terça-feira, 29 de maio de 2018

Ocultos Concretos (ii)

No último texto acerca da Educação, falamos sobre uma vida a base de uma filosofia não vã, ao contrário do que Shakespeare dizia, "Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia"... Nela, esse espaço aberto, elástico, onde se reúnem possibilidades de crescimento não apenas físico, mas principalmente moral, observamos toda matéria com vistas a entender o que nela resguarda, o que nela há, como átomos invisíveis, partículas, e ao mesmo tempo a ideia que a gerou.

Platão falava que tudo eram sombras de um mundo perfeito, dentro do qual elementos como os que temos apego, amor, até mesmo o ser humano, são parte de um mundo não físico, forte, em que a essência (a grande alma) é estática e dali vinhamos. Mas temos que compreender que Platão era um iniciado, e que não seria fácil, nem mesmo aos seus contemporâneos entendê-lo gratuitamente, portanto, fico somente com meus parcos estudos acerca do autor.

E quando me manifesto acerca do mundo ideal para me referir à Educação, tenho que ter em mente um referencial tradicional que preenche as lacunas de um universo que, a meu ver, no passado foi preenchido, e por isso houve as escolas iniciáticas com esse sentido, vamos dizer, educacional, e esse universo, hoje, precisa ser preenchido novamente.

Atualmente, levamos crianças à escola, a esperamos durante quase toda nossa vida vê-lo se formar, e quando o faz, ficamos vaidosos, presos ao orgulho em ver aquele que um dia saiu de nosso colo se formou, ou seja, se especializou ou não em algo, que teve ou não vocação -- em não, deixa a faculdade em pouco tempo... e em caso positivo, vai ser um grande profissional. O que não faz dele um grande ser humano...

Sempre nos esquecemos que temos algo que, provavelmente, temos consciência, mas que jamais saberemos educar, que é a alma. E quando a Filosofia chama a tradição, é com esse fim, de educar a alma primeiramente, não a mente, não o físico, não o ego -- algo que fazemos diariamente. Mas por que faziam isso?... entende-se, acredito, que a vida pede que respeitemos o próximo, a si mesmo, e que, apesar de estudos, de nossa força psicológica e emocional, titubeamos nos pequenos conflitos, que nos levam a grandes guerras pessoais, familiares, sociais e até mundiais. Não é a toa que Platão já nos dizia na voz do mestre Sócrates, "Conheça-te a Ti mesmo e conhecerás o Uno", quando referia a uma profunda ida a si mesmo a desfazer as mazelas de uma personalidade que se aproxima do mal em questão de segundos, porém quando se tenta argumentar sobre o Bem se perde, se enjaula, e não se manifesta, e leva tempos para se alinhar ao real, pois o mal se alinhou aos átomos invisíveis.

Não apenas para isso, a Filosofia nos torna maiores, mais definidos em caminhos mais leves, sem pretensões escusas, políticas, racionais, intelectuais --ainda que os mestres do passado nos pareçam tão mestres quando os do nosso tempo, mas não eram voluntários de partidos ou seitas, ao contrário de "filósofos" de hoje que formam partidos, opinam na miséria e se resguardam em contas bancárias maiores que suas línguas, enfim, a tradição, não é apenas platônica, vem com outras formas nas quais outros já haviam dado sua contribuição, como Pitágoras, Zoroastro, além dos grandes pré-socráticos, como Tales, Anaxágoras, Anaxímenes, os quais bateram na porta do conhecimento e ela foi aberta.


Podemos fazer o mesmo.


segunda-feira, 28 de maio de 2018

Guerra Infinita: o caminho

Entre muitos Tanus que nascem e desenvolvem seus ideais, nascem em contrapartida também homens mais fortes, mais sábios, mais conhecedores dos mistérios humanos. Assim como no passado um dia nasceram, sei que um dia haverá aquele que se preocupará com a humanidade, com seus reais interesses em lidar com o mundo, com a vida, como enfrentá-la apesar dos pesares.

Surgirão aqueles (ou aquele) que, em meio ao lixo social e destruição humana, farão reverberá o som da palavra fogo, que incendiará o mundo (não literalmente) e fará a todos repensarem o porquê de sua existência, e da necessidade de olhar um pouco mais para trás e sentir o ar de uma realidade que, antes, fazia parte do pulmão humano, não esse que respiramos forçosamente, sem saber.

Olharemos mais o que há dentro de cada um, e aceitaremos suas dificuldades, seus problemas, suas diferenças ainda que estejam além de uma possível resolução natural e tentaremos, com o pouco que temos, ser o que somos: humanos, sem interesses pessoais, familiares, enfim, que nele haja apenas um tipo de interesse, o de criar vínculos e não desfazê-los.

Sim, é real, temos em nós a veia da separatividade, do mal, no sentido mais filosófico que se pode conceituar, porque nos separamos de nossos reais objetivos, dos poucos ideais que os deuses nos deram, que é unir, ser forte, prosseguir, com mãos dadas ou não, pobres ou não, com cores diferentes ou não, enfim, perdemos não somente o porquê, perdemos a prática desinteressada como se perde um grande avião, no qual poucos passageiros se adentraram, se foram e não voltaram mais.

O Tanus nasce da falta de resoluções internas, da falta de conhecimento do ser humano em relação a sim mesmo. Nasce de uma estrutura ignorante, na qual indivíduos se comportam como vermes calados a espera de soluções de outros Tanus, o que nos revela uma incoerência tão fria, que nos ativa, às vezes, a consciência do "porquê" estamos fazendo isso conosco. Na maioria das vezes é tarde demais buscar soluções, mas o tempo nos diz que ele é o maior dos deuses e ganhamos, sempre, a partir do momento em que olhamos ao nosso redor, nos posicionamos, enfrentamos, e começamos a construir, mesmo em contrapartidas em destruição infinitas.

Pensemos nas formigas, quando são pisadas, são massacradas quando há uma queimada, ou mesmo quando predadores naturais a encontram. O fim nunca está próximo desses seres, pois se alimentam do trabalho, instintivo claro, se erguem do nada, pois nunca deixam a rainha visível. Em nosso caso, nos expomos com lágrimas, com dores, com quedas e pedimos ajuda, e choramos mais, e nos mostramos volúveis às pequenas batalhas. Por isso, a guerra é infinita. 

Olhar para si mesmo, defender seus ideais internos, não deixar que sejam pisados, machucados, e quando o forem, olhar para seu referencial, forte como uma muralha, continuar sem choros inúteis, prosseguir, e cultivar o que hoje não se cultiva, humanidade. Assim, como orquídeas raras nasceremos novamente, brotaremos em qualquer lugar, cresceremos sem depender de homens imensos com caras de intelectuais ou de seres que falam em demasia em prol de interesses limitados.

Conseguiremos, assim, vencer Tanus, o maior dos vilões.

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Guerra Infinita (Tanus)

Em civilizações sábias dos passado, podíamos fazer uma leitura breve do tempo nas lendas, nos mitos, na simbologia arcaica, ainda que desnutridos de conhecimento acerca daquela nação, poderíamos fazer conjecturas a respeito do que foi, passou e se tinha ideais de humanidade nos dias em que havia homens firmes em seus propósitos.

Atualmente, a única forma de leitura que podemos fazer é por meio de metáforas sutis, quase dúbias, sem a direção natural a quem se refere. Para isso, temos que voltar nossos sentidos ao passado, fechando os olhos, e pensando como eles pensavam, o que sentiam, ao que se direcionavam, e por quê,,,

Não é uma forma copiosa de ser, mas um resgate do que éramos, mesmo porque eles tinham ferramentas para tanto, e nós perdemos as nossas, o que nos faz intuitivamente olhar para trás, resgatar as vezes um cálice, uma espada, um escudo caído e até mesmo a compreensão humana por meio dos valores que estão sendo a subjugados a todos os instantes.

Guerra Infinita

Tanus, um grande líder de várias nações, um dia teve a ideia fria e inconsequente de mudar o mundo, o universo. Para ele, estava tudo errado, pois pessoas, apesar dos tempos que se passavam, das guerras que se tinham ido, morriam de fome ou passavam por dificuldades gêmeas. Então resolveu, com seu exército de exterminadores, modificar tudo... Exterminando os mundos, com vistas a melhorá-los, ou pelo menos iniciar um processo grandioso baseado em seus interesses,

Ao saber de suas pretensões, heróis vingadores tomam suas posições, a tentar de todas as maneiras fazê-lo parar com seu plano de domínio universal, e genocídios sem fim, Não tem jeito. Preso aos seus ideais, o grande Tanus, o qual se julga já um deus, rebate a todos, física e psicologicamente, destruindo nações planetárias, devastando gerações...

Thor, os Guardiões da Galaxia, Homem Aranha, Homem de Ferro, Doutor Estranho, Pantera Negra, Hulk, Viúva Negra, entre outros, presos aos ideias claros de salvar a humanidade, não a destruindo, começam a perder terreno, e começam a desaparecer, sem deixar rastros, mesmo por que Tanus, o inigualável, sufoca com sua força --graças às joias do Destino que conseguira -- manipular o destino de todos.

O que nos pode acontecer?...

Sabemos apenas que o que nos resguarda nesse filme fabuloso é uma grande metáfora, não sutil, a demonstrar o perigo de entregar o poder a um monstro sistemático, cujas ideias de reconstrução de nação, de mundo, é uma vertente completamente adversa de uma realidade contra qual o próprio universo luta. 

Não se pode nem mesmo pensar nisso. Somos frágeis demais. Entretanto, o que nos sobra atualmente em um mundo sem conhecimento, dentro do qual se emancipa a nova Idade Média, na qual o passado e sua sabedoria não tem mais espaço, é repensar o que estamos fazendo do mundo, não apenas o Tanus simbólico, mas o Tanus literal, que colocamos, com vistas a melhorar nossas vidas.

Só não entenderemos quando esse idealista às avessas, cujas ideias de construção significa recomeçar a partir do extermínio e não por meio de atitudes civilizadas dele próprio, influenciar em nosso próprio meio, e aí, graças ao sistema (democrático), colocamos culpa no governo, e não nos enfileirados das urnas.


A guerra é preciso.



quinta-feira, 24 de maio de 2018

Guerras Infinitas (iii)

Quando se nasce um líder em meio a tormentas de valores, sabe-se que o papel do homem é seguir seus instintos naturais, ir a fundo em seu talento, dedicar-se àquilo para qual foi feito: defender a humanidade, morrer por ela. E muitos, no passado, o fizeram, com valentia e amor. Exemplos como Giordano Bruno, o qual, dentro de um período sombrio, soube até o fim lidar com o desprazer de conflitos internos e externos, os quais, se fossem em outra época, teriam sido bem aproveitados.

Questão é que nem todos nascem para enfrentar a própria história seja ela com agá maiúsculo ou não, isto é, nem todos confrontam com seu destino de modificador natural da sociedade -- leia-se, aquele que possui um quinhão dentro de seu meio, -- muito pelo contrário, retrai-se, encolhe-se como tartarugas medrosas, e na maioria das vezes pula para fora do cenário, se afastando daquilo que realmente é, um idealista.

E hoje, quando nos afastamos dessa qualidade que nos é inerente, "despontencializamos" a nós mesmos, indo de encontro ao que um dia, lá trás -- em vidas passadas -- colhemos; e passamos para o lado errado, destruindo sociedades, pessoas, ou criando valores relativos, nos quais, a depender de meu poder de convencimento, mergulham todos, sem racionalizar, refletir, como se fossem mergulhadores, pronto para caírem em pedras pontiagudas no mar.

Nossa luta deve ser às avessas, lutando sempre contra tais mentalidades que nascem e desfazem sonhos, ou que nos querem presos em cavernas de seda, cheias de morcegos de borracha, dando a entender que são reais -- e o fazem com maestria. Graças a eles, muitos, cujas mentes são brilhantes, entram em devaneios sem sentido, e sem saber, desvirtuam conceitos, fazem prevalecer os mais arcaicos conceitos -- no sentido mais ultrapassado da palavra, -- e conseguem ser até donos do mundo,  o pelo menos de países que se acham donos.

Aqui, nos sobra falar dos homens que possuem força, dedicação, determinação e vontade -- entretanto, completamente direcionados a si mesmos, de modo a realizar sonhos relativos, não absolutos, a construir formas concretas inúteis, somente para que seu nome esteja estampado acima das nuvens, como forma de eternizar seu ato. 

Tais homens são consequências do não ato, ou seja, da parcimônia dos homens de bem, até mesmo dos heróis vivos, porém, mortos de vontade, de amor ao próximo, à vida. O perigo se faz, e somos obrigados a sermos escravos da incompetência, dos sarcásticos seres bípedes, do mal que separa o real do imaginário, pois, chega um tempo, que não sabemos mais a diferença.


Vamos vencer.

terça-feira, 22 de maio de 2018

Guerras Infinitas (ii)

Exemplo temos em constantes passagens pela História, e ao lado de casa, na rua em que moro, na sociedade, no mundo atual, apesar de a Imprensa declinar aos devaneios dos maus exemplos.  Pode ser eu, você, qualquer um que tenha interesse um pouco acima da média em querer transformar uma família, um filho, ou mesmo transformar-se. 

Ainda sim, nos faltam exemplos, nos faltam atos que brilham ao longe, como pequenas estrelas que se sustentam sem os raios do sol. É o idealista, aquele que, em meio a poeira de uma nação ou mesmo  vidas transgressoras, consegue ser suficiente para incomodar alguns, depois mais uns, e quando menos percebemos, está acima dos pequenos e dos supostos grandes homens que um dia deixaram o arcaísmo como forma de aprendizado.

O homem que brilha sabe que é preciso lutar, passar por cima de tais valores, dos quais nada se aprende, muito pelo contrário, são responsáveis pelo atraso semântico de uma sociedade que necessita urgente rever seus conceitos, e para isso o idealista se infiltra nas camadas mais difíceis em forma de instituições que um dia foram feitas para o bem comum, porém, graças a partidos e suas ideologias confusas, não passam de prédios lotados de indivíduos que amam pensar em si mesmos.

Lutar contra isso seria um trabalho sobre-humano,  mesmo porque não se mexe com o arcaísmo de graça, é preciso, pois, trazer à tona elementos claros a demonstrar por meio deles que a vida é uma forma de consecução natural e que o ser humano precisa seguir esse princípio, esse fim. Caso contrário dependemos de livre arbítrios nos quais nos enjaulamos e deles queremos fazer parte até o fim de nossos dias.

O pensamento deve se elevar, assim como nosso comportamento. Fazer algo, por nós mesmos. A começar pela cama, arrumá-la, pela louça bendita que se desorganiza na pia, e nos serve de treinamento para a paciência relativa; devemos levantar e pensar que somos imperfeitos, por mais belo que sejamos, mesmo porque a vida não é somente física, para dizer a verdade, ela, assim como os barcos à vela precisam do vento, a vida precisa de incentivo, de uma vontade pura, sem reflexão -- digo, sem pensamentos sombrios.

A perfeição, segundo o idealista, vem da busca, de uma realização quase inconceptível, e por isso bela. Se um dia formos atrás de algo concreto, de fácil edificação, precisamos rever nossos objetivos, os quais podem ser projetos, não sonhos. E sonhos não se realizam, se plasmam, se distribuem ao mundo, à humanidade, como uma praga bendita que nascera do coração.




A Guerra começou.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Guerras Infinitas

Um dia nascemos e começamos a fazer parte do mundo, de seus problemas. Outro dia descobrimos que somos educados à luz de uma educação esmerada dos pais, ainda que parcos no valor, ao qual sempre nos direcionamos. Mas, lá na frente, percebemos que temos nossas visões, pontos de vistas, ainda que híbridos àqueles que aprendemos de berço, e inicia-se o primeiro rompimento psicológico, emocional e espiritual, e formatamos nosso idealismo, seja para cima -- para o céu simbólico, seja para baixo, para o crime.

Vários elementos se formam em nossas mentes e alma, com pretensões de alimentar não somente o significado, mas também a prática do que acreditamos, mais um vez, para cima ou para baixo. Se para cima, podemos alimentar o que nossa alma, de há tempos, vem se alimentando -- não é algo de agora, temporal, talvez hibernoso, porque, quando se descobre, em algum aspecto, que somos idealistas naturais, que sentem nas veias a vontade de defender o mais fraco, organizar uma sociedade, buscando Justiça... temos mais possibilidade de descobrir o céu.

Por outro lado -- nesse ponto polêmico da questão --, vejo que há alguns que nascem com características fortes para o lado terreno, ou seja, para o lado criminoso da matéria: aqueles que nascem com liderança negativa, com fortes tendências ao mal, e que se alimentam com isso. Muitos acreditam que tais indivíduos são consequências de onde nasceram, e se tornam o que são em razão das causalidades existentes no lugar. 

Esses crédulos talvez não sabem que foi o grande Joaquim Maria Machado de Assis, ou simplesmente Machado de Assis, um dos melhores (se não o melhor) escritor do século, que nascera em favelas, cor híbrida de mulato e negro, cuja mãe não era nem mesmo funcionária publica, muito menos o pai, e mesmo assim aprendera francês, inglês, português, e ensinara a sua irmã tudo que soubera com seu talento e vontade, e que mais tarde fundara a Primeira Academia de Letras, na qual somente os imortais da Língua pátria poderiam dela fazer parte. Não era causalidade... Ele nascera com seu idealismo e não perdera chances em alimentá-lo desde o dia em que nascera.

Assim como muitos que venceram, que ultrapassaram a causalidade imposta pelo destino, subiram ao topo da montanha com suas pequenas e singulares ferramentas, Machado de Assis o fez, e quando nos referenciamos nesses homens, tais quais muitos que já passaram em nossas vidas, nossos corações se dilatam de forma diferente, como que quisessem sair sozinhos em busca de algo maior, perfeito, como ele próprio o é.



A Guerra só está começando.




sexta-feira, 18 de maio de 2018

Ocultos Concretos

Falar de uma valor é difícil, por mais claro que queiramos deixá-lo ante nossas explicações acerca dele. Pessoas sempre vão interpretá-los à luz de seus interesses, por mais rico ou pobre que sejam, espiritualmente falando. E quando falo do valor Educação, me refiro a algo tão precioso quanto àquele que reverbera depois dele, como Justiça, Bondade, Beleza, Paz, Amor... simplesmente porque possuímos algo que nos "desdireciona" ao seu real significado.

O livre arbítrio, talvez, seja um deles, um desses agentes manipuladores de conceitos, de sonhos, de realidades, ou devo dizer de mundo...Não sei. Consciência?...O que seria consciência para nós? mais uma vez caímos num abstracionismo cíclico, do qual já era difícil sair, mas deixamos claro que tal abstracionismo é uma necessidade humana até encontrarmos o ponto preciso, o referencial, a ponta da corda, assim como o início e o fim do novelo do herói que, no mito, conseguira sair de dentro do grande labirinto, da luta, dos conflitos... 

Nosso labirinto, hoje, mora em nós, e não sabemos; nosso novelo de lã, a peça fundamental para não nos perdermos ante à nossa consciência, ou mesmo ao nosso livre arbítrio, deve ser resumido em uma só palavra, Filosofia. Não apenas a didática, não aquela que te impõe racionalismos diários em tornos de questões mortas, ou pobres, no sentido mais puro da questão -- caso contrário, não seria uma novelo, mas sim uma corda para a própria forca... 

Ou seja, se por eventualidade buscarmos somente o que nos interessa, ainda que com alma, passaremos nossa encarnação atual sem propagar o que a palavra nos pede: amor à sabedoria, ao conhecimento, tangenciando não somente ao que sabemos de praxe, mas buscando novas esferas de pensamentos, os quais, hoje, nos faz como cães buscadores de rabos e não de verdades.


Tangenciar é importante, pois nos dá novos horizontes, formas claras do outro lado que tanto dele refletimos e quando estamos nele sentimos que um dia fizemos parte dele. Não apenas em pequenos problemas, mas em seus detalhes, mistérios sobre os quais sempre indagamos, e nunca por ele passamos, em razão do medo ou da dor. 

A prova disso foi em uma sombria época. Na Idade Média, dizem, muitos lugares foram bloqueados, principalmente mares, em razão de seus senhores da imensa caverna que foi, deixarem pensamentos quase concretos de que ali havia a 'mão de Deus', ou pior, 'monstros indescritíveis', 'seres do demônio' que engoliriam a todos quem pelas águas passassem.


Graças aos cavalheiros de várias ordens, tudo foi quebrado. O senso filosófico falou mais alto. Claro que, quando falamos em desbloqueio, devemos respeitar cada um, mesmo porque todos são diferentes, possuem ritmos diferentes, mas ao mesmo tempo, refletir sobre o que temos medo, e se vale à pena dar os passos -- em caso positivo, avançamos, em negativo, retroagimos.

Falo de uma Filosofia não vã, que nos auxilia a pensar e como potencializar nossos valores, concretizá-los em cada ação, não somente no básico, mas no aspecto interno, como no moral, no ético, no grande  e pequeno detalhe que a grande vida nos oferece. A Educação, um dos valores dos quais falamos ao longo de vários textos, não seria apenas uma palavra bela, que reflete atualmente o que podemos ou não em fazer pelos alunos fisicamente -- dando-lhes informações, salas de aula, objetivos, canudos, (in)formação em várias profissões, mas naturalmente o que há de mais precioso dentro de cada um: a busca pela vocação, o que significa em poucas palavras, o que de melhor posso fazer por mim, a direcionar-me aos outros e ao universo, consagrando o que sempre fui, humano -- como um grande Ideal.


É um assunto e tanto.
Voltamos.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Prisioneiro Eterno

...Assim como uma nota que se identifica ao piano, a uma arpa mágica que roça os ouvidos, assim como uma brisa que se choca com nosso rosto, não é difícil de provar que tais elementos são eles, são notas, são forças externas que se formam na atmosfera e caem na face humana como um veludo natural. Não, não é difícil de identificá-los.

A nós, porém, deixamo-nos impressionar pelo externo, o qual ainda que belo, forte e verdadeiro, não expressa o que somos, pois o que somos, o que verdadeiramente somos, esconde-se em uma caverna, na qual mistérios sombrios e por outro lado tão maravilhosos quanto um por do sol, se propagam a medida que os deixamos para trás e corremos para o lado escuro da matéria, assim como muitos mitos o demonstram e não compreendemos muito.

Se vivêssemos do que somos, se comungássemos todos os valores que se resguardam em nós, a partir daquele morador, prisioneiro eterno, do qual, ainda que encarcerado por nossa ignorância, nos faz refletir quando observamos o próximo a dar de água, comida, amor ao outro, e ficamos chocados no melhor sentido da palavra, porque a alma, filha da grande alma, se aproxima de si, toca nas mãos do que é, do que jamais deixou de ser, seríamos um só.

Como "um cavalo de pau" em um navio, precisamos voltar, ser o que precisamos ser, desfazer a prisão aquele ser que grita em voz alta, a pedir e a implorar sua liberdade em prol do mundo, ou mesmo de um universo que pulsa em nome de si mesmo, não do homem externo, não do animal, mas de si, o que significa de Tudo, pois nada se desfaz ou se encontra fora dele, nada se pensa ou é pensado fora dele, nada muda ou mudado sem que Ele perceba, porque o grande oceano não termina quando fechamos os olhos, apenas inicia-se uma nova jornada em nome dele, do grande Ser.

Na Antiga Índia, havia o infinito indizível, denominado Parabraham, o indivisível, o puro, o ser tão casto e nobre que jamais um homem poderia (ou poderá) refazer seu conceito por meio de palavras, porém, ainda que seja difícil compreensão, Parabraham tinha essa denominação a identificar o que fora do universo, no grande e infinito universo, não temos qualquer singularidade a respeito, dentro de nossas relativas concepções ou fora dela, ou seja, é algo de difícil conceito.

Aquilo que se resguarda em nós é esse pouco do muito que não podemos dar definições,  mesmo porque qualificar significa dar adjetivos, restringir algo, em meio a outros objetos, e não podemos fazer isso com o que somos. Muitas tradições, no entanto, baseadas nisso, ainda sim dão nome, o chamado nome interno de cada um, assim como um dia o fizeram na bíblica cristã,  num episódio em que Cristo, sentido-se perseguido pelo general Paulo, disse, "Por que me persegues, Paulo?", e o general, se convertendo ao Cristianismo, teve que mudar de nome, pois não era mais "do mundo" e sim um ser ser cósmico -- pelo menos deveria ter sido.




Vamos afunilar mais.
Amanhã, claro. 


quarta-feira, 16 de maio de 2018

Larvas Frias

...Não é tão simples, como eu vos disse em edição anterior, nem mesmo quando temos em nossas mãos a melhor ferramentas de todas -- a Educação. Muitos sobre ela escreveram, com o sentido de nos traspassar a melhor das intenções, isto é, de fazer com que sejamos um pouco melhor a cada dia, com ou sem os nossos problemas... E parece-nos que a palavra chave (problema) nos irrita, nos transforma em monstros, em seres frios, deseducados e famintos pelo outro humano...

Sim. O que nos vem à mente nada mais é que encontrar alguém que nos possa ser um sparring, aquele que leva socos de graça antes da luta oficial, com vista a testar a potência dos nossos golpes. Não podemos ser assim... Mesmo porque nossa única e preciosa arma deveria ser a educação, assim como um dia foi ao longo dos tempos quando a raça humana teve, em seus preceitos, gestos cavalheirescos como parte de um símbolo, ainda que não tenha sido para todos, mas para algumas classes que obtiveram a certeza de que é preciso que tenhamos o básico, em gestos, em falas, em modos, os quais refletiram em sociedades que até hoje demonstram sinais de que há saída.

Por outro lado, não podemos nos enganar com relação a tais gestos e modos, e comportamentos, os quais retratam ou retrataram tais sociedades ditas clássicas ou avançadas em educação, simplesmente porque estamos falando de algo mais profundo, de algo que pode sim fazer parte do ser humano como legado, como força natural que vem de dentro, não apenas como falas e gestos que um dia sobrevoaram o passado. Estou falando do  edutiere, o que nos remete a potencializar nossas energias para o bem, como se para uma oração, para o alto.

Nessa empreitada, nessa tentativa (de autoconhecer-se) de forma pequena quase mínima, por parte do homem que descobre, em suas possibilidades, que tudo não passa de uma ilusão, fortalece-se, procura manter o equilíbrio interno baseado em premissas nas quais permeia a tradição, em palavras, em gestos heroicos, mitológicos, lendários e até mesmo presente, quando este se alinha com os antigos.

Palavras são palavras nessa hora. Entretanto quando se tem uma árvore a nascer para se fazer uma sombra, se pergunta: nasceu para mim ou para a natureza? Genericamente não nasceu nem para um nem para o outro e sim para ser Árvore, com um conceito além dicionários, além do meu e do teu conceito, o que não a faz, no entanto, ser melhor por isso, e sim como exemplo universal do que devemos refletir acerca do que somos, e porque existimos.

Somos homens e mulheres, mas não introduzimos o real conceito, o universal, em nossas vidas, mesmo porque relativizamos tudo, e isso na maioria das vezes nos atrapalha, nos coíbe, e nos faz ignorantes que andam para trás quando nos sujeitamos a ver o que somos com olhos físicos. O que somos ultrapassa as normas humanas, o que somos perpassa as palavras, e ao mesmo tempo nos torna compreendedores de que não apenas somos humanos, mas temos que agir como tais, em primeiro lugar, e em segundo lugar, também.




O assunto é bom.
Volto mais tarde.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Brasas Quentes

Como é difícil ensinar um ser humano sobre seus valores, fazê-los praticá-los à luz de qualquer filosofia. Como é torturante fazê-los compreender que sem eles não se vai tão longe. Mais ainda, é sobre-humano às vezes ensinar o próprio humano as pequenas e básicas formas da vida, em se apegar a algo natural e necessário como a responsabilidade, em seguir uma linha ainda que discreta, porém imaginária, na qual se aprende o porquê dos pequenos mistérios humanos.

Prova disso é a própria criança; se deixá-la sozinha, segue sua natureza real, de andar, comer, pronunciar-se acerca de algo, de alguém, na tentativa de se comunicar com o pequeno contexto em que se encontra. Nós, pai e mãe, como pequenos deuses a dar seus primeiros caminhos, damos a trilha, as primeiras armas, sempre regado como muito cuidado e amor.

Entretanto quando se chegam as escolhas -- por parte do pequeno -- inicia-se a chamada luta para levá-lo à linha que inicialmente traçamos com finalidade de deixá-lo mais perto dos seus objetivos morais. O fogo da matéria, no entanto, ao brilhar tão visível quanto o moral, o faz perder o centro, e quando o faz, suas escolhas são concretas, não semânticas, ou seja, prefere ver a acreditar em seus genitores acerca da vida, pois soa, diante de seus olhos, o calor das brasas falsas, que queimam, como irradiações, e que o fazem ficar cego ante ao conhecimento, que a ele pretendia-se dar.

O dragão da matéria o consome antes que possamos levá-lo a acreditar que existe um outro mundo, o invisível, do qual viemos, e para o qual iremos. Difícil fazê-lo entender que o Dragão maior se esconde por trás das nuvens, do sol, das sombras que por eles é projetada, que as brasas que lhe dão calor, não são reais, mesmo porque até o maior dos vulcões, um dia, desaparece. A real educação é eterna, e todo seu fogo também.

Hoje, não há Educação em formar humanos em função de seus valores ou mesmo ao autoconhecimento. Tudo que se vê são formas hediondas, que nos ofuscam tanto quanto ouro, frias, e ao passo interessantes pelas quais nos apaixonamos. Mas o que faz algo realmente bom, belo e verdadeiro é a alma daquilo que nos impressiona internamente, como templos naturais, jardins intocáveis, seres que irradiam vida, diferentes ou não, com cores semelhantes ou não, às nossas; a paz, o vento que circunda nossa alma e que, sem ele, nenhum barco se move.

É preciso seguir a vida de maneira a olhá-la de perto, como uma face presa a sua, quando se beijam ou mesmo quando iniciam uma conversação, pois somos medrosos em relação ao que ela nos oferece-- o que na maioria da vezes é o que não queremos, pois é a nossa face, nossa persona que está lá, a nos encarar.

Então diante desse invólucro chamado corpo, permeia mistérios dos quais retiraram mitos, lendas e contos dos quais nos ensinaram que nossas potencialidades naturais, não doadas, são reflexos do que somos, como um preso, encarcerado, a bater nas grades com seu corpo de metal, a nos fazer escutar o seu tilintar ensurdecedor, porém cerramos os ouvidos, o coração; nos fechamos como senhoras beatas que se cansam de suas idas e vindas da igreja, mas sabe que não pode mudar dando a pretexto sua idade...

Nossos pretextos são vários, nossas desculpas, nossos choros com lágrimas "crocodilhanas" são quase de cunho eterno; mas, apenar de tudo, acredito que evoluímos, a passos de formiga, e à vezes a passos de felinos.

Diante de tal afirmativa seguimos o legado de vários do passado cuja filosofia se firma em uma frase pitagórica:


Eduquem as crianças, para que não seja necessário punir os adultos".




sexta-feira, 11 de maio de 2018

Tempo que se Foi

Poderia fazer uma enciclopédia com seus termos difíceis, guardar em minha memória eterna aquele sorriso feliz, e se pudesse colocar no bolso todas as lágrimas que um dia vieram a correr em seus olhos, em emoção, em dor, em fé ao Deus, que tanto por ela (e por nós) fez, eu faria.

Poderia resguardar o semblante daquele ser valente que corria nas ruas, quando a panela de pressão estava por estourar no fogão de lenha; ouvir aquele assobio manso, que nos tirava as feridas da alma, somente quando, de manhã, o ouvia. Não se pode esquecer.

Poderia passar minha vida a agradecer aos deuses em me dar um ser que se jogava por mim no fogo e que me salvaria eternamente dos homens sem alma, das dores que um dia se enjaularam em mim. Mas não posso, e vivo, hoje, em meu pequeno quarto crescente, a honra-la com orações que um dia me ensinou, pois tais orações se coadunam com o universo, com o sagrado, com Deus.

E ainda me pergunto: como o homem sobrevive sem o colo de uma mãe, tão morno de carinhos, ao som de uma música antiga, vitalizada com uma voz de cantora dos anos cinquenta, a qual encarnava-se na mãe das mães. Um momento em que se educa o mais virulento animal, o qual se adestra com uma mão em meio a cabeça, no meio de uma cama disputada pelos pais.

O tempo se foi, mas ela, minha mãe e suas mais belas façanhas, estão mais vivos que nunca em meu coração (assim como no coração dos meus irmãos), correndo, falando, sorrindo, contando seus casos, endurecendo lindamente com sua voz, seguida das mãos em sua cabeça, e a subir, dificultosamente, as pequena escadas da vida com suas pernas feridas de vida, de experiências, enfaixadas pelo amor às batalhas, à teimosia, pelo amor a Deus.

Mas o tempo se foi, muitas lembranças ficaram no cume das montanhas invisíveis, nas quais somente quando o adeus nos bater as portas, descem em nome de um mero sorriso nosso, como um brinde pelo que fizemos em vida. É um presente.

Hoje, mais viva, mais doce, mais amada que a Atena grega, minha querida deusa, minha mãe, toma conta de um céu forrado de estrelas, e quando chove, molha suas pequenas plantas que deixou por zelar. Deixou o perfume da paz em seu quarto, a Bíblia negra que lia nos dias e noites de sofreguidão, deixou-nos a manhã, quando o sol nos bate, pois acordava mais cedo que o grande ser esférico, que se sentia filho, pois, antes de dormir atrás das montanhas, sorria ao ver sua mãe ainda a trabalhar sob as nuvens amarelas que deixara de presente a ela.

Deixou a semântica perfeita aos filhos imperfeitos. Mesmo assim, tentamos, todos os dias, segui-la, olhar para o seu caminho, para o seu sol.


Obrigado, mãe.
Seu dia é todos os dias, para sempre.
Amém.

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Os Olhos do Leão

O mesmo professor, continuando, em conversas não didáticas, sempre se referiu ao problema como leões, tigres, entre outros animais, os quais, a princípio, imaginamos nunca chegar perto. Dizia o mestre, "...É como um leão, cujos instintos estejam à flor da pele para te mastigar, e você, um mero ser medroso, com pavor, não pensa nem mesmo em chegar perto... Então chega o dia, desses dias que a natureza nos concebe, e tem que enfrentá-lo. Recomendo que tenham cautela,", falava teatralizando belamente, com seus pés encolhidos, ora um na frente, ora outro atrás, como se vestisse do nada a roupa do domador, "E não olhem diretamente em seus olhos", continuava intacto em sua cena, "...E percebam, friamente, em sua calda, em seu corpo, mas não diretamente em sua face", completa.

Assim era a maneira de enfrentar não somente o problema, ma a vida, penso. Hoje, quando encontro pessoas que, visivelmente, não se dão comigo, tento me aproximar delas com trejeitos simples, de modo a romper o silêncio entre mim e o meu ponto objetivo, depois, a depender de seu rosto, visto de longe, assim como o mestre um dia ditou, me aproximo, aperto suas mãos, e ofereço minha amizade, ainda que diminuta naquele momento.

Em conflitos, ainda que exista a filosofia dos homens clássicos, nas quais tentamos mergulhar com finalidades humanas, percebo que não somente eu, mas também outros, cuja ideia de resolução é a mesma que a dos grandes do passado, temos uma certa dificuldade de identificar o leão. Pode vir revestido de crianças, adolescentes e suas dúvidas, de irmãos e suas incertezas concretas sobre a vida, de uma mãe, e suas ideias arcaicas, que não aceitam a revolução humana, mundial; e do pai, que se declina dos seus para não se aborrecer; e quando nos casamos, o leão se faz real.

Não sei, mas a cada confronto, percebo que leões reais são mais fáceis de enfrentar que o próprio ser humano. Nós, assim como um plástico ao vento, não temos uma característica clara, e por isso estudamos muito o comportamento, por meio de psicologias, filosofias, entre outros, que, a meu ver, tropeçam quando não seguem uma linha forte, clara, quase visível.

Quando procuramos terapeutas, imagino, procuramos uma linha imaginária para nos segurar e nela nos afixar, nos posicionamos, e é assim em todas as outras ciências humanas, que tratam de resolução de conflitos, seja eles sociais ou pessoais. Não há outro modo. Há pessoas, no entanto, que procuram se autodiagnosticarem por meio de ideias estanques, sem referenciais, sem botes salva-vidas, os quais são necessários ao homem. E se suicidam.

Sem ideais internos, sem a força natural da religião clássica, a qual temos direito -- não a atual, que nos ordena a obediências sem fins --, sem o conhecimento divino, e com o medo que nos impõe quando algo não sai da maneira humana, o que nos sobra é um resto de racionalismo impregnado de ódio ao que se julga como religiosidade... Daí o ateísmo ou a morte de si mesmo, seja literal ou não.

 O leão em nós se esconde calmo até um determinado ponto; sempre se mexendo, rosnando em tom alto, como se estivesse acordado, e isso já nos retrai ao nosso ideal, que é andar perante a vida, conhecê-la, conhecer a Deus, sem medo de tua face, andar nas águas, no fogo, conhecer vidas, cores, pensamento diferentes, culturas, e tudo que possuímos como direito humano. Não temamos, mesmo porque aquele que dorme somos nós, assim como um dia na cultura grega clássica por meio de uma alusão bela, a do minotauro que dormia nas entranhas de um formidável labirinto, e que, como sempre, fazendo alusão ao nossos conflitos pessoais --ou mesmo à nossa persona medrosa -- tinha que ser morto, exaurido de nossa alma.

O labirinto é o que nos revela mais sobre nós do que qualquer outro meio simbólico, acredito; porque, quando pensamos em vida que estamos longe de algum problema vem outro, do nada, como se nos mostrasse que aquela porta ainda não era a correta -- e assim por diante, até encontrarmos o animal, ou melhor, nós.




quarta-feira, 9 de maio de 2018

Farpados

Problemas não tem tamanho, como diria um grande professor que um dia, em uma pequena aula de filosofia clássica, quando todos até aquele instante estavam ausentes,  procurou iniciar a oração (como eu chamava cada aula dele), resolveu sentar-se comigo, e por meio de uma pergunta acerca dos problemas individuais e coletivos, sentado, resolveu conversar com este que lhes escreve, e, iniciando, me disse... "se hoje não assumimos nossas responsabilidades, dentro de nossas possibilidades, há sempre alguém que sofre por isso; pode ser você ou quem estiver sobre sua tutela. Imagine Alexandre (o Grande), de uma hora para outra, largando tudo, e dizendo... 'ah, deixa pra lá', não quero brincar mais disso... Isso, depois de ter conquistado quase toda Europa!"... "Então", continuou, "...O mesmo nos ocorre em nosso nível. Temos que abraçar o problema, enfrentá-lo, como se fosse o último da vida, já sabendo que há pessoas que não vão fazer o mesmo...!"... "Mas o filósofo tem gana por problemas, porque sabe que, somente ele, dentro dele, se esconde os mistérios", finalizou.

Mais tarde refleti acerca de suas palavras, de seu dom, principalmente, em reverter situações anormais em normais, as quais, para ele, dentro de sua natureza, seria mais fácil. Dentro da minha, porém, não era assim. Pelo contrário. Eu sempre acredito que problemas há em todas as esquinas e que dormem nas estradas e vias do mundo, e que somos responsáveis por acordá-los com nossa ignorância. Não desdenho o que o mestre disse, jamais. A questão, por si, é relativa, e possui um viés maduro demais para aquele aluno, imaturo, sentado ao lado dele, no qual pairavam dúvidas quanto o que seria problema e como abarcá-los em sua vida; para aquele aluno, de quase trinta anos, cinco de estudos filosóficos, e nenhum de prática, acredito, tenha sido em demasia o que fora a ele explanado...

Mas, após passados estes anos, dou credibilidade ao mestre, que, mesmo na falta de alunos incríveis, sujeitou-se a me dar toda atenção do mundo, a deixar claro que nada, realmente, era por acaso, e mostrou isso na prática, sujeitando-se a me dar a pérola das pérolas da resolução humana dos problemas...

O tempo passa, no entanto, e nossas mentes ficam fracas, assim como pequenos seres que precisam do sol e se afastam dele por necessidade caseiras. Agora, o sol nada mais é que um elemento físico, amarelo, esférico, belo, do qual não consigo retirar qualquer aprendizado... E quando percebo, em mim, que aquelas palavras, em vários contextos, refletem como solução, meno para mim, tento procurar o mestre em minha imaginação, conversar com ele, e voltar a ter uma nova e madura conversa...

Não tem como. O que me sobra, dentro de minha natureza, é levantar do sofá, agir, trabalhar, sorrir -- o que sempre dissera para os homens que amam a verdade -- pagar minhas contas, buscar nas entrelinhas a sacralidade de tudo, assim como índios em uma dança em busca de chuvas, como vikings, em nome de deuses nórdicos, em batalhas almejando o céu, com honra e dignidade.

O arame é farpado, dói em nossas mãos, em nossas pernas e alma; ultrapassa o que chamamos de possibilidades internas procurando ferir o que ainda não feriu; nos faz voltar conceitos, esquecê-los, desfazer planos, ser crianças em vez de homens. O arame é sujo, bacteriano, profundamente perigoso, e ao tocá-lo percebemos que entramos em mundos diferentes, como portais a outro planeta... Mesmo assim, temos que nele tocar, sentir a dor, procurar não ferir-se e se o for não para a luta, até que esteja completamente esticado, organizado, assim como tudo deve ser.


terça-feira, 8 de maio de 2018

Arames

Quando em grupos estamos, fomentando ordens de desespero e protesto a algum regime, situação ou qualquer tipo de conflito, seja ele exterior ou não, não estamos cometendo nenhum crime aparente. Estamos, no máximo, desfazendo de nossas sensações íntimas, que nos favorecem a uma queda de cabelo, infarto, dor ou algo semelhante... Estou falando de reclamações aleatórias quanto ao que passamos ou iremos passar.

Ao ser humano é normal tal comportamento, mesmo porque não há nada, nenhuma lei, que nos restrinja às nossas opiniões individuais ou coletivas, até mesmo em sistemas ditatoriais, nos quais, reclusos ao regime, atrás de alguma porta, ou dentro de algum banheiro, explodimos em forma de atos.

Não basta, no entanto, pois, em pequenos conflitos, há de convir, só sabemos que a solução -- breve ou não -- vai depender de nossos atos em relação a eles. O próprio conflito se faz na maioria da vezes pelo fato de haver uma omissão ao seu encontro, e portanto se eleva mais que as soluções propriamente ditas. Isto é, como diria um filósofo, "Não adianta fechar as portas ao problema, que ele entra pela parte de trás", e é verdade; muitos dão por encerrados os conflitos pequenos, apenas com gestos de humanidade, do tipo, "hoje tenho mais que fazer" (!), e então aquele formigueiro, no qual havia apenas algumas pequenas operárias, vê-se mais tarde como um enxame de formigas.

Não se pode acreditar em pensamentos fúteis quando se trata de resolução de conflitos, mesmo porque é nos detalhes que se encontram os mistérios, os grandes mistérios. Se me omito hoje à minha responsabilidade, ao que devo como pessoa ou como profissional, em resolver o que é da minha natureza, alçada, estou deixando de crescer um pouco, naquela hora.

Há outros meios de crescimento sem que seja por meio de problemas? Se estivermos nos referindo a seres especiais, que nasceram evoluídos, voltados a ideais de humanidade, como alguns do passado -- Buda, Cristo, Platão, Sócrates, Zoroastro... -- a resposta é sim; mesmo assim, todos eles seguem seus caminhos meio que trôpegos se em determinada época assim o exigir, ou seja, não deixam de mergulhar em seus conflitos como filósofos, salvadores, idealistas, enfim, a Natureza é sabia.

Por que então temos medo dos conflitos?
Nossa cultura ocidental aprendeu que em guerras, combates, conflitos armados, ou não, há muita dor e sangue, e que qualquer um que nos precipite tal ato vai nos levar a algo parecido. Mas sabemos que a palavra problema não significa necessariamente entrar em conflitos físicos -- com ou sem armas --. Não. O problema é algo parecido com várias arames farpados enrolados entre si, graças ao que fazemos com eles, ou seja, de maneira errônea, não o esticando, com vistas a uma cerca bem feita.
E assim, se enrolam.

Como desfazer isso? Já vimos arames desse tipo engalfinhados um no outro e sabemos o quanto é difícil desfazê-los por medo de nos machucar. Se não começarmos de algum modo... ficarão eternamente da mesma forma ou pior. Assim é o problema. 

O conflito vem quando temos medo de começar algo, confrontar... "vai você!", "Não, eu vou", "Por que você não foi?", "A culpa é sua!"... E assim por diante... O que nos faz pequenos seres em nome de um problema que pede para que o homem cresça, e ele desdenha na maioria das vezes.



O assunto é bom.





segunda-feira, 7 de maio de 2018

Poema do Silêncio


Silêncio da chuva empoeirada
No chão ardente em febre
Desfaz o pranto na curva
Nas pedras belas e caladas.

Silêncio que escorre ao vento
Quando em brisa se perde ao ato
Da fúria do vento forte
Vem híbrido de sonho intenso

Silêncio das águas em solo
Que escorrem em natura perdida
Se abrem ao canto forte
Em sol forte na manhã querida

Silêncio menino que dorme
Ao frio que bate la fora
Ao Rio pardo que vai sem vida
Ao cardume havido em outrora

Silêncio mulher:
A mãe terra dorme cansada
De tanto clamar o homem medonho
Em meio mundo em dor fadado

Silêncio se vai com a oração
No grito incontido da paz
Na multidão fadada
Em morrer surrada...

Nada mais

sexta-feira, 4 de maio de 2018

O Pai, o Filho e o Medo (fim)

Não se pode medir o amor entre pai e filho, assim como se mede de maneira proporcional a um edifício de centenas de andares, ou qualquer aspecto físico, com vista à matéria que conhecemos. A profundidade de tal fator, mesmo que compreensível, torna a causa subjetiva; ou seja, não é universal em alguns aspectos.

Sabe-se que amor, em nossa linguagem corporal, física e mental, por mais que calemos os deuses nesse momento, cai no relativismo, mesmo porque o limitamos, direcionamo-nos a uma pessoa, e não a várias. Isso, com certeza, ainda que seja fora dos parâmetros divinos, não nos faz homens ou mulheres maus, pois somos humanos! e nascemos para relativizar a coisa, seja ela o que for.

E amor não é diferente. Todo ele, embriagado de palavras belas, revestido do  maior sentimento -- quase tangenciando a alma, às vezes --, não o faz melhor do que um leão pela sua cria, da hiena, do canguru, ainda que seja o único dos animais bípedes que possui placenta, não o faz melhor ou pior do que os outros animais.

O tangenciamento das relações não individuais, e sim coletivas, pode nos trazer benefícios em prol de um entendimento válido em relação ao amor, pois, penso, que a reflexão nos faz mais perto da verdade. Quando Platão (filósofo grego) conceitua o Amor como o primeiro Deus, pode-se perceber que o mestre revela que, antes de qualquer coisa existente, Ele apareceu, esteve entre os átomos ocultos, e fora responsável pela união natural do Todo.

É preciso entender, no entanto, que quando o filósofo se refere ao Amor, ele o faz de maneira abrangente, como se ele, o Amor, fosse o responsável pela União natural da vida, não apenas a da humana. "O amor une, o desamor desune", dizia. E levamos para o nosso conceito caseiro a afirmativa dentro da qual pressupõe-se que o que existe entre mim e a outra pessoa -- seja ela um filho, uma esposa, uma amante, uma namorada, enfim, -- qualquer ser que esteja dentro de uma margem de sentimento acima do grau permitido pelo coração, chamamos de amor, porém, o que entende-se ou se permite entender ao que se coloca é que o Amor une, e a nossa ignorância quanto aos conceitos pode dividir os homens ao seu real entendimento -- o que geralmente acontece.

Amor sempre será um deus, segundo os gregos clássicos; enquanto para os ocidentais de hoje, será apenas um verso, uma pessoa, um objeto, ou qualquer ser que preencha nossa alma interesseira.

Mas o amor entre pai e filho?

Ainda que chamamos de amor, ainda que queiramos que seja algo divino e sagrado, ainda que queiramos que nossas guerras sejam as únicas quando defendemos aquele que realmente amamos... É um direcionamento, não um amor voltado ao Todo. E por isso, pode ser um devaneio profundo dentro do qual não encontramos palavras, verso, dicionários modernos, antigos, para conceituá-lo, e assim chamamos de amor.

Se o fizermos, ou melhor, se o particularizarmos como forma de dizer que estamos sendo mais que muitos, é porque não observarmos muitas espécies que não são humanas, como os animais, pequenos ou grandes, e assim, nos máximo, estamos nos igualamos instintivamente àquele animal, o que, para nós, que buscamos o verdadeiro amor, o mais simples, o mais puro, o mais belo, o mais universal, caímos ao chão...

Na República.

Na educação platônica, mais especificamente quando Platão fala em seu livro acerca da Justiça, nos transfere uma ideia mal compreendida por todos até então. A ideia de que mães e filhos não devem se conhecer no leito, se espalhar entre os grupos, sem a genitora saber quem foi que ela trouxe ao mundo... 

Como todos sabem, é o instinto de mãe que marca a força entre os dois quando do nascer da cria, e para não ficar com esse sentimento direcional em função de uma só pessoa ao longo da vida, ou mesmo distribuí-lo, ao sentimento de que algum pode ser o seu, o mestre idealizou que nenhuma mãe em sua República ideal deveria saber quem seria seu filho.

O direcionamento, assim, nos torna frágeis, apegados à matéria, ao que nos atrapalha "na subida", enfim, ao entendimento do que seria Amor.

Mesmo assim, ainda não havendo outra palavra, digo que não devemos procurar outra. Mas não devemos estacionar em nossos conceitos, pelo contrário, temos que procurar conceitos universais, pois podemos cair no sectarismo antes mesmo que partidários a algo.


Amém,

quarta-feira, 2 de maio de 2018

O Pai, o Filho e o Medo

Em muitas tradições, principalmente a Cristã, há várias conotações entre pai e filho, nas quais a bipartição de algo, o inicio de algo, a simbologia perfeita da linha inquebrantável entre os dois, a força da matéria em sua profundidade, ou, a meu ver, a mais cruel das formas de demostrar o amor entre pai e filho.  A mais conhecida, com certeza, é de Abraão, personagem bíblico, citado no Gênese, que teria -- ainda que não fosse encontrado nada que o houvesse existido dele, -- sido pivô do nascimento de várias das religiões mais polêmicas do mundo: cristianismo, judaísmo e islamismo...

Se eu não me engano, Deus, em sua forma mais tradicional, antes do Novo Testamento, agindo como um grande Senhor dos exércitos, teria, segundo o livro cristão, pedido a Abraão que sacrificasse seu filho, em um sinal de fé. Talvez uma das provas mais difíceis do ser humano, a qual, por mais palavras que usemos, não conseguimos detalhar a dor de fazê-lo, como se fôssemos escravos de vontades de um grande senhor feudal. Mas não. Era o grande Deus a pedir que o líder judaico levasse seu melhor filho ao abate, assim como um cordeiro.

A ato não se realizou, nem mesmo se houvesse a necessidade de fazê-lo, pois Abraão, assim como um grande pai, teria que levar para si a dor universal em sua alma, se uma vez o sacrifício fosse realizado, e isso, a meu ver, destrói toda realidade entre dois seres que nasceram para harmonizar um mundo, uma sociedade e principalmente uma família. E ainda não falo do Amor.

Se Abraão o fizesse também morreria. Pois estaria a realizar em si mesmo o sacrifício maior, que era o de matar seu filho Isaque, o qual nascera de sua real mulher, após anos de espera.


Cenas simbólicas ainda se repetem nesse sentido quando Davi, grande guerreiro judeu, vence várias guerras e é "testado" pelo seu senhor com o mesmo ato ao seu filho. O mesmo ocorreu. Não houve mortes, mas o grande líder, que exterminara com o grande gigante Golias, soube que a partir daí tudo devia ter um preço, o do coração.

Nas páginas da Mitologia grega também houve semelhanças a esse ato quando da Guerra de Troia. Segundo nos conta o mito, Ifigênia, filha de Agamenon, foi sacrificada em meio a um altar para que pudessem os guerreiros de Agamenon tivessem acesso ao mar e fosse para Troia combater contra os gregos, na grande muralha. 

Os deuses, assim como o grande Deus cristão, não pensaram duas vezes, e fizeram com que o grande líder espartano colocasse a filha a morrer em suas mãos no altar em troca de ventos para as velas dos grandes navios que iriam singrar nas águas imortais da tradição.

Segundo Eurípedes, o contador de histórias, os deuses perceberam a fé daquele que já estava pronto para a demanda, e por isso pediram a ele, graças ao seu sentimento puro e humano, o corpo ainda vivo da jovem, que teria pelo menos uns seis anos, dizem, e que antes que morresse nas mãos do pai, fora substituído pelo de um cordeiro.


Reflitamos sobre esses mitos, que nos pedem mais que compreensão, mais que intuição, pedem que reflitamos sobre o que é o Amor.

 ...

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....