quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Simplesmente Complexo

Quando partimos do princípio que podemos fazer coisas incríveis, sempre nos imaginamos subindo montanhas, escalando-as com intuito de alcançar seu pico, e lá de cima dizer, Eu Consegui! E vamos descer da belíssima vista da qual tiramos fotos, e as enviamos por instagran , sei lá. Não menos do que isso, corremos para alcançar nosso recorde, ultrapassando linhas imaginárias, pessoas, tempo, horas, e lá estamos sorridentes em nome de um número que tanto sonhavam ver em seus cronômetros!

E nossas aventuras imaginárias se estendem, cedendo espaço ao difícil, ao complexo, ao que aquilo resumimos como sobre-humano. Lá vem o equilibrista a subir prédios se proteção, amarrar fios entre dois edifícios, e com uma vara, imensa, sem rede para segurá-lo na queda de mais de cinquenta metros, andar entre os dois e conseguir seu feito inédito, tudo isso, lembrando, para fazer parte de um livro que coleciona recordes de loucuras humanas...

Sem falar nos mais interessantes, para não dizer intrigantes, que descem escadas de cabeça para baixo, chutam com as duas pernas, batem pênalti com calcanhar, enfim, falam de trás para frente, e morrem tentando ser mais complexos do que são e somos. Muitos se chamam de aventureiros, recordistas, artistas, mas eu os denomino de medrosos.

Pessoas assim não têm uma vida familiar, profissional ou qualquer vida na qual possam se instalar emocionalmente. Muito pelo contrário. Fogem e tentam escalar, correr, fugir de suas obrigações junto ao ser humano e por que não dizer da sociedade? Claro que há casos em que pessoas há nesse mundo que o fazem por uma boa causa, a buscar patrocínio, angariando fundos com vistas a  alimentar creches, escolas, bairros inteiros, mas estes não fazem marketing, propaganda massiva em nome de seus projetos -- e quando o fazem, são vistos como coitados, ante a situação que nos encontramos (falta de emprego, inflação alta, corrupção, morte infantil, homicídios, genocídios sociais) -- e em pouco tempo desaparecem, mas aqueles que fazem das suas piruetas heroísmos são vistos em cadeia nacional e são levados ao Fantástico!...

Aventura, a meu ver, hoje, ao contrário do que dizem, tem tudo a ver com emoções, com fé, com coragem de fazer aquilo que alguns raramente fazem -- não no sentido louco da questão --, mas algo mais simples, belo, puro e natural como um levantar de cabeça na hora do jantar, olhando os olhos de quem está contigo; o segurar de uma mão, nas horas mais bobas, sem precisar que as dores apareçam para que tal ato simbolize humanidade...  Um abraço quente na despedida do trabalho, na chegada do colégio, na hora de levantar; uma palavra engraçada no meio daquela novela maldosa, que só nos desce o astral, sorrir sozinho sem ser confundido com louco...

Nossa meta é chegar aonde seres humanos têm dúvida de nossa chegada. É ser o melhor, maior, elevado, sábio, conhecedor dos segredos de Deus, mas não nos portamos como seres que somos; nossas macaquices, sem ofensa aos primatas, nos destronam de nossas pretensões, e nos desalojam de nossos abrigos, onde, normalmente, precisam de nós, de nosso amor em forma de palavras, afagos, carinhos simples, paz. 

E por não sermos praticantes desse esporte não olímpico, tudo isso nos parece complexo.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

O Homem Planta

... Um dia, um grande mestre nos escreveu antes de ir para o céu dos mestres, "as pedras são seres estáticos, que embelezam a terra, mas são estáticos, não crescem, não são como os animais; estes andam em horizontal, como a matéria, como o lago que permeia na vista, tão belo, não sobe; a planta cresce, verticaliza-se, mostra-nos o caminho, ao passo que nós, humanos, crescemos, nos verticalizamos, sabemos a direção do sol, no entanto preferimos ser plantas..."

Ante ao que o mestre disse, só tenho a dizer que há também o homem em características distintas, como semelhantes à pedra, quando não fala, não cresce, e bate no peito, emocionado, a dizer que não precisa mudar nada quanto à vida, quanto a seus projetos. Além do homem animal, que, atualmente, anda na horizontal, reivindicando prazeres instintivos, como a um cachorro preso pelo dono, ou mesmo um leão, que necessita manter seu reino. Podemos muito aprender com o leão, mas não em critérios que nos limitam fisicamente.

Quando o mestre nos assemelhou à planta, queria expor nosso lado emocional, psicológico até, voltado ao céu, mas com uma característica frágil, sem a concrectude natural de um ser que usa a vontade quando mestres nos conduzem ao céu tanto clamado pelas tradições. A planta sobre, cresce, se edifica, e nós idem; a diferença é que dormimos e acordamos com a água do ideal, que nos rejuvenesce ainda que tenhamos cabelos brancos. 

A água da planta a faz crescer, e sua parte biológica trabalha às escondidas por baixo da terra, o que, nesse caso, poderíamos dizer que o ideal nos faz, assim como na planta, mais fortes, mais humanos, a partir de pequenas gotículas não físicas que são nossa crença nos valores tradicionais, como a Virtude, a Justiça, a Beleza, a Verdade, enfim, e assim como nas plantas os raios solares do ideal nos eleva a seres sagrados, que somos.

Ao preferirmos ser plantas, estacionamos na terra, ao crescer sem rumo, como árvores. Ao nos igualar a elas, não nos aprofundamos no que somos, sem conhecer nossa razão de estar vivos, plenos de vontade em direção ao que aquela bendita voz nos murmura desde pequenos; com raiz a no materialismo, sem retirar os pés da terra, das dores, sofrimentos, daqueles humanos que nascem realmente como são: não pedra, não planta, e sim animais de várias cabeças, como personalidade várias que nos detém em nossa caminhada matinal em direção ao ideal.

Se queremos ser plantas, sejamos fortes como as sequoias, que não se debruçam com o vento da tempestade; sejamos fieis à terra que amamos, e nela nascemos, e para ela iremos em corpo. Em alma, no entanto, não vamos, apenas como humanos crentes em uma realidade à parte, espiritual, que nos faz conhecer a face divina quando olhamos ao sol, a chuva, as plantas e os animais, quando o vento sopra. 

Na antiguidade, tais características do homem planta igualavam-se ao mais sóbrio e mais belo homem, mas também àquele que morria sem saber o porquê da vida e da morte. Acreditava-se sim no nascimento do homem fogo, esse misto de vontade, beleza e sol. Sempre voltado às estrelas.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Quando os Mestres são Lembrados

Nada melhor do que viver na prática uma máxima clássica da qual se pode extrair belos ensinamentos. Foi o que me aconteceu no fim de semana, quando passeava pelo shopping com minha esposa e filho e vi, subindo a escada, uma chefe que trabalha comigo. Minha esposa a viu e, segundo ela, era quase certo que a recíproca foi a mesma. Ou seja, ela teria nos visto também. 

A questão nos parece boba, se não fosse o rosto teatral daquela com quem trabalho e se diz sensível às causas humanas, ter nos visto e não falado nada. Aquela pessoa que subia a escada rolante era minha chefe, cujo profissionalismo exacerbado era tanto que não sabia lidar com nada além daquilo com o qual vive e respira dentro de quatro paredes e um computador na sua frente. Normal. É um dos males humanos pensar que trabalho é tão importante quanto família, sociedade, seres humanos, amizades...

Amizades... taí uma coisa que não sei se tenho com minha querida boss, um ser estranho que endurece pela manhã e sorri maquiavelicamente a noite, como um robô programado para matar. Como um ser calculado, meticulosamente, para falar aquilo que a mente pensou quando acordou. estranho demais.

Poderia ser mais, se não fosse só comigo, um ser pobre, quase negro, meio humilde, íntegro, pai de família, que não pede a ninguém que não goste de mim, simplesmente pelo fato de que não poderia, nem se pudesse. O amor, a amizade, a compreensão ao próximo se dão de maneira voluntária e acredito que muitos têm esses três sentimentos por mim, ainda que eu não peça. Acho que tenho praticado junto a todos esses quesitos, e isso me dá frutos.

Nesse mesmo dia, um grande amigo, do qual não sei o nome, por incrível que pareça, me encontrou, me abraçou, sorriu, foi gentil com minha esposa, sentiu-se um privilegiado por me ver e eu a ele. Ao contrário da chefe, esse querido amigo é negro, não possui cargos de chefia, é um terceirizado, não possui filho em colégios particulares, nem mesmo carro do ano... E tenho a certeza de que se os tivesse, seria mais humano ainda, mesmo porque é uma dessas pessoas iluminadas que nos intimidam  com sua bela alegria, e nos faz melhor simplesmente pelo fato de sermos pessoas que o reconhecem como amigo.

Fiquei pensativo quanto aos dois personagens que encontrei. Um, constrangedor somente pela aparência, e o outro, amado pela alegria; um, cheio de pobreza espiritual, e o outro, apenas sorrisos fartos, como um grande ser que encontrou o céu, ou pelo menos o caminho dele. Um, preso em sua caverna material, cheia de preconceitos ao mundo, e o outro, salvador da humanidade, grande pessoa, transmitidor de paz e fé.

Sei o quanto há nesses dois características diferentes, e isso é o que somos, seres distintos, em pernas, mãos, braços, cores, gestos, ideias, e principalmente jeito de ser. Uns, constrangem, outros, te iluminam. Não poderia ser diferente, nem mesmo se quiséssemos ou se fôssemos divindades naturais com poderes maiores que as pessoas. Teríamos que ser observadores, no máximo, irrelevá-los e deixar que natureza de cada um vá para o oceano para qual se destina, com suas benesses ou não.

Entretanto... possuímos sentimentos, precisamos de reciprocidade quando somos educados com outra pessoa, ou mesmo com os animais, vida, etc. Porém, se observarmos bem, estaremos trabalhando inconscientemente para o próximo e não para nós, para o nosso próprio mérito e sim para o do amigo, da amiga, do irmão, da família e do filho. E aconteceu, mais um vez, nesse fim de semana, ao vir os dois personagens, tão diferentes, tão fantásticos, que, quando cheguei em casa, fiquei pensativo -- um pouco triste, evasivo -- mas sorri  ao lembrar, depois, de Epíteto, grande filósofo estoico quando disse há pelo menos quientos anos... "Não se paute pelas pessoas, se paute pelo seu próprio mérito".



Ave!


quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

O Bêbado e a Montanha

Pensam os bêbados de plantão que somente o corpo se vai, juntamente com seus elementos fisiológicos. Não. Não apenas isso. A emoções a que damos tanto credibilidade, nossos pensamentos, nossas dores e paixões... Também se vão. Nossos amores inventados, pensamentos elevados, tudo se vai. São peças que inventamos com o tempo. De uma alma doce que a tornamos salgada com o tempo ao fruto de uma pequena árvore a qual damos valor em demasia.

Pior do que o corpo é dar valor às mazelas humanas que saem de almas contaminadas, esmagadas pela infância que não tiveram, ou mesmo pelo ofício de fazer mal apenas por fazer. O que somos então? Apenas expressões naturais que se dividem em boas e más? Quem sabe! Mas não acredito e tenho em mim motivos de sobra pra isso,  e um deles é acreditar que estamos unidos em torno de uma Semântica Universal, que flui assiduamente em nossas vidas e mortes. Nada aleatório. 

Somos um fio circunda dentro de universos conhecidos e desconhecidos; somos átomos heróis que se questionam a respeito de divindades, partidos, sociedade e nações, a depender de nosso estado crítico. Mais que isso, somos parte de um ciclo Sagrado, como diziam os antigos, dentro de Sanssara, a Eterna Roda da evolução, do Carma e Darma, que nos persegue. 

Portanto, nem chegamos perto de ser 'apenas' seres que nascem, crescem, fazemos o que fazemos tais quais turistas sem pátria, e morremos. Longe disso. Temos um livre arbítrio para tomar consciência, para adotar princípios, para elevar nossas almas e quem sabe decidir sobre nosso rumo ante ao complexo significado do Tudo e do Nada. Sem existencialismo, por favor.

O que nos faz ser humano é a busca. O amor pelo objeto, pelo ideal. É o alcance do fio que um dia nos trouxe a essa jornada maravilhosa, a qual os antigos deram o nome de Retação. a qual nos belisca diariamente e nos tendencia ao que pretendemos ser como homens -- humanos. Temos, porém, os valores absolutos a seguir, elucidados há séculos e que nos trouxeram reminiscências naturais, claras do que realmente pretendemos: Amor -- A união da primeira fagulha universal ao ser humano.

Se o pensamento morre, que viva dele pelo menos sua intenção em relação ao Eterno, ao Sagrado; se as emoções morrem, que dela tenhamos lembranças de sua vertente ao alto, à maior das montanha: o Espírito Maior. 

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Luz e Sombras

....Num passado não muito distante, um grande pintor renascentista chamado Leonardo Da Vinci fazia suas estrepolias em forma de desenhos, pinturas, poesias, declamações, em gestos e obras fictícias, que nos davam uma visão do que seria o hoje, o agora. Nestas se sobressaía o lado luz e o lado sombra, tal qual uma realidade que precisava aparecer do nada, de uma alguma caverna. Era belo por excelência. Atualmente, se reconhece, de longe, um quadro do artista, que, em meio a outros, como Rafael -- o da Academia, onde há filósofos por todos os lados, ministrados por Platão, com um gesto para cima, e Aristóteles, para baixo -- nos embeleza o mundo.


Leonardo: Luz e Sombras como eterno brilho.


Hoje não temos artistas tal qual o pintor de Monalisa, nem mesmo um que chegue perto. Mas ontem, ao assistir um documentário acerca da vida de Sebastião Salgado, um grande fotógrafo brasileiro, que fará uma exposição no Supremo Tribunal Federal de seu último trabalho, pude ouvi-lo numa entrevista rápida nesse mesmo especial, que nos transfere de maneira simbólica a nossa necessidade de compreender o porquê nossa simpatia com luz e sombras.

Salgado, olhando para a câmara e preocupadíssimo com sua esposa, que estava com frio, disse ao entrevistador que tudo começou quando em pequeno saía de sua casa ao sol com chapel, pois sua cor, uma mistura de albino com alemã, não poderia tomar muito tempo ante aos raios do sol, senão o nariz ficava muito vermelho. Depois passeava entre as árvores, voltava, como se a luz e a sombra sempre estivessem competindo para lhe induzir.


Salgado: uma nova metáfora.




Após a fala do fotógrafo, me questionei. Refleti e tirei a conclusão que saímos da luz e voltamos à matéria em questão de segundos; porém, nos leva tempo para entender a luz e por ela ser iluminado. Não é uma questão de duelo entre as duas -- quem é a melhor ou a pior, mas qual nosso papel diante delas, quando trazemos ao nosso pequeno espaço, ao nosso mundo.  A luz, em mim, pode ser o que acredito como ideia que me favorece, que me organiza como pessoa, não como ser sagrado; e a sombra, meus problemas dentro dos quais não consigo enxergar quase nada, a não ser a cor negra ante meus olhos, e por isso, a raiva, e às vezes o ódio por não conseguir idealizar nada.

Outros, os mais sábios, veem a luz como um ciclo de bem aventurança dentro da humanidade e por que não falar de si próprio?... Uma vertente natural que nos direciona ao caminho do céu, do mais espiritual sentido que pretendemos. A sombra, uma necessidade. Sem ela, não se chega a nada, nem mesmo ao princípio fundamental e básico dos mistérios, pois temos que entendê-la, passar pelos seus bosques, lobos, enganos, enfim, pelos contos bem contados há milênios.

E quando iniciei citando nosso Leonardo, foi de uma proposital, pois ele (entre outros) foi de escolas nas quais a tradição filosófica fora inserida em sua época como forma de abrir espaços ao pensamento humano, de forma que hoje, graças a ele(s), podemos ver sempre de maneira metafórica (simbolicamente profunda) o significado de muitas questões. E quando nos referimos à luz e às sombras, a certeza de que seus quadros foram enraizados nessa essência é uma realidade, assim como nossas cavernas do dia a dia.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Sem projetos, sem sonhos


Muito se tem reclamado da situação atual da política brasileira, que nos faz de chipanzés em um circo sem lona; muito se tem falado da gestão do atual presidente americano, (Pato) Donald Trump; da eminente guerra entre ele e o atual ditador da Coreia do Norte, kim Jong-Un, além de uma possível prisão do ex-presidente Lula (molusco) e das prisões inacabáveis de uma operação que promete ser eterna, a Lava Jato. A maioria discorre em torno de questões relevantes, dentro desse cenário caótico, como se fosse comentarista de futebol ou mesmo de escolas de samba, pagos pela Globo, ou seja, sempre com os mesmos verbetes. 

Por serem relevantes, floreiam, se debruçam em seus livretos, dançam, dão gargalhadas superficiais até chamarem a atenção do povão. Assim também é na música, que se transformou em chamatris pornôs para venda indiscriminada de cds, dvds, etc. Longe do que podemos chamar de som, ritmo, música ou algo semelhante. Acabou.

Tudo isso pelo fato de não haver projetos em direção ao que nos beneficia ou a pelo menos a uma camada da terra, ao chamados excluídos. Tais não desejam reclamar, se informar, ou mesmo correr em razão de uma possível guerra, querem sim se alimentar, como em uma grande flores inabitada, buscar refúgio em algum abrigo simples, viver. Longe dos doentes mentais, nos quais nos tornamos, em nossas opiniões sem sentido, em nossas práticas frias em direção ao nada, ou menos do que isso, ao pavor diário sem sentido.

Quando olhamos o passado, percebemos que houve criaturas que se levantaram de seus sofás -- maneira de falar,-- trabalharam em prol de uma casa, de uma família, sendo responsáveis, virtuosos, morais, práticos em seus princípios, deixaram-nos legados em forma de palavras, que até hoje lemos, relemos e tentamos sair do nosso sofá, mas... não conseguimos. O que há conosco? Será que nos acostumamos ao conforto do controle remoto, ou mesmo com a água quente?

Isso me lembra um grande professor de História, quando lhe fiz uma pergunta simples/complexa sobre a antiga Roma. "Professor, por que Roma caiu?", e ele, com toda sua experiência, falou... "Por causa do banho quente...". E depois disso fiquei a refletir acerca do que disse, e vi que estamos há muito decadente, presos ao nosso conforto, esperando que nações nos tome a cultura, nossa identidade, nosso nome e quem sabe nossa essência.

Pensei nos dias que acordamos tarde, com medo de fazer algo em prol de nós mesmos, de nossas famílias e sociedades, com medo de fazer errado ou mesmo regredir à era das cavernas com um simples ato. Vi que estamos atrasados em relação a eles, aos homens das cavernas, mesmo porque estes iam atrás de suas presas, alimentavam suas famílias, sem reclamar, morriam trabalhando por um sistema que acreditavam -- nós não. Não temos sistemas, temos uma Idade Média sutil, que pode ficar menos sutil e se transformar em algo verdadeiro e cruel. Simplesmente pelo fato de não fazermos absolutamente nada por nós.



quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Juntos, mas Separados

..Semana passada eu, minha esposa e filho saímos para jogar um boliche e espantar a preguiça que nos consumia dentro de casa. O mais interessante disso tudo é que meu filho é que nos bateu a tecla desde o início da semana passada para que pudéssemos espantar o mal que se aglomerava dentro de casa, em forma de calor, mensagens de celular, notícias de Carnaval sempre análogas à dos anos anteriores, enfim, queríamos sair, mas não tínhamos fé. A sorte, como disse, foi que nosso querido bambino nos preenchia com sua pequena voz em volume médio, mas sempre nos martelando, a dizer... "Vamos para o boliche!" --  e fomos.

Não muito longe de casa, o Pier 21, que é um misto de shopping center com feira livre, foi nosso local de espontâneas ações em prol de um filho que desejava respirar um ar diferente ao do computador e do celular, que tanto enche o saquinho dele nas horas vagas, ou seja, sempre. Entramos, e fomos logo subindo as escadas principais, no sentido diagonal, com vistas a entrar, brincar e ir embora -- ou não. 

Havia muita gente por lá. Famílias inteiras disputando um lugar em meio a outras que sorriam, cantavam, relaxavam e bebiam em nome da alegria de viver longe dos blocos de carnaval, que faziam arrastões o dia inteiro e a noite inteira, a cantarolar as mesmas canções de sempre.... Foi lindo. E pensar que entramos, colocamos nossas sapatilhas antiescorregões, pegamos nossas bolas pesadas, de sete a quatorze quilos!, jogamos nos pinos, que por sua vez iam e voltavam à medida que o derrubávamos. Meu filho e eu disputávamos sem pena!

Após a diversão, resolvermos comer pizza. Ao descer as escadas, nos deparamos com uma pizzaria excelente, que trazia além de pizzas uma belíssima entrada com jantares, petiscos, etc, e, por que não dizer, pessoas bem bonitas também?...  Assim que entramos, minha esposa viu seu celular a tocar e o atendeu. Era sua tia com problemas conjugais. A partir daí, as brincadeiras, as falas, os diálogos, tudo se foi. Olhei de rabicho para outras famílias que estavam ao meu redor: todas elas compondo mesas de até dez lugares, entretanto, sem mesmo olharem-se: cada qual olhava seu celular, assim, de forma individual, como se estivessem sozinhos -- juntos, mas separados.

Olhei para o meu filho, busquei nele a alegria de sentir sua presença, de modo romântico e paternal, como se fosse a primeira vez que o estava vendo. Enquanto isso, esposa no celular, pessoas a pedir petiscos, e mais celular;  e crianças chegando, pais se alimentando, no celular.

Quando tudo acabou, fiquei feliz porque, enquanto a maioria se perdia, eu me encontrava, me sintonizava com meu querido filho, o qual, naquele dia, me fez aprender que devemos estar perto em sentimentos, buscando encontrar os verdadeiros mistérios da vida, no sorriso, nas palavras, na fé de cada um. E isso, só estando muito perto.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Das Cinzas ao Silêncio...

É hora de se recompor, se estruturar, criar ânimo para lutar e buscar o sol de cada um. O sol maior, claro, lá do alto, nos ensina isso, com muita reverência ao uno, à paz e à harmonia com o todo, de maneira simples, e principalmente justa, se edificar como Sol. Sem precisar da vontade ou mesmo da busca pelo equilíbrio -- mesmo porque já o tem -- o sol se estabiliza por si, dentro do que é.

Ao ser humano, esse pequeno ser que se desgasta em torno de suas escolhas e vontade, dentro da grande lei do Livre Arbítrio, custa brilhar. E quando brilha, simboliza a parte que se religa aos deuses, ao sagrado, que dorme no silêncio do escuro ou na imensidão da paz de sua alma. Ali, dentro desse idílico lugar, moram anjos e divindades os quais jamais foram percebidos pelo homem. Minto. Pelo homem que não visa o sol maior em si.

É hora de se levantar, repito. Buscar em meio à multidão a realidade que sistemas não buscam, homens comuns não buscam. A realidade de conhecer a si mesmo e ao próximo, como forma de melhorar as sociedades, as comunidades e por que não dizer a sua nação?... É um projeto simples, transparente, que está em nós como legado de um passado que nos concedeu conhecimentos, inteligência e sabedoria para distinguir entre o que podemos ou não. 

Nosso projeto é o sol? Pode ser, mas também pode ser um vaga-lume. Começar do início, brilhar aos poucos, iluminar apenas o que confere pela natureza parca que temos ou com a qual nascemos.  Depois, podemos ser apenas aquela pequena estrela que se vai ao longe, em uma distância sem palavras, mas que brilha sem ardor, entretanto faz com elegância seu papel compondo a galáxia com sua paz equidistante. 

O sol, esse ser cujo poder se enlaça com o divino em nós, é o nosso projeto maior, é a nossa tendência como humano, como seres que brilham até mesmo quando não estão presentes. Ou seja, brilhar com os raios que ganhamos das entidades, e trabalhar para que não nos cesse jamais esse brilho; reativá-lo em nossas almas com vistas ao maior dos sóis, viver em função do que somos, ou morrer tentando.






sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Carnaval chegando...

Muitos, a maioria, amam festas de carnaval; eu não. Não tenho nada contra às pessoas que dela participam, muito pelo contrário, sinto que nelas existe uma coragem quase sobre humana quando colocam suas fantasias, vão às ruas, dançam de sertanejo à música baiana -- não falo muito sério afinal; ficam nuas no final do evento e beijam o que tiver pela frente! E quando chegam à suas casas, deitam no sofá ou na bendita cama, com seus sorrisos férteis de vingança realizada contra os dias aterradores de trabalho, chefe, péssimas notícias, política, vizinhos, enfim, Brasil...

É um misto de fuga de uma realidade que nos surpreende. Antes mesmo de o Carnaval entrar em sua essência, o folião já se sente preso ao sentimento de guerra ao dia a dia, deixando de mão suas obrigações naturais, as quais são nadas mais que nada menos ser feliz em meio ao um muindo (ou mesmo país) que não precisa de uma festa tradicional para se sentir bem. Normal.

Essas, no entanto, não o faz deixar de lado o que uma outra tradição o pede: ser bom com todos, ser feliz consigo mesmo e com seus entes queridos, ou quem sabe com aquele que o chateou durante algum tempo e dele ficou inimigo por causa de um bobagem passageira. Este carnaval faria diferença em nossas vidas.

O Carnaval, a festa, não é de um todo mal. Como diria uma colunista do Estado de São Paulo, eles preferem sorrir a reclamar de nossas mazelas políticas das quais saem assassinos-homicidas, indo às ruas como pessoas felizes, não como seres que não são ouvidos. Concordo. Mas também saliento que pessoas nas ruas, a demonstrar seu nível de insatisfação, de modo claro, definido, como num passado não muito distante, quando a Ditadura nos envolvia com seus braços -- graças a Deus -- não muito largos, havia idealistas em cada esquina, a levar a prática simples de uma cartolina mal escrita pedindo democracia, humanidade, amor ao próximo... O que não se vê hoje.

O Carnaval deve haver sim. Mas depois de passado, que volte a indignação e a realidade na mente desses pobres que não sabem ainda o que fazem em meio a um regime que flexiona nossos sentimentos no pior sentido da palavra, desvalorizando cada passo que se dá em direção aos seus (nossos) direitos. Isso tudo causa um outro sentimento: de invisibilidade. Queremos ser ouvidos, queremos mais; queremos que a real política seja o ponto comum a todos que trabalham não somente por um Brasil melhor, mas também por uma Justiça que não tarda a se firmar dentro do sistema, dentro do homem.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Ponto de Encontro 2

...Descobri aquele lugar idílico ao qual se refere Marcus Aurélio, filósofo e general romano, há 2000, quando travava suas piores batalhas e escrevia em seu diário, que depois seria um dos livros mais lidos do século vinte, em "Meditações de Marco Aurélio". Uma compilação de pensamentos nos quais a semântica entre o Eu e o Ser se revelam a cada instante, a cada entrelinha. Uma grande oração.

Não chegamos nem perto do que o estoico romano perpassa, mas, em nossas possibilidades, chegamos, quem sabe, perto de referenciais que nos fazem perceber que estamos na linha reta, ou como diria o mais nobre hindu, no Darma. Não necessitamos de batalhas gêmeas ao do mestre ou mesmo ser escritores com vista a fazer perdurar nossos pensamentos em páginas, ainda que tentamos; precisamos sim de olhar nossas pequenas batalhas diárias como grandes batalhas, nas quais lutamos com nosso único escudo: nosso coração.

Palavra da qual deriva outra de maior porte, coragem, coração é terra desconhecida, mas também sensível ao mundo que se vai nas ondas podres dos interesses humanos, na tristeza dos atos inconsequentes e às vezes de forma voluntária e até mais mortal que a primeira. Contra isso devemos orar, pois somos terrenos ou terráqueos, guerreiros, porém adoradores de vícios, dos quais somos difíceis de sair.

Não menos difícil, no entanto, é entender que há nas orações uma ligação mágica (no sentido mais esotérico do termo) ao mundo idílico de Marcus Aurélio, em nós, na alma, na qual sagrados conceitos se revelam, se edificam quando de perto observamos, brilham em esplendor, como a maior pedra de diamante do mundo, e se completam quando buscamos o belo, por meio de sinfonias, imagens, poesias, pessoas comuns, com ideais simples, ou mesmo, como diria nosso querido filósofo J.A. Livrarga, no fundo de um copo, na boda de um café.

Ali, naquele apaziguador lugar, no qual nos encontramos, permanecemos ao fechar nossos olhos, a pedir ao Criador que nos proteja, a nós e nossa família; que nos dê coragem para as reais batalhas do mundo, como grandes homens do passado, que não criaram situações somente para escrever sobre si mesmo, mas para que possamos entender que mesmo nos momentos mais difíceis de nossas vidas podemos buscar a Deus, em nós.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

O Ponto de Encontro

Esses dias descobri porque somos tão voltados à orações. Talvez haja discordâncias quanto ao que vou dizer, mas é sempre bom compartilhar o que se descobre nesse campo. O que descobri é que nelas, na orações, quando olhamos para o alto, para as estrelas, ou para dentro de si mesmo, quando estamos a dialogar (ou monologar...!) com o Criador, tentamos falar conosco mesmos. Não existe aquela fórmula natural de tentar uma conexão com o mais alto, com o ser mais misterioso a que damos o nome de Deus. Se houver, está aqui, dentro de nós.

Mesmo se clamarmos em voz alta, no sentido mais literal possível, estamos acordando nossos sentidos numa tentativa de nos fazer elevar ou mesmo buscar o que tanto almejamos. Nada mais. Ainda que estrelas estejam sobre nossas cabeças ou mesmo quando olhamos face ao chão, como nesses templos hindus, estamos alimentando nossas almas de preciosos pedidos, porém há os que abusam de si mesmo, da potencialidade adquirida de forma inata, e pedem que suas vidas melhorem materialmente. E conseguem. Mesmo porque consegue-se aliar força, vontade e prática em torno daquilo que pediu ao deus. Na realidade, foi a si mesmo.

O questionamento que nos segue ante ao fazemos, que vivemos, é o seguinte: por que então esperamos ajuda de cima, do céu, sempre que oramos? A ajuda vem de si mesmo, que, querendo ou não, possui um religare com a natureza, com o todo, com Deus externo,o qual pode ser plasmado junto de si com inclinações naturais, não necessariamente orações, rezas -- pedidos em particular. Jorge Angel Livrarga, filósofo moderno, com vistas à tradição, um dia nos disse que "Nossa melhor oração é o Trabalho".

Em tudo que fizermos se buscarmos o Bem, a Justiça, o Amor e a Verdade, sempre nos focando naquilo que somos -- humanos -- a própria Natureza se encarrega de nos transformar em seres belos e felizes. A regra também vale para os filhos da ignorância, que desnorteados, sem princípios, sem vontade própria de mudança, esperam algo da vida, serão agraciados com justiça e equidade, de acordo com sua capacidade.

As orações são feitas para nós. E diante do que somos, temos que temer nossas palavras e pedidos, mesmo porque somos sagradas criaturas que têm poderes latentes e não sabemos. Interpretá-los, trabalhá-los em nome de uma boa vivência, já é meio caminho andado. E quando tivermos de olhos cerrados, a contemplar as estrelas internas do escuro do silêncio, na calmaria do grande oceano de nosso microcosmos, sejamos francos e divinos.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Passado que passou.

Completei cinquenta anos, no último dia dezesseis. Por mais incrível que pareça, tornei-me um pré-idoso. Não sou mais o mesmo física e mentalmente, e espero outras agruras da idade daqui pra frente. Meus olhos, minhas pernas, meu corpo não são mais aqueles heróis bio e fisio dos anos oitenta -- ano em que trabalhei e estudei como louco. Diziam até que eu era inteligente! Que absurdo!

Passados os anos noventa, achei que seria eterno, mas os anos dois mil me jogaram na parede. Pareciam dizer "Peguei você, hahahaha!" -- é as saliências da vida existem e temos que enfrentá-las como aqueles protagonistas de mitos gregos que pulam de torres, voam, sobem e... morrem. Mas antes do rasante, sobrevivem o máximo para dizer que são imortais. Assim fui eu (ou nós) a contemplar a eternidade por alguns anos, dificultando até mesmo a compreensão do porquê dos cabelos brancos que nasciam sem permissão.

Tudo em mim (em nós) se solidifica como passageiro, como qualquer coisa física que nos padece. Menos a alma, esse ser invejável que desestrutura nossa compreensão científica, biológica, semântica e filosófica da vida. Por não ser tão clara, objetiva, visível, muitos se relevam contra ela, e a detém como um ser à parte, como que não fizesse parte de tudo. E faz.

Mas as lembranças, essas nas quais tento me deter e delas... lembrar, ficam como sendo a própria contradição entre o corpo e a alma. Simplesmente porque, ao serem mentais, e que se edificam graças à nossa nossa experiência -- seja ela física ou não -- me faz acreditar até certo ponto que não são interessantes. Para mim, hoje, agora, com essa idade, com a essa perda de memória -- ou como diriam os cientistas, da membrana cerebral, responsável pela guarda de dados, que perde suas células, não tenho mais amor ao passado.

Talvez eu não tenha tido um grande passado. Talvez eu até teria tido, mas não me lembro... Se me pedirem para me sentar, escrever algo parecido com aquilo que passei, não sei se alguém o leria, compraria, gostaria... ou mesmo amaria. O pouco do que me vem à mente me faz rir, sentar, refletir, pensar... mas nunca voltar a ele ou nele ficar.

O que me faz amar o passado, viver dele, não é ele exatamente; mas o ar que me traz e vai me trazer sempre quando dele bebo, o chamado espírito natural com o qual aprendemos realmente andar.

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....