quinta-feira, 28 de julho de 2011

... E a Alma do Mundo...


Nas emoções refletidas nas lágrimas de amor e ódio, nas dores da vida, nas sensações de alegria, nas palavras de uma bela poesia feita de coração; no amor ao próximo, ao distante, do pequeno ao grande humano... Assim caracterizamos a alma do homem, que vive em função do que sente, ama, vive e morre! Assim, de maneira macro, caracteriza-se um país em época de festas, de canções em shows, que une a todos – tribos, línguas, músicas!

Contudo, a parte que nos cabe salientar é a mesma parte que nos preocupa. A alma do mundo. Tão doente pelos maus tratos, pela ignorância humana, pela falta de humanidade... A alma mundo trafega cansada em meio a florestas devastadas pelo interesse, pela indiferença à natureza. Trafega entre os homens de bem que são teóricos, são racionais e não deixam seus mundos, graças ao medo de perder seus valores alcançados durante a vida; a alma do mundo pede em suas vias estreitas o que se pede dentro do coração do homem de bem...

A alma do mundo está sem pernas, e se arrasta nos becos pobres das vidas, a demonstrar o preconceito profundo aos pobres, e se veste da pobreza dos homens ricos, mas que se alojam em suas mansões indiferentes ao mundo que morre, ao mundo que se encontra abaixo deles, ao mundo que se desfaz graças a eles.

A alma do mundo não vive, sobrevive na ganância dos governos corruptos, que transformam belos países em pobres mendigos, e por isso se emudece, chora e pede aos poucos do nosso tempo que tenham piedade dela. Pois no passado, viva como uma criança em parques, como jovens, como adultos honrados, a alma do mundo não procurava vida, ela já o tinha no coração dos homens, e, como ponte ao valor humano, transbordava como ouro fino nas vozes dos grandes homens, que não eram grandes por terem posse, e sim pelo, muito mais, respeito, pelo valor dado, e a ética ao ser humano, fosse de qualquer raça, cor, sexo, religião...

Aqui, a alma do mundo sorria e até mesmo o sol se fazia mais forte, e a chuva mais fértil nas plantações, e estas mais soberbas às tribos que colhiam, que brindavam, que cantavam e, na noite que vinha com a festa, a fogueira saltitava nos olhos das crianças cheias de vida e heróis nas veias...

Hoje, nossos heróis foram reduzidos a interpretes e a compositores que cantam suas debilidades internas, e criam “discípulos” com suas vestes, com seus modos extravagantes, e os fazem chorar quando se vão, ainda que sejam doentes, mórbidos, feios, malucos até, mas que, dentro de suas vozes maravilhosas, demonstram a realidade de um mundo que precisa mais do que nunca de um caráter para se erguer.

E a alma do mundo vaga nas escolas cheias de crianças e adolescentes que não sabem o que é respeito disciplina, ordem, organização – a mínima que seja, e clamam a troca de governos, a troca de professores, mas não pedem a troca de educação. A atual, preocupada em transferir o aluno à série posterior, desfaz todos os princípios humanos quando quebra o seu significado -- edutiere > transferir o que é bom para o externo.




Mas quem ou o que voltaria ao passado, tra-nos-ia a beleza das escolas gregas, romanas, egípcias em preocupar-se com o real valor das palavras, da semântica original delas, ou mesmo da preservação da educação tradicional, da qual somente os discípulos ou alunos mesmo poderiam realmente ganhar com tudo isso?

Ninguém o faria. As almas humanas transformam a beleza em ganho financeiro, levando o que poderia ser realmente belo em algo que, por mais lindo que seja, em interesse de poucos. Não se pode apreciar, a exemplo disso, uma ponte perfeita, tão bela, forte e firme, em algo belo, pois nossos pensamentos nos fazem imaginar o quanto responsáveis pela estrutura levam para casa ou mesmo para os bancos particulares milhões de dólares!

MAS pensar que a alma do mundo está doente e não se levantará é um tanto frio de nossa parte, e até comungável com a política e com a religião atual, a qual destrói famílias, assassina juventude, e ainda pula o muro sem ser vista.

A alma do mundo vai se levantar, dar saltos de alegria, ainda que se mostre claudicante no inicio, porém não está morta, não está banida do próprio mundo, pois ela depende dele, desse ser quase oval, no qual mares e oceanos deságuam em belezas naturais, no qual o sol ainda se levanta, sorri e embeleza as matas e jardins humanos.

E dentro desse mundo, há nós, humanos de almas belas, que se levantam na madrugada, tomam seu café, saem correndo atrás do seu ônibus, e começam o dia com um largo sorriso, na esperança de ver outro sorriso, outro e mais outro... como pingos n´água que geram pequenas ondas até a outra margem.

A alma do mundo é a nossa alma.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Folhas Velhas e Varridas

Na semana passada, mais uma cena de horror deixou o mundo aterrorizado. Um louco, em nome de uma organização terrorista, assassinou vários jovens em nome de uma causa que, no entender dele, seria religiosa-política... ali, na Noruega, país, até agora, símbolo da paz, dos nobéis. Disfarçado de guarda florestal, o mentecapto se aproximou dos jovens em acampamento e iniciou a chacina, isso depois de ter explodido um prédio...

Como se justificasse seu ato monstruoso, ele, depois de preso, chegou a dizer que fizera aquilo porque a Noruega, país inventora no Nobel da Paz, abrigava não simpáticos a sua causa, os Judeus.

Assim como muitas no passado que assassinaram em nome de Deus, outras organizações atuais abreviram vidas por motivos iguais, mas de maneira mais contundente e horrível possível.

E assim, muitos se perguntam, o que podemos fazer com tais sujeitos (ou organizações) que destroem vidas em nome de Deus, Alah, Maomé, etc, ou por menos do que isso? Se fôssemos descrever tais crimes e suas formas, terminaríamos em um livro de terror, e mesmo assim não teríamos leitores satisfeitos.

Não há, pelo menos em minha visão, pena (justa) a quem mata ou maltrata crianças. Torturar tais monstros, maltratá-los, colocá-los em corredores da morte, a meu ver, chega a ser simpático à causa deles, ou melhor, chega a ser um presente...

Nada justifica a morte de seres inocentes que estão chegando ao mundo e aprendendo com ele, mas há aqueles que lhes ensinam da pior maneira possível valores inversos aos que aprendemos em casa, na escola... Tivemos, a exemplo, no inicio do ano, um fanático, em São Paulo, que o fizera em nome de sua religião, e que, depois assassinar mais de sete crianças em sala de aula, deixou cartas em que relata o porquê de tudo, e suas desculpas ao ocorrido. Antes de se suicidar, o monstro queria levar consigo tantos inocentes quanto o numero de letras em sua podre carta, na qual tentava justificar a morte dos jovens... Não nos interessa, claro, a sua justificativa.

Não adianta, há sempre um fanático por alguma causa. Não é de hoje. Há milhares de anos, já havia os xiitas assassinos por causas que nem mesmo poderíamos entender. Hoje, no entanto, graças à Mídia, podemos nos “inteirar” com opiniões de jornalistas, de especialistas nos assunto e, se quisermos, nos relacionarmos com indivíduos cujas mentes vagam entre o bem e o mal, tal qual aquele equilibrista que vai cair no chão, sem redes.

A questão é que, de tão perto que estamos desses insanos, que, na maioria das vezes, nos tornam seres medonhos em relação a outros seres humanos que não tem nada a ver com a loucura daqueles. A preocupação, assim, com aquele senhor que anda sozinho, do trabalho para casa, com aquele menino sozinho, nos cantos, sem a característica social própria, e outros comportamentos inerentes dos bestiais nos fazem temer a vida, sem que possamos nos aproximar daqueles e, quem sabe, auxiliá-los em sua solidão, em sua falta de carinho.

Assim, nos afastamos, pelo medo, de quem realmente precisamos nos importar, com as pessoas mais próximas de nós. Daqueles meninos que correm a nossa volta, em busca de alguém para comentar suas venturas, ainda que trôpego no assunto, na fala, contudo, cheio de energia e vontade nas veias, no coração, a fim de explodir em sorrisos férteis de inocência...

Há ainda os idosos cujos atos nos deram sabedoria no passado, os quais, pela Mídia, são ainda vistos como suspeitos por estupros, violência sem medida, pedofilia, etc, e que já não se enquadram em contextos de respeito, de moralidade, ética, pelos quais lutaram a vida toda. Simplesmente, graças a frios senhores de idade que, embora de idade, não tiveram a adolescência completa, não tiveram o amor ou os amores a quem deveriam amar, ou mesmo as relações próprias da época, e nisso se tornam imbuídos de instintos presos, burlando até aquela data em que os homens se tornam sábios ou meramente reflexivos quanto à vida, à morte... E se engendram em desventuras animalescas...

Precisamos tornar realidade aquele sentimento humano que causa inveja aos deuses, como dizia Aquiles, herói grego. Mas a modernidade nos sucumbe. Depois que colocamos os óculos do medo, uma visão aterradora e genérica nos toma a casa, a escola, os templos, as ruas, os parques... A desconfiança do mal dos homens nos faz dar passos lentos em direção às paradas de ônibus, ao nosso carro, sem o qual nem sairíamos de casa... Nos faz pensar duas vezes antes de confiar em alguém.

Não há como negar nosso medo. Mas também não há como ficar em casa para sempre, a espera do filho que foi à escola, ou à balada, ou ao acampamento... Não podemos desconfiar sempre de todos, nem mesmo daquele jovem quieto em seu mundo, que precisa de um diálogo, ainda que breve, para que possa confiar em Deus, ou menos do que isso, em uma pessoa de bem, que queira realmente seu bem...


Quanto àquela dor que nos vem quando surgem loucos nos jornais, exibindo seus rifles em fotos, sorrindo nas viaturas de polícia, depois de presos, após um massacre..., ela vai passar, e vai para a memória da alma nossa de cada dia, e para a alma coletiva da humanidade. E nos ensinando que o mundo muda a partir de decisões, tomaremos as nossas, e trabalharemos para que nossos filhos sejam as melhores pessoas do mundo, e se não forem, que não sejam vitimas, ou fanáticos religiosos-políticos, pois, um dia, estes fanáticos serão varridos como folhas velhas pela grande vassoura da paz.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Desertos, nada mais...

E se não houvesse a paz,
O que de nós seria?
Sem o sorriso no parque,
Correrias aos domingos
Das crianças fugindo,
Das sogras mentindo,
Dos homens sorrindo...
O que de nós seria?

E se não houvesse a lembrança?
Como o mundo estaria?
Pirâmides tão altas
Mirando ao céu,
Pontes tão longas,
Muralhas perfeitas,
Com deveras receita,
Mistérios sem véu?!

E se não houvesse o carinho,
Criança, onde estarias?
Sem braços, na poeira,
Nas sobreiras da solidão?
Em ruas como pedras
Que caminham,
Em restos que se jogam,
Em mundos que se vão.
Estariam em paredões da noite,
Como escravos no açoite,
Com medo da escuridão...

E se não houvesse o desejo,
Onde, homem, estarias?
Subjugado, iletrado,
Sem caminhos à verdade,
Sem buscas à liberdade,
Sem conceitos, razão!
Não haveria a filosofia,
A ideologia da vontade,
Em salvar a humanidade,
A colheita do vinho e do
Pão...


Sem a bondade, onde haveria
De estar, oh homem?
Nem mesmo nascido no Verso,
Da palavra sem prumo,
Do útero materno, do Uno.
Estaria oculto aos olhos divinos,
Por ele não bradariam a vozes,
Seriamos seres atrozes,
Em meio a nenhuma multidão...


E se não houvesse o Amor,
Senhor, o que haveria?...
Dor sem razão,
Fugas em massa de vida,
Correntes ocultas em braços,
Disputas em aluvião.
Sem a esperança,
Sem a nossa Mãe,
O fruto doce cair na terra,
Da árvore maior do mundo,
Seriamos do mal fecundo,
Destruindo o próprio ser
Em vão.
Seria a noite pura,
Ainda sem lua,
Sem dia, sem sol.
Sem jardins ou flores,
Haveria horrores,
A descrença, o sempre não.
Traria a indiferença nua,
A igualdade da palavra tua,
O medo da opinião...
Sem amor,
Não haveria o espaço,
E seu ato,
E sem ele, a poesia criança,
Não haveria lembrança,
Nem o pássaro no ninho,
Nem carinho, desejo,
Nem o teu beijo, mulher.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Pobreza, Riqueza...

Quando nos deparamos com um indigente que mora debaixo de uma ponte, ou mesmo em uma área isolada do resto do mundo, como se fosse cães renegados pela sociedade, sentimos um pouco de pena, um pouco de dor, culpa, e, na maioria das vezes, ódio de um mundo feito de pessoas que, a cada dia, renega seres da mesma espécie em nome de acomodações melhores – do conforto pessoal.

Não generalizando, claro, mesmo porque somos seres diferentes, pois há pensamentos, sonhos e ideologias diferentes, e há aqueles que realmente se preocupam, param, ajudam, acolhem, se transformam em voluntários em instituições, ONGs, etc, mas não conseguem parar a avalanche de necessitados que cresce todos os dias – ou minutos!

Nos sistemas, é assim. Há pessoas que o aderem em quase cem por cento, mas há outras, heroicas, que vão de encontro a ele e se tornam supermans, homens-aranhas, mulheres-maravilhas, e comungam seu tempo com crianças em creches, em escolas, com idosos em asilos, com o pouco tempo de que dispõem, e há os idealistas, nos locais mais difíceis do mundo, como no Zimbábue, na África, no Zaire, etc – estes, ainda mais fortes que os heróis, pois abandonam seus dias normais e se dedicam a causas além-humanas, na visão do capitalismo.





Pobreza...

A pobreza, em si, transformou-se em uma causa política, religiosa com finalidades tristes, como a de reeleger alguém ou contabilizar rebanhos em templos, em nome do dízimo cristão, do carro cristão, da mansão cristã, e do etc cristão...




A pobreza, que existe em milhares de países, há milhares de anos, principalmente nos de terceiro mundo, se transformou em sinônimo de fracasso, indigência, miséria, penúria... Enfim, de tudo aquilo que um homem ou uma sociedade, claro, não quer para si, mas, contudo, graças às intempéries vitais, aos carmas circunstâncias e necessários, não há como dela se livrar... Sobra, infelizmente, desumanidade a mais que generosidade, que amor, que beleza humana... Sobra, enfim, a real pobreza do homem.

E quando nos falta a beleza humana, não sabemos decifrar, nas entrelinhas da vida, nosso real objetivo no mundo... O de nos transformar em ricos, ricos de alma. E quando nos acontece isso, esse real sentimento de amor ao próximo, nada que conseguimos em vida, até mesmo aquela medalha de honra ao mérito, o Oscar de melhor ator, aquela condecoração por melhor simpatia, nada substitui o sorriso de uma criança africana, brasileira, hondurenha, ou de todas as crianças, quando realizamos um pouquinho dos seus sonhos...

Há exemplos na história de grandes homens que tinham honrarias por seus feitos, que residiam em castelos, que possuíam todo ouro do mundo... Todavia, em sua alma, resguardava algo maior que o ouro das montanhas, era o ouro humano. Depois de deixar seus castelos, foram se dedicar à humanidade, com pequenos atos, ou mesmo em auxílios simples, como o de carregar tijolos para o feitio de um casebre humilde para o desabrigado. E em troca, o sorriso, ainda que falho, daquele que é da mesma carne, da mesma espécie, porém o destino não o quis que a fortuna lhe batesse a porta.

Mas a maior pobreza, no entanto, não era aquela que residia nos casebres, nas pontes quebradiças e abandonadas, nos abrigos de governos; essa talvez a menor delas. Descobre-se, ao longo dos séculos, que a palavra pobre ou pobreza tem um maior significado, uma semântica dentro da lógica a qual deveria ser realmente empregada...

Ser pobre, hoje, significa esquecer o próximo, esquecer a si mesmo; ter tudo e ao mesmo tempo não ter ninguém; significa ser inteligente, e não possuir nenhuma ideia voltada à humanidade, ao próximo, ou mesmo ao vizinho... Ser pobre vem a ser aquele que não consegue ter o amor da família, dos amigos; não ter amigos. Ser pobre atualmente é não ser um sábio no pouco que aprendera da vida. É criar amigos de plástico...

Os piores, no entanto, são os pobres de coração, que se alojam em seus “castelos” de dois, três andares, e nele se prendem com receio de que pessoas comuns a peçam alguns trocados, comidas, carinho ou mesmo uma prosa, com a desculpa de que ladrões os roubem... Estou me referindo àqueles que adoecem o mundo pelos seus atos homicidas, os quais abandonam com seus olhares o próximo, falecendo todas as expectativas de humanidade, pois esta se repete ao longo dos tempos por uma geração que aprende o inverso da realidade... A atual geração.

Os pobres de coração há nos dois lados da moeda. Estes se proliferam semelhante a cada criança que nasce. Estes são os genocidas reais, pois batem no peito e dizem que são ricos e não abrem mão do que têm. Ou mesmo, “sou pobre sim, e é por isso que não vou passar em nada, não serei nada, assim não sairei daqui”... E não precisam. Precisam apenas ser humanos.


A Riqueza...

Um pouco dos ricos..
Cristo era um ser humilde, que nascera e crescera em locais mais humildes ainda. A pobreza circunstancial, no entanto, nem se cogita quando dele dissertamos. Relatam-se seus feitos, sua grandiosidade humana, seu amor universal.. Enfim, sua riqueza interna.

Falar de Cristo, no entanto, para nós, é criar um referencial um tanto quanto longínquo, mas que há, dentro de nossas possibilidades (natureza, capacidade...) uma certeza, a de que somos humanos, assim como ele o foi, e podemos tê-lo como uma estrela a ser alcançada a longo prazo...

Poderia Cristo, em razão de sua oratória, de sua popularidade, de sua ecleticidade com o povo, ser um poderoso homem com tudo ao seu lado – ouro, castelos, terras, amigos de porte, etc, contudo, o seu ideal humano, para nós mais divino do que humano, era a Meta maior.

Buda, antes do nazareno, há mais de quientos anos pelo menos, iniciara sua vida na riqueza, e fora na pobreza que descobrira que a real riqueza não tinha nada a ver com o ter e sim com o ser. Não diferente de Cristo.

Sindartha Gautama, o iniciado em Buda, desde a tenra idade era voltado aos prazeres humanos, tivera, inclusive, mulher e filhos, todavia, quando se é um ser especial cuja meta, ideal, propósito é revelar os mistérios da vida, da humanidade, nem mesmo portões de ouro para segurá-lo... Hoje, um dos seres mais ricos do universo.

Platão era de uma família rica, mas usara toda a sua parte para comprar escritos antigos baseados na filosofia tradicional – de Pitágoras, de Samos, etc. Seu mestre, Sócrates, era tão pobre quanto qualquer ser de sua época, tinha inclusive pai pedreiro. Sócrates, assim como os grandes, não é citado como o pobre filósofo, ou o filósofo que ajudava o pai pedreiro, e sim como um dos homens mais sábios da humanidade...


A Pobreza e a Riqueza...

A pobreza tem seus níveis, a riqueza também. A pobreza estrutural, a meu ver, torna-se necessária ao homem como uma forma de trampolim a qual, circunstancialmente, temos que pular com nossos esforços -- o que pode nos levar a vida toda --, e encontrarmos o “caminho do meio” – a meta de todos. E a riqueza, como uma estrela imensa para qual todos os nossos valores devem se converter. Valores humanos.

A riqueza, ao meu ver, também um trampolim circunstancial – talvez o mais difícil deles – revela a fragilidade humana em lidar consigo mesmo, traduz a pedra filosofal da vida humana, na qual todos os problemas podem ser vistos de perto, porém não solucioná-los.

A riqueza, quando estrutural, pode auxiliar os menos favorecidos, pode tirar um país da miséria das favelas, auxiliar em tratamentos de saúde sem a preocupação com equipamentos, pode ser confiável ao mundo, pode elevar o patamar de vida dos habitantes... Contudo... Não leva ninguém a ser sábio, conhecedor dos mistérios.

A riqueza humana, aquela a que deveríamos almejar, dá frutos ao homem, dá sabedoria na escolha quando jovem, conhecimento e divindade ao mais idoso, cresce na medida de nossa idade física, e nos faz morrer mais ricos ainda, mesmo usando trajes de mendigo.




Aos Ricos de Coração

terça-feira, 19 de julho de 2011

Solidão Teimosa

...E se fora um homem que bradava,
como louco nas veias da vida,
que penetrou nas vias do nada,
e do fosso não subira.

Foram dias ocultos,
tua alma não chorava,
Sentia dores da perda,
E do coração não voltava.

Foram quedas e dissabores,
E nada o fez voltar,
Nem mesmo a voz da vida,
Imbuída do cantar.

A solidão fora teu prato
Tão sujo quanto teus pés,
Nada aprendera com o vento:
falecera ao revés.

Enamorou brisas caladas
Em paredes aladas,
Sorriu ao nada, ao em vão.

Vociferou ao norte,
Que em outrora o deixou forte,
Deu-lhe o ideal de homem,
Deu-lhe a mão.

... E nada o fez partir da dor.
Preferiu morrer à morte,
Tão sozinho quando o espinho,
Que nascera sem amor.


R.

sábado, 16 de julho de 2011

Reflexões acerca dos Homens



Os filósofos nos deixaram um grande legado. O de refletir acerca dos tempos porque passamos, vivemos e buscamos nossas inúmeras respostas ao que nos constrói e ao que nos destrói como seres volúveis que somos. Deixou-nos uma verdade que se foi deteriorando como o pão que ficara seco e depois, apenas, farelos; e destes farelos os sofistas construíram novas verdades as quais vimos como nosso pão de cada dia.

Mas, quando digo que os filósofos nos deixaram esse legado, não quero dizer que nos ensinaram a pensar, mas nos organizar psicologicamente acerca de tudo, mesmo porque o ato de pensar é humano, é mais que isso, é nosso, pelo menos até uma determinada época o foi...

Atualmente, somos pensados como marionetes em palcos infantis. Somos castigados como crianças que não somos. Vivemos como adultos perdidos, como cegos à beira de um precipício, guiado por outros cegos...

Que mundo é esse em que almejamos nossos sonhos, nossas melhores realidades, ao qual nossas vidas entregamos, e o que fizemos para tanto? São questionamentos simples, os quais nos deixam complexos, e ao mesmo tempo congelados pela resposta, pois ela sempre cai em um só abismo, o próprio homem.

Não adianta fugir desse outro legado. O de que somos responsáveis pelos males que passamos, pela genérica falta de seres humanos, seja em casa, seja no trabalho, seja nos templos... Onde estão os reais seres humanos?

Não, não estão nas ruas, nem mesmo nas montanhas do Tibet. Estão aqui, pertinho de nós, virando fumaça de nossos interesses, a qual não para de subir e realizar seus feitos... Não para de deseducar nossos filhos, até mesmo a nós – somos hipócritas até na hora de relatar a verdade! – sempre tendo a teoria como a luz de uma consciência ainda que seja mínima.

A Negra Fumaça

A fumaça é do próprio homem, que mendiga, se arrasta de forma violenta na terra, se transformando em pedra, a bater no peito gritando “sou assim mesmo, e ninguém vai me mudar!”. Desses esperamos a força natural da sua estrutura, de sua alma para se afincar em tudo que conseguira até então; desses homens pedras, que lamentam, cientificamente, a perda do próximo, pois não acreditam em céus, em infernos, nem mesmo em alma, apenas em um coração físico, que, parado, não nos deixa rastro do que fizemos de bom a humanidade – apenas admiração... Esse mesmo homem busca afincadamente seus desejos mais concretos mesmo que tenha que se entregar ao oculto.

A fumaça é do homem que vai aos templos, se ajoelha, pede tudo ao Deus, mas não tem coragem de dar a mão a um ser que lhe implora uma moeda ou mesmo um conselho a um filho desesperado, pois está mais desesperado ainda em cumprir sua agenda.

A negra fumaça que sobe é a mesma que queima a consciência espiritual, deixando apenas aquela que o faz um vegetal na tentativa de se elevar falsamente em nome de algo que quer como enfeite passageiro em sua sala de estar, na cozinha, ou no banheiro... ou na maioria das vezes na garagem.

Não há como subverter de uma hora para outra o que fizemos em nome de uma alma sedenta por aquilo que a prende ao corpo para dar espaço à coerência humana. Por enquanto, agimos como pedras rolando em abismos em nome de pedras maiores ainda nas quais acreditamos como valores, crenças, deuses que vieram para nos modificar a vida.

Por enquanto, agimos como vegetais que, desde o seu nascimento, precisam de outro vegetal para crescer, florescer, dar frutos, ou mesmo de uma mão alheia na qual depositamos nossas vidas, nossa morte... E nos esquecemos de fluir como seres reais que somos.

E desses dois, nascem o homem animal, que age por instinto, acreditando piamente que é um deus simplesmente porque satisfaz seu ego no jogar de um papel no lixo. Dos dois, nasce o mais deprimente ser, tão pior quanto o próprio animal que ronda a selva em busca de alimentos, matando sem amor, a esmo...

...Nasce o animal racional, sem a sacralidade que nos deram há milênios, nasce o homem sem espírito (ou melhor, que não sabe que tem um), e como criança acredita em fantasmas, em demônios, e desmistifica os símbolos, tudo em nome de uma verdade inventada. Pior do que o homem pedra, este cuida do corpo assim como cuida da sua mente, mas aprende a manipular seu próximo em nome de verdades frias, sem lastros, apenas para se tornar evidência no contexto mundial, quando não, apenas para elevar sua moral financeira.

Mas o próprio homem é a doença do próprio homem, que mata com sua ignorância, sufoca com o arcaísmo de uma Idade Media que predomina desde o dia que nascera e não morrera. E tão cedo não morrerá.

As Chances

Contudo, em meio a essas cinzas, nascem brotos de rosas que persistem em crescer e desenvolver-se. São as instituições voltadas ao ser humano, são os reais seres humanos, voltados ao conhecimento, ao real legado a que temos direito, que nos dão a chance de repensar o ser humano – o humano-humano.

O humano-humano e aquele que, em nome do mais simples, luta, vence, e, mesmo na morte aparente, sorri. É aquele que entra no fogo pelo próximo, vai para a guerra e a vence, porque sabe que a alma é imortal, que o espírito é tão sutil que chega a ser indefinível, indescritível e ao mesmo tempo infalível. E ante as lutas, as guerras, aos mínimos conflitos... se depara com o sol, chora e não tem vergonha, ama a poesia, assim como a própria vida.

Este homem, na realidade, ainda vai nascer, e se tornará um núcleo que se propagará em nome da humanidade, sem a qual não haverá sonhos, não haverá nada, nem mesmo a memória humana nos livros divinos.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Ouro Humano

Há quem um dia nos diga que o grande sábio não precisa de livros para ler. Tudo que lhe passara nos olhos servira de experiências naturais como linhas e figuras de um grande livro. Assim foram os grandes sábios do passado, quando abandonaram a sociedade decadente para criar outras melhores, a partir de seus conhecimentos, nos deixando legados seus ensinamentos, com uma grande dose de amor.

E dentro desse grande rio de amor, alguns mergulharam, provaram e traduziram em varias línguas o que os mestres nos traspassaram – escrituras, mensagens, bíblias... De maneira que nos servem para nortear nossos pensamentos e conseqüentemente nossos desejos, os quais são direcionados ao vazio, isso com relação ao que realmente nos estao direcionando...

Os alquimistas, por exemplo, eram um tipo de sábios que transformavam literalmente carvão em ouro, mas, segundo eles, tudo pode nos servir de aspectos simbólicos quando tratado a luz da filosofia tradicional, quando dizia que “todo ser humano pode ser um deus”.

Assim como o carvao, podemos passar por um processo de divinização o qual so existe de forma consciente no meio humano. Isso quer dizer que ate mesmo os animais possuem seus ciclos evolutivos, mas não sabem disso. Nos, seres humanos, temos uma natureza voltada aos nossos desejos, e estes ao que chamamos de referenciais, e sabemos disso.

Tais referenciais, no entanto, nascem, crescem e morrem com o corpo. Hoje, em nosso tempo, criam-se referenciais, fabricam-nos em empresas, são repassados de gerações e gerações, tais quais refrigerantes.

Hoje, com a aceleração dos meios de comunicação – computadores, TVs, rádios, satélites... – há aqueles que se dizem evoluídos por possuírem carros, computadores, TVs, casas, todos com níveis altíssimos de tecnologia... Ledo engano. Não podemos citar a palavra evolução em vão. Se há uma evolução hoje, toda ela vem da necessidade de suprir as dificuldades passadas, como caminhar a grandes distancias, como falar em telefones de fio, como comunicar-se apenas via fone, mas isso não nos faz mais evoluídos do que ha dois mil anos, quando havia, na Grecia Antiga, Platao, Socrates, enfim, mestres que nos traziam verdades cujo objetivo era a evolução humana, não material.


E graças a estes no quais muitos se referenciam, há a esperança, há idéias, há a possibilidade de um dia nascermos novamente em relação ao que realmente importa.

Graças a esses referenciais, sabemos que maquinas haverá no futuro que voarão, em meio a um espaço, por enquanto vazio, mas que, com o advento de tecnologias especificas, ficara lotado de seres que se sentirão melhores do que os outros, contudo, com o mesmo caráter maligno, tentando usufruir o bem do próximo; haverá o corrupto, tentando roubar o ar dos homens de bem, e mais, muito mais...

Ou seja, a natureza humana trabalhada apenas para receber a matéria, não para receber o espírito. Enfim, não podemos falar de evolução sem que tentemos ser um pouco do ouro simbólico dos grandes mestres do passado.

Eu te convido para ser um pouco desse ouro.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A Excelência da Vida



... E falar sobre paixões, sentimentos, saudades... é muito bom demais! Tentar traduzir o que um homem sente lá no fundo do seu âmago quente e solitário é, como dizem os grandes, desenvolver a humanidade em si. Mas existem formas concretas que se movem, que vivem em nome dessa expressividade secreta, que faz questão de ser misteriosa.

Os campos floridos e suas diversidades, as montanhas, a lua, a vida, em si, são exemplos disso. Mas não são o bastante para traduzir o “eu te amo” – uma expressão em decadência, contudo ainda fluente em corações humanos e que ainda significa mananciais e mananciais de palavras ainda não ditas, palavras quentes tais quais larvas incandescentes de vulcões humanos, uma metáfora do coração vermelho.

Ah falar de amor!... Quão distantes estamos em representar esse ser que se dilui nas ondas, nos raios da vida, nas junções humanas, no debruçar humilde do homem bruto... Falar, dissertar, gritar, viver em função dele nos faz ser pequenos tanto quanto uma formiga ao escalar um grande pico, tanto quanto o próprio amor a falar dele mesmo.

E prosseguimos em músicas, em atos, em pensamentos, sempre guerreiros loucos a desvendar seus mistérios, seu infinito significado. E em insignificâncias calhamos, em erros, em ódios aos semelhantes, em fossos cruéis, tudo em nome do amor.

E a incoerência continua. Cheio de interesses humanos, em gentilezas frias, em atos sem honra, sem falar na ética e moral que foram desoladas da história que por homens sem amor ao próximo, sem amor a si mesmo, trabalharam em função da (re) união, não da união com seus valores humanos, com os próprios humanos.

Não adianta buscar o amor de forma violenta e cruel, em sociedades que precisam, mais do que uma criança, de atenção, compreensão, carinho... Fora isso, não há como construir governos, nem mesmo um universo humano capaz de superar todas as barreiras do mal. Muito pelo contrário, cria-se o mal a todos os instantes, a cada esquina, becos, ruas... E não se faz absolutamente nada.

O amor, em sua expansão, transforma o mundo, e por sua vez a retidão entre os seres, em todos os seus níveis. Não apenas humanos, mas a todos in natura. Em sua expansão, leva do mais simples ao mais bruto ao ápice da última nuvem que cobria o sol, até mesmo do último sol, porque, assim, estaria ele atingindo o ápice do espírito humano.



E na união de dois corações, dorme o amor secreto, e se mostra, quiçá, em palavras doces, gestos mais doces ainda, seguidos de sorrisos simples, sinceros, belos... Nessa união, o homem é dono de uma paz inconsciente que só o amor revela e traduz em seu mundo particular. Não há paixões, não há turbulências, não há dor... E sim a mera forma de sentir o que há de mais leve dentro de si. Esse é o principio do real amor.

Nessa união ainda, os dois se amam completamente, sem sombras de aparecer o mal. Aparece sim a consciência de que um ao outro se têm, que os dois nasceram um para o outro e que se perpetuará para a eternidade esse amor que pedia apenas um mero gesto: um beijo, um abraço, uma palavra, um sorriso, um telefonema, uma flor... todos seguidos do mais grandioso sentimento humano.



É belo por excelência!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O Enigma de uma batalha


Meus olhos ficaram fascinados com o espetáculo solar, agora pouco. As nuvens, unidas como se fossem paredões horizontais, em posição de alto e baixo relevo, eram iluminadas pelo sol, que ainda nem havia dado o ar de sua graça!

Seus raios, tão fortes, tão puros, graças a uma junção com a neblina que subia aos céus, nela traspassavam iluminando as nuvens frias, em um espetáculo sem igual. Não havia cenário tão forte e belo desde o inicio desse frio, que nos faz congelar em casa, no trabalho, seja física, seja emocionalmente.

Os raios, por hora laranjados, batiam nas nuvens transformando-as em paredes recheadas de luzes; e em outros lugares, nos quais os raios ainda não faziam efeito, nuvens negras se faziam, se intensificavam, como vilões a procura de um mal a fazer com uma visível inveja do deus solar, que, em seu leito, sorria.

Mas a batalha continuava no céu. A beleza dos raios procurava empurrar as nuvens iluminadas ao encontro daquelas cujo rosto de ódio e egoísmo figuravam como atores em um teatro cujo público eram apenas os pássaros que se inclinavam nas árvores e farfalhavam-na com medo das explosões dos raios inaudíveis ao homem.

A beleza era tanta que meu coração partira em graças; minha alma, tão falha, inquieta, e ao mesmo tempo ébria pelos dissabores humanos, esqueceu-se de seus atributos e clamou a Deus pedindo-lhe que jamais deixaria aquele momento sair de sua memória...

Ao mesmo tempo, a loucura daquela beleza colossal era divina , pois não se mostrava em vaidosismos, interesses, individualismos, mas porque teria que ser, nada mais... Era e estava sendo, como diriam os deuses, um presente ao humano que neles não acreditam, e acabam cedendo aos encantos da sacralidade natural da vida.

E ao olhar para cima, senti que posso olhar para mim e guardar as melhores lembranças da vida, de maneira que não sejam as viciadas em paixões, desejos, dor, desesperos, mas de amor, paz, vida... Assim como tudo que há de belo em nós.

E o sol acordou.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Homens e Neblinas (final)

Dentro de tudo que foi dito, há uma certeza: a de que precisamos de algo para nos referenciar a fim de seguir adiante em nossa empreitada física, racional, emocional... espiritual... Mas para onde?

O homem moderno tem seus caminhos assim com o tiveram os do passado. Contudo, um pouco mais perdidos que estes, os modernos se lançam no abismo sorrindo, levando consigo inocentes. E mais, castram possibilidades de crescimento interior, ceifando com palavras, gestos, questionamentos que poderiam ser feitos, e quando o são, desviam-se para outro abismo – o do esquecimento.

A neblina, aqui, é maior do que o sol. É preciso que olhemos para nós mesmos no sentido mais filosófico possível com a finalidade de nos conhecermos a nós próprios, com desejo de mudar as ações desumanas, olhando fixamente para o nosso Eu.

Tão difícil quanto “subir ao céu com uma nave feita por nossas próprias mãos”, conhecer a si mesmo é um ato não só filosófico, mas tão humano, intrinsecamente humano, que chega a ser divinamente necessário ao homem.

Razão

Conhecer a si mesmo, em nosso nível, a meu ver, tem tudo a ver com saber nossas limitações, entender mais nosso universo, nossas ações humanas, o porquê de nossas vivências, para quê, por quê a vida, e qual a pretensão dos deuses em trazer-nos tantos problemas.

A razão é imensa e só respondemos a esse questionamento indireto com vivência e vivência... E mesmo assim, ainda partimos para o desconhecido desconfiados de que não entendemos nada da vida, o porquê dela.

E isso é bom. Reconhecer que não sabemos nada vai de encontro à máxima socrática do mestre que um dia foi eleito por Pítia, cidade em que nascera, como o mais sábio dos homens. Ele, Sócrates, ao saber que nenhum homem sabe de todas as coisas, disse “Só sei que nada sei”.

Hoje, um professor em sala de aula, ao sentar-se em cima de uma mesa, não na cadeira, cheio de espontaneidade, risos e inteligência falaciosa, trata os alunos como escravos da ignorância, dizendo saber de tudo. É triste!


A Cotovia de Francisco

As neblinas vão se dissipar conforme a vontade do homem que nelas se encontra. Há neblinas relativas – as nossas, as quais criamos com nossos desejos, paixões, desamores, problemas infinitos, -- e há aquelas em que nascemos, e que somos obrigados a decifrar se são ou não neblinas em razão de sermos humanos. São as neblinas naturais da vida.

Mesmo assim, sabemos que há um sol em comum a todas elas. É o sol do desapego. Este, tão perto e tão longe de nossas possibilidades, se explicita além-neblina, além-céu, além do próprio sol... Mas também tão perto de nossos corações, de nossas mãos, de nossos passos....!

Francisco de Assis, o santo católico, um dia, em meio a uma igreja lotada de padres, bispos e com o grande papa sentado em sua majestosa cadeira, teve a coragem de dizer...

“se a cotovia que vem de longe, todos os dias, beber da sua água, não precisa de mais nada para ser feliz; se o lírio em sua simplicidade nasce tão belo quanto o rei Salomão nos seus dias mais prósperos, por que precisamos de luxo, da grande matéria, do ouro, para se viver?”


Um dia vamos saber...

Homens e Neblinas (ii)

O que não nos falta é um sol em nossas almas com o qual nos identificamos e levamos nossas vidas. Então por que razão ainda nos sentimos tão sozinhos, quando olhamos para esse sol que no ilumina lá dentro, ainda que seja um ente espiritual?

O solstício também há em nós. Às vezes, a família está longe, o filho amado, as pessoas em geral que amamos – todos estão bem longe, e suas imagens em nossos corações não nos bastam para irradiar ou ladrilhar as ruas de nossos pensamentos. E os mestres, idem.

Por isso, a neblina de nossa personalidade se torna tão forte a ponto de nos tornarmos cegos em relação ao que nos é bom ou mal. E quando há dúvida – como já dizíamos – fica fácil determinados pensamentos odiosos nos tomarem o corpo, a mente e finalmente a alma.

Não precisamos ter dúvidas quanto às pessoas que amamos, aos familiares, ao filho, aos amigos, mãe... Todos eles estão latentes como potencialidades modificadoras em nós. E quando somos religiosos, nada melhor que nos ampararmos na figura de um mestre que nos traz todas as formas de bem, seja nas horas difíceis ou não.

Tudo isso nos serve de âncora, contudo, são pessoas, são seres humanos, são vidas que, querendo ou não, se dissipam da terra e começam a fazer parte das nossas a partir de um céu que criamos, aqui dentro de nós. Essa pessoa, se maravilhosa, tornar-se-á mais ainda, com atributos universais, divinos, para a qual sempre oramos e dela sempre lembramos; e, se mal, ainda sim buscamos a sua essência, aquela que um dia nos fez gostar dela e, agora, mais ainda.

Isso nos faz entender uma realidade, a de que até mesmo a morte nos faz ver as pessoas como elas realmente são ou pelo menos deveriam ser. A morte, essa mãe do mistério, nos faz ver um sol diferente, explícito, um sol que há em nós, o sol da humildade, do amor, da verdade que não temos...

E quando se percebe que temos uma grande vida pela frente com tantos parâmetros a referenciar, levamos para os nosso coração a certeza de que éramos mesquinhos e frios até aquele momento. Todavia, tal sentimento é provisório (passa logo), e se desfaz com os desejos de ter, querer, conseguir... de modo que é preciso que passemos por uma nova experiência, porque não aprendemos ainda com a primeira...

Contudo, se aprendemos e entendemos o porquê das mais árduas experiências, vamos trabalhar em prol de um sol maior, daqueles que apenas a lembrança nos basta para dissipar a neblina de nosso egoísmo, solidão, paixão... É o sol da liberdade, da batalha, da vitória, do amor além-vida, que, com pequenos gestos a um ser humano, geralmente não muito longe de nós, nos eleva como generais frente a batalhas, pronto para digladiar com o inimigo.

E esse inimigo somos nós mesmos. Não há outro.

Homens e Neblinas




Nesses dias frios, a umidade tem ficado sempre abaixo do esperado, formando neblinas em torno de vilas, cidades, principalmente em lugares onde possuem, às margens, lagos, lagoas, mares, ou seja, nas regiões Sudeste, Centro Oeste, Sul... que sofrem na hora do rush da manhã.

E me aconteceu nesses dias de uma grande neblina fechar nossas visões ao sair de casa. Eu, que vou de ônibus, saio de casa e me deparo sempre com casas, pistas e uma igreja a menos de cinquenta metros do meu apê.

No “dia da grande neblina”, além do frio, uma grande nuvem tinha tomado minha visão, como se todas as nuvens do céu tivessem resolvido descer ao chão e reunirem-se. As casas que ficam na frente de minha estavam por pouco sumidas. A igreja, nem se fala. Eu não a estava vendo. A parada de ônibus para qual eu vou estava sumindo; e quando olhei para o céu, nuvens e nuvens...

Contudo, ao pegar o ônibus, pela janela, percebi que lá em cima delas tinha um ser que estava pleiteando aparecer, de forma simples e envergonhada. Era o sol. Sorrindo frio, graças a sua distância da terra nessa época (solstício de inverno), burlava uma nuvem aqui e ali, até que... pronto, aparece! A neblina, aos poucos vencida, começou a desaparecer; e o sol, pronto para comandar o dia, parecia dizer... “Agora, deixa comigo”. E o dia se tornou quente, belo, com uma tarde mais bela ainda... O frio, esse foi esquecido.

Neblina

Eu queria que as depressões humanas (neblinas) tivessem um sol. Todas elas são feitas de neblinas, talvez mais fortes e densas que as reais. As neblinas tapam nossas visões provisoriamente; mas as que temos sempre superam nossas razões, nos impedindo de reagir frente às questões mais difíceis da vida.

Nossas reações são inúteis. E o sol não aparece. O sol, em si, está preso, encarcerado a uma alma congelada por pensamentos férteis de ódio, desamor, desolação... Trazendo uma nuvem negra, a falta de autoestima.

Se não temos confiança naquilo que fazemos, se não somos flexíveis aos nossos erros, se os acertos são vistos como mera consequência de uma sorte, acabou... Adeus mundo cruel!

Humanos

Sabemos que nossa natureza é buscar a felicidade onde quer que caiba nosso sorriso. Seja em atos bons ou em atos maus. Claro, há bandidos que se consideram felizes por roubarem e matarem e nunca seres descobertos! E há, claro, os homens de bem, que procuram transformar a sua vida e a dos outros em vidas realmente humanas.

E nas entrelinhas desse contexto, existem pequenas coisas com as quais lidamos no dia a dia, como estudar, trabalhar, ganhar dinheiro – pouco ou muito --; amar, ser amado... Apaixonar-se... Enfim, pequenas coisas que se tornam nuvens de sentimentos, valores relativos, princípios relativos, de forma que, sem perceber, já estão em nosso corpo como roupas!

A questão é que, se somos humanos, podemos nos desvencilhar das situações que criamos em torno de nós mesmos. Sim! A vontade, o equilíbrio e uma direção podem nos transformar em seres briosos. Mais que isso, nos transformar em seres férteis de experiências de diversos níveis, mas sempre voltadas a um sol que nos move todos os dias. E esse sol de cada um – podendo ser uma família, um filho amado, um Jesus, um Buda... – deve ser não só a raiz de nossos pensamentos, atos, escolhas, decisões, mas principalmente o nosso norte.



Volto no Próximo Texto...






A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....