores de governos, mesmo porque o único governo seria a parte forte do homem: o elemento educador. Aqui se iniciaria a política, segundo o filósofo grego.

A Caverna

Para compreendermos tão ponto devemos ilustrar, mais uma vez, sua Caverna (no Livro VII, República), na qual vários moradores lá existem, sem nunca terem visto a luz real da vida, nem mesmo uma pessoa, e sim sombras, o tempo todo. Por quê? Uma fogueira proposital é colocada por detrás de seus ombros, como que para "iluminá-los", mas principalmente para gerar Sombras. 

Tais vultos, pelos moradores, amarrados e de costas à fogueira, são como peças reais, muito reais, de modo que ninguém os questiona. Apenas um. Este, ao sentir seu pulso roçar entre as cordas que o machucavam e ao mesmo tempo o fizeram se acostumar com a dor, fez gestos de incomodado com seu estado.

Nesse minuto, é provável que o filósofo se referia ao mestre Sócrates, a quem tanto prezava até o fim dos seus dias, e o homenageou como um revolucionário em meio a uma Democracia que não aceitava (e não aceita) questionamentos, desfaz princípios e nos prende a imagens e a seres relativamente inconstantes. Sócrates teria perdido na justiça o direito de viver por "corromper" os jovens da época, dando-lhes instrumentos para sair da Caverna -- o próprio sistema.

Na Caverna, aquele ser que se absteve de se comportar como pessoa comum, se levanta, passa por vários pontos do lugar, entende as sombras geradas pelo fogo, ganha espaço, e consegue ver a saída ao seu alcance, nada mais é que um indivíduo dentro do que Platão estabelecera como filósofo. Nesse momento, a Educação, em Platão, se inicia. Quando o indivíduo começa a se sentir incomodado, levanta-se, ou melhor, inicia a busca pela verdade, sob grilhões, intempéries, trovões, medos, quase que desacordado pela realidade que foi obrigado a intuir, pois, sabe que a verdade está perto.

A luz aparece. O sol iluminando a tudo. Seus olhos, ainda vesgos pela escuridão atrasada, abrem-se aos poucos, e seus pés, tímidos pela terra diferente, andam trôpegos, e quando menos percebe, já está livre. A Liberdade a que se refere Platão aqui é um simbolo, não o ato em si. A Educação nos liberta, claro, mas não nos faz melhores até que entendamos seu real significado: o de trazer à tona elementos criadores, com vistas a melhorar o que ainda nem sabemos o que somos, mas sabendo-o, nos faz mais sábios, mais virtuosos, mas felizes, éticos, enfim, nos dá formas para seguir, não desprezar pelo simples fato de sermos "livres".

O Sol de Platão nos remete ao Bem. Algo que o mestre só nos faz entender metaforicamente, mesmo porque não há como visualizá-lo, pelo bem do homem, caso contrário o cegaria. O Bem platônico estaria dentro do que chamamos posse da Alma, quando o próprio humano compreende que tudo está em tudo, que não há uma partícula fora do Círculo sagrado, onde tudo se cria e para onde tudo se vai.

A Política vem ao homem após a posse de sua alma, dentro do campo absoluto da vida, ao encontro das possibilidades, das ideias, daquilo que não morre. E na percepção de seu ser, o nows do homem, a parte que nos religa ao Todo, vamos ao encontro dos outros, como forma de professar (ensinar), usando o racional, sem nada excluir.




Voltamos.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Pólis

Quando das guerras entre cidades-estados na Grécia antiga, entre Esparta e Atenas, onde heróis nasceram em batalhas, e nelas morreram, o termo pólis já existia nas vozes dos grandes reis, que empunhavam espadas, com seus nobres soldados, clamando liberdade. Era preciso uma ordem, uma organização acima dos prazeres de conquista. Mais que isso. Era preciso estabelecer metas, objetivos em terras conquistadas... Era preciso pensar no povo conquistado. 

E do povo para o povo, nasceu a Democracia, termo que que significa, em grego, governo do povo para o povo. Entretanto, em consciência se iam ideais, em forma de partidos que nasciam, que se desfaziam, com homens não satisfeitos com o regime -- assim como hoje. Entretanto, havia dos filósofos insatisfeitos não apenas com o regime em si, mas com aqueles que eram injustiçados, com aqueles cuja humildade era a arma, a dor era o escudo. O povo. 

Enquanto políticos se formavam; enquanto, em paralelo, se via a deformação inicial da democracia, a semântica humana era trabalhada em prol não apenas de um ou dois povos, mas da humanidade. Era claro que passávamos por intempéries necessárias, assim como uma roldana, para rodar, se mexer, levantar um objeto, tem que se adaptar. Era o que acontecia naquele tempo. Hoje, no entanto, quando nos referimos à Democracia, parece-nos que estamos a nos referir a um sistema novo, pequeno, de ontem... 


A Democracia, hoje um sistema elástico em vários dos países europeus ocidentais, por ser "elástico", nos passa um ensinamento errado em relação a ele: que sempre está se iniciando, em meio ao caos que ele próprio propicia. Por quê? Se observamos bem, a pérola democrática nada mais é que o próprio povo, as comunidades nele inseridas, a sociedade formada por pessoas e seus comportamentos, sejam eles a favor ou contra o que se impõe. É. Na maioria das vezes, o sistema só se revela democrático quando os que o governam são democráticos -- ou seja, raramente.


Por esse sistema se mostrar tão volúvel quanto o próprio ser humano, alguns filósofos como Platão, que nascera em meio a esse meio flácido e em forma de bolha, cujos pais eram tão políticos quanto deputados que nascem na sombra de propinas, ele, o filho de "burgueses", fez uma fulgral visita a Sócrates com fins informativos, o que lhe rendeu tudo, para a vida toda. E para a nossa também.

Para Platão, que viajara a vários países para compreender o porquê dos sistemas, que um dia fora vendido como escravo, e que conviveu com os piores reis, além de ver seu mestre morrer em um regime espelhado no vaidosismo humano, do qual poder-se-ia retirar apenas a incoerência, a frialdade humana, fez várias obras ao longo de sua vida. Entre elas, "A República", na qual clama por Justiça os ideais humanos -- não apenas do povo, mas da humanidade, esse conjunto natural tantas vezes manipulado por quem deveria amá-los.

Fala em Educação, Justiça e na busca pelos valores sagrados aos quais, antes dos sistemas, eram clamados e refletidos nas cidades, nas sociedade e na face do ser humano, que sabia que do alto vinham os valores, e de baixo, a invenção de outros, em nome do interesse dos "amos da caverna".



Vamos falar um pouco desses valores ao longo dos textos.



sexta-feira, 26 de outubro de 2018

A Calçada Fria

Hoje, assim que entrei no meu trabalho, caminhando pela calçada que dava acesso à entrada principal, passou por mim um homem portando uma bíblia cristã. Seu aspecto era meio tristonho, suas passadas, ligeiras, me fizeram ficar para trás em segundos. Olhei bem seu aspecto. Era um homem de mais ou menos quarenta e pouco anos, pedindo passagem para trabalhar assim como eu. Eu, no entanto, reduzi minhas passadas, pensei e ao mesmo tempo caminhei em função de meu objetivo, aqui e agora: trabalhar.

Sei que é piegas, mas é sempre bom ter objetivos quando se levanta. Ainda que nosso racional tenha sua função quase em descontrole, nossas vontades reduzidas em meros sonhetos, que não se formam ou deformam nossas vidas, temos que levantar e pensar sempre em algo que nos edifique, nos direcione. Dizem por aí que "um caminho de mil léguas começa com o primeiro passo", é, eu acredito nisso, caso contrário, estaria fazendo meus exercícios matinais na cama...

Por os pés no chão, em primeiro lugar; entender que a terra faz parte deles, dos pés, pois sem ela não nos equilibraríamos, não firmaríamos contato com o agente horizontal vital, que nos recebe todos os dias em forma de terra, pedras, calçadas íngremes, quebradas, tortas ou não, mas sempre estão ali, tão perfeitas como a linha do universo. Por outro lado, são os braços da terra que nos acolhe quando caímos, batemos a cabeça, sangramos a demonstrar que temos sangue em nosso frio corpo...

Os pés, não chão; a cabeça, bem no alto, reflexiva, tentando dominar o humor que vem de dentro, e por ser a parte mais alta e ao mesmo tempo mais perto do céu, domina as sensações de dentro. E conseguimos. E partimos para vida, trôpegos, mas conseguimos. Saímos da esfera terrestre, entramos na psicológica, pois agora olhamos fixos os olhos humanos como espelhos ambulantes, dos quais tentamos aprender em suas falas, comportamentos, tudo, de modo que parecemos confusos com o passar do dia.

Passamos para o aspecto mais interno; não é preciso nada, apenas aprender. Se temos algo a acrescentar, que façamos como humanos que somos, não de forma virulenta, arcaica, priorizando nossos interesses sombrios, e sim nossa vontade maior de melhorar uma outra vida, ou mesmo a nossa, não de maneira não egoísta, sem centros, mas de uma forma expansiva e ao mesmo tempo interna.

Não podemos, como isso, observar o mundo de maneira como o mundo nos codifica, mas como o Absoluto é. Deixar que o racional se embebede do sol maior, cujos raios se infiltram em nossas pequenas almas, esquecer que os sistemas nasceram para a separatividade, e que o único modo de vencê-los é criar um, bem alto, que esteja distante da terra, mas não dela desconectado. Criar meios, pontes de interação entre a terra e o céu, organizar, ser práticos em seu objetivo, caminhar e dar um "oi", quando carregá-los em seu coração.

Assim, quando passarmos por alguém, deixamos rastros de nossa bondade e fidelidade ao sagrado, nos ensinando (ou mesmo aprendendo) sobre o próximo, sobre aquele que vem e que vai. Deixar de assistir a filmes bons, mas segui-los, deixar de elogiar o seguinte, mas sendo-o, com toda a forma de potência criadora que nascera para dizer com todas as palavras, "tudo bem com você?", não pelo automatismo frio que nossos pais nos ensinam, mas pelo que somos e pelo que nos importamos, dentro do nosso âmbito humano em busca dos mistérios que Deus nos legou.



Que assim seja!

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

A Mesa, o Forro e o Jarro

Um dia um mestre de filosofia eloquente*, perspicaz em suas belas colocações,  a prescrutar os olhos de seus convidados, e com ele o microfone enorme de uma década que me parecia mais a da Segunda Grande Guerra, nos disse em uma de suas palestras maravilhosas, em Buenos Aires, Argentina... "Mais do que nunca temos que observar que estamos nos distanciando pelas diferenças, mesmo sabendo que não existe uma partícula universal uma igual a outra. Nos detalhes de cada espaço, de cada princípio, há a diferença que embeleza, que une, refletindo o belo necessário ao homem".

Falava o grande general da palavra, que, em sua humildade não cristã, salientava em poucos segundos o que éramos e não éramos, o que refletia uma época e o que nos fazia separar do que necessitávamos para prosseguir como humanos. É certo que soava como cristal em nossos ouvidos, e mais certo ainda era a certeza de que ele não estava errado em suas colocações por mais que buscássemos nas entrelinhas semânticas que criava, como mágica, iluminando nossas almas.

Prosseguia... "Se temos uma mesa, forrada com um pequeno pano, e em cima dela um pequeno jarro que a ornamenta, podemos dizer que há três elementos que edificam nossa mente, pois não transgridem realidade alguma, mas edifica, embeleza, harmoniza, e posso dizer que criou-se algo que religou-se com o universo, pois se reuniram forças que equilibraram uma parte dele"...

Vi que o universo ao qual se referia não era o meu universo, nem mesmo o de todos ali, mas a junção de todos os universos que se equilibram com fins puros e desinteressados, mesmo porque não havia alguma inteligência que espreitasse ou tentasse estabelecer critérios dentro do detalhe exemplificado ou fora dele. Quero dizer que, desde que nos direcionamos a algo, com fins de equilíbrio, caímos em esferas humanas, as quais sintetizam o que a própria razão -- as vezes maculada -- se direciona e nos faz acreditar que estamos corretos.

Quando o grande e sagrado filósofo expôs seu ponto de vista quanto ao equilíbrio de forças, estaria, claro, em sua razão elevada, voltada aos princípios sagrados, assim com um faraó em suas petições aos deuses, com fins de melhorias ao seu povo; estava além. Costumeiro a ser impiedoso, no melhor sentido da palavra, o mestre sintetiza ali o que realmente precisamos, "urgente!", como ele mesmo sempre dizia, de reunir as diferenças com fins de embelezar o universo, a vida, em meio a um caos que formamos há séculos.

Mas não é fácil. 
Somos dotados de uma máscara impiedosa que nos fecha os olhos e nos abre brechas traseiras, sempre a observar a parte traseira de nossos passos e não o futuro, o que nos dificulta em realizações e até mesmo em compreender o que mestres, não apenas esse, nos passam com suas chaves, com seus brios e palavras, e certezas que, sem certeza, não as ouvimos.

de Volta

A mesa ainda estava lá, como princípio; o jarro embaixo do pano, e nossos olhos, arregalados, não sabiam o que dizer, nem mesmo fecharem-se, pois tínhamos medo de perder a beleza das explicações acerca de um mundo melhor, com homens integrados, harmonizados apesar das diferenças; medo de sair dali e não mais ouvir aquela voz contundente, forte, firme, soando tal qual uma sinfonia de Wagner em meio às batalhas.

O medo se foi, e vimos que era possível. A mesa e seus elementos que a compunham na concretização da beleza demonstravam não apenas nossos corpos sujos pela moda incoerente e sua falta de respeito à natureza, mas principalmente o universo humano em que residimos, presidimos e mal sabemos com ele lidar pela falta de "tempo"... 

Mal sabemos que o tempo não nos falta, mas nos sobra, até mesmo nos ensina, pois quando se envelhece, quando se percebe que a pressa é a nossa maior inimiga, já é tarde -- por isso, o medo. Não precisamos ter medo, mas sim, olhar atentos ao que está por trás de cada elemento vivo, saber o que nos trás, o que há em sua sombra... Não é difícil, mas urge buscarmos a beleza no equilíbrio, nas forças antagônicas, sejam elas com fins internos ou externos, porque se decaímos em modas que dizem que organização, ordem e equilíbrio nada mais são que coisas arcaicas, que o que vale é ser feliz... desconfie.














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*Jorge A. Livrarga

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

O Véu da Beleza

Com tudo que está nos acontecendo, com todos os véus do terror nos cobrindo a alma, o que podemos fazer?... As flores ainda são belas, o sol ainda nasce tranquilo, as cascatas são livres a cair, como véus de noiva ao chão, mas nossos olhos, tão fatigados de terror, se desvencilham da beleza como que por fuga de uma realidade que temos que abraçar; no entanto, crises políticas, religiosas, familiares, sociais, em todos os âmbitos, elevam nossa frialdade pessoal, a decair nossa vontade, nossos passos em direção ao Céu.

A beleza está ali, presa, pétrea, a espera do homem a ser enxergada não somente como um valor, mas como uma necessidade de se ver, elevar e degustar do mais simples pedaço do paraíso que se resguarda, com certeza, dentro de cada um, e ao mesmo tempo esvoaçante, em suas árvores, tais quais cabelos de mulher, ou mesmo um rio puro, intocável, a espera de um vento que o desvirgine, e sorri aos pés do homem simbolizando a horizontalidade da vida, da matéria cíclica e bela.

É por isso que não podemos nos influenciar pelo não belo, pelo apenas "bonito", ou mesmo modernismo sem pernas, como em quadros nos aparece a demonstrar as dores do homem e às vezes de uma civilização que um dia sofreu, nos instigando a pobreza interna, ou como diriam os especialistas, o que é de mais "necessário..." em nós. O terror em nós se edifica assim.

A Beleza deve ser contada em forma de poesias, contos, de mitos, lendas e heroísmos, vista em forma de quadros belos nos quais o próprio ser se encontra, ou um pouco do que somos, em nossa consciência mais pura e virgem. Tomar cuidado com a beleza em forma de violência, que nos desfaz o que plantamos, colhemos e historicamente ressarcimos em nome da paz; procurar, nas mínimas coisas, o que nos satisfaz não externa, mas internamente, ainda que seja difícil para um invólucro acostumado à maldição de músicas hediondas, de peças e obras inexatas, nas quais a pobreza, o mal, o desamor, a sexualidade predominam, simplesmente pelo fato de que personalidades não entenderem o porquê da força humana em ser simplesmente humano.

Isso não se encontra em sistemas. Talvez em um: o nosso. Um sistema feito de Justiça, Beleza e Verdade, como sempre o diziam os mestres antigos os quais sempre salientaram que somos aqui o que reflete lá em cima. É verdade. Platão disse um dia que a terra é como um ser, um grande ser: tem alma, corpo e espírito, e nela estamos como engrenagens naturais, minúsculas, assim como uma grande máquina possui seu parafusos, ruelas, mecanismos que não se podem mexer -- e Aristóteles, mais tarde, copia isso de forma literal ao mundo.

Na verdade, o que move a tudo além do físico são os ideais que temos em relação às estrelas, aos céus, à terra, a tudo. Todos os ideais se encontram, assim como paralelas einstenianas que se unem no final, porque todas elas, diferentes, se assemelham e se unem em prol do crescimento espiritual do mundo.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Projeto Absoluto

Quando Platão se laçou a moldar a República, tinha em seu tempo um sistema que precisava de um referencial, assim como hoje, mas a questão é que não temos mais filósofos, e sim teóricos temporais que se embananam com figurinhas ideológicas, como adolescentes na busca por pêlos perdidos. 

Difícil culpar alguém ou uma época por isso, simplesmente porque temos muito que aprender e a discorrer sobre o que podemos fazer para salvar a humanidade de certos cupins constroem suas casas em cima de nossos ideais, sempre desmistificando o que falamos, pensamos, amamos...

Porem, há uma saída: a busca pelos ideais humanos. Não relativos, mas absolutos! E quando nos dirigimos à palavra "absoluto", temos que ser capazes de olhar para cima, não para baixo ou para o lado, mas para cima, de modo que nossas experiências, vontades e sonhos sejam mais que "sentimentos" e sejam, num futuro distante, parte de um universo que tanto buscamos.

Nosso mestre Platão sabia disso. Ao nos direcionar aos valores Justiça, Beleza e Verdade, expressos magnificamente em suas obras, preconizou mais que todos os outros de seus tempo -- claro: baseado em outros mais astutos e conhecedores do ouro sagrado, --, além de pesquisar, estudar, tais valores, viu que teria que fazê-lo de modo racional e ao mesmo tempo intuitivo, com vistas sempre a traduzir as eras nas quais o próprio homem teria dificuldade em seguir com sua sabedoria libresca e quem sabe observar as estrelas, ou melhor, o que ele, Platão, e os mestres do passado teriam deixado como forma de referências sagradas à renovação humana.

E aí que entra o absoluto --, não de forma teórica, mas precisa, clara, prática, e sim ao mesmo tempo ditadora (no melhor sentido da palavra), pois a elasticidade dos sistemas faz com que o ser humano invente valores, e invente, como diria muitos, modas como forma de seguir alguma coisa sem que precise ser comandado por alguém ou mesmo por leis mais rígidas. A rigidez aqui não se trata de militarismo, muito pelo contrário, trata de um equilíbrio constante das leis que não mudam desde que aparecemos no mundo...

A questão é que não aceitamos leis rígidas, mas queremos que nossos filhos a sigam quando são encontrados caídos em meio a vários que tomaram sua cerveja ou mesmo drogas pesadas no meio da multidão; detestamos leis, mas odiamos quando ao contrário da punição vem o ato de perdão àquele que cometeu feminicídio, homicídio, genocídio... Sabe por quê? porque possuímos leis e não sabemos.

A partir de lógicas semelhantes, filósofos construíram legados em favor de uma melhor estrada, de um melhor caminho. Foi assim, olhando para o alto, que alguns de nós se tornaram heróis reais, pois não os interessava sua casa ou cavalo morto, mas o espírito absoluto em torno desse universo cujo nome ainda não sabemos.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

O Capitão e a Caverna

Sabemos que é preciso que haja reformas em um país em crise para que possa retomar seu crescimento econômico, político e social. Tais núcleos, no entanto, são organizados a partir de políticas independentes, as quais, sabemos, são compostas por líderes partidários, convidados a fazer parte daquela "pasta" (ministérios) sempre com vista a melhorar aquela área. Mas a realidade é outra.

Não há uma outra supervisão: o convidado não tem experiência em lidar com o que trabalha, nem mesmo de longe ele sabe supor como organizar pessoas competentes em sua assessoria para, pelo menos, desfazer o primeiro erro. A escolha sempre se é feita com vista ao partido, ao interesse genérico, nunca se faz em nome de uma organização que vai iniciar um processo de equilíbrio, ainda que provisório -- sim, porque as forças interesseiras são imensas na grande maioria, e isso perpetua a incompetência do líder maior.

É o "capitão" de Sócrates no navio que citara um dia quando fazia referências à Democracia, que trabalha com indivíduos sem a educação própria voltada ao cargo. É a escolha do capitão por maioria, mesmo sabendo que seu amor às águas e ao próprio barco são quase nulas; é a reverência a um estilo que se iniciou logo após guerras nas pólis gregas, quando as cidades estado estavam em guerra, e perceberam que a imposição por meio do voto faria com que houvesse a sincronia necessária para iniciar a integração das forças.

Não estavam errados. Mas se colocarmos esse exemplo hoje, como se fosse a saída para uma realidade que precisa mais do que estruturas, vamos começar a refletir sobre o que é democracia, o que é política e qual é o papel dos tripulantes, ante a um capitão que nascera para vender cachorro quente na esquina.

Vamos mais. Vamos começar a entender que na Grécia clássica havia mais que políticos, havia filósofos que participavam ativamente do sistema, a dar opiniões profundas sobre para onde devia o navio ir e aonde devíamos chegar. Pois a necessidade não era apenas objetiva, mas humana.

Quando Platão, há dois mil anos antes de Cristo fizera a República, já iniciara suas críticas ferrenhas em relação a um sistema homicida, no qual seu mestre, Sócrates, fora uma das vítimas, simplesmente pelo fato de engendrar na mente dos jovens um fator que, na Democracia de sempre, é perigoso... O questionamento.

Sobre isso, Platão escreveu em homenagem ao seu mestre (não só nesse quesito) uma à parte no livro VII, a referir-se ao sistema que fazia com que pessoas que elegiam o próximo com base em opiniões de terceiros, manipuladas, como seres que viviam na eterna escuridão, presas, algemadas, mas ao mesmo tempo acostumadas ao que estavam vivenciando mesmo porque nunca tinham visto a luz do sol.

A política platônica inicia-se a partir do momento em que um indivíduo começa a questionar as algemas, tenta soltá-las e por fim, na noite, se vai. E continuando com seu trajeto em nome da intuição, percebe que a caverna tem uma saída, que luzes que vão dar a uma vista esclarecedora em relação ao que tanto internamente pedia: liberdade.

A luz do sol, a natureza, tudo lhe serve para voltar e fazer do seu ideal uma outra realização, a dizer que ele estava certo, que havia uma saída, além das opiniões, das sombras, das medalhas, da política, das limitações impostas, de tudo: aqui, segundo o mestre Platão, inicia-se-ia a Política, toda voltada ao ser humano, em ensinamentos, em práticas, em sólidas formas de educar (tirar o que há de dentro), assim como um novo nascimento. Por isso ele fez a República.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Construção

Estar vivo, olhar para os céus, andar às seis da tarde, sob um sereno que nos encobre pelos raios de um sol que se vai; conversar com as árvores, prometê-las proteção; olhar a vida de longe, de perto, de dentro. Fechar os olhos, pensar em Deus, naqueles momentos embriagantes de risos com a família, com os amigos e, por fim, saber que em sua casa um lindo filho te espera com um sorriso maroto, louco para disparar brincadeiras que aprendeu no computador...

No lugar em que moro, não há muito o que ver, ouvir, apreciar, mas cada detalhe que percebo é como se eu estivesse vendo um pouco de mim. Ali eu nasci, percorri campos, corri em lixos, caí, me machuquei, levantei, chorei ao colo de minha mãe, fui para o colégio sujo, com roupas pequenas, que mal me cabiam, além de cuecas engraçadas que caíam sob meu calção. Fiz melhores amigos, que, hoje, se espalham pelo mundo em busca de seu básico...

A vida é bela.
Estou vivo e vivo para sempre, assim como guerreiros que não se cansam de lutar em prol de algo maior que a si mesmo, junto ao seu povo, em nome de um valor que por si só nos faz levantar espadas, correr campos, encontrar amigos em batalha, abraçá-los, envolvê-lo no ideal e quem sabe amar uma pequena e graciosa mulher após a vitória.

Sim, a vida é luta, vitória e amor, e sangue em nome de liberdades que foram ultrajadas, além das arbitrárias e coletivas. É poder. A vida não é um mito, mas em mitos se entende a Vida, essa expansão que a cada dia nos leva e traz, como elásticos psicológicos, emocionais e espirituais. Mais. A vida é fogo que se queima rápido, aqui, ali, acolá, nos transformando, elevando, pulsando e nos levando ao extremos dos pensamentos gentis, ao passo que nos envolve em seu manto gelado como água de torrentes violentas, sob as quais nos sentimos como crianças à beira de morrer de alegria, ao mesmo tempo em perigo pelo abismo em que nos encontramos.

A vida é teatro puro: um dia estamos perdidos em uma cena, chorando feito donas de casa que perderam os filhos, e noutra cena, estamos enjaulados à nossa ignorância, sem nos darmos conta de que há uma outra realidade mais bela e infinita atrás de nós... E quando percebemos, acabou a cena, o teatro se desfaz e se muda para outro lugar, como se estivéssemos presos a ele desde que nascemos -- e estamos.

Por isso, precisamos pensar onde estamos, por que lá estamos, e o quê precisamos fazer para compreendê-lo, de modo a harmonizá-lo, vivê-lo, senti-lo como nunca. Sair deste lugar, sem entendê-lo, sem ir a fundo tem suas consequências e não nos faz menos materialistas, ou mais budistas, e sim fugitivos de nossos ideias. 

A vida é construção , para cima e avante!

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

A Flauta Mágica (fim)

A postura humana não só nessa época de promessas, mas em outras eras também, é de tentar ouvir a esperança em forma de palavras, de música, de amor. E tal comportamento sempre será quando uma era se mostra em pedaços, sem saída, à beira do precipício, com a figura do homem caindo em pedaços e na maioria das vezes em desespero...

Daí, nos aparece a flauta de alguns a prometer levar os problemas, as dores, o ódio, a melancolia para bem longe, como que por encanto. Muitos disputam, por meio de palavras belíssimas, quem dá mais esperanças, quem é o super homem, a mulher maravilha, quem vai realmente salvar a humanidade ou mesmo aquela sociedade, aquele país.

Não se sabe. Promessas sobem, humanos descem. Tanto aquele que nunca se mostrou ao povo quanto aquele se mostrou sempre um grande homem, se igualam, se emparelham. Não há ideias, não há estrutura, não há nada, apenas palavras em disputa, semelhantes a repentes nordestinos que se avermelham em sua moda, com versos novos, fazendo sorrir o transeunte que passa, que olha, que pensa e diz "que lindo".

É a era da flauta mágica, época de retirar os ratos, de chamá-los de homens e homens de ratos; é a era da esperteza, na qual somente aqueles que se inclinam a fazer o trabalho sobrevivem. Este trabalho, no entanto, poderia ser feito por todos, mas estão sempre cansados, politizados, presos a uma ideologia que diz, "vamos esperar para ver o que vai dar, de repente ele pode tirar os ratos mesmo",  segundo a ideologia do sistema que não admite que façamos, mas esperemos que alguém sempre o faça para nós.

Um sistema que nos faz preso a ratos, a chamar outros ratos para retirar aqueles; um sistema que não faz questão ver a verdade por trás das cortinas, onde se trama a má política, a má religião, a qual, também presa à política, se faz notória criadora de ratos até maiores que os antecessores, e assim, nos engando ciclicamente durante tempos.

O rei, a consciência de cada um, deve preservar seus sentidos em prol da verdade, do amor e da temperança, a qual rima com esperança, mas não a dos homens que gostam de inventá-la somente para preservar seus interesses, mas sim aquela do verbo esperar, e ao mesmo tempo agir de forma grandiosa, sempre baseado em princípios universais, não aleatórios.

O povo, como nossa personalidade dual, diversificada, deve buscar um ponto em seu centro, dentro do reino - seu caráter -, levá-lo à luz do conhecimento interno com vista a trabalhar externamente junto ao próximo, sem o qual não produziríamos nada. Assim como diria o mestre Platão, temos que buscar o ser humano, pois, ainda que parecemos, não o somos! temos braços e pernas, cabeça, tudo que nos leva a crer que somos humanos, mas isso não nos faz o que aparentamos ser, pois o que somos é algo absoluto, não relativo.

Vamos desatar o nó de nossas cordas em nossos pescoços, retirar as algemas de nossas mãos, vamos levantar de nossas cadeiras, vamos trabalhar contra os ratos, não contratar mentirosos, ou pelo menos votar em ratos, pois não merecemos tal filosofia. Precisamos sim de humanidade, então procuremos homens que falem em valores reais e universais, que pratiquem a humanidade entre os homens e o resto vem com o tempo.




A Flauta "Mágica"

Sempre gostei dos contos. Um atrás do outro eu lia quando os descobri  tardiamente em minha vida. Descobri que o sentido de cada um tem uma grande profundidade na vida do homem, a deixar sempre rastros misteriosos em direção ao ser, ao espírito. Contudo, alguns são mais raros do que outros e interpretá-los seria, no mínimo, uma falta de compostura deste que lhes fala.

Assim, preservo, com chaves de ouro, alguns contos nos quais predominam desafios, mistérios, formas abstratas, as quais vão fazer sentido apenas ao mestre, não a mim. Por isso, gostaria de trazer à tona apenas um em especial, com vista a elucidar algum elemento que sobrevoa nossas mentes quando o contamos: a Flauta Mágica. 

Tocado em filarmônicas mozartianas, com harmonias belíssimas e enigmáticas, o conto em questão nos remete ao alto, para cima, mas ao mesmo tempo nos revela o lado frágil humano em acreditar em esperanças falsas, preservadas, propositalmente, por seres que amam escravizar a mente do mundo, e nós, dentro desse contexto, só nos deparamos com essa realidade depois que os dedos estalam e nos acordam de uma realidade inventada...

O conto fala de um reino tomado pelos ratos, grandes ratos, onde pessoas normais não poderiam fazer nada a não ser reclamar de suas presenças. A saber desse desastre natural, o rei comunica aos cidadãos que dará um muito dinheiro àquele que exterminar os roedores. Tempos depois, aparece naquele reino um tocador de flauta, um homem inteligente, elegante, a tocar o instrumento como uma divindade em terra.

O rei, ao receber o cidadão, sobra-se em risos, pois não entendera a presença daquele que, apenas com uma flauta, exterminaria, segundo o cidadão que viera de fora, aquela espécie que sossobrava nos cantos da realeza. Entretanto, após deixar claro por meio de sua canção que levaria os ratos para fora do reino, o "Tocador de flauta" iniciou seus trabalhos caminhando por todas as partes, dentro de fora das casas, de modo que sua música atingisse somente o ouvido dos pequenos animais.


Ninguém imaginava, ninguém acreditava, até que, no meio da rua, vários roedores, em fila, seguiam o Tocador. O rei, maravilhado, observava junto com seu povo a mágica se fazendo aos seus olhos, como que por encanto. Nunca em sua vida de rei tinha presenciado tamanha natureza de domínio junto a uma espécie que só dava asco: o rato.

Horas depois, levados para bem longe, os ratos não mais voltariam. Assim, após seu eficaz serviço, o enigmático cidadão foi a majestade a solicitar o justo dinheiro prometido. Porém, ao chegar ao palácio, vira um rei mesquinho, que, mesmo não acreditando no que vira, achou que o Tocador fizera seu trabalho de forma muito fácil, rápida, para não dizer enganosa... E por fim, achou melhor não pagá-lo pelo trabalho. Revoltado, virou-se e saiu do recinto sob risadas de todos que o observavam: ele voltaria.

Pela manhã, o tocador tocava uma música diferente, bonita, mas que não hipnotizava ratos, gatos, cães, e sim... Crianças! Todas elas, uma por uma, assim como os roedores, em fila, seguiam o homem da flauta, que, sorridente, levava a todas para bem longe do reino e mais tarde reservaria ao rei uma surpresa desagradável.

Ao acordar, todos gritavam enlouquecidos na porta do reino, enfurecidos, tristes, em fúria, revoltados, com a mesma pergunta: "onde estão nossas crianças?!!". O rei não sabia. De repente se achega nas imediações o grande tocador de flautas, do qual ninguém mais se lembrava, mas ao mesmo tempo não se esqueceriam jamais. E em meio a dor do povo, ele fala: "Elas estão bem; eu as levei para bem longe, graças ao rei que não me quisera pagar. E agora, só as trago depois de pago"...

O rei, não acreditando naquelas palavras, foi logo pedindo a seu tesoureiro para pagar-lhe e assim, após o ocorrido, uma música se fez no ar, engrandecendo a todos, elevando a emoção dos mais próximos e claro das crianças, que, em fila, voltavam de longe.

Obrigado, disse o homem misterioso e sua flauta mágica. E foi embora para sempre.



quarta-feira, 3 de outubro de 2018

"Compete a você"

Em minhas andanças, em minhas realizações e decepções, percebi o quanto necessário é criarmos ônus e bônus em nossos caminhos, como se fosse um plantador eterno de sementes em um grande arado. Depois que se planta, que se colhe, seja com o fruto ferido pela peste ou não, seja com o corpo cansado, cheio de dor, sabe-se que nas entrelinhas a esperança é de sempre uma boa colheita; porém, sempre há uma parte da terra que não é perfeita.

Não sabemos, no entanto, que não é apenas uma questão de se plantar e colher e sim de se ajustar ao mundo em que se vive, ou melhor, ao canto em que se trabalha, à família em que se nasce, enfim, no grupo de amigos em que se inclina ideologicamente, e isso serve a partidos, a religião, como se fôssemos pequenos grãos de areia que brilham no escuro, ou morrem tentando...

Digo isso porque temos a possibilidade de rever nossos conceitos acerca do que somos e do porquê estamos ali, naquele lugar, a saber que não somos apenas um "por acaso" da vida, soltos como paraquedistas divinos, que caíram em lugares diferentes, em armadilhas, que não eram para enfrentar. Não. "Compete a você", do nosso general filósofo Marcus Aurelius, já diz que, em nosso âmbito como ser humano, nada é por acaso, ou seja, não adianta questionarmos do porquê estamos presos àquele lugar, àquela situação de vida, quer dizer, se questionarmos filosoficamente, de modo a aceitarmos a resposta e trazermos em termos práticos ao nosso convívio, encontraremos elementos suficientes para abastecermos nossa encarnação inteira... A questão, no entanto, esbarra com nossos limites reflexivos que se deparam como nossa ignorância e quer simplesmente se encaixar em nossos interesses, particulares ou não.

Compete a você, sim, saber de onde veio, mas também não apenas adormecer ou ficar como a estátua de Rodin, O Pensador, sentado, com a mão no queixo, assoberbado de pensamento inúteis. Levantemos, produzamos, criemos condições de vida, ensinemos, aprendemos, plantemos, seja metafórica ou literalmente, o fruto que nos falta, e ao descobrir, não o deixemos apodrecer, pois há mais respostas acerca de nós do que pensamos.

Não podemos nos prender ao próximo, àquele ser que se diz poderoso, chefe, melhor, maravilhoso, fantástico, belo, como se nos fosse referencial terreno, mas nos entender melhor a partir dele. Pegar, como diria o mestre, o que nos sobra de dentro da sua alma, enfeitar a nossa, trazendo à tona mais sentido em nossas práticas voltadas ao que nos interessa, à evolução dos sentidos.

Sim, mesmo porque não estamos em jogos sentimentais, muito menos com eternos martelos a bater com o lado traseiro dele e um prego cuja ponta está cortada; não. Nossos sentidos, pensamentos, detalhes que não entendemos em nós, são simplesmente elementos tão caros quanto ao que fazemos, pois nossas práticas boas ou más dependem deles, não do João e muito menos do José... Dependem de Nós.

Compete a você levantar-se do sofá, largar o controle remoto, procurar centralizar-se em alguma ação, ter pensamentos sóbrios, não amodernizados, mas influenciados pelo Bem que rege o mundo, o universo; ter em si a capacidade de, em cada passo, realizar algo, ainda que seja pequeno, e depois mais e mais, como se em uma montanha subisse, erguesse, mais tarde, em seu topo, e dizer que conseguiu.

Compete a todos vigiar os sentimentos sexuais, as emoções descabidas por políticas, religiões que nos separam de Deus, e levar sempre ao cimo de nossas razões pequenos mistérios a resolver, porque precisamos entrar nas veredas divinas todos os dias, e isso nos faz mais fortes, mas espirituais, mais humanos.



Abraços.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

O Mestre das Batalhas

O que faz um homem em meio às batalhas escrever sobre a essência da vida, do ser humano, como se estivesse em um parque, com o filho pequeno? O que faz um grande homem que lidera um exército, com as melhores estratégias do mundo, sem perder de vista sua força interior, para que ela seja não apenas forte no início, mas no fim das guerras das quais participa? -- Não sei. 

O que faz um homem, um general, que poderia ser forçado a lidar com o seu inimigo de forma ditadora, impiedosa, maldosa, no entanto, todas as vezes que entrara em campo, respeitara o terreno, o indivíduo, o símbolo de cada canto onde se instalava e passava ao seus homens toda essa filosofia...

Não sabemos de muita coisa a respeito do general-filósofo Marcus Aurelius, mas sabemos que sua vida fora pautada no Estoicismo, uma escola sobre a qual os professores atuais não se arriscam muito em pautar a seus alunos, apenas alguns, que se inclinam em elucidar o que Zenão, o criador do da escola, um dia deixara para a posteridade, outros, pelo que Epíteto, o escravo, que, segundo a história, era o grande referencial do imperador guerreiro.

Não sabemos. Sabemos, no entanto, que a profundidade daquela filosofia foi essencial a muitos que hoje tentam ser bons cristãos, assim como o apóstolo Paulo que, segundo Blavatsky, "bebeu" um pouco da água daquela escola, que norteou com seus princípios fortes e coesos vários filósofos pós-estoicismo, influenciando-os. 

Assim o foi Marcus Aurelius, cujo andado vital era reto, sem voltar ao passado, dentro de uma linha imaginária, mas tão forte quanto o caminho de seus soldados, os quais caminhavam milhas e milhas em nome de uma vitória tão certa quanto a de Julius Caesar, outro general, outra filosofia, mas que se uniam em pensamentos e práticas tão gêmeas que pareciam se conhecer como irmãos.

Hoje, várias de nossas religiões, assim como vários espelhos que se dividem, tentam mostrar Deus, de sua maneira, ou seja, quebrado, retangular, em pedações, inteiro, mas desumano, e assim por diante, de modo que conseguem, assim como a personalidade de cada um, levar o indivíduo a acreditar em suas ideologias. 

Assim, todas, de seu modo, tentam demonstrar, cada uma mais forte que o outra, que a verdade é um elemento fácil de se conquistar, de se resguardar e ao passo modificar o indivíduo do dia para a noite...E sabemos que possuímos elementos que em nós não são fáceis de dominar, principalmente a personalidade, e isso nos faz, por incrível que pareça, buscar uma religião.

No Estoicismo, a busca era por si mesmo, dentro de parâmetros fortes, com vistas a práticas acima do que entendemos hoje como detalhes: mesmo porque são eles, os detalhes, que nos edificam e que nos destroem. E o Estoicismo sabia que, como humanos, demonstrado por Epíteto, em seus livro homônimo, que nosso espírito está em tudo que fazemos, nos detalhes vitais nos quais, hoje, nos esquecemos e transgredimos conscientes de que nada tem a ver com o homem.

Nossas ideias, nossos pensamentos, comportamentos, todos eles têm um papel circunstancialmente protagonista desde o momento em que levantamos ao que caímos na cama -- não estamos desligados do universo, como pensam religiões, e ligados a um ser semelhantes a nós, em fala, pensamentos, o que nos faz enganados com relação ao que acreditamos.

A verdade não está ali, como martelam os inconscientes, mas está muito além de nossa razão; porém, é preciso olhar para cima, entender o céu de cada homem, ligar-se ao absoluto, viver um pouco dele, acreditar em seus valores, criar princípios, "levá-los para onde for, assim como um cirurgião leva seus bisturis, em caso de necessidade, e estar pronto para imprimi-lo em sua vida, o tempo todo" -- assim falou o mestre das batalhas.



Bom Dia!

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....