sexta-feira, 31 de julho de 2009

Espelhos e Reflexos


Envelhecer é inato, é, além de tudo, preciso. Envelhecer no sentido mais sábio da palavra, que ainda busca algum significado (ou um verbete certo) para dizer que deixar de ser jovem não é morrer, não é deixar a vida solitariamente, ou mesmo fugir da multidão. Não. Não é isso... Não é deixar os cabelos brancos, como dizia Platão, “Cabelos brancos não são sinal de sabedoria”, mesmo porque podemos encontrá-la antes que isso aconteça, porém, sabedoria, no sentido menos exato, está somente àqueles que passaram pelas águas de uma grande experiência e que dela tiraram o sumo para uma vivência bela, mesmo e apesar dos trejeitos.

Envelhecer é sorrir aos adventos de uma idade que se está indo e nos indicando um sinal de beleza apesar de uma aparência que não condiz com o coração, cheio de sonhos. Mas nossos sonhos, principalmente daqueles que chegaram à idade da grande sabedoria, não morrem à mingua numa cadeira de balanço, em asilos, em jogatinas caseiras, em programas de auditórios televisivos, muito menos em novelas globais...

Nossos sonhos parecem começar a cada primavera, a cada verão, pois somos dotados de práticas internas nas quais somente nós sabemos de sua realidade. O sonho nos faz jovem, ainda aventureiros desmedidos, pois tudo que fazemos, apesar da forma física, querer voar acima de nossas possibilidades, por isso, surfamos, corremos, andamos de manhã, sorrimos ao sol, choramos com sua ida, dançamos com nossas parceiras, ‘uivamos’ à meia noite, cantamos nos chuveiro, cheiramos a terra molhada... E assim, trilhamos nossos sonhos, com a certeza de que estamos ladrilhando nosso caminho até o fim de nossa aventura.

Envelhecer não é chorar escondido, não é reclamar da vida, não é a aparência do espelho, não é nem mesmo a aparência que o mundo nos dá. Envelhecer é ser a cada dia jovem, no sentido de nunca desistir de ser um homem (ou mulher) idealista das coisas mais simples. Não é tentar igualar-se ao real surfista das grandes ondas, mas o surfista que dribla o rancor e tristeza, que, na idade vital, se tornam oceanos em nossas mentes. É tentar entender os mistérios de sua própria idade, à qual chegamos (querendo ou não), na tentativa de elucidar os mistérios do grande ciclo que forma em nosso corpo e em nossas almas, regidos pelo Grande Espírito.

Envelhecer é saber lidar com seus instintos, com seus desejos, e canalizá-los para o alto, para as esferas de uma realidade que deixamos de lado em nossa juventude agressiva e mal direcionada.

Quando nos olhamos no espelho, vem-nos o sentimento de morte a cada faísca de decrepitude, ou seja, a cada sinal de morte celular em nossa face. E pensamos, “o que fizemos em toda nossa vida?”. Não há como voltar e tentar realizar as grandes piruetas do passado, e assim tentamos com novas piruetas nos tornando “jovens na fala”, “jovens no vestir, imitando o filho ou a filha, sem assenta-se em nossa própria idade... Nos ridicularizando frente à família, a amigos, a filhos... Sem desenvolver um patamar idealístico que combine com nossas maturidade (pelo menos aquela que devíamos buscar).

Mas o espelho está ali e não mente. As faíscas se tornarão tão evidentes que serão necessárias plásticas, a fim de refazer nosso mundo que perdemos quando estávamos dormindo ou quando o trabalho havia se tornado nosso maior inimigo, e assim “tenho que recuperar a antiga forma”...

Os espelhos não mostram o que temos lá dentro de nós. Se fosse possível, mostrar-nos-ia um ser humano confuso, bagunçado, sem rumo... Tão feio quanto a nossa própria aparência. A provável saída, nesse caso, seria um espelho que nos mostrasse o que temos dentro (!). Não o temos...

Em busca do aperfeiçoamento físico, nos esquecemos do interno, aquele que tanto falam os filósofos, que tanto falam as escrituras. Todavia, não temos essa cultura de aperfeiçoamento interno, e provavelmente vamos chorar por muito tempo ao nos olhar no espelho físico. Digo físico porque há aquele que nos induz a nos melhorar como pessoas, nas mínimas coisas que fazemos. São os mestres. Espelhemo-nos nesses grandes homens, cuja sabedoria (apesar de tão antiga quanto qualquer coisa) nos torna jovens em todos os sentidos, pois nos faz encarar uma natureza cíclica, sem a qual não estaríamos a refletir e a viver como homens de bem. A morrer e a viver, e assim sucessivamente, numa eterna evolução.

O espelho interno não se vê, mas pode-nos ser útil no confronto com uma realidade social que faz o possível para desvirtuar valores que nos foram regados no passado, como por exemplo o confronto com a nossa própria vida. E como dizia o mestre Platão “Saber viver é saber morrer”.




Aos Homens de Ouro

terça-feira, 28 de julho de 2009

Ficar para Sempre

Não se sabe se houve época em que homens e mulheres tiveram dourados relacionamentos, fosse em namoros, fosse em noivados ou casamentos. Sabemos, todavia, que tivemos um legado tradicional em que o respeito mútuo era a âncora dos dois – homem e mulher. Mas não é engano achar que na história da humanidade, um dia, houve algo que realmente unisse dois seres humanos com finalidades precípuas, naturais de seres humanos idealistas, no sentido mais espiritual que se possa compreender. Até mesmo no namoro, – de maneira genérica, claro, pois há pontos culturais – no qual há o conhecimento dos dois no sentido mais romântico (não sexual) possível, a síntese de inocência poder-nos-ia dar a ideia de como estamos levando ao extremo os relacionamentos: primeiro, o olhar; depois, o diálogo, mais tarde – dependendo do fator cultural – sair com ela (com a pretensa e futura mulher) seguida da família, como se, simbolicamente, o pedido do pretenso marido fosse extensivo a todos.


E realmente era, pois assumir uma pessoa é assumir uma flor e suas folhas, espinhos e sua natureza de crescimento, desenvolvimento dentro do grande canteiro chamado família. Para nós, não nos caberia tal comportamento (nós ocidentais), pois somos de certa forma desvirtuadores de leis tradicionais a fim de modernizá-las até mesmo em relacionamentos – o que não nos torna melhores do que os antigos. Um comportamento que faz duas pessoas a conhecer nos primeiros meses (não anos!) todos os aspectos físicos (sexuais), emotivos, intuitivos e psicológicos do outro está fadado a cair no ostracismo. A ideia de que podemos conhecer mais do outro nos faz medrosos pois já conhecemos o básico dele, e isso nos faz limitados a qualquer descoberta amorosa.


E assim, por sermos fincados à cultura sexual, graças à apologia incansável das propagandas, envelhecemos tão rapidamente que esquecemos de viver o espiritual em nossos relacionamentos -- coisa que a natureza cansa de gritar em nossos ouvidos. Outras culturas, dessa forma, traduzem a união como uma necessidade de procriação, o que não é diferente do que vemos atualmente. Mas, dentro desse meio, contudo, observa-se a ingenuidade de levar o casal a reconhecer-se de maneira diferente, como, por exemplo, se ver apenas no dia do casamento. É perigoso ao ocidental, mas há, nessas culturas, a finalidade de levar os dois – homem e mulher que se conhecerem no dia do casamento – a certeza de que no limiar de sua vida conjugal sejam descobridores de si mesmo e do seu companheiro. A lição, para nós, releva-se dificultosa, justamente pelo fato de que nossa tradição é contrária: temos que nos conhecer antes, para saber com quem estamos nos casando. É mais racional que espirituoso, porém. Isso nos torna infantis no processo moralista dentro desse meio que é tão importante ao homem e à mulher, como já foi dito.


Na antiga Grécia (no antigo egito...), o respeito aos deuses era tão necessário quanto o respeito aos dois que se uniriam mais tarde. Antes de haver o casamento, ter-se-ia a certeza de que ela respeitaria os deuses dele (do futuro marido), pois mais tarde a mulher faria parte de uma família que cultiva outros valores. Casando-se, teria ele, o marido, que carregá-la até a porta da casa dele, em seus braços, deixando a família dela completamente sem vínculos com a moça. As leis às quais ela obedeceria mudaria sua vida, mas não tanto pois, na Antiguidade, sabia cada cidadão que os deuses nada mais eram que potencialidades naturais a serem respeitadas, e que todas elas faziam (fazem) parte do mesmo contexto universal.

A tradição tinha das suas, nós, no entanto, infelizmente, não temos das nossas, nem mesmo para contar aos nossos filhos. O que contamos faz parte de uma época meio remota (década de 60, 70...) na qual o respeito já era mínimo e o machismo já predominava por razões interesseiras.
Observar o passado nesse sentido é perigoso, pois clausura gerações sintetizar o que na realidade não é nada mais que um gomo de cana mastigado, ou seja, o bagaço de algo que realmente era doce.

O que mais resume o passado do homem e da mulher, no entanto, não é o casamento, nem mesmo os namoros pelos quais passaram e passam até hoje o casal, mesmo porque se formos relatar casos e mais casos de desrespeitos conjugais, começaremos com o “ficar”, no lugar do namoro, abstendo adolescentes de responsabilizar-se por uniões prematuras, por isso o “ficar”, mais conhecido como o “tô fora, malandro”, “revolucionando”, como última moda, a sexualidade juvenil. O que fica é o cavalheirismo do homem e o comportamento da dama que foram, na tradição, meios pelo quais muitos relacionamentos perduraram por muito mais tempo do que as cínicas bodas de prata e ouro de alguns casais (nem todos claro!), o que reflete a forçosa união do homem e mulher sem mesmo ter uma âncora a jogar no mar bravio da relações – por isso o cinismo.

A obediência às leis, aos deuses, o respeito profundo à pessoa humana, a tudo que estaria inerte ou em movimento, a compreensão do todo; a prática dos mitos em suas vidas, o respeito ao que era simbólico, e principalmente o que representava Deus (não antropomorficamente) em toda natureza. Isso fazia do homem o eterno buscador de uma natureza que somente ele sabia traduzir, pois o mistério das relações não se restringia apenas ao sexual, mas ao entendimento da alma da sua esposa, e ela com a dele, e os dois com o sagrado.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Religare


Nascer todo dia, esse é o meu conselho. Se todos passamos por diversas intempéries naturais de um ser humano, é porque somos seres humanos, não cavalos, porcos, aves, periquitos ou macacos. Somos seres que acordam em meio a guerras diárias, mas também em paraísos escondidos, e não sabemos. Estes, tão escondidos em nossa alma, porém, tão visíveis quanto nossa própria imagem no espelho, são os grandes responsáveis pela nossa vivência – ou melhor – pela nossa sobrevivência num mundo de pessoas que não se compreendem e não esperam se compreender, mesmo porque não lhes interessa. Somente quando lhes toca o “calcanhar de Aquiles” é que se tornam vulneráveis a qualquer diálogo em sentido até mesmo bíblico.
Não podemos esperar que nossos calcanhares sejam arranhados, tocados... e olharmos para o céu pedindo perdão a Deus, não, não podemos. A porta seria olhar para si mesmo; compreender que somos seres religiosos, seres que perdoam, que amam ou que podem compreender o amor; olhar para si mesmo e ver um grande sol se fazer pela manhã, tão belo e ursal, sorrindo em nome de tudo que é misterioso e divino -- diferente dos animais. Então, olhemos. Oremos.

Quando o grande disco se vai na tarde, ficamos a observá-lo novamente e nos questionando “o que ele ganha com isso?”, “Por que tamanha bondade se somos seres tão brutos e não lhe damos absolutamente nada?” – são apenas indagações advindas de nossos corações frios e sem amor, cuja sabedoria não passara nem perto.

E assim, permanecemos intactos ante sua beleza indo embora, transparecendo um deus que se deixa luzir em sua calda alaranjada, até se acabar... E não aprendemos nada sobre ele, de novo.

Todavia, suas chamas ainda ficam em nossa memória, como uma miniexperiência filosófica sobre a qual não temos nem mesmo ferramenta para o entender, mas o buscamos à medida que sorrimos a alguém, abraçamos a alguém, damos amor a alguém. É ele, o sol em nós, fluindo misteriosamente feito sangue invisível em uma alma perturbada e ao mesmo tempo cheia de raios aos semelhantes que por ela passam.

As chamas desse grande deus continuam na música (de Bach, Mozart, na Nona de Bethoven...), elevando a alma ao mais quente dos cimos. A música enfeitiça como uma lua que brilha nas ondas de um mar distante, sem ninguém, apenas um observador, o próprio espírito, ao longo, na praia, clamando nosso nome.

Nada disso é imaginação, nem mesmo abstração. É revelação. É religião.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Há (mais de) Quarenta anos na Lua


Quando observo nos noticiários a falta de comida – consumo básico para sobreviver – nas grandes cidades, nos campos, interiores do Brasil, vem-me logo o link ao continente africano, que, depois de anos colonizado por ‘trapalhões’ ingleses, portugueses, franceses, sofre por isso e pelas lutas de tribos por uma liberdade meio confusa do estrangeirismo ainda em voga no país. Mas sabemos que, antes disso, morrem de fome milhares ou milhões de africanos por dia, em meio a lutas e torturas do dia a dia, em conseqüência da má administração das colônias e da discriminação com que trataram (e tratam) o continente.

Hoje, vista como o esgoto do mundo, a África é retratada, falada, vista e mal apreciada por todos, deixando sua cultura sempre em último plano, agora, por nós, os preocupados com nosso espaço, como nossas estrelas, com nosso universo.

Prova disso são potências, como Estados Unidos, China, União Soviética, que possuem a finalidade de resgatar uma organização voltada a reorganizar o que em outrora os ‘trapalhões’ fizeram, não chegam a lugar algum. Na promessa de bilhões em investimentos, tais nações, em contrapartida, investem, no continente africano, trilhões em armamentos. O resultado é uma África ainda mais isolada do mundo, pela violência patrocinada.

Por outro lado, o orçamento direcionado à ciência, ou pelo menos ao que ela objetiva, é cem por cento. Uma prova disso é que, hoje, o homem moderno se preocupa muito mais em voltar à lua, depois de quarenta anos – uma das mais belas proezas, claro – e não pensa em outro investimento; é preciso firmar-se no chão das necessidades mais urgentes. Pois, se temos um continente que há mais de cinqüenta anos a sofrer todas as mazelas do preconceito e discriminação humanos, e por outro uma ciência que repensa em levar cinco ou seis seres à lua ou ao sol, a Marte, a Júpiter, não sei, é pura desumanidade! Temos que repensar nossas prioridades, ou rever o que significa prioridade, porque nos parece que não sabemos.

Nos museus, com fotos de pedaços que nos trouxeram do satélite natural, pessoas cujos olhos se encantam buscam chorar com o mineral, simplesmente porque nunca o viram. Se pelo menos fossem mais idealistas e tivessem um entusiasmo verdadeiro em relação à pedra, mas não, são apenas emoções frias, forçosas, com sorrisos oblíquos, na tentativa de mostrar um racionalismo acima da média, misturado a palavras rebuscadas, esperando um elogio ( é assim que se portam os críticos de arte).

E nos jornais, notícias esquecidas de um povo que luta por uma forma de comida (não de vida), não necessariamente um arroz ou feijão, nem mesmo uma carne, mas algo comível, que possa assentar-se no estômago até o fim do dia; jornais que, brevistas, tentam sensibilizar com palavras tão tenras e colóquias uma história, uma época, um povo cujas palavras amor, carinho e paz raramente são pronunciadas e ouvidas.

Mas o homem tenta, heroicamente, em busca de novos investimentos, dinheiro para subir, subir, subir... e dizer mais uma vez lá de cima “É um passo pequeno para o homem, mas um grande passo para a humanidade”.




segunda-feira, 20 de julho de 2009

Pai, o Manual Existe (I)




Ainda que houvesse um manual que nos traduzisse a melhor maneira de educar os filhos, o jogaríamos de lado (o manual é claro..), esqueceríamos todos os detalhes do livreto, fosse em inglês e espanhol, português, ou mesmo ilustrativo apenas, e nos encarregaríamos pessoalmente de ligar o filho; é, assim como nos chega um computador, uma máquina de lavar... Sei lá, ou mesmo um brinquedo complicado... Se houvesse esse manual, no entanto, com certeza, muitos divergiriam de sua redação, do conteúdo, da ponto de vista, do que faltaria, ou mesmo da rigidez...

Ou seja, assim como tudo que é imperfeito no fazer humano, o manual já nasceria morto. Não há manual. Não há, hoje, alguém ou mesmo uma instituição voltada à criação, desenvolvimento, maturidade, juventude, envelhecimento e morte de um ser humano que, suponho, dê certo (digo suponho, entenderam?).

Hoje, em nome de religiões que adotam – depois de velho – muitos de seus fiéis, acreditando reeducá-lo em relação ao nascimento ou morte universais, levando-o a acreditar em regras pos morten, mas não em relação ao seu presente, atrapalham mais que ajudam, pois estão traduzindo precariamente uma lei natural baseada em premissas frágeis pelas quais se passam individualmente, e não coletivamente, e isso é perigoso.

Além disso, levar uma criança a acreditar nesse caminho tortuoso em relação a céu e infernos e não ao seu presente – ações e reações --, é como ensinar que as escadas não possuem degraus, é traspassar uma idéia de que as montanhas são fáceis de subir, e que o seu cimo é embaixo e não encima!

A complexidade do caráter educativo que nos colocam as instituições não só nos faz sentir fracos, mas, muito mais, sem referenciais. E realmente, não temos. Então partir de que ponto? O que está restrito aos seres humanos quando falamos em educação, em amor aos filhos, em família? Tudo. Nossa educação – ainda sem manuais (referenciais) – revela-se fria e regada a políticas falsas – seja na religião, seja na real política (Congresso, Câmara...) --, de forma que não se pode andar. Às vezes acredito que não sejam políticas falsas, mas a real ignorância em iniciar um processo real educativo no qual crianças, jovens e idosos sejam inseridos. Muito falam de interesses próprios, de que há uma confabulação contra tudo e todos a fim de que “seus interesses” não sejam feridos. Quanto mais um empregado souber da realidade de sua empresa mais cedo ele será demitido, pois ele pode tomar o lugar do patrão...

É claro que nesse âmbito estaríamos falando metaforicamente de senhores e governos, de uma época massacrada pelos valores perdidos, e mais, de pessoas perdidas há muito tempo; acho que estou falando de nós!... Estaria, ainda, falando da história – da grande história – e dos mal avisados de uma educação porque estavam passando, e que, hoje, colhemos frutos podres desse comportamento desavisado.

O manual pede para existir. Todos pedem esse manual. Razão? Não há freios para o comportamento vil dos jovens. O dragão os engole sem questionamentos. E eles entram na boca do animal, querendo mais experiências próprias, mais adrenalinas, simplesmente pelo fato de querer testar a vida. Ao testá-la, não gosta do que não viu e, sem ferramentas para voltar, sem alguém que possa elucidar seus problemas, suicida-se.
Os pais, eternos filhos de uma vida que não souberam se educar, choram e pedem a Deus que os guardem em seu trono. É natural e concebível... Não há nada direcionado à educação como um todo em nosso meio.

O Manual

Na antiguidade, na idade de ouro da Grécia, Roma, Egito e de outras nações realmente civilizadas, o governante, antes de levar a criança a qualquer profissão, ou qualquer escola de cunho didático, a levava a ter a real educação, cujos parâmetros eram uma filosofia baseada na Ética, Moral universais, nas quais o ser humano estaria inserido não como um ser especial, mas como um ser que comungava valores também universais; ou seja, o que se aprendia ali, serviria para qualquer época e lugar. Esse pensamento estaria dentro da Arte, da Religião, da Política, das Leis, as quais até hoje – graças a elas – o mundo ainda existe. Tal idéia repele, assim, o partidarismo, o qual, de alguma forma, existe e atrapalha na consecução de seus fins e dos fins humanos, justamente por ser partidarista.

Hoje educação é informação, não formação. Do contrário que se aprendia nas clareiras das fogueiras nos tempos dos guerreiros que contavam a seus filhos feitos nas quais havia a disciplina, a ordem, a lei, mesmo na guerra – ao contrário das guerras atuais.

Não há guerra, não há batalhas diárias nas quais morre-se com escudos, espadas imensas, ou mesmo vestido em prata, numa armadura tão pesada quanto nossa consciência, mas o medo em transformar filhos em guerreiros do dia a dia, em gestos e modos clássicos, dos quais se podem tirar orgulho e independência. Simplesmente pela falta do Manual.

Atualmente é melhor educar um cão que uma criança. O medo de adotar uma criança, trocar suas fraldas e mais tarde ser ofendido ou ofendida, leva o cão tomar o lugar de muitas delas que vieram ao mundo e pagarem pelo que realmente não fizeram.

Na antiguidade, pais doavam suas crianças a escravos que sabiam, às vezes, mais que os patrões, os quais educavam de forma clássica aqueles filhos. Após certo tempo, voltavam a fazer parte do âmbito familiar esmerados, fortes, com uma natureza afetiva e guerreira das quais podiam-se extrair mais e mais frutos. Daí vieram os grandes governantes, generais, imperadores...
O manual começa a ser feito.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Em Nome de Deus


Sabemos que no passado a Igreja assassinava em nome de Deus: quem não fosse seu adepto, seria queimado, torrado, mas não esquecido. Há muitos que não foram adeptos, como o herói Giordano Bruno, em sua saga particular, levado ao extremo do sacrifício somente para fazer parte de uma grande mentira à qual teria que ser obedecida.

O tempo se passou. Não temos mais a Igreja que nos ameaça com tochas embaixo de nossos pés, mas temos uma cultura que nos execra se pensarmos contra o que nos é imposto. Não querendo me referir a esse tipo de restrição, nem mesmo falar acerca dos valores cléricos atuais, mas sim de uma cultura corrosiva, a qual, como no passado, nos lacra as possiblidades de viver em função do Bom, Justo e Verdadeiro. Falo dos meios televisivos e de outros meios de comunicação, que, embora tenham serventia válida para determinados fins – como alguns programas, que não são a maioria, -- nos joga cachoeiras de inutilidades das quais não se pode tirar nada, nem mesmo criticar, pois há simpatizantes dentro desse meio. A força é mesma do passado. Apenas não percebemos.

O show de horrores começa quando ligamos a TV, às seis e meia da manhã. Percebe-se, pode acreditar, que há competição de como e quem mostra mais pessoas mortas na cidade e no país; algumas lançam jornalistas quase dentro do corpo do defunto, antes mesmo da perícia, com intuito de demonstrar a agilidade e competência da emissora em relatar, in locu, o féretro que necessita urgentemente ser retirado das ruas; mas, como se pode perceber, até mesmo a cultura pobre, nos permite pensar que o cadáver ficará ali somente para ser observado por todos, até o último candidato a choro observar, e logo após o último detalhe da última emissora ser levado ao ar...

Nos desenhos que vão ao ar por voltas das nove e meia, a violência virou brincadeira de criança. Sem exagero, os cartunistas capricham nos sangues dos personagens, os quais fazem rosto de homem sério, não de criança, nem mesmo de adolescente, mas de homens maus, cruéis, dos quais saem palavras fortes, que, para uma criança de nove a dez anos, tenho a certeza, apenas dos pais se podem ouvir.

Mas vamos mais além. Nos programas vespertinos, jovens de todas as idades falam gírias incompreensíveis naturais da língua, mas, ao que me parece, nem mesmo em outro planeta se pode compreendê-los. Mas quem liga para isso, quem liga para uma cultura esfacelada, e quem sabe o que é cultura, e além, o que estamos fazendo aqui assistindo a esses programas, e por que não estamos jogando uma bola, correndo, vivendo, vibrando com a vida em nossas veias, e se emocionando com as coisas belas da vida?

Ao que nos parece, a propaganda contra ao que nos é de direito ainda é pobre. Rica é a cultura das cinco e meia para seis da tarde, na qual mostra pessoas relatando seus problemas, caseiros, individuais, em nome do belo dinheiro, a um apresentador que, se fosse em um determinado país, já tinha sido enviado para a linha de execução por matar gerações e gerações de jovens com sua infeliz presença, quiçá com o diz.

Nossas personalidades, incitadas com os conflitos alheios, iniciam um processo de bestificação. Queremos a qualquer custo alguma coisa para criticar o próximo – seja irmão, amigo – a fim de saciar a sede do mal que há em nós. O processo é lento e mascarado, pois podemos jurar que o que fazemos é certo e não fará mal algum, nem mesmo às crianças que a eles assistem.

Porém, não gostamos de comer baboseiras, não gostamos de dormir em espinhos, não gostamos de ter pesadelos, não gostamos de qualquer mal visível, correto? E o mal invisível, quem poderia distingui-los? Onde está? Será que o demônio só se encontra nas veias do fiel que cai pedindo ao pastor que o deixe de qualquer maneira?... Será que o mal é somente quando a morte roça em nosso pescoço nos momentos mais difíceis? Acredito que o mal também é uma questão de escolha involuntária que fazemos. Às vezes está tão perto de nós quanto uma pessoa querida. O mal pode estar todos os dias se propagando nas primeiras fileiras dessa guerra não declarada, mas que, no fundo, sabemos que ele está ganhando.

As TVs, não sei qual é o propósito, mas, em nome da educação, do amor, da juventude e da alegria, transformam nossos dias em puros filmes de terror, nos quais os personagens somos nós mesmos. Pois tudo que se introspecta na vida real faz efeito em nós, tão fortemente quanto um beliscão, ou um puxão de cabelo, mas não sentimos... Será por quê? Talvez ficamos adormecidos pela grande propaganda dos desenhos, novelas, filmes, programas apelativos, que tanto há anos nos destroem a alma...

Renovemo-la! Lutemos até o fim de nossos dias, sabemos que podemos contra todos e contra tudo. Sabemos o quanto é difícil, claro, pois temos poucas armas, mas temos a principal e mais infalível: o coração, ainda fértil de terras onde se pode plantar bons frutos, como o amor a livros e músicas clássicas; plantar uma educação, ainda que para o nosso meio é caipira é antiquada, como por exemplo, sorrir com o sorriso de seu filho, seja ele pequeno ou grande; ser amável, ainda que uma forma imatura de lidar atualmente com as pessoas. Abraçar seus pais, beijá-los; colocar em diários o que podemos fazer de bom para os próximo amanhã!

Enfim, propagandear seus próprios ideais de humanidade, antes que acabemos com o mundo e sejamos mais um a espera do fim, sem mesmo fazer algo para que um dia houvesse um bom começo...

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Pequenas Revoluções


O mundo, dizem, está em seus últimos dias. Seus habitantes, tão inconformados com seus ‘exemplares’ governantes, morrem à mingua, à margem dos poucos que conseguem sobreviver com muito. Continentes inteiros onde seres humanos caem pela miséria são esquecidos e lembrados apenas em filmes, nos quais pouco é mostrado. As soluções, cada vez mais distantes, se direcionam ao meio ambiente – rios, florestas, animais – menos aos esquecidos. Lembrando que fazemos parte também deste meio!

A frialdade inorgânica da terra, como dizia Augusto dos Anjos, consome os pés dos Africanos, dos imigrantes, dos favelados do mundo; a água suja bate os pés daquelas almas, que, embora esquecidas, buscam a sobrevivência em assaltos, roubos, pequenos e grandes furtos, em mortes desnecessárias; e nós, da camada mais ‘alta’ da pirâmide (invertida), racionalizamos e supúnhamos fórmulas mais frias ainda, pelo fato de não sermos nós os esquecidos...

É um quadro que nos parece imutável. Mas não é. Imutável apenas se fôssemos conformistas com nossos problemas, mas não somos. O ruim é dar ênfase apenas a eles, probleminhas que nos cercam e nos fazem rodar semelhantes a cachorros atrás do rabo. Passam-se as estações do ano, o aniversário de nossos filhos, a lua, o sol, a natureza... Os ciclos se fazem, e nós, filhos de nosso egocentrismo, presos ao nosso rabo!

Ficamos presos a uma realidade só nossa, aquela pela qual lutamos até o fim de nossos dias... “deixe o meu radinho para o meu filho, a cueca para o me cunhado, os sapatos para o meu...” – e antes de dizer... capuf! Morre.

Acredito que nosso legado não se restringe apenas a elucidar mistérios de nosso umbigo. Não se restringe a choramingar em cantos e parar de trabalhar, a ficar com raiva do amiguinho que nos faz uma brincadeira de mau gosto; ou ainda, presos a brigas que não são nossas, ou a outros problemas, pequenos, que nos afincam na terra qual plantas, sequóias... Não... Não...

Nosso emblemático tempo tem, apesar de todas as feridas, nos dado experiências necessárias que nos dizem o contrário a isso tudo. Os pequenos problemas, que para nós é o fim do mundo, para outros, é o inicio de uma vida, o inicio de um céu. Ou seja, estes que vêem em suas vidas a resolução para um mundo melhor têm mais possibilidades de encontrar a saída do que aqueles que se afincam nele – depende do modo com vemos o problema.

Se vejo em minha vida a possibilidade de resolver de maneira mais simples meus pequenos problemas, e da mesma forma os maiores, com certeza os resolverei, e mais, terei a possibilidade de resolver até mesmo os dos outros, no entanto, não posso fazê-lo, apenas dar-lhe a chave para encontrar uma saída – chave essa baseada em premissas pelas quais resolvi os meus... Mesmo porque, resolvendo os problemas alheios, estarei acumulando mais dificuldades além das minhas, portanto temos que saber lidar com isso... Ou melhor, com as pessoas!

Os mestres não resolvem problemas alheios, nós o resolvemos. Apenas nos dão meios (chaves internas) a partir do que já temos, no entanto não vemos, às vezes, pela ignorância, às vezes, por sermos confusos na hora de encontrar a solução (dá no mesmo!). Sócrates sabia que tínhamos a verdade em nós, e por meio de um método natural (a maiêutica) multiplicava perguntas, induzindo o interlocutor a descobrir a verdade, em si mesmo... Assim o faz o mestre na tentativa de nos ajudar a crescer, pois é para isso que eles existem, não para a resolução de nossos problemas!

No entanto, presos aos nossos, ou preocupados em demasia com o lixo atômico, e ainda, em passeatas longas e cansativas contra os casacos de pele, esquecemo-nos dos simples que estão a nossa volta. Mendigos que na calada da noite morrem de fome por falta de uma ajuda mínima, vítima de nossas desconfianças... Crianças ao nosso lado caem no lixo da esperança sem auxilio, nem mesmo racional, pela mesma desconfiança, que gera mais e mais marginalizados. Às vezes, nosso vizinho, na busca pelo “açúcar” nosso de cada dia que transborda em nossa prateleira, na realidade, quer uma atenção, um sorriso, um abraço... Algo tão distante, para ele, quanto a lua da terra.

Mas nossos problemas, vendas eternas, nos dirão ao contrário. Dirão que devemos fechar as portas da vida e ficarmos presos em nossa casa, sem abri-la (nem mesmo nossos corações), com cadeados fortes, correntes idem, convictos de estamos certos, pois “o mundo está triste e não temos que confiar em ninguém”...

A evolução humana depende de fatores que, como cálices, estão ao nosso lado, ou melhor, em nós. A fim de tomar esse cálice e levantar na busca da resolução dos grandes problemas e necessário entender que ele – o cálice, -- encontra-se em nós como a maior ferramenta de todas, na resolução dos pequenos e simples conflitos.

Não sejamos tais quais crentes ou qualquer xiita maluco que quer o céu esquecendo o próximo, ou o levando para um céu imaginário. Primeiro, enxergar o mal em nós, depois enxergá-lo no próximo como uma natureza diferente, porém que também está (ou pode estar) em nós... Assim, pequenas evolução serão feitas, sempre em nosso nível, de acordo com nossa natureza.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A Era em que nos calamos


Desde criança, passamos por fases e mais fases, e uma das mais brilhantes é aquela que questionamos acerca de tudo; claro, sempre de acordo com nossos interesses naturais (o que nos é devido). Não há como nos frear. A questão não para aqui, contudo.

Passa-se a infância, a juventude, vem-nos a maturidade – a mais inquieta de nossas fases – na qual dúvidas sempre há no sentido mais inquieto da palavra --, no entanto, somos obrigados a frear tanto entusiasmo, e começar a obedecer dogmas que nos dizem quase literalmente “pare de questionar”.

Como podemos parar algo que nos é nato? Algo que nos pertence, está em nossas almas, e para além da eternidade, tal qual um bem consumível e ao mesmo tempo jamais perecível, justamente pelo fato de ser nato.

É como dizer a uma estrela “pare de brilhar, pois você está nos incomodando!” – como o propósito de silenciá-la e deixá-la na escuridão do universo. Somos semelhantes a essa estrela que, silenciados, precisamos brilhar novamente em busca de novos universos, ou apenas de uma consciência que nos centralize e nos desamarre das algemas da mentira que nos cerca.

Hoje, tudo é feito de maneira decorada, inclusive questionamentos em relação às instituições, que, sempre, dão um jeito de manipular nossas falas, atos, pensamentos... Até nossos questionamentos. Estes, que não passam de pequenas indagações acerca do pequeno mundo, são limitados: “Por que Sarney não sai do Senado?” / “Por que aquele padre não é preso pelo crime tal?” / Por que o deputado Tal não foi preso?” – E assim prosseguimos por uma ladeira que eles constroem para descermos e nos espatifarmos em lamas ou em pedras; e subimos a mesma ladeira e caímos nas mesmas falácias baseadas em questionamentos pré-elaborados e respondidos.

Não querem que façamos questionamentos do tipo “Por que não modificam a educação, a fim de mudar o comportamento humano, em relação à Justiça, à religião e à família ?” – simplesmente porque são os pilares de uma sociedade, e mudando-os, verão que grupos mudarão, sociedades mudarão e o mundo mudará. Alguns grupos – aquele das perguntas e respostas premeditadas – serão esquecidos, não terão mais efeito, e ficarão à mingua em uma nova sociedade na qual o valor humano é a peça chave para a construção de um novo mundo. O Homem será livre, terá a mais fidelidade com suas convicções, será partidário apenas da Justiça Universal, cuja forma de viver, dependendo de quem as pratica, será boa ou ruim. A Verdade, outro fruto necessário, será vista no homem honrado, a cuja lei divina obedecerá e dela passará a sua essência ao grande povo, ainda um pouco carente de amor – pois o passado fora tão injusto quanto um padrasto mal visto.

Utopia? Não... Não... Acredito que utopias e realidades podem viver tão bem quanto botões e pétalas, e temos que ser fortes para que não sejam tais sogras e noras na mesma casa. Utopia? Que seja. Mas uma utopia pode ser vivida aqui e agora, em mim, de maneira que eu saiba vivenciá-la no mais íntimo de meu ser, e fazer disso uma batalha constante, e mais tarde louvar a vitória como guerreiro que foi e voltou, ainda que cheios de sangue nas roupas e na alma.

Agora sabemos o que questionar, assim como sorrir e chorar; não seremos cremados, não seremos jogados nos porões, não seremos vistos como intelectuais em demasia – é possível que seja o contrário, pois o mais “certo”, hoje, são os julgamentos pautados pelos atuais grupos que nos jogam tais premissas já questionadas e respondidas...

Vamos pensar de maneira que sejamos crianças, que viram o rei nu, naquela historinha, lembra-se? Apenas a pureza nos faz ver o que a matéria vela; sejamos um tanto quanto crianças, mas crianças conscientes, daquelas que não têm medo de levar um tapinha da mamãe, pois estamos adultos e fazendo papéis de seres esquecidos pela memória humana, estamos nos esquecendo de ser humanos, pois nos fazem de bonecos o tempo inteiro, com fios invisíveis amarrados nas pernas, nos braços, e, não é de hoje, dentro de nossos pensamentos!

Os questionamentos nos levam a respostas em qualquer âmbito, no entanto vamos nos servir de questionamentos válidos, no quais até mesmo o maior dos governantes tenha medo de ouvir; vamos questionar nos templos (igrejas), vamos buscar através deles mais coerência dentro de fora de nossos idealismos – que mais tarde tornar-se-ão ideais grandiosos!

Vamos demolir as estruturas da mentira que se tornou verdade; vamos buscar a verdade!!

E para terminar... Por que fazem questão de dizer que um sistema no qual o ignorante, desinformado, ou mesmo o sofismático, impõem-se por intermédio de um representante, sem um mínimo interesse social, humanitário, etc, é o melhor de todos os sistemas?...

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Podemos Tudo (?)


Dizia um professor de filosofia que Cristo poderia tudo, mas preferiu ser Divino, ser o mestre dos mestres. Nós, com o pouco que temos, ainda preferimos tudo, sem restrições. Queremos até mesmo voar com os braços, a imitar pássaros ligeiros, indo de encontro à lei da gravidade. Ao ver um pássaro, vem a nós a imagem de um ser livre, sem compromissos, sem trabalho... Ledo engano!

Pássaros, leões, macacos... qualquer espécie viva tem um compromisso com a lei a qual obedecem. Não precisam divagar, duvidar, apenas agem inexoravelmente com seus instintos, pelos quais vivem há milhões de anos. Seres humanos divagam, duvidam, vão em busca de suas respostas, e por isso caem em contradições, em devaneios e fazem o que fazem...

Tudo isso, porém, reflete em comportamentos até mesmo desastrosos. Se eu posso tudo, faço o que quero, vou aonde quero, ninguém pode me deter, simplesmente porque sou humano, tenho a consciência de meus atos, tenho a consciência do que bebo, como...

Será que o termo consciência está bem empregado quando nos referimos a nossos atos, cheios de incoerências, sem centralização, referenciais... Direção? Tudo bem se temos como referenciais o fundo do poço, mas, se queremos nossos objetivos alcançados, violando todas as regras... não há como alcançá-los; e se alcançados de tal maneira fria e vil, perdemos metade de nossa humanidade, do que realmente somos.

Os pássaros, se tiverem algum sonho, devem sonhar em ser pássaro; os tigres, leões, macacos, idem. Cada um a sonhar com o que sua espécie é. Quando chega à humana, os sonhos se deterioram e viram ponte de consecução material. A busca pelos sonhos se realizam de maneira desenfreada, com impulsos que variam entre zero a mil, uma energia que daria para realizar diversas usinas nucleares! Simplesmente por entendemos que somos os maiores realizadores de todas as espécies... O erro está aí.

Esse livre arbítrio, filho da grande natureza humana, mal compreendido, praticado e fadado a morrer no grande cemitério das más interpretações, é-nos uma faca de dois gumes, pela qual se corta sempre do lado errado. Essa faca, como nós, possui a natureza dual, tendo o poder, porém, de ser faca, de cortar apenas o que é necessário, mas não o faz simplesmente porque tem dupla face... Assim o somos; não porque temos a característica de irmos além do que nos é facultado (natureza dual), podemos fazer o que quiser ou ser o que quiser: nós temos uma natureza evolutiva, ou seja, tudo que se fizer, em nome do bem ou do mal, teremos que ter a mente voltada àquilo que nos eleve, direcione, e que nos proporcione mais humanidade – o que nos falta em abundância. Caso contrário, não havia idosos nos aconselhando, mestres nos referenciando, não haveria ninguém, pois a liberdade comum, do dia a dia, nos teria destruído com o tempo.

Os animais não nos aconselham, nem mesmo são nossos mestres, mesmo porque não queremos sê-los daqui pra frente, e sim queremos ser mais humanos, de maneira que não cometamos erros de outras espécies a nossa volta. Portanto, buscamos pessoas que nos fazem ver na natureza nossos sonhos quando acordamos, quando deitamos. Os animais, apenas como meios simbólicos pelos quais possamos dominar a parte que nos cabe: a personalidade – esta que duvida inutilmente e deteriora nossos sonhos; fazê-la guerreira do cotidiano, cheia vontade, como um alpinista a alcançar o cume da grande montanha, a nossa melhor parte; ser devoradora de sonhos, como leões, forte como touro, pacientes como jacarés...

Sim, podemos tudo, mas não necessitamos fazê-lo; mas se o fizermos, façamos com o olhar para cima, a fim de que respeitemos a nós e nossos sonhos de humanidade.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Herança Bendita


Filhos, sempre eles! O que faremos com esses pequenos seres humanos, que nascem, nos dão alegrias; crescem, e nos dão agonia? A razão pela qual criamos todos eles está em uma pequena palavra. Amor. A mais nobre palavra e a menos compreendida de todas. Todas as tendências nos levam a crer que, se houver um apocalipse, e todos forem por água abaixo ou fogo acima, ainda sim, não saberemos vivenciá-la. Tudo porque nossos filhos são nossos filhos, mais nada.

Quem poderia (pode) escrever melhor acerca disso é a mulher, que se joga no fogo, nas águas, no embrião do vulcão simplesmente porque ama seu filho. O homem, com razões ainda implícitas, não faz todo esse espetáculo em nome dessa palavra (amor), mesmo porque, como diria o mais sábio, somos iluminados por raios diferentes dos da mulher, a qual prefere, por leis bem explícitas, amar sua cria tal qual qualquer fêmea do reino animal.

O amor, por ser explícito demais, torna-se complexo ao homem. Exemplo maior, como já ‘implicitamos’, é quando seu filho, aquele animalzinho que sai da fêmea rosada (ou de cores férteis e naturais), vem ao mundo. Por não saber dar o nome, assim como nas formas de linguagens quando não sabemos o nome daquela alça que segura a xícara, cujo nome, por eliminação, é asa, damos sempre o nome àquele ato, no qual médicos e enfermeiras enlameiam de sangue toda a maca, mascarados, às vezes, tão frios quanto robôs; ainda retiram de sua esposa – com um sorriso que não convence nem mesmo o mais cínico – o bambino , que nasce chorando, gritando até, em um momento tão simbólico, que eu, ou qualquer esposo, pode até desmaiar de pena... de Amor!

A herança desse menino, depois de anos, com certeza, não será a lembrança de seu nascimento, ainda que tentem lembrá-lo até a fase final de sua adolescência. Mas o real amor. Por quê?

É certo que somos eternos potes de flores ou de terras férteis ou não. Flores significam a beleza interior de cada um; terra fértil, o que dá as flores, seria a real educação que receberia o que nos dão, e que geraria o que há de melhor em nós. É certo que, se estamos preparados para essa real herança, obedeceríamos a regras universais das quais sai a nossa, a que tanto buscamos, aquela que nos direciona ao real Amor ( não o sentimental ).

Para o sábio, o sentimento estaria em nós humanos como pontes para receber o real valor das coisas, como o real valor do amor, desse ser que, segundo os grandes mestres, seria um dos primeiros deuses. Compreender um deus ainda não é de nossa alçada, mas fazer disso nossa meta como se fosse nossa tônica vital, elevando-nos até ele (ao deus), é necessário. Pois, se o encontramos em meio a uma natureza cheia de mistérios, também o encontramos em nós, em nossa natureza, tão complexa quanto o amor, mas tão simples quanto o sorriso de uma criança.

Contudo sabemos, a priori, que o Amor nos une, não nos separa; é uma evolução sabermos disso, pois, ver um filho nascer, ter amor a ele, é unir-se a deus, ao primeiro princípio divino, pois o Universo é uno em seu conceito seja a priori, seja a posteriori...

Ou seja, é inato o saber universal, este pelo qual tanto lutamos em saber em nossas ‘pequenas aventuras’ terrenas, aproximando-se sempre de uma realidade imensa, dentro de nosso nível. Naquilo que nos é dado, em cada vida que recebemos.

A herança a que nos referimos é o Amor. A herança bendita. E quanto mais soubermos de sua existência, de sua prática – seja com nossos filhos, ou com filhos alheios, -- estaremos compreendendo sua magnitude.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Silêncio na Multidão


Quando se pensa em fim de semana, pensa-se em descansar... Sair de casa com os filhos, com a esposa, ou mesmo com os amigos a tomar uma cerveja, um vinho... Ou, para os mais religare, buscar algo diferente, como sintonizar-se consigo mesmo, com Deus... No entanto nos esquecemos que, às vezes, não há como fazê-lo simplesmente pelo fato de haver pessoas com ideias diferentes a buscar a Deus por caminhos opostos, ou seja, aquele que não seja o normal. Então, por natureza, aceitamo-la em nossa experiência divina como se fosse “presente dos deuses”(!), os quais não sabem que tal presente, advindo deles, tenha sido, vamos dizer..., falsificado.

Mas a questão não é essa, e sim, o prazer num momento que não temos mais, o qual nos fora dado há muito pela natureza. Não são os animais, as plantas, as pedras (nesse caso, somente os cometas podem nos atrapalhar...), mas sim os humanos (é, aqueles de duas pernas, que ficam dançando, falando alto, gritando para ser mais claro, e, às vezes, uivando, por incrível que pareça, para chamar a atenção).

Claro que nossas naturezas são diferentes, claro que temos caminhos diferentes, claro que a vida nos concede prazeres diferentes, contudo, mesmo que eu queira ver o sol, sozinho e de cabeça pra baixo, acredito que meu direito deve ser respeitado. O fim de semana não é mais o mesmo...

Deixar os gritos para os loucos, os uivos para os lobos, as loucuras para os doentes, as intrigas para os intrigados, ainda é meio difícil de organizar, mesmo porque respeito, infelizmente, está se tornando uma palavra de significado relativo... E já falamos sobre isso.

Resta-nos então, como os eremitas tresloucados, fugir para um hospício, onde há unanimidade em loucuras, se a normalidade nos traz pessoas normais cuja tendência é, na realidade, nos enlouquecer? Não, não sabemos...

A resposta vem da filosofia, que nos surge como instrumento (resposta) natural de vida, que nos conduz, mesmo com todos contra nós, uma realidade intrínseca que diz: “A convivência é a nossa tônica. E no nosso nível, isso é um processo iniciático”.

O que significa? Significa que não há como correr de pessoas, pois sempre estarão ao nosso redor... Seja dormindo, seja acordado, sempre farão parte de nossas vidas. Nem mesmo em uma ilha distante conseguiríamos viver sozinhos, pois enlouqueceríamos conversando com pedras e animais... (com certeza).

Quando se busca a Deus, sempre pensamos em paz, em fuga de uma realidade só nossa, o que é uma verdade, um direito natural; porém, há outra verdade: há Deus em tudo, até mesmo em pessoas que não nos querem em paz. Isso amplia nossos horizontes e quebra preconceitos em relação ao modo de se buscar a Deus e, de quebra, o preconceito com as pessoas que preferem o barulho, a loucura do dia a dia, a batalha verbal, etc. A partir daí, nosso foco começa a direcionar-se atentamente ao que buscamos (Deus), seja no silêncio, seja no não silencio. É divino, não?

Claro que, na preferência, queremos sempre aquele momento de luz em que a reflexão entre nós e Deus seja mais forte. Mas não sejamos radicais, a vida possui estruturas totalmente favoráveis a quem sabe que nada é casual... E a experiência ante as agruras nos torna sábios (ou pelo menos um pouquinho...).

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Cemitério de Sonhos


Em meio a tantas discriminações por que passamos, fico a pensar nessas pessoas que possuem tanto que oferecer ao mundo, mas são barradas pela ignorância humana. O potencial de cada um não está na cor da pele, muito menos nas notas que se tiram na escola, muito pelo contrário, ele se esconde no cantinho da alma, pronto para fazer o bem à humanidade, a nós, seres discriminatórios, patológicos, frios e mal educados, prontos a subjugar uma pessoa até mesmo pelo que ela escuta nas rádios.


Todos nós temos sonhos e precisamos realizá-los. Nascemos com essa tendência. Buscar nos mistérios da vida uma brecha para entender a verdade que nos move. Cada ser humano que é discriminado acredita que não veio ao mundo para tanto, mas para atrapalhar os "sonhadores". Não há ninguém nesse aspecto que seja diferente, apenas os sonhos. Uns sonham em sair daquele pequeno barraquinho, no qual mora, e , pelo menos, ter um espaço melhor e criar seus filhos. Outros, construir seu teto como desejar; alguns, apesar da humildade natural e física, sonham em fazer o bem ao próximo, deixando de se alimentar até. Os sonhos variam de acordo com cada um, com cada grupo, e sociedade; esta última, em meio a pobreza ética e moral, sonha com governos melhores, que possam ser mais claros em seus desejos de humanidade, não apenas utópicos-teóricos.


E assim, flutuam os desejos, mas só aquele que nasce firme em realizá-los o faz, pois levar consigo o sentimento discriminatório é periogoso, porque, em todos os lugares por que passará, teria ojeriza de outro ser humano, e terá uma consciência apagada a uma realidade que ele mesmo pode construir ao lado de todos, até mesmo de que o machucou um dia...


Temos que acreditar no tempo, pois ele dita a maior das consciências, aquela que nos faz mais fortes com nossas experiências e esquecer fatos que nos fizeram rancorosos com quem, no passado, mereceu; contudo, a pessoa que nos ofende também passa por intempéries (cada um no seu nível e dificuldade), e quem sabe num amanhã não muito distante reconheça de forma não muito humilde (mas reconhecendo...) seu erro.


Não adianta discriminar acreditando que somos donos de algo que não existe. Temos qualidade e defeitos (quando não físicos, temos de caráter). Mas o nosso maior erro é não ver no próximo este que se esconde na hora mais clara. Se se mostra, teríamos vergonha de nós mesmos e nunca abriríamos a boca, ou mesmo cometeríamos atos monstruosos contra qualquer ser.


Todavia a frialdade humana prevalece; a monstruosidade, nem se fala; nossos olhos, cheios de horrores, vizualizam futuros nos quais filhos e filhas são e serão subjugados pela cor da pele, pela pobreza, pelo emprego, pela fala... Teremos, com certeza, mais discriminações advindas de seres doentes e nossos filhos serão atingidos, e vão discriminar o próximo na primeira oportunidade...

Fazer com que pensem diferente é muito difícil. Quando uma pandemia toma uma pessoa, dá-se um jeito; quando se toma uma sociedade... a humanidade... não se pode parar, e você já se contamina, também; é um cancer que devora as outras células... não há remédios.


Nossos sonhos se restrigiram, estão parados; nossos sonhos de viver uma humanidade mais humana está se esvaindo em cemitérios nos quais muitos de seus donos deixaram de sonhar por causa do preconceito, da discriminação, do ódio...


Nosso sonho deve ser o sonho de Deus.

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....