quinta-feira, 8 de julho de 2021

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las" 


A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado. Um sentimento de impotência que, como corvos, sacia-se de tua alma, tão frágil e alvoroçada por tentar entender o que está havendo, além de uma dor leve, fria, quase minúscula ao passo gélida, que transforma também nossa mente em um salão vazio, sem saber o que pensar. Aqui, moram as reflexões, a mais profunda dela, com fim de nos deixar agachadinhos, com medo de levantar e tomar algumas decisões...

Não sou diferente, mas tento buscar as cordas que me jogam, como a dos mestres antigos, que sinalizam a todos os instantes uma verdade simples e ao mesmo tempo dura: “acostume-se com o seu karma, passe por ele alegremente, e contente-se com o que tem ou com o que você perde – e nessa linha, a tua, pode haver perdas”.

Quando se refere a perdas, sabe-se que não fala de algo interno, mas externo com o qual você se entrelaçou durante toda a sua vida, ou não; de um objeto estimado ou de alguém que tanto ama... ou amou. TODOS estão no mesmo pacote. Não há distinção seja ela qual for na visão do Mar revolto. O fim é o mesmo – o quebrar, o desmontar, o morrer, expressões que ainda pensamos várias vezes antes de escrever, falar, soltar entre amigos, família, com aquele receio de trazer elementos que supostamente geramos ao comentá-los.

O fim é o mesmo. Mas o início, não. Nascemos após várias tentativas frustrantes em nos acostumarmos com o que somos (o que somos?). Depois de passear pela vida, chorando, gritando, pedindo como reis, pegos em colos maternos, amamentados pela biologia vital, sufocados por pensamentos acerca de tudo que nos passa, além da grande responsabilidade que nos chega... Crescemos naturalmente, seja dentro ou fora. Nos enamoramos, nos casamos, vem a prole, vem a idade...

As idades, símbolos referenciais de nossas tarefas junto ao sagrado, desvirtuados com o tempo, mal compreendidos até então, vão nos levar ou deter quanto ao nosso papel no teatro vital.

Olhamos o céu, o sol, as montanhas, os animais; nos encantamos como crianças por livros infantis; pesquisamos, nos tornamos especialistas, edificamos prédios, organizamos cidades, presidimos países, e nos tornamos presos reais do que criamos... Enquanto isso, a realidade nos passa junto aos pés, como riachos que são embebidos somente pelos mais humildes, pelos mestres, pelos visionários que a tanto perdemos no passado, ou que um dia fomos...

Depois de saciar-se com a água de tal rio, nos ensinam a sermos mais humanos, mais cautelosos em relação ao que somos e fazemos, mesmo porque temos uma linha a seguir, mesmo porque temos que nos assegurar contra nós mesmos, contra nossa violência física, ou pior, da nossa violência religiosa, que engloba nossas ideologias frias, desumanas, nas quais encontramos viés de assassinos naturais, em nome de entidades que criamos com fins de alevantar somente edifícios irracionais ao nossos interesses.

E quando pensamos naqueles que se foram em nome de tudo isso, é como se estivéssemos dançando sob a cabeça de inocentes enterrados, sem nome, em uma guerra gerada pela necessidade de sermos, um dia, melhores. Não essa guerra, mas a necessidade dela, assim como conflitos naturais entre seres da mesma espécie, com fins de elucidar e resolver questões internas ou pessoais.

O mal, assim, nos julga e o julgamos como necessário

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"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....