sexta-feira, 30 de abril de 2010

Família (II)


A priori é necessário ressaltar que ainda temos alguns vínculos familiares, ainda que desligados do grande referencial, mas que fazem valer o respeito necessário à palavra Família. O cristianismo é um deles. Com leis difusas, confusas, cheias de interpretações literais de sua bíblia, o cristão segue à risca seus princípios, ainda que vazios de sentido, pois não se religam ao céu nem obedecem à terra. Todavia, traduzem fielmente um texto que diz “obedeci aos pais”. “Feliz é o filho que obedece ao pai” – coisas assim.

O problema maior é que, sem saber, que quando se referem ao céu – à totalidade do Uno – trazem à terra os valores celestes de maneira a serem incrustados na ponta da língua como se fossem realidades naturais, claras e únicas. Contudo, ajuda na educação cristã, a qual pressupõe a única saída para o mundo de hoje.

Assim como um fogo que acaba com todas as suas madeiras, e alimentado por outras, o fogo da desvalorização humana extinguiu os conceitos e tem, como nova madeira a ser queimada, quase que intacta, a educação cristã dentro do meio familiar.

Sem seguir qualquer referencial, seja tradicional ou não, apenas atropelando o que nos fez homens no passado e mulheres de bem, o cristianismo se equilibra na religião dos padres, dos pastores, dos papas, dos anciões, os quais, com lastros na figura de Cristo, mesmo assim, desencadeiam a falta de personalidade e caráter para lidar com a vida, levando à família – o núcleo a que tanto visam – a tortuosidade inerente ao homem sem sabedoria, ou seja, sem amor à história do próprio homem a qual o fez ali, reto, disciplinado, ordenador dos princípios na terra, religador do céu e da terra, com o foi há muito tempo.

Sem a educação – edutiere – principio avassalador do mal, o homem se torna o próprio mal, refletindo em suas leis a própria personalidade, o próprio caráter que não o liga mais ao Logus (ver texto 1).

Não se pode ter uma educação baseada em princípios falhos, pois é ela que nos conduz à nossa origem, seja aos núcleos, seja a nós mesmos. Uma prova disso são notícias de uma sociedade se adequando às suas necessidades mais falhas ainda, ou seja, como se não se houvesse porta, vamos fazer um grande buraco na parede, ainda que tenhamos todas as ferramentas para fazer a nossa porta...!

Mas já que estamos no caos – crianças sem pais; com pais violentos; com mães irresponsáveis; mães precoces que deixam filhos em lixos... – busquemos, pelo menos, olhar um pouco para a estrela que está ali, ainda, a nos ensinar que ela está ali não porque o homem quer que ela esteja ali, mas porque existem inteligências no universo trabalhando em prol de um Universo maior, e que não conhecemos, e se mantivermos a mentalidade voltada aos interesses frívolos, como dinheiro, duvidaremos sempre de nós mesmos, em qualquer quesito humano....

O Porquê da Educação

A educação é que nos gera princípios. Faz-nos viver deles. Ela é a massa que une os tijolos de nossa alma quando nos atemos a algo verdadeiro, justo, belo, sempre a religar o homem ao céu, assim como o fizeram os grandes homens do passado. Depois de todos unidos, como uma parede ou mesmo um muro, não há como derrubá-los. Lembram-se dos três porquinhos e sua casa de tijolos? Pois é, no fundo, queremos que nossos princípios sejam como aquela casa onde a Tríade – os três porquinhos – vive. Casa esta que nem mesmo o maior dos lobos – as depreciações de uma sociedade caótica – derrube.

A verdadeira família, a partir dessa premissa, só será tradicional, forte, bela, unida, religada com seus princípios, amada, quando houver essa reviravolta na educação – não a que estamos acostumados a ver e dela sobreviver – mas aquela que fazia o grego a acender um pequeno fogo em meio à sala de estar, religando com o grande fogo no meio da praça da cidade, a qual estaria ligada ao fogo maior – o fogo dos mistérios.

A família, hoje, não respeita os homens nem mesmos as mulheres, e sim a adequação de novas leis em favor do mal que não se conseguiu parar. Mal em forma de homossexuais que adotam crianças, mal em forma de pessoas, aparentemente de bem, que jogam crianças do sexto andar; mal que joga crianças em rios; mal que faz crianças pedir esmolas a pais miseráveis em todos os sentidos; mal que nos faz acreditar que o “importante é ser feliz”, enraizado em uma felicidade sem ponte para o sagrado, cheia de buracos, sem elementos visíveis do verdadeiro amor – mas o amor relativo, aquele que faz suprir a vontade de ter uma criança em nome de uma família moderna, sem o caráter daquela que um dia foi o maior núcleo de todos, no qual o homem se confortava até mesmo em pensamento...






Familia (I)


“O mundo anda tão estranho”, conta uma música de Renato Russo, vocalista do extinto Legião Urbana, numa música em que relata a simplicidade de uma família que passa o seu dia de forma bela e natural, como realmente deveria ser em qualquer família. Nesse aspecto, a música nos remete a um saudosismo que nos fica na alma, fazendo com que a alusão acerca de família, bem-viver, amor, paz sejam revistos em nossa sociedade, que se esqueceu de si mesma.

Fora a música, tenho a nítida impressão de que estamos longe, a cada dia que passa, do que nos é inerente, como humanos, como seres naturais, com seus valores e coisa tal. Até mesmo do fator família. Há uma massa desinformada ou informada demais nos fazendo esquecer de que há coisas que não se mudam, são eternas, são clássicas, por isso deram certo até hoje.

Assim como muitos valores clássicos se perderam ou e entrando em deteriorização, pelo fato de serem levados a um ponto de vista interesseiro, às vezes, até social – numa sociedade que aceita tudo, até baratas em pratos! – o maior dos núcleos está voltado ao ostracismo, ou seja, a família está se indo como água de chuva em bocas de lobo, ou mesmo semelhante ao próprio homem que nasce, cresce, envelhece e morre, a família do homem está morrendo, junto com ele. É um assunto difícil de lidar, mas vamos lá...

Noutras sociedades antigas, talvez mais antigas do que parecem, nas quais referenciais celestes eram adotados – na Pérsia, Macedônia, Grécia, Roma; do outro lado, Egito, e mais do ‘lado’, Peru, México... – das quais nosso conceito acerca de muitos termos, comportamentos, educação, sociedade, família, ciência e filosofia foram retirados do nosso meio, a palavra Família significava um termo que se sobressaia acima de todos os outros, pois dela – assim como um núcleo – tudo vinha e para ela tudo ia.

Família, na Antiguidade, era composta de um homem – o pai; de uma mulher – a mãe; de um ou mais filhos, diversificados com mulheres e homens na sua composição. Não havia, como em toda a natureza, a mesma composição se houvesse dois homens ou duas mulheres com objetivos gêmeos, ou seja, com dois pais ou duas mães. Na realidade, família vem do latim, a significar “pessoas da mesma casa”, mas casa não seria apenas a nossa, a morada, mas o que vemos externamente como casa. Explico, onde houver possibilidades de nascer, crescer, desenvolver-se, educar-se em qualquer âmbito estrutural, é casa.

Exemplo: a própria terra, vista pelos ameríndios (ou mesmo pelos índios americanos, os mais atuais), era chamada de Mãe. Quando falamos de índios, temos um ligeiro preconceito, em razão da grande história dos descobrimentos, a qual nos relaciona a seres simples, ignorantes, que foram levados na conversa pelos brancos; foram catequizados, etc, contudo, o índio, no passado, nos mostrou o quanto à humanidade precisa rever determinados conceitos. Tais índios não eram semelhantes àqueles dos descobrimentos, e sim sacerdotes, guerreiros, iniciados; índios que nos deixaram legados ainda por refletir.

Na sua filosofia, a Terra seria a Mãe, o grande Pai, segundo eles, seria o Sol, assim como em muitas civilizações, pois a união dos dois nos daria as árvores, delas os frutos, as sombras, as ferramentas necessárias do dia a dia... Nos daria as rosas, seus polens, seus perfumes, a beleza de cada uma, que, unidas, dar-nos-iam os grandes jardins. E um milhão de coisas que, citadas, não caberiam nesta máquina. Entre elas, o próprio homem, que seria o filho maior, que cultivaria e semearia o que mais tarde poderíamos traduzir como necessidade de se manter pela mãe e pelo pai maior.

Aqui o conceito de Pai e Mãe supera o nosso, mesmo quando adotávamos o principal modelo (pai, mãe e filhos). Supera porque está se baseando em um conceito universal, no qual até mesmo estrelas, cometas, sóis, luas e todo o cosmos estão envolvidos. Não é algo relativo. E é nesse conceito que se baseavam os antigos.

O Pai, representado pelo homem, tinha que nos remeter a uma esfera maior em que nos religássemos ao uno, a Deus, ou mesmo aos seus mistérios – quem conhece um pouco da cultura egípcia, sabe exatamente do que trato aqui; a Mãe, à Justiça desse universo; à Beleza, ao Amor, nada disso relativo – ou seja, nenhum deles de acordo com o interesse voltado a qualquer pessoa, e sim ao grande Ser.

A Tríade – o Pai, o Filho e o Espírito Santo – é falsa. Se voltarmos à realidade dos maias, astecas, indianos, egípcios, podemos perceber que a Ela – a tríade – é composta por três elementos diferentes, não iguais. Kon, Kyla, Whilacotcha – O primeiro (Kon) seria Sol, o segundo (Kyla), Lua, e o terceiro, Filho. Há sempre um elemento que se formou dos dois primeiros. Em Átman, Manas e Budhi, a Tríade indiana, temos a mente superior, Deus (Átman), Manas, o Logos feminino, e Budhi, o Masculino. Tanto que a palavra Mãe pode ter vindo de Manas (Alma) e Buda, iluminado, de Budhi (iluminação). No Egito, como sabemos, Osíris, Isis e Horus. Osíris, emblema do pai maior; Isis, da grande Mãe de todos e Hórus, o filho iluminado...

No ocidente, a Igreja por razões históricas, “cortou” a Mãe da tríade (pai, filho...?), a qual poderia ser representada por Maria (a suposta mãe de Jesus), o que nos fez progredir na decadência dos conceitos, que, antes, eram voltados ao céu, hoje voltados à terra.

A Tríade incompleta nos traduz ainda um universo relativo, baseado nas necessidades humanas – cristãs ortodoxas – que, mais tarde, foi responsável pela humanização – antropomorfização – do Uno. A humanização é uma forma de relativizar ou mesmo de fazer entender o incompreensível. É uma tendência nossa. Se eu não compreendo... Se não há como compreender pelas vias normais, então, determino uma maneira mais fácil de entender, todavia de maneira perigosa, pois se pode fugir do conceito real.

Pai e Mãe estão em todas as esferas do Uno. E todas as mitologias contam isso. Os filhos, ainda que meio fora dos padrões, lutam, matam, criam e até mesmo se sobressaem no aspecto mitológico, mas nunca deixam de existir, nunca advieram de dois aspectos gêmeos, pois há o chamado Logus, o qual determina a característica a cada ser, seja na terra ou no céu. O pai, por exemplo, tem o seu Logus. As características de um ser cortês, forte, disciplinado, ordenador, religador do céu e da terra, etc são do homem. As de bela, intuitiva, justa, amorosa, apaixonada, etc são da mulher. Há mitos que demonstram isso de maneira fechada, no entanto, esplendorosa, pois, além de resguardar determinados segredos, são fiéis ao universo de ambos.



A figura da mãe, nas mitologias, nos remete o sentimento da grande senhora que dá a Vida ao externo, que cuida dos filhos, que os educa, que os prepara para o mundo. Ainda nas mitologias, ela dá a luz a muitos filhos, os quais possuem diferentes vocações dentro de um cosmos cheio de trabalhos. O pai seria aquele que briga com os filhos e, às vezes, tem o seu poder tomado pelas crias, mas se funde, sempre, nas características de cada ser do universo, assim com a mãe.

Continuo no próximo texto.




terça-feira, 27 de abril de 2010

Prol - Blema

Às vezes é preciso reconhecer o fundo do fosso para se saber que ainda há mais fundo e mais fosso. A adrenalina, hormônio que se salienta em decisões, em aventuras, em circunstâncias além de nossos limites, fica à flor da pele. O coração, coitado, tão quieto, pacífico, torna-se passivo de receber dores, pulsações fortes, e bate mais forte a ponto de sair do peito e cair no chão, saltitando e gritando “me tirem desse corpo!”...

É a alma. Esse ser volúvel que nos faz perceber o quanto a maltratamos com intempéries inconsequentes, ou seja, o que nos fugiu a responsabilidade. Tudo ficou desorganizado... Da matéria ao espírito. E, nesse intervalo, quem sofre é a pobre daquele ser que eleva a Deus nas horas vagas, que nos eleva aos melhores sentimentos, à poesia maior, ao amor... Tudo se desorganiza. Em meio à alma, o físico se contorce, cai ao chão, se debruça na frente do invisível, pede perdão...

Não há perdão. As dores, normais e naturais, vêm como um furacão em busca de resposta àquela falta de disciplina ao universo-corpo, ao universo alma-espírito. Não encontra e se instala até doer mais e mais, até que a resposta seja dada ou que o dois universos se alinhem e se organizem em um.

O próprio Universo tem suas consequências se nele se alterar algo. E nós, o nosso. A própria Natureza, a visível, torna-se um caos, se houver uma borboleta que morre por morrer em meio à violência cotidiana. Imaginem a discriminação de todos os seres, animais, vegetais, humanos nesse universo, corpo maior em que estamos nos achando donos de tudo. E o universo invisível? Platão nos dizia que vivemos nas sombras do que é real – o invisível – por isso, as dores.

O invisível é a parte a qual nos direcionamos sempre, em forma de Deus, de Santos, de Orixás... É a parte que nos interessa nas horas vagas, não naquelas em que devemos buscar, todos os dias, em forma de questionamentos, cujas respostas ser-nos-ão dadas à medida de nossas vivências – por que a árvore dá frutos? Por que somos dotados unicamente de pensamentos? Por que a vida nos dá dons que não compreendemos? Por que nascemos com problemas físicos, psicológicos; por que nascemos pobres, ou ricos demais?... – são questionamentos apenas, nada mais. Todavia nos dão caminhos, trilhas imensas nas quais podemos partilhar e compartilhar com o próximo ou mesmo sozinho os bônus ou ônus da vida, mas, de qualquer maneira, respondendo, dentro de nossas possibilidades, em nossas vidas cheias de experiências doloridas ou não...

“Se entrar pelo cano, saia pelo cano”, disse um filósofo moderno.
Se estamos presos a qualquer problema, seja de cunho financeiro, psicológico, estrutural, familiar, e não sabemos como dele sair, é necessário se recompor, levantar-se, firmar as pernas, caminhar e tentar entender o porquê de tudo. Há algo errado, com certeza, mas e aí? Não podemos congestionar nossas mentes de perguntas, e sim praticar a saída do problema. Não refletir muito, caminhar.

Enfim, se estamos presos, busquemos em nós aquela ferramenta que serra as grades – como naquelas comédias americanas, nas quais o individuo com o rosto preso em sua cela pega um instrumento bem pequeno e começa serrar as grades imensas. Assim temos que ser. Se não tivermos um grande instrumento, serve aquela pequena serra, que por sua vez, aparentemente, não nos parece grande coisa, mas se transforma em uma esperança ao problema presente. Qual é a sua ferramenta?

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Quisera, uma Quimera?


Quisera eu um dia ler as mensagens da vida que nos corre pelas mãos, pelos olhos, e nos faz de bobos todos os dias. Sentir um pouco de sua sabedoria, apesar de minha falta de compostura frente a ela, nesse manancial de segredos os quais nem mesmo o mais sábio dos homens pode interpretá-la.

Quisera eu, um dia, deitar-me no meu colchão, olhar para o teto e sorrir, dizendo palavras belas até o amanhecer. Sei o quanto todos desejam realizar esse sonho, todavia, graças aos deuses, nem chegam(os) perto.

Contudo, com nossos olhos pequenos – as chamadas janelas da alma – já nos é o suficiente para ver e intuir o quanto somos ignorantes – o primeiro passo – para adentrar nos grandes segredos de Deus. Mas, ainda como homens, também podemos chegar perto daquilo que chamamos mistérios imediatos, que nos batem à porta. Uma porta simbólica, com chaves simbólicas, resguardando segredos reais pelos quais vivemos e morremos sem mesmo, às vezes, sentir o odor frágil de sua filosofia.

Temos que ser preciosos, não apenas nos sentir com tal. Mas ter uma virtude em particular que nos torne mais sinceros, morais, éticos, cheios de princípios acalentadores de almas. Ter uma filosofia de vida...

Ah, a Filosofia, essa porta mágica pela qual se entra e sai todos os nossos mistérios vitais, e ponte que serve de caminho para as maiores aventuras humanas. Essa palavra de significado amplo tem em seu âmbito um universo, cujas estrelas intermináveis, dançam em nosso ego, nos transformando todos os dias e nos renovando interiormente, sempre, na medida de nossas naturezas.

Quisera eu compreender o ideal dessa palavra – fi-lo-so-fia – pronunciada, praticada, mal tratada, elevada e ao passo discriminada. Trazer aos homens sua natureza, vociferar como um animal a fim de que todos parem e entendam seu significado. Mas não sei nada, pois a reminiscência em mim falhou e me dela esqueci.

A filosofia, pelas águas que me passam, se confunde com o próprio ser humano. Cheia de mistério, ela norteia cientistas, religiosos, educadores em geral, e os faz buscar, dentro de seu meio, a realização interna ou externa de seus objetivos. O cientista na busca pela cura de uma doença que atinge a humanidade; o sacerdote moderno – um padre, pastor... – que busca em Deus a coragem para dar os passos na hora de aconselhar o próximo; na mulher que se questiona acerca de seu papel em setores nos quais apenas ela se eleva, como o de mãe – que sempre a religa com Deus, unindo cada vez mais a família; o pai, cuja presença já ordena a casa, e o filho, que dá os primeiros passos frente à vida, e depois questiona os pais, os amigos, a família e o próprio Deus... E os educadores, enfim, no frio da noite, no sol do dia, a refletir acerca de seu caráter frente aos alunos, ou mesmo frente à própria vida.

E a filosofia continua nas águas do oceano físico, no oceano imaginário, metafórico, simbólico... Na terra, que para os índios nada mais é que a mãe de todos, pois nos dá tudo sem pedir nada, apenas carinho e muito amor. Reciprocidades.

Queria desvendar mais segredos. Segredos dos grandes homens que elevaram as pirâmides, todas elas, ao tempo, do México ao Egito, na tentativa de nos religar aos deuses – quase que nos assemelhando a eles. É querer demais.

Queria não querer tanto. Apenas viver o que posso e transformar aquilo pelo qual vivo. Estar leve na hora da morte, e não pronunciar, sem exagero, palavras que me demonstrem a maturidade daquele que já viveu o bastante para dizer que viveu sim um pouco dos mistérios. E que o significado maior de tudo é entender que morte e vida nada mais são que dois rótulos de uma mesma resposta. Desse mistério devo viver.

Formigas e Homens

Sim, hoje eu posso viver em nome do grande uno manifestado, na medida de minha vivência. Graças ao grande Espírito que em mim vive, questiono, pratico e vivo o que Ele me incumbe. É o serviço humano em prol da humanidade, quando o próprio homem se revela um pingo de um oceano em prol do oceano, que desemboca no Grande Oceano, o Desconhecido de todos.

Uma formiga, quando caminha com sua folha enorme em direção à sua toca, não pensa, não reflete, assim como todos os seres que trabalham e vivem a sua lei. Ao vê-la, sentimos todos um pouco dela, desse pequeno ser que caminha, trabalha, se comunica e provavelmente sorri na sua medida quando se deita.

Não há nada que a possa parar, nem mesmo o maior dos rolos compressores. Mesmo que se extinga a penúltima formiga no mundo, a última dará a vida para terminar sua tarefa.

Se fossemos tais quais formigas, teríamos honras, não pelo fato de fazer nosso trabalho, mas fazê-lo consciente em direção às nossas casas, ou mesmo – espiritualmente – em direção a Deus, em tudo que tocamos, falamos, vivemos e até mesmo morremos. Não somos formigas, no entanto. A lei que nos governa não é a mesma. Somos humanos. Isso nos dá uma lei pela qual viver, mas também questionar essa lei. Formigas não questionam, os animais em geral, também não.

Quando acordo, sempre me pergunto: “por que estou vivo?” , ou mesmo “o que é a vida?”. Por que essa insistência dos deuses em fazer um ser que digladia, todos os dias, com suas imperfeições, em direção a algo que ainda desconheço? É claro que tenho um filho que amo (uma mulher idem), mas ele vai crescer, amadurecer, morar longe dos pais, esquecer a maioria das experiências por que passou comigo e com sua mãe; quererá colher outros frutos... Enfim, se meu objetivo é meu filho, por que que ele, o objetivo, não é forte, eterno, como o céu que vislumbramos, e não um castelo de areia? Haverá um ideal maior e melhor por que lutar? Claro. Nós mesmos, nosso caráter, atitudes frente ao desconhecido, aos deuses, à nossa natureza – ao que realmente somos.

É um trabalho de formiga este? Talvez. Todos esse pensamentos em relação aos meus objetivos são como folhas enormes em meu corpo, que, às vezes, acorda dolorido, porém quente ao saber que tudo está apenas começando... É, eu, por mais incrível que pareça, ainda me sinto um guerreiro em minhas tentativas. Somos todos assim...

Então o que nos faz de pé todos os dias são nossas folhas enormes – filhos, mulheres, pais e mães, dinheiro, trabalho... em meio as crises de personalidades que temos ainda que não saibamos direcioná-la? Também. O que nos faz fortes são nossas vontades, nossas decisões corretas, nosso amor ao próximo, nossa relevância como ser humano e outros ingredientes que nos tornam melhores a cada dia...

Alem do que os deuses nos deram motivações para viver. Nos deram o fogo interno para a consecução de nossos fins, sejam eles de qualquer nível, grandeza.... Nos deram mais ainda: o maior de todos os títulos. Apenas nós, humanos, podemos compreender o universo um dia, o que significa entender Deus, mas para isso entender a grande lei que em nós vive. A lei da Formiga...

terça-feira, 20 de abril de 2010

Bandidos e Mocinhos

Falar de bandidos e mocinhos, de maneira filosófica, não é tão fácil. É falar de si mesmo, do ego que sobe e desce; dessa maturidade que não se sabe se alcançou ou não. É falar de uma consciência precoce que se tornou madura o suficiente para alegar que é responsável por ela mesma – é o ponto maior da autonomia humana. Não se consegue gratuitamente essa independência. Assim como tudo que brota, rega-se e cresce tal qual uma planta, a consciência humana o é. Leva tempo. Muito tempo.

È difícil generalizar, sempre, porque não se encontra muitos com os pés no chão – às vezes, eu mesmo me acho sobrevoando as árvores, de tão imaturo que sou! – imagino aqueles que não sabem o que significa “tomar consciência” de si mesmo, o que significa assumir seus erros, ser responsável por seus buracos (leia-se problemas), não ser nem mais, nem menos aquilo que aparenta ser, apenas ser o que a vida lhe manda ser, isso de acordo com sua natureza, ou seja, encontrar o meio termo.

Como é difícil. Às mulheres, não. Percebe-se que o nível de maturidade delas, seja qual idade for, se passa por uma determinada problemática, assim, desenvolve-se um patamar de consciência elevado, como se pulasse determinados canais (fases) da vida. O homem, não. Sua idade não influencia em nada, seus problemas, suas dores... Às vezes, muito pouco. Cresce-se, desenvolve-se e morre, como um mero adolescente que, mesmo levando coronhadas da vida, prefere refugiar-se em brincadeiras, em colos maternos e no seio da família – esse é o homem imaturo.

Contudo, com energia suficiente para batalhar descalço em meio a cascalhos, sua adolescência o ajuda a livrar-se do marca passo preso ao coração. Muitos questionam, enlouquecem, mas, mesmo assim, querendo ou não, o “velho-adolescente”, ainda que enganado em relação ao seu estado consciente, consegue livrar-se dos males que lhe afetam, ao contrário da mulher que intui o problema, e cresce, mas desenvolve mais problemas pelo fato de levar a vida como se fosse uma grande cruz. Isso é ruim.

Ou seja, é natural que os homens envelheçam sorrindo, e as mulheres, chorando. Mas há uma forma pela qual os dois podem e devem buscar a maturidade, a consciência de tudo, ainda que sejam desiguais. Há uma ferramenta: o diálogo consigo mesmo. Um autoquestionamento acerca de si mesmo. Longe, é claro, de ser uma entrevista, mas perto de uma reflexão que os faria mais nobres certos dos erros e acertos, até então.

Como seria o diálogo?

Eu sempre me questiono: como seria o encontro de minha pessoa há dez anos, com este de agora? Uma conversa cujo diálogo, com certeza, daria panos para manga. Mas ao mesmo tempo um ensinamento que me daria a real beleza do que é ser homem. Pois estaria me referenciando nos erros que cometi, nas pessoas que magoei, nos amigos que perdi, nos irmãos que não abracei o bastante – principalmente naquele cujas conversas eram mais agradáveis, pois conversaria mais, mais e mais.

O eu maduro sentar-se-ía, olharia, e começaria a sorrir, não em gargalhadas, mas como se fosse um expectador a sentir o peso que um dia levou, sem mesmo sentir uma fagulha do peso. O eu imaturo (de dez anos atrás) sentir-se-ía mais emocionado, com os olhos cheios de lágrimas, com a vontade aplaudir de pé, pelo que lutou, conseguiu e amou e amará daqui pra frente. Dar-lhe-ia um abraço forte e pediria desculpas, ao passo que surgiria um estranhamento, pois seus sentimentos estariam vazios por ainda não realizar completamente nada. Ao contrário do maduro, que, ainda sorrindo, sentir-se-ia forte pela não realização do primeiro, mas ainda pensativo em relação àquilo que pode e deve realizar.

O ser maduro, ou seja, eu-hoje, daria um grande conselho ao grande imaturo: “por favor, segue teu caminho, mas segue olhando as estrelas; não se perca.” Diria ainda: “O que sou hoje, o que posso ser depende muito de sua vontade, de sua obediência, da sua vontade...Por favor, não se perca.”. “Daqui a dez anos, teremos uma nova conversa...”

E assim, pensaria em minhas realizações, se tiveram ou não um fundo idealístico, ou mesmo espiritual. Daria a mim mesmo chances de tapar os buracos – o que acho difícil – que foram feitos na juventude, e ainda na falta de hombridade a qual sempre nos bate à porta.

As chances sempre devem ser dadas. Os deuses não nos dão a cada vida? Por que não daríamos a nós mesmos?

Fazer esse exercício é necessário, pois sempre teremos uma forma de saber o que fomos no passado e o que podemos ser no futuro, além de nos conscientizar do que somos no presente.

A consciência maior

Bandidos e mocinhos são os eternos seres que nos burlam em decisões, todos os dias. A consciência dança à beira do abismo, sobe, cai, levanta, pula de galho em galho, sorri, chora, enfim, se manda e volta mais forte à medida de nossas escolhas, pois pode ser feita pelo bandido ou pelo mocinho. Saber com o qual lidamos todos os dias é um exercícios que, ainda que seja fácil aparentemente, sempre caímos no lado mal da questão... Contudo, existem linhas imaginárias que nos fazem voltar a ser o que somos, fazer o que fazíamos antes e nada mais. Temo apenas realizar o que não se tem volta, ou seja, cometer erros (buracos enormes) os quais não se podem desfazê-los, apenas aprender com eles.

Bandidos e mocinhos podem ser simbolizados pelas figuras do bem e do mal, tal qual nesses desenhos em que ficam duas pessoas – uma com asa, outra com um cetro – no ombro do personagem em dúvida. Percebemos que ele só escolhe o do cetro... Mas isso é bom. O instinto humano realiza aquilo que possa talvez realizar, então, por ousadia, tenta realizar. E sob o manto da loucura, dos entraves, às vezes do sangue o faz, chorando... O ser humano não espera. Quer realizar de maneira pessoal o que pode ser esperado, assim realizando-o naturalmente.

A consciência, nesse caso, superpõe-se muito depois, aprendendo com o erro. Ela observa, de longe, nossa imaturidade na escolha e sorri ao lado de nossas cabeças, esperando uma nova chance de nos recompor ante a vida.

A consciência maior, aquela com a qual ainda não sabemos lidar racionalmente, deve ser a base, o referencial em nossas escolhas, em nossas vidas, ainda que teoricamente. Pois a prática, que nos faz mais humildes ante o mundo, nos leva a todos os caminhos, como em degraus, na ascensão a qualquer edifício, metafórico ou não.


sexta-feira, 16 de abril de 2010

Educação, religião, filosofia... Ideal do homem comum.


Psiquiatras do mundo inteiro são dotados de um estudo voltado sempre ao relativo, isso atrapalha a concretização de uma resolução ao aprendizado não só dos jovens, mas também dos pequenos filhos, os quais são tão primordiais quanto os primeiros. Quando digo relatividade, quero opinar, não dissuadir, a todos que há uma possibilidade (ainda que remota) de montarmos uma forma de educar sob outros meios os filhos. Mas, como diria o filósofo maior, vivemos em meio a opiniões. Então, na minha opinião, temos sempre que nos basear em algum referencial que, ao contrário do que ao qual obedecemos, não deve ser um castelo de areia, e sim um muro com tijolos de aço. É um projeto.

O projeto deve ser visto como uma gota no oceano. Nós somos a gota. Não se pode visualizar apenas o oceano, de maneira separada, ou seja, sem que estejamos longe, de fato, do que nos é inerente. O oceano ao qual me refiro é o próprio mundo. A humanidade. O universo. O cosmo e além dele. Não é fácil. Todavia podemos fazê-lo por intermédio de um jogo imaginário, no qual nos vemos até mesmo como um grão de areia em meio a tudo isso...

Muitos mestres, assim, nos fazem pensar – ainda dentro do jogo semântico da imaginação – que o corpo é o próprio Uno, e nós, meras células trabalhando em prol dele. Ainda, na busca de uma racionalidade que nos aproxime da teoria, Deus é o corpo, e toda a natureza são seus elementos que o compõe e aqueles que o ajudam a trabalhar. Enfim, por meio de tais exemplos, é possível perceber o quanto estamos próximos em dizer que nada é por acaso. Nada é separado. Nada trabalha por si mesmo. Há uma consciência natural das células, assim como também o há em nós.

Nós, seres terrenos, acostumados a divagar em nossos momentos de solidão, tentamos buscar essa realidade, ainda que de maneira involuntária, pois sabemos que o sol, a chuva, as plantas, as hortaliças, as minhocas... Os animais trabalham em prol de uma lei a que estão acostumados e que são vocacionados para tanto. Por exemplo: não se pode pensar que o sol pode ser substituído por outro ser no mundo que não ele mesmo para a iluminação do sistema solar – ainda que haja pessoas que se julgam o centro do universo – não adianta.

Não há limites para esse joguete de consciência racional. Podemos até pensar que somos menos que o grão de areia citado, quando nos deparamos com a idéia de que o sistema como um todo é infinito, sem parada para descanso. E que, se não há finitos, não há ninguém, antes ou depois dele que o construa (gênese) ou destrua (apocalipse), mas há a lei que nos implica dizer que é preciso que alguém o tenha construído porque há coisa que não compreendemos, podemos muito bem dizer que o nome disso é mistério – ou, para os mais religiosos, milagres ocultos. Estranho...

Se nossos pensamentos nos dizem o contrário, por que temos que ler certas coisas que nos dizem o contrário do que se pode pensar e não o que reafirmam eles (os pensamentos)? A comunhão de ideias, no entanto, em nosso mundo é perigosa. Nos dá impressão de que somos fanáticos por algo. Mas onde ficam as respostas? Dessa pergunta nos vêm uma série de seitas, partidos, Ordens, ou seja, cada uma tentando abstrair uma relatividade que chega próxima da realidade divina. Outras, claro, fogem, e muito, da realidade a que idealizam.


Mas não fujamos do assunto.

Quando refletimos acerca de uma natureza, pensamos externamente, nunca internamente. Não nos sobrevoa o pensamento de que tudo aquilo que vimos (e vemos) todos os dias tem um sentido religioso. O que significa que há uma religação entre o sujeito (nós) e o predicado (o que está fora). Não nos passa pela alma a tradução do que está além dos olhos. Mesmo que o melhor do yoga nos faça ser superinteriores (vamos deixar assim) não há como entender esse reflexo.

É a educação.
Não há outro meio de compreender o que está de fora, se não tentamos nos compreender. É um trabalho educacional, religioso e filosófico. Tal trabalho não é inerente aos animais, plantas, pedras, planetas... Ou seja, jamais iremos nos deparar com a ideia de algum animal vislumbrando o sol como uma estrela bela, ou mesmo beirando uma rosa na tentativa de compreender sua beleza passageira. Esse serviço é nosso. É um processo. É um ideal. Regado a tropeços, mas também a glórias. É, além de tudo, exteriorizar o belo, o que há nessa alma louca para voltar ao seu ninho.

“O ideal se esconde até mesmo dentro de uma xícara de café”, dizia mestre Jal. A realidade de um ideal também se esconde em nossos atos, tão naturais quanto o café de dentro da xícara. Esconde-se no sorriso de um bebê, na gargalhada de um amigo, na paz de uma floresta, no levantar do sol, no cair de uma chuva... No aroma de uma terra molhada, mas também no mal. Até o mal é natural. É necessário.

E o que nos resta é ir atrás desse Ideal, dessa condição humana, que chega a ser divina, gloriosa. Uma condição espiritual, justa, dentro do que Platão chamara de o Bem em nós.

Talvez, por ser tão complexo de entender através de uma linguagem racional, é que os egípcios levaram séculos para deixar claro que somos limitados, por isso o segredo de muitos textos. O racional – por ser mente – dualiza, não direciona, de imediato, o que é, inclusive, espiritual. Mas o espiritual não dualiza, pois ele já é o caminho, a resposta. Contudo, por ter muitas vias de acesso, singulariza, em metáforas, símbolos, deuses, uma realidade somente compreendida aos iniciados nos mistérios.

O iniciado não é um homem incomum. É o que podemos chamar de ponte ao que queremos. O ser que reflete o divino. É o ser religioso por excelência.

A educação, assim, vista como uma problemática atual, por ser meio pelo qual se informa acerca de tudo, é mentirosa. A religião, aquela que separa o homem dos mistérios, também o é. A filosofia, que exclui o trabalho voluntário, a educação e a própria religião, não chega nem perto do conhecimento.



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quinta-feira, 15 de abril de 2010

A grande BATALHA


Vejo a vida como uma grande batalha, na qual legiões de guerreiros tentam sobreviver ao relento, ao sol e céu aberto. Em meio a sangues, em um chão que não se olha quem está morto – seja amigo, ou amiga, parentes ou afins... – tenta-se, de alguma forma, levantar-se a cada bombardeio, pois de joelhos se fica, quando bombas nos ensurdecem... Nos transformam a cada queda. Os estilhaços respingam nos rostos humanos, se infiltrando como sanguessugas, as quais, em cada lama, não perdem tempo – comem veias, salivando mais e mais sangues...

Vejo o céu sombreado pelo furor divino, pelo qual se vivia há tempos. Uma sombra negra tal qual a noite fria em que se vive há mais tempo ainda. As nuvens reais morreram, e eu, filho da ignorância e da relutância, ainda claudico até o fim de minhas batalhas pessoais. Não sei por quê. Talvez por não entender o dissabor humano em competir, mesmo com a morte em seus olhos; morte de crianças, de jovens, de idosos, e de homens de bem... Competir, ainda que terremotos consumam a estupidez – até aí tudo bem --, mas também a inocência dos puros de natureza, não pude entender...

Nesses dias, a batalha da vida me fez ver o quanto, em guerra, somos indisplicentes, frios e bestiais. Houve o terremoto no Haiti, destruindo o velho mundo, e depois o real terremoto, além do principal, abalar as estruturas humanas: a corrupção, o roubo, o tráfico de crianças, a dor de pessoas implorando por comidas, fosse da pior qualidade ou não, clamando a Deus a resposta às grandes indagações negras... Ali, uma realidade me sucumbiu: a de ver seres da mesma raça disputando o que não havia – casa, comida, espaço – e distribuindo dores, gritos, apelos.

A minha batalha diária torna-se até celeste comparada à daqueles que ruminam larvas, pedras, barros no Haiti (e em outros lugares)... Ainda somos carmicamente beneficiados pelo destino, eles não. Já não bastasse ser um dos paises mais pobres do mundo, um grande terremoto o destrói quase por completo, levando milhões de inocentes com ele. Não há respostas humanas para tanto...

Ver na tela o que foi sentido de perto não nos traz o real sentimento de perda daqueles homens e mulheres, filhos da esperança. Não, não nos traz. Contudo, nos transforma em filhos do medo, da insegurança... As imagens são fortes e chocam.

Vejo, nesse mundo imenso, nessa pequena batalha diária, que somos humanos, mas apenas (apenas, repito) até o primeiro duelo chegar. Num nível maior, somos humanos até o primeiro abalo sísmico... Num nível maior ainda, até que nos roubem o que amamos... não há nada que se compara a um ser humano com seus interesses levados ao chão; nada semelhantes a ele, quando um filho, uma mãe, uma família são ofendidos... a realidade se vai, e uma decrepitude de sentimentos nos iguala a animais de cujo alimento foi tirado. Num nível maior (bem maior que o último), não nos igualamos a nada. Simplesmente, matamos, roubamos, infligimos... Nos alimentamos, tudo em nome da fome, da dor, da revolta que nos impuseram há muito, sem saber. Torna-se, quando vem o momento, grotesco – palavra que não chega nem perto do que quero dizer – o linguajar, o agir, a verossimilhança com o bestial, o pensamento... tudo, menos um ser espiritual em busca de uma evolução interna – é o que somos, até o momento.
A batalha continua... E mais um terremoto demonstra o que foi dito. No Chile, um país, aparentemente civilizado, abalado pela natureza terrena, sentiu em suas estruturas, humanas e prediais, o que o Haiti havia sofrido em menos de um mês...

Com todo aparato médico, além do de segurança – incluindo bombeiros, policia, exército... – o pequeno país de luxo, em relação ao primeiro país, demonstrara o que seus irmãos haitinianos não o fizeram: como urubus, voaram às lojas, saqueando, atirando, destruindo até mesmo esperanças. A meu ver, toda civilização, em meio a uma guerra, a um terremoto, maremoto... Desconhece a lei, assim como um soldado em batalha, que atira para todos os lados, que corre louco em meio aos bombardeios, que clama a mãe, sem tê-la, que mata o amigo no auge da insanidade que o torna desconhecido a ele próprio... O Chile, aparente país educado, tornou-se o símbolo da desordem ao ser surpreendido pelas forças de uma natureza que não escolhe lugar, horário e vida para agir. País pequeno, mas que era indiscutivelmente referencial em comportamento humano, pelo menos em relação a muitos... Naquele dia, tornou-se um homem surdo e mudo dentro de abalo.

As batalhas não são apenas as declaradas. Assim eu as vejo. Todos os dias o homem tem que (e deve) lutar contra si mesmo no sentido de saber lidar com esse leque de possibilidades ocultas aos seus olhos. A questão talvez não seja de cunho fácil, pois não se tem manual de como se comportar dentro de uma guerra na qual homens lutam pela sobrevivência de sua espécie, ainda que custe a vida dos outros – estranho não?. Um exemplo disso é a pobreza em que se encontram milhões de favelados em diversas cidades deste país. Subir e descer morros, não é algo gratuito, lisonjeiro, muito pelo contrário. Torna-se uma experiência diária àqueles que lá moram. Em meio a bandidos sem disfarces que andam até mesmo com bazucas aos olhos do mundo, transformando-se em heróis tortos às crianças daquele lugar, o morro é um estopim, onde policiais temem seus “donos”, e rezam pelos seus filhos que ainda não nasceram.

Essa é a batalha de todos. A nossa batalha. Contudo, há um mal muito maior disfarçado. O mal que se veste de homem de bem, que vê as favelas como algo de bom ao ser humano, criando redutos eleitorais a pessoas pobres, cuja honra é a única coisa que criaram, mas desfalecida pelo mesmo homem que anda e sorri, cheio de idéias sombrias, expressas teoricamente como a salvação do mundo favelado. Negros, brancos, mestiços tornam-se, ali, símbolos da discriminação, além da pobreza que lhes é dada ao nascer, pois não possuem a oportunidade de crescer, e quando têm, revelam-se homens cheios de maturidade a enfrentar mundo, no entanto, nem tanto, pois não conseguem sair do seu meio, acreditando que a solução é fazer algo pelas crianças, jovens e adultos, com uma educação dada pelos mesmos homens que o fizeram pobre no passado. Isso não é ser socialista.

Hoje, não entendemos a realidade das coisas, e podemos entendê-la somente quando uma maior nos bate a porta – como a dos terremotos, enchentes, desabamentos ou mesmo problemas pessoas, nos atingem, como disse. O Rio de Janeiro, exemplo maior de beleza natural, mas também reduto de imbecilidades, nos mostrou a maior realidade por que passa a comunidade daquela cidade, todos os dias. Nas favelas, nas estradas, nas pontes, enfim, em lugares que, se você fechar os olhos, não vê muita coisa, mas, se você começar a tentar entender, verá que o caldeirão é bem maior que nos mostraram as chuvas que caíram há semanas.

Morros desabando. Casas, idem. Mortes por todos os lados. Ruas inteiras alagadas. Rios transbordando. Bocas de lobo cheias de lixo. Buracos imensos, como clateras, como armadilhas aos carros. Para o carioca, o mundo acabou – assim como para o haitiniano, chileno...

Mais tarde (bem mais tarde), após flashs televisivos intermináveis, perceberam que a culpa era dos políticos. Realmente era (e é), mas também somos responsáveis por tudo que nos acontece em batalha, principalmente com aqueles que discriminamos pela cor, pelo estado social e por muitas diferenças.

Ao subir o morro, muitos sentem admiração. Sentimento esse que deveria ser substituído pelo de humanidade. Toda a favela, seja qual for, tem um pouco de nós – o mal de nós. Ela se ergueu pela nossa ignorância, pela nossa maldade, pela frieza que nos é inerente, e que nunca nos extinta. O político é a ponte dessa maldade. A democracia, o tapete onde são pisados todos os valores pelos quais devemos (ou deveríamos) lutar e a que, desde antes de nosso nascimento, temos direito. A sujeira se vê depois.

A maior batalha de todas por que passo talvez seja contra mim mesmo. Não todas aquelas que citei. Talvez porque sou tão medroso dentro da batalhas quanto qualquer criança que sobe um pé de manga e fica lá no alto sem saber do perigo da queda...

O que está faltando em mim talvez seja o “E se cair?...”/ “e se machucar?”... / Se cair, levanta, e se machucar, cura-se. Eu quero voltar a ter a coragem de poder modificar minha vida e subir em todos os pés de manga possíveis e cair, levantar, e se eu morrer na queda (!) que seja com honra. Ética. Humanidade. E se eu for para o inferno – coisa que inventaram aí para os ricos (pobre vai para o céu) – que eu me encontre com meus grandes amigos!

E que venham as batalhas.


Obs: até o fechamento deste texto, tínhamos notícia de que a China sofreu um terremoto no qual morrera mais de pessoas.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Canção Eterna


Mulher,
Canção que adormece o mais bruto homem,
Infinita voz da compreensão dos divinos mistérios,
Lua que desafia os sóis, envaidece a terra...
Que alimenta o filho, fortalece o esposo.

Mulher,
Sombra das deusas de uma natureza concreta,
Sorriso da vida frente à morte,
Religião da paz, guerra dos dias,
Batalha incessante...

Mulher,
Ópera que flameja as almas doentes,
Fúria serena em meio à dor,
Água que cura o corpo faminto,
Ser divino.

Mulher,
Mãe da terra, dos homens, das criaturas,
Descobre forças do nada, nas larvas da vida,
Não sucumbe à falta e nos torna fartos de tudo.

Mulher,
Quando grito ao céu distante,
Clamo às deusas, que ouvem minha oração...
Viro um rio de lágrimas ao chão vazio,
E no amor de tua presença sinto uma profunda
Canção...

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Brevidade


Ontem, 8 de abril, fomos a um enterro. Eu e todos do serviço. A mãe de uma caríssima colega partiu. A mobilização foi incrível. Não faltou ninguém. Na capela, familiares desconhecidos para nós; apenas Luciana, nossa amiga, e filha da falecida, a sorrir um sorriso meio trôpego, na tentativa de se aliviar do ocorrido e nos passar, ainda que com dificuldades, o descanso forçoso, natural e quase obrigatório de uma pessoa que amava tanto.

Na lugar, todos de pé a saldá-la, e Luciana, a abraçar a todos, com uma pequena bandeja de chocolates, sendo distribuída por ela, a todos que ali prestavam a última homenagem, ou mesmo uma presença simbólica daqueles que nem mesmo a conheciam, mas que conheciam Luciana e seu esposo.

No momento, passou-me pela cabeça o recente encontro dos meus familiares e amigos no mesmo lugar. Um dos meus irmãos havia morrido, velado e enterrado ali naquele cemitério. A vida é assim.

A bandeja de chocolates, servida pela colega de trabalho, me lembrou alguns filmes americanos, nos quais, em velórios são servidos bolos, tortas, até pizzas, no “último encontro” com o morto. Coisa de americano(?). Bem... Deveria ser! Fiquei sabendo que, mais tarde, a mesma colega teria feito um almoço aos familiares e amigos destes, talvez, pelo mesmo motivo. Respeitemo-la... Contudo, teria eu que me educar em relação a esse comportamento. Acho que determinadas culturas, por mais belas que sejam, por mais progressivas, ou mesmo avançadas, têm a sua cultura, seu modo de lidar com seus mortos – e nós, a nossa. Em respeito, mais uma vez a minha amiga, digo que ela foi excelente recepcionista, mas nunca eu trocaria a religiosidade, a simplicidade, a união, pela idéia que levou americano a servir tortas ou sei lá o quê (com todo respeito, é claro), no enterro do parente... ou seja, prefiro a cultura nossa com toda ignorância que nos deram.

Um pouco mais tarde, fomos levados a partilhar a última caminhada atrás do ente querido que se foi. Muitos que não conheciam a senhora falecida choravam. Outros, retos como postes, caminhavam eretos, mas o coração tremulava como bandeira ao vento – dava pra sentir tudo isso quando se é apenas expectador. Quando se participa da dor, da real dor, fica muito difícil...

No local, muitas lápides, muita gente, muita paz. Fiquei um tanto quanto distante do enterro, junto com um colega. Ali, comentávamos acerca da brevidade da vida... “Não nos esquecemos que a morte é do corpo”, disso eu a ele. Sem falar que, no inicio, eu cumprimentei Luciana dizendo, em tom apaziguador de choro que sua mãe teria ido para o “desconhecido” (!)... Quanta bobagem, pensei! Quem vai refletir sobre isso? Quem vai querer compreender o que significa “desconhecido” naquele lugar em que todos já sabem e tem a certeza de que todos que morrem, principalmente mães, vão para céu?? Caramba, que besteira...! Mas Luciana, minha colega, “supercultaeinformada”, disse “É mesmo...”, além do sorriso expresso no rosto, com coração cheio de mágoas...

Voltando... Perto do local, ainda a filosofar, para variar, falei dos antigos egípcios, que acreditavam na reencarnação. Falei ao colega que olhava os canteiros humanos, do coração daquele que morria e lá julgamento, ao lado dos deuses, perto de uma balança, sentindo a respiração do deus da morte, o Chacal, que o coração do morto era colocado na bandeja juntamente com uma pena, representando a Justiça, a Ordem, a Disciplina Universal, na outra, e que, se o seu coração pesasse mais que a pena, você reencarnaria... Ou seja, sempre. No entanto, o egípcio sabia que reencarnar era mal, pois o mundo, para eles, era apenas um reflexo, uma ilusão, e que a realidade era viver no pós-vida, além de nossas compreensões... O faraó, claro, disse eu, jamais voltaria, pois seu coração era leve tal qual aquela pena... Lindo, não?

Ainda comentei sobre Barqueiro – uma simbologia profunda, na antiga Grécia, da qual, até hoje, tentam tirar algo dela, mas não conseguem; a pessoa morre, é cremada, com seus olhos amarrados em moedas. No portal dos deuses, a pessoa pega uma barca e, ao final da viagem, paga o Barqueiro, e consegue a plenitude. Daqui também se pode lembrar da Barca de Isis, e de muitas outras culturas de simbologias semelhantes.

Enfim, pude me deliciar com outras culturas dentro do âmbito em que nos falam acerca do pos mortem, e pude perceber o quanto o cristianismo derrubou tais culturas e implantou outras absurdas em todo o mundo. A cultura do céu e do inferno, tão sem base, sem estrutura, que não se consegue entender, ainda que se leia tanto, a clássica Bíblia, talvez por que nos tiraram a chave da interpretação... Resultado: todos acreditam em reais céus e reais infernos!... Fazer o quê?

A vida, assim, nos remete a simbolismos acerca de tudo, até mesmo da morte, essa indesejável criatura. Nos remete mais que isso, a livros inteiros – não os de páginas e capas duras – livros belos cuja compreensão somente o sábio sabe ler. Nós, não, ainda temos que ler muuuuuito! E nos reais livros!

Assim, meio que confortável com a conversa, fomos embora, ou melhor, voltamos ao trabalho. Voltamos ao ciclo.

Religare

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Nascer todo dia, esse é o meu conselho. Se todos passamos por diversas intempéries naturais de um ser humano, é porque somos seres humanos, não cavalos, porcos, aves, periquitos ou macacos. Somos seres que acordam em meio a guerras diárias, mas também em paraísos escondidos, e não sabemos. Estes, tão escondidos em nossa alma, porém, tão visíveis quando nossa própria imagem no espelho, são os grandes responsáveis pela nossa vivência – ou melhor – pela nossa sobrevivência num mundo de pessoas que não se compreendem e não esperam se compreender, mesmo porque não as interessa.
Somente quando lhes toca o “calcanhar de Aquiles” é que se tornam vulneráveis a qualquer diálogo em sentido até mesmo bíblico. Não podemos esperar que nossos calcanhares sejam arranhados, tocados... e olharmos para o céu pedindo perdão a Deus, não, não podemos. Olhar para si mesmo é compreender que somos seres religiosos, seres que perdoam, que amam ou que podem compreender o amor; olhar para si mesmo e ver um grande sol se fazer pela manhã, tão belo e ursal, sorrindo em nome de tudo que é misterioso e divino. Olhemos. Oremos.
Ele se vai na tarde, claro, mas nós não; ficamos a observá-lo novamente nos questionando “o que ele ganha com isso?”, “Por que tamanha bondade se somos seres tão brutos e não lhe damos absolutamente nada?” – são apenas indagações advindas de nossos corações frios e sem amor, cuja sabedoria não passara nem perto.
E assim, permanecemos intactos ante sua beleza indo embora, transparecendo um deus que se deixa luzir em sua calda alaranjada, até se acabar... E não aprendemos nada sobre ele, de novo.
Suas chamas ainda ficam em nossa memória, como uma miniexperiência filosófica sobre a qual não temos nem mesmo ferramenta para entender, mas buscamos à medida que sorrimos a alguém, abraços alguém, damos amor a alguém. É ele, o sol em nós, fluindo misteriosamente feito sangue invisível em uma alma perturbada e ao mesmo tempo cheia de raios aos semelhantes que por ela passam.
As chamas desse grande deus continuam na música de Bach, elevando a alma ao mais quente dos cimos. A música enfeitiça como uma lua que brilha nas ondas de um mar distante, sem ninguém, apenas um observador, o próprio espírito, ao longo, na praia, clamando nosso nome.
Nada disso é imaginação, nem mesmo abstração. É revelação. É religião.

O Direito de Ser


Em meio a guerras e conflitos pessoais, humanos e mais humanos se desencadeiam na evolução psicológica dos fatos, das informações; seus gestos, suas falas, a cada dia mais avançados são naturais de uma época que não pede educação e sim confronto, luta e discursos inúteis. Assim, como diria, Charles Chaplin, “Assim caminha a humanidade...” cheia do nada!

Uma prova disso: para onde estão indo aquelas informações que, desde criança – naquela tenra idade – recebemos de bom grado dos pais, avós, como se fosse nossa última tocha acesa na escuridão do último túnel, sem mesmo a quem o a que recorrer? Foi para os espaço, fazer parte dos programas espaciais americanos ou para a rua serem pisadas em meio à multidão infernal revoltada por salários dignos? Talvez.

Mas o que procuramos não é a informação de outrora, e sim nossa honra, nossa ética, nossos direitos de ser... Humanos. Queremos reconquistar esse direito, além de respirar fundo, acima desse mar de lama que nos impuseram, soltar uma gargalhada como quem enganou o inimigo direitinho... Queremos mais, muito mais que isso. Como diria Gonzaguinha “mostrar a bunda na janela” aos políticos, corruptos, aos miseráveis homens que vivem somente por viver, ou por interesse próprio, ou por atrapalhar a vida de quem quer ser feliz... Mostrar a esse gente infeliz que corrói na infãncia, juventude e que nos transformam em velhos mentirosos!

A quem recorremos? Não tem ninguém, pois papai e mamãe já não pensam como nós, e estão em uma esfera diferente do nosso planeta, porque a experiência – aquela que cultivamos individualmente – nunca é igual a outra. E nossos pais... Ah, nossos pais, por estarem ainda vivos, tentam nos atar ao nó eterno de seus colos e nos apegar a eles como filhos eternos que fizeram bobagens eternas... Além de, é claro, abraçar nossas consequências, aquelas pelas quais somos responsáveis... Não recorremos, então, a eles.


Recorrer aos saudosistas, aqueles que adoram voltar ao passado, cheios de dores do presente e que, sem querer, se machucam com lembranças frias e quentes, mais frias do que quentes? A esses eu desejo uma âncora, e que por ela saiam do atoleiro, pois o mundo precisa de idealistas que, pelos quais, conseguimos nossas honras, ou pelo menos um pouco dela...


Aos mentirosos de plantão, que vivem apregoados em casa, em busca de aventura; porém, nada melhor do que um bom filme para “ilustrar” a sua vida mansa, calma e cheia de moscas? Não a esses um empurrão, ou mesmo um chicote da vida para lhes mostrar o quanto falta a viver, sorrir e buscar o melhor da vida – seja nas crianças, seja no amor.

Enfim, é difícil buscar soluções dentro de uma decadência de valores nos quais até mesmo os cientistas têm duvidas quanto o que encontram. É preciso sentir, como em uma corrida solitária, o vento no rosto, o coração bater, o cheiro das rosas no campo, a brisa do mar, a poeira molhada, a verdadeira paz interna... E criar uma sociedade pessoas verdadeiras!

É preciso viver. Sair de casa, sair da televisão, criar formas de vida, sem que sejam influenciadas pelo mal que nos assola, mesmo quando estamos dormindo. É preciso criar filhos invisíveis, responsabilidades, com as quais não sentimos o peso e sim a leveza de realizá-las, semelhante aquele homem que saia de casa, todos os dias, e ia ao encontro da santa, puxando uma carroça, cheia de lixo, pesada, porém, ele, feliz...


Assim, na resposta àqueles que nos acham filhos do nada apenas porque somos realizadores de alma, não de concretos, diremos que, sem alma, não há corpo, mas há muitos corpos sem alma.

Vamos realizar! Mas antes, filtremos as informações, sempre dentro de parâmetros simples, nunca racionais!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Ser e Envelhecer


“Ser velho é não ter ideais, objetivos, projetos...” LC.


Não sei ainda o que é envelhecer. Mas observo minha mãe, uma senhora de mais de setenta anos, com oito filhos – sete, um já falecido recentemente --, como um grande referencial a ser adotado por mim e por muitos, espero que por todos que a conheçam. Uma diva terrena, firme em suas convicções, que leva a vida como um rolo compressor em cima dos problemas, dos males que vêm e dos que estão por vir.

Sua natureza tão forte adveio de uma infância sofrida, na qual pais e mães – ainda que tão pertos, não puderam dar a ela tudo que necessitava. Muito pelo contrário, teve que trabalhar como doméstica, deixando seu maior sonho pelos cantos – o desejo de estudar, ler, saber, entender, conhecer e ser alguém.

Hoje, ser alguém, tenho a certeza de que independe de querer ser, mas sim pelo caráter demonstrado em caminhos pelos quais passamos. Semelhante um soldado que não perdera a racionalidade em plena batalha... Minha mãe, forte como um touro, religiosa mais que qualquer sacerdote cristão, nos passa uma velhice regada de caráter fibroso. Quem a vê alimenta as esperanças, de paz e amor em sua vida. Não foi preciso, dna. Joseja, o estudo para ser alguém. A senhora é e sempre será alguém, o qual demonstrará a luta pelas mínimas coisas, ainda que não seja regadas de valores maiores do que os nossos, nem os de grande interesse, ainda que não seja relevante, mas que tenha em seu cunho um pouco da sobriedade humana para ser alimentada.

Cícero, o grande orador grego, que soube envelhecer, disse um dia que pedimos a Deus para envelhecer bem, mas não nos contentamos com ela – a velhice – quando nos é chegada. Por quê? Não temos instrumentos – caráter formado desde a juventude para lidar com ela –, e isso nos corrói as entranhas, sendo fortes ou não.

É por isso que se deve alimentar de paz e fortaleza nossas almas, já que pretendemos chegar ao “fim” de nossas caminhadas bem seguro; é por isso que, sempre que pretendemos viver bem, que tenhamos orgulho de todas as idades, principalmente a maior, seja em qualquer âmbito que a considerarmos. Pois não há nada mais belo em nós que passar uma experiência que tenhamos orgulho de nós mesmos.

Quando se é jovem, precisamos mostrar que o somos – sempre falando o que bem quer, passando por experiências inúteis, levando gírias ao nosso pífio vocabulário, se esquivando de problemas que são nossos, correndo em direção ao mal, sorrindo ao nada... Enfim, somos frutos de épocas que não souberam nos educar – e o reflexo dessas imagens só o vemos quando mais velhos --, como se fosse genocídio em massa, mesmo não nos enterrando.

É de invejar aquele que passa por tudo isso e ainda possui o caráter formado, elevado a uma boa educação a ser passada. Esse nos faz acreditar que a vida tem recompensa, e que a evolução existe, pois criamos referenciais, como totens indígenas, lá nos alto, mas com um simbolismo profundo acerca do céu e da terra.

Epílogo

Atualmente, o medo de envelhecer combina-se com o medo da morte. Mas são percalços naturais pelos quais se passa, querendo ou não. Aliás, algumas coisas – as mais importantes – não dependem de nós, humanos. O que criamos sim, talvez, mas, mesmo assim, titubeamos em sua realização. O que quero dizer é que, já que podemos resolver determinados problemas, ainda que difíceis, vamos fazê-lo, não aqueles com os quais lidamos naturalmente, advindo dos deuses. Esses são provas naturais pelos quais temos (ou pelo menos tínhamos) que passar sem mágoas, enfrentando, sorrindo, saboreando a vida tal qual uma criança que cresce, desenvolve-se e vive sua plenitude na velhice – mas não nos tornamos crianças! E sim sábios! Uma condição pela qual nenhum animal ou planta por ela passa, apenas humanos. E envelhecer é isso. Saborear a vida aos poucos, até o presente maior nos seja concebido: a sabedoria de enfrentar a morte como se fosse um brinquedo, uma viagem ou um desprendimento de uma pedra que há muito nos segura pelos pés.

E a velhice seria a ponte entre o homem e o mistério.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Sombras, Pó e Eternidade

A terra nos ensina que tudo se vai... Nas mínimas coisas que são – ou que aparentam ser – nada é eterno do ponto de vista terreno, humano, animal, mineral... E vegetal. As experiências no conduzem a isso também, a essa conclusão fácil, no entanto, de difícil aceitação quando por ela passamos. Não falemos na morte, por enquanto.
A experiência dos males naturais -- as doenças; a perda de um objeto; o sumiço de um fio dental, o desaparecer de um controle remoto... Oarranhar de um relógio... de um carro!... Enfim, somos assustados com o fim de tudo, com o nosso fim, mesmo sabendo que até as rosas, seres tão belos e frágeis, também se vão, mas voltam, e, entanto, tão imprescindíveis!

Quando somos pegos em pensamentos do tipo “tudo um dia se vai”, ficamos presos a ele, ou tentamos esquecer que somos mais físico do que tudo, e ele se vai – antes ou depois de seus objetivos cumpridos --, pois não há nenhuma lei que diz que tudo que é do homem é necessário que fique no mundo para dar cria. Talvez, em certas cabeças, tal pensamento se funda pelo fato de que enxergamos nossos filhos como uma contínua forma de imortalizar a nós, o que é exageradamente errôneo de nossa parte.
E aquele que não pode ter filhos pensaria do mesmo modo? Então é falha a premissa de que os filhos são complementos imortais, os quais se vão um dia, mas deixam (ou são obrigados a deixar) mais filhos, apenas porque queremos deixar enraizada a idéia (errônea) de que somos eternos. Muito pelo contrário, tudo se vai.

O homem é eterno, mas não do ponto de vista físico. Nada é eterno desse ponto de vista. É assim que devemos nos educar em relação às coisas que nos acontecem, desde a infância. Mas educar também nossas idéias, pois elas, a depender de quem as deixa, duram mais que homens, mais que as revoluções, muito mais que a história...

O homem que tenta ser bom e justo em sua sociedade já tem a sua parcela de imortalidade – ou pelo menos um pouco dela, mesmo porque precisamos ressaltar seus feitos àqueles que ficam, como nossos filhos. O homem que irreleva, em sua vida familiar, profissional etc certos fatores naturais de sua responsabilidade mais tarde encontrará um caminho que o forçara ser melhor, ainda que seja tarde.

Suas idéias serão eternas em sociedades que necessitarão delas, seu comportamento, em um mundo que necessita de uma educação prática, será lembrado... Isso é um pouco de eternidade – os livros são prova disso.

As idéias podem ser grandiosas, durarem muito, e até mesmo deturpadas, mas não são melhores do que os referenciais dos quais elas vêm. Se adotadas dos céus, durarão eternamente, se da terra, não muito.

Voltando...

Epíteto, filósofo estóico, dizia sempre que, se quisermos nos acostumar com a perda, devemos sempre dizer... “Ele (a) vai voltar à sua origem”. Significa dizer que temos que nos referenciar sempre em alguma coisa mesmo que seja com a finalidade de nos acostumarmos à falta de algo, pois o que nos falta sempre nos causa dor, principalmente quando se está muito tempo do nosso lado – as pessoas, os animais, etc...

E obedecer às máximas não quer dizer repetir várias vezes uma frase, mas tentar buscar o porquê delas, assim como tudo em nossa vida. Frases fazem efeito, mas a razão pela qual fazem é que temos que buscar.

Epíteto sabia que tudo era relativo do ponto de vista físico, mas também sabia que havia sofrimentos na perda de qualquer ente. E isso, de alguma forma, desacelera o ritmo evolutivo de uma personalidade. Temos que começar com as pequenas coisas, ainda que sejam inanimadas; coisas que fazem parte de nossas vidas, e que, de alguma forma, criamos pendências sentimentais; “todas elas vão para o lugar de onde vieram” – um prato que quebra; um jarro que cai no chão e se espatifa; uma roupa comprada há pouco tempo que se suja com vinho... etc.

São reflexões necessárias. Dentro de dessa autoeducação, partiremos para o mais alto grau de consciência, que, um dia, nos fará mais ou menos inclinados a respeitar a natureza da morte.

Até mesmo o grande Marcus Aurélius dizia “até mesmo o maior dos imperadores da história morreu”. Isso nos conforta, no entanto, ainda não nos acostumamos com ela. Isso nos faz crianças em busca da compreensão daquilo que é tão maior e melhor que nós – uma fusão de mistério e medo, ainda que sejamos cientistas, religiosos, filósofos, sacerdotes, enfim, a morte, será, um dia, o momento em que lembraremos que tudo, tudo mesmo, tem sua ida ao desconhecido, à sua origem.
Por enquanto, como diz o filósofo, comecemos com as pequenas coisas, sempre medindo nossos sentimentos com relação a elas.
A real felicidade nada mais é do que respeitar a origem e o fim de tudo.

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....