terça-feira, 25 de agosto de 2009

O Divino Ócio


Eu poderia prosseguir com a distorção das palavras até o final de minha vida. Mas não posso. Tenho mais o que fazer. Todavia, gostaria de enfatizar uma outra palavra que se encaixa bem em minhas pretensões de eliminar, de vez, com esse assunto. É a palavra ócio. Não sei por que, mas me veio a vontade de falar um pouco sobre ela. Espero que gostem.

Peguei dez dias de férias – calma, eu já as havia dividido em três períodos, cada um com dez dias, portanto, estes são os últimos... – e acabei por descansar em minha humilde casa dos “mil” dias em que trabalhei arduamente. Sou servidor público, mas ao contrário do que se pensa... Trabalhamos. Não houve época melhor para se tirar dez dias: tenho meu filho, Pedro Achilles, um divino presente.

Suas palavras ainda se formando a sair de seus pequenos lábios, suas manhas, suas caminhadas (as primeiras), depois de um ano de vida; seu amor a tudo e a todos... Foi maravilhoso. Divino.

No entanto esqueci de me policiar em relação às pessoas, ao mundo, vivenciar os mitos, pensar nos grandes que nos inspiram todos os dias com sua coragem; esqueci de levar os conceitos sobre ética, moral, amor, verdade... Ou seja, esqueci de mim mesmo. Foram dez dias pensando em uma criança que precisa de atenção, mas dez dias cujos dias e noites poderiam ser aproveitados em uma vivência mais prática, em relação aos meus defeitos e virtudes.

Os defeitos, todos temos. Virtudes, não sei se as tenho. Contudo, alimento-me delas a partir do momento em que bebo um pouco de sua fonte. O costume ainda me falha. Na realidade muitas coisas ainda me falham, pelo fato eu ser um ser humano, uma espécie que busca tudo, inclusive desculpas para os erros, que, geralmente, são dos outros, não meus. Estranho, não?

O ócio vem daí. A má compreensão leva a tortuosidade prática. Isto é, dormir, comer, beber... Algo que já fazemos há milhões de anos, mas nunca deixamos de apreciá-los. O trabalho? Esse filho do desespero a que tanto chamamos de pena, escravidão vem a ser sempre o bicho papão de nossos últimos dias na terra... Que coisa, hein! Só não contamos com uma coisa, com o trabalho, seja qual for. Contudo, com ele, temos a impressão de que estamos vivos, ativos, participando de um todo. Com o trabalho, a vida existe, portanto não há vida sem trabalho, nem trabalho sem vida.

O ócio a que tanto clamamos nos torna múmias do dia a dia, nos predestinando a atos cheios de inércia, o que é um grande perigo a todos, pelo fato de que não se pode esperar pelo próximo ou mesmo pelo movimento de rotação da terra para nos movimentar em favor de algo. O trabalho, puramente dito, não seria assim a tortura pela qual passamos e vivemos. Todos na terra e no universo trabalham. As partículas trabalham, os átomos, as baratas... os vírus, todos, em com suas vocações, se voltam ao seus objetivos.

Mas os cristãos, em nome de Deus – que descansou no sétimo dia (duvido!) – nos incutem uma realidade que, desde a Idade Média, nos assombra e somos obrigados a acreditar: que trabalho é ruim. Prova disso são crianças que trabalham e são retiradas de suas tarefas e levadas ao colégio para aprender que trabalho é mau. Além de presidiários que se marginalizam mais do que quando estavam do lado de fora, mais uma vez pelo sistema acreditar que os levando a trabalhar em favor de uma sociedade que ele mesmo roubou, usurpou, corrompeu... é ruim. O trabalho virou sinônimo de tudo que é cansativo, exaustivo e triste.

Nada melhor do que levantar-se, olhar para as divindades ao nosso redor e dizer, deem-me coragem – de coração – e me faça uma partícula das que produzem, pelo ideal humano, seu trabalho, com amor e justiça. Sem ideal, não há trabalho...

O ócio, como uma forma de refletir acerca de nosso trabalho frente às divindades, é mais que uma necessidade. Ele nos traduz um segredo que há muito tentamos entender, o segredo de melhorar nossas ações, nossos pensamentos... Enfim, não pedir a Deus, mas, como em uma oração, conversar consigo mesmo, no sentido de olhar mais seu interior, e moldando, como uma pedra que esconde uma linda estátua, nossa alma.

Um comentário:

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....