sexta-feira, 30 de março de 2012

Livres




Uma palha se vai ao vento,
E outra se vai nas águas,
Correm as duas ao mesmo tempo,
Ao encontro de um céu sem falhas.


*

E correm sem abas, sem travas,
Tão livres quanto à verdade,
Que se vai nas relvas
Sem interesse, vaidade...


*

Sobem montanhas a fio,
Descem córregos em pedras,
Saltitando quimeras,
Desaguando em oceanos, em rios...

*

Nem tuas mãos as retêm,
São meros pontos de átomos livres,
Cortando o ar como ourives,
Dormindo ao sol que não vem.

*

Somos nós dois tão livres quanto,
Com rostos ao vento partindo,
Às belas serras assistindo,
Despejando no mar nosso fino pranto.

quinta-feira, 29 de março de 2012

O Sol do Ocidente

Sócrates: o melhor dos homens



“Devemos temer o mal viver, e não a morte”, teria dito Sócrates na pena de Platão, antes de ter sido condenado à morte, na antiga Antenas. O mestre, que teria vivido em torno de sua filosofia a qual unia homens e universos, por meio de verdades nunca ditas, fora acusado de corromper os jovens da época, e ao passo desrespeitar os deuses antigos, o que, pelo que se conhece do grande filósofo, jamais o teria feito.

Hoje, depois de séculos, refletimos seus aforismos, baseados numa grande vida que, mesmo em meio a um sistema falho, conseguiu ser herói, soldado, filósofo... e, depois de sua ida ao devachan (à bem aventurança), cresceu e se tornou um dos homens que mais influenciou gerações, sistemas educacionais e filosofias, a iniciar com os pré-socráticos.

Sócrates sabia, antes de todos, antes mesmo de “corromper” os jovens, que seus dias na terra estavam contados, pois a saber de seus algozes os quais sempre o vigiavam, traduzia o que ele chamava de virtude indireta àqueles que o procuravam.

Sabia o mestre que sua morte estava tão ao seu lado quanto seus amigos, pois estes observavam suas características de homem que sabia viver em torno de um ideal: dizer a verdade, acima de tudo. E por meio da maiêutica – como ele mesmo dizia – um parto da alma de cada ser – trazia à tona os sentimentos daqueles habitantes de uma Atenas cheia de políticos que já comandavam a maioria.

Para isso, Sócrates tinha um demônio – um ser astral que o seguia e o aconselhava na medida de seus conselhos. Era o Demus. Todas as vezes que alguém chegava perto do grande homem, antes, porém, o Demus lhe falava ao ouvido de maneira que não o deixava se omitir em relação ao que acreditava...

O mal de Sócrates, no entanto, não fora corromper, mas sim suas falas, seu jeito de dizer as coisas em um sistema que corrompia os jovens para o mal e os fazia presos a verdades lúdicas, as quais, como algemas, os prendiam. E Sócrates, que sempre perseguiu a verdade, em nome de um legado universal do qual o homem tem direito inato, reverberava, contornava, palestrava, insinuava e ao passo prendia o jovem com suas palavras belas e incendiárias, as quais queimaram sua própria personalidade na visão dos homens de má fé.

O filósofo, no entanto, nunca abrira mão de sua disciplina, de seu amor à verdade, ainda que persistisse em dizer “só sei que nada sei”, talvez aludindo a grande ignorância dos homens de sua época (que serve muito mais para a nossa) que diziam saber tudo, sem saberem absolutamente nada!

Mas isso é o mal de cada época, dizer que sabe sem saber nada. Mas Sócrates sabia muito, e isso, para resumir, revoava nas mentes poderosas como moscas em churrasco, como crianças em conversas de adulto ou como uma coceira dentro de um gesso. Mal sabiam os grandes algozes que estavam enviando um dos homens mais magníficos de todos os tempos à pena de morte.



E Sócrates foi, como se nada tivesse havido contra ele, ser penalizado contra o que o que fizera e tomar cicuta, após dias preso, e refletir acerca do poderia ter feito pela sua cidade, seu universo. E em suas reflexões, baseadas em que seu demo sempre lhe dissera, nunca voltou atrás, nunca se arrependeu e jamais deixou dúvidas quanto à veracidade de sua educação (edutiere). Suas verdades, antes de tudo, tinham premissas universais, as quais sintetizavam legados de tradições das quais o mestre sempre teve notícias, e que sempre as seguiu como um iniciado – que não era.

Sócrates dizia que não deixaria de ser filósofo apenas para agradar a maioria, pois esta nunca estaria correta, se estivesse, algo estaria errado, pois um povo que ama um rei vai amá-lo pelos seus atos referenciados na necessidade moral e espiritual daquele, antes mesmo de lhe dar o primeiro prato de comida.  E o mestre dava-lhes o alimento interno sempre que dele necessitavam.

E sempre foi assim, dentro da humildade revelada por seu pai, pedreiro, e sua mãe, uma parteira (por isso se  dizia um parteiro de almas), Sócrates caminhava a passos estilosos, porém dentro do que chamamos caminho do meio, ou seja, dentro do ele era.

Hoje, não se fazem mais Sócrates. O século que o abrigou também estaria em pura decadência, o que nos dá um pouco de conforto, pois nos exime de sermos culpados pela infelicidade moral de agora. A triste notícia é que por falta de heróis, de filósofos, de grandes idealistas, estamos no limiar da maior das decadências humanas...

E, ainda, na falta desses grandes que se foram, que nos deixaram legados fortes, porém fechados, o mundo ainda tem chances de crescer e de se tornar mais forte ainda. Temos apenas que buscar, em nossas possibilidades (naturezas) o que somos, doe a quem doer, de forma que possamos elevar pessoas ao patamar de seres humanos, não animais, plantas, pedras, mas simplesmente humanos, dando chances de buscar a verdade, o amor, a beleza acima de todos os valores relativos a nós impostos.

E se conseguirmos um pouco disso, Sócrates não morrera em vão.








quarta-feira, 28 de março de 2012

Inquieto


Eu: inquieto de nascença


E nas esquinas duais de minha alma
Nas nuvens de meu ódio,
Nas lembranças de meu sol cigano,
Nas calhas de minha chuva de verão...

Nos galhos de minha primavera,
Nos cantos de meus pássaros,
Nas luas de minha noite clara,
Nos sonhos reais de meu Deus...

Procuro, e volto a te procurar...

Nas dores de meu mar,
Cujos barcos singram em nome da vida,
Em nome dos mananciais feridos pelo homem,,,

Em florestas negras de meus conflitos,
No grasnar do meu corvo aflito,
Que viaja na noite fria,
Apenas para dizer

“Estou aqui”!

E procuro em belezas que se vão,
Em corpos meigos e pardos,
Em formas sem formas,
Em deuses e demônios...

Além do bem e do mal.

E transpiro suor de lágrimas,
Grito como trovão em tempestades,
Clamo teu nome na terra,
Colho brasas em fogos brandos...

Corro o mundo descalço,
Dou meu sangue negro à morte.
E dela retiro vida,
Retiro saudades,
E volto a dormir.





terça-feira, 27 de março de 2012

Uma fagulha grega


Estátua de Zeus


Falar sobre a Grécia... Falar sobre essa imensidão azul e branca que hoje sofre com a corrupção dos biltres, dos desumanos bípedes, mas ao passo bela e casta, tal qual uma dama que renasce das cinzas apenas para dizer... “estou viva”! E realmente está, e sempre estará à medida que olharmos para trás, e, com um ar mais que saudoso, respirarmos fundo, sorrirmos um sorriso de criança, e dizer “que bom que você existe, minha dama”!

Falar da Grécia é simplesmente falar do âmago da alma humana, da história humana. Daquele centro que pede para ser explorado tal qual floresta virgem, mas que seja explorada em nome de uma liberdade que burla, que pede, insiste e ao mesmo tempo clama um dia melhor, a uma humanidade querida.

Quando os grandes desse mundo passaram por ela – Sócrates, Platão, Aristóteles, Alexandre da Macedônia, Leônidas...  – a humanidade, com toda certeza, passava pela parte superior do ciclo, seu melhor momento, e dele aprendeu e ensinou por meio de seus discípulos uma filosofia mítica e ao passo clara, sempre no tocante à beleza humana...

A Grécia buscou a Verdade, ainda que com respingos de ensinamentos egípcios, e mais, a Beleza, o Amor, a Justiça, a Força, a Civilidade... etc., de forma que ninguém mais jamais ousou.

Ensinou-nos que ainda somos crianças eternas engatinhando em busca de nossos interesses, uma grande mamadeira chamada dinheiro. Não que os Antigos não valorizavam a moeda da época, o ouro, ou mesmo qualquer valor material – contudo, havia os grandes heróis que recebiam as honrarias semelhantes a dos reis, contudo... Em nome de uma grande filosofia prática, oravam aos grandes deuses, notadamente emblemas de uma época que nos faz saudosos sem dor, em relação a essa época tão falha em que vivemos.

A ruína grega


Depois de episódios tenebrosos nos noticiários de uma Grécia em ruínas, e de episódios nos quais governo, empresários e povo se engalfinham por um rumo melhor nas finanças do país, somos obrigados a conflitar situações em que há duas Grécias, a de hoje, a de ontem.

A de hoje é repleta de indivíduos dotados de política, revolta e sistemas patrióticos, ainda que falhos; ainda, repleta de percalços, ou melhor, de grandes monstros que residem como úlceras na alma da grande Grécia, mas também em cada país subdesenvolvido – ou desenvolvido em decadência moral.

Nessa mesma Grécia, onde passeatas, brigas, conflitos com policiais, regimes, medidas são a música dos homens, há estátuas, monumentos belos datados de mais de dois mil anos, refeitos sempre com a finalidade turística, mas também sagrada, com intuito de mostrar que também somos, apesar dos pesares, indivíduos que respeitam o passado humano, no melhor sentido da palavra.

E mostrar também que a alma humana não se restringe apenas em interesses frios, mórbidos, regados a gritos de dor, mas à beleza, tão bem delineada nas esculturas, vasos, quadros, paredes... Enfim à beleza maior, a que reside no campo arquétipo, do espaço inato, do qual nem mesmo o homem atual sabe reverberar direito, apenas questionar se há ou não vida nele...

E quando os homens atuais tomam conta dos noticiários, cada criança grega se vai do mundo, sem esperança de entender a verdade, essa moeda tão esquecida do passado, da qual filósofos viviam e morriam por ela... Todavia, não há mais homens desse nível, ou mesmo homens.

Antes, ser homem era encontrar o individuo em si – o indivisível – dentro daquilo que mais subjaz a nossa alma. Estaríamos falando do Ser, do Nows, do Espírito Humano, fadado a ser esquecido pelas gerações posteriores, as quais, ao passear pela atual Grécia, se conformam com o espetáculo passado em forma de pedras esculpidas – não mais estátuas que, um dia, foram adoradas tais quais a santos...

O que são os santos, senão resquícios desse amor antigo pelas potências trazidas ao verso e à prosa grega, cantadas, amadas durante séculos? E esse Deus maior que se restringe em sentimentos, atos, como um grande Zeus, que fora o deus dos deuses?... Nada a comentar...

Assim como uma vasta cultura que nasceu, cresceu, desenvolveu e morreu, a Grécia teve seu fim. Hoje, há um país sufocado pelas mazelas do mal que corrompeu e corrompe o mundo. Mazelas estas já ditadas pelos grandes de épocas passadas, que um dia foram julgados e mortos, e outros execrados, assassinados em público, mas que deram, antes, ao mundo caminhos para uma descoberta indecifrável à medida que se caminha com olhos cerrados ou interesseiros.  Mas decifrável ao coração puro, à alma livre de preconceitos e sectarismos, os quais formam a base dos sistemas atuais.

Não temos mais jônios, dórios, eólios para a (re)formação de uma civilização na qual tribos lutam apenas para se ter apenas o seu lugar no mundo, não pelo petróleo, pelo genocídio ou mesmo discriminação em massa – é o que fizeram com a África, hoje.

Não temos mais os deuses que nos norteiam, e sim loucos desvairados impondo em mentes puras ou ignorantes sua filo-social-democracia autruista (sem amor ao próximo...), em decorrência de outros sistemas empurrados pela necessidade do homem de má fé.

Os mitos, os deuses, os heróis se foram, mas a sua filosofia, a que tanto norteou a sociedade da época, transformando-a nesse berço belo e divino, pode ser resgatada no âmago de cada um, e está a um passo de nós: nos livros clássicos, nos quais viajamos e encontramos um pouco de nós mesmos, ou menos do que isso, uma fagulha de um incêndio sagrado chamado Grécia.











sexta-feira, 23 de março de 2012

"Ser ou não Ser"





Persona

Eu tenho percebido, há muito, que não assumimos nossos reais compromissos, aqueles que nos ditam o que somos, para onde vamos e por quê. Não sei se estou certo ou apenas cambaleando em pensamentos tolos, mas o que me passa pelas linhas imaginárias da consciência é que não queremos assumir, propositalmente, o que no fundo nos pede para realmente assumirmos – calma, não estou me referindo à personalidade inquieta, cujas debilidades nascem e morrem sem, às vezes, dizer o que ela é. É algo mais profundo.

Será o medo de entendermos tudo na natureza, como enfrentarmos as reações que nos proporcionam o desespero pelos atos impensados de nossas vidas? Talvez. Mas não seria só isso...

A coragem de dizer o que sentimos ao vento, gritar que queremos mais liberdade, amor e mais justiça sociais, ou mesmo aqui perto, ao nosso lado, nos faz seres encolhidos e, sei lá, duvidosos no momento de tomar alguma decisão – espero que me entendam J...

Se fosse em outra ocasião, diriam que eu estivesse reverberando o nada em forma de letras, ainda que no fundo possuísse alguma coerência... E é dessa coerência que gostaria que entendessem. Quando digo assumir, digo ser eu mesmo, lá no fundo de minha alma, não a alma em si, ou como disse antes, nada de personalidade...

Uma coisa é você dizer “sou grosso, e daí!”, a outra é você dizer “eu te entendo...”. Qual das duas expressões nos relevam? Claro que, para a maioria nossa de cada dia, é a primeira, pois dela podemos retirar outras e mais outras cujas estruturas semânticas podem mudar de forma relativa, ou seja, cada um acha aquilo que deseja, ou o que é realmente...

Porém, nos revela uma identidade falsa pela qual nos embrenhamos, simpatizamos, e quiçá amamos. Assim, se me identifico com algo que me estabilize emocional, física, psicologicamente... Vou atrás daquilo que me apraz. Se amo ser um grosso, um débil, um valentão, com a finalidade de me esconder e ao mesmo tempo enfrentar uma gama de problemas, assim o faço. Se quero ser forte fisicamente para que possam me “achar” forte, assim o faço, se me escondo atrás de livros para fugir de uma realidade, e cair em outra... Também.

Mas o perigo disso tudo está tão estampado no rosto de quem assume quanto o de um ser que fez algo e não consegue esconder-se. Claro que tentar montar uma estrutura interna na qual eu mesmo tenho que ser o arquiteto, dono e ao mesmo tempo pedreiro, é raro. Na prática se vê.

Contudo, assumir o que achamos o que somos (ou melhor, o que a persona nos faz acreditar) causa danos irreparáveis, e até mesmo inconsequentes, e a depender de quem o faz (ou assume), fere a todos, inclusive a si mesmo. Na hora do embate, do conflito, da guerra propriamente dita, somos guerreiros, foras-da-lei sorridentes, donos de nós mesmos, mas a poeira há de assentar-se, as dores hão de subir, e o sangue há de aparecer..., porque o que vem da persona – ou melhor dizendo, daquilo que achamos que somos --, pode agradar até mesmo um grupo específico, como gangues, máfias ou monges, -- mas não atingirá o cimo de cada um, para que haja uma aceitação coletiva – geral.

São raríssimos aqueles que podam a personalidade com aquilo que é comum a todos indiscriminadamente, assim como os grandes idealistas do passado, os quais, um dia, buscaram, conseguiram, por meio de seus atos, palavras, e até mesmo em suas vidas coerentes ao que clamavam. O nome disso é coragem...

Não coragem em dizer “vou”, mas em dizer “sou, ainda que muitos me digam o contrario” – claro que, mais uma vez, estou me referindo a uma semântica genérica, na qual podemos, em principio, graças ao nossos valores decadentes dizer “você é um louco”, mas depois de uma evolução humana, ou pelo menos mediana graças tempo, não necessariamente em massa, dizemos “Ele estava certo”. Isso é raro hoje em dia...


Alma

Na antiga Índia, à época de seus maiores sábios – não me refiro a Gandhi e seus seguidores --, havia uma filosofia intrínseca que dizia “o homem vive sempre no Antakarana”...

Eu, graças a leituras clássicas, descobri rs. Mas isso, como diria o grande Buda, pode muito bem “ser a aparência do que se sabe”, ou seja, não sei nada...! Porém nos revela, dentro do que estudamos, uma verdade, a de que estamos realmente sempre na dúvida do que somos, que coisa hein!?

Voltando...
Antakarana, perdão, seria, para o deleite de nosso coloquialismo, uma ponte entre a personalidade e o espírito – ou menos que isso, entre nossos valores materiais e imateriais. Seria uma linha imaginária a separar o Oriente do Ocidente, só que mais profundo. Essa linha marcaria – ou marca – um ponto crucial, o de que o homem se sente capaz e ao mesmo tempo incapaz de elevar-se ou ao mesmo tempo acomodar-se ao que é.

Ao passar dessa linha, e voltar à sua personalidade, ele prova um pouco do que realmente deve ser – ele mesmo, um indivíduo, inegoista, virtuoso, ético, idealista sem interesses vis, mas ao voltar... sabe que a persona o leva para um mundo completamente semelhante, apenas com os valores de cabeça pra baixo – daí a chamada falta de identidade provisória, ou para aqueles que ficam sempre atrás dessa linha,  os chamados homens pedras, plantas, animais, pois sequer tentam levantar-se psicologicamente, estruturalmente, muito menos espiritualmente...

Desses homens que amam uma identidade falsa, ou mesmo se sentem amos de si mesmo, o mundo está lotado, saindo pela culatra, contudo há homens que se questionam, e que questionam acerca de seu comportamento, até do comportamento do próximo, que buscam e conseguem uma compreensão mais que humana, e inicia seu entendimento acerca do mundo a sua volta, porém sabe que seu trabalho é tão difícil quanto enfrentar uma batalha de mil homens – é o conhecer a si mesmo.

E, após anos de trabalho a fio, ao se encontrar na profundidade de seu ego, depois de largar a máscara do “sou ou não sou”, sabe que é parte de uma personalidade maior, a do universo – essa, ele terá que descobrir, em uma viagem ainda mais insólita.

terça-feira, 20 de março de 2012

Ecos da Eternidade

Guerreiros do Passado: vozes que ressoam no presente



Em épocas passadas, como já foi dito em textos anteriores, tínhamos nós, como indivíduos que somos, nos estruturado em grandes feitos de grandes homens que sempre seguiram seus ideais de paz e liberdade. Uma prova disso são os grandes generais nos quais se baseiam os de hoje, sim e por que não? Outra prova disso são as universidades de renome nas quais cavalheiros, heróis, generais são como âncoras das aulas de história.

Mas o que nos faz seguir esses grandes homens?  Seus olhares, sua forma de viver, sua vocação inata para encontrar e decidir e realizar, ainda que não pudessem realizar seus ideais de liberdade junto ao povo, os quais representava, dentro da visão do homem do passado, peça fundamental para a realização de seus sonhos? Seus feitos, regados de estratégias das quais exércitos ainda relembram milhares de vezes ainda hoje?

Pode ser tudo isso, e muito mais. Não menos importante, no entanto, foi a sua parte religiosa com relação aos mitos de sua cultura – fosse ela maia, hindu e asteca; fosse grega, romana ou egípcia... Todos os heróis tinham em suas veias a sua educação – o que de melhor poderia ser transferido de si – sua força e seu amor aos mitos.

Eles, esses grandes homens, alimentados por essa força desde criança – às vezes com muita dificuldade – com uma edutiere (educação) na (e da) qual o respeito às tradições de seu país – como hoje o folclore o é –  eram principal argumento para levar milhões à liberdade ou mesmo a outros ideias cuja proposta era nada mais que nada menos que a consecução dos fins da humanidade...

Eles sabiam que o ideal era mais que um projeto de vida, do qual se poderia tirar as perfeições diárias; sabiam que era mais que um planejamento, uma pequena ideia, uma forma de viver – e muito mais – sabiam os grandes lideres e heróis que o ideal tinha o poder de fazer com que todos fossem filhos de um caminho no qual a verdade, a beleza e a bondade eram arquétipos, e que cabiam a eles trazer à tona, plasmar e não fazer sucumbir ao relento dos interesses humanos tais conceitos...

O mito era uma prova disso. Quando um faraó orava à deusa Maät, não pedia ajuda à divindade, mas sim, clamava para ele mesmo como se fosse parte dela, dessa manifestação, que significava a Ordem universal...

Quando os romanos olhavam para o alto e pediam ao deus Marte proteção, sabiam que era um pedido a ele mesmo – ao general interior, ao herói interior, à sua sabedoria – com fins naturais de uma batalha, isto é, que cada um que estivesse ali, dando seu sangue; estaria certo de que o deus estaria em forma de coragem, força e até mesmo sangue.. Ao contrário dos soldados cristãos, os quais se declinavam em teorias de humildade, de sacrifício, mas exterminavam povos em nome do maior deles – Cristo...

 Os únicos, talvez, antes de serem humilhados pelo regente Felipe, o Belo, foram os Templários, os quais respeitavam as alegorias cristãs e ao mesmo tempo suas simbologias a respeito do universo. Sabiam que a batalha era uma grande necessidade em uma nação, pois elas faziam parte do embate interior de cada um – diferente daqueles que as entendiam como formas de extermínio de inimigos que não queriam fazer parte de uma grande seita...

E o eco soa em forma de questionamentos. O que fazia os grandes homens ir à batalha, viver toda saga e história de uma nação, ou melhor, de uma cultura que, às vezes, não lhe trazia benefícios ou vantagens materiais? Será que estavam acima de tudo isso? Ou será que eram loucos?

Julio César, o grande general romano, fez o que fez na Gália por que era metido, interesseiro, um mesquinho general que queria somente vencer e vencer? E o nosso Alexandre da Macedônia, aquele que conquistou a Europa com dezoito anos, seus  atos eram tão aleatórios quanto os de Julio César? Sem falar no espartano Lêonidas, aquele cuja força e destreza foram colocadas a preço numa batalha que valeu mais de mil batalhas, foi apenas um general?

Na atualidade há muitos heróis, todos eles com suas ressalvas e méritos, contudo há algo neles que sempre será questionado em relação aos primeiros. Por que não nos baseamos inteiramente nestes? O que os grandes do passado fizeram de melhor ou tentaram fazer que, a nosso ver, sempre serão levados como homens que beiraram a deuses naquilo que fizeram?

São questionamentos difíceis, mas a metade deles burla em uma só resposta: a dos mitos. Sim, claro. Havia nos mitos uma realidade escondida e profunda na qual cada cultura tinha que se estruturar. Mitos cantados desde que foram criados pelos homens mais incríveis em todas as civilizações, os quais souberam realizar, com prudência, com suas ligações, mesclando a verdadeira história do povo com o insondável. Dando margem ao aparecimento das potencialidades, que se transformaram em deuses, os quais, em cada subtilidade (para não dizer, mistério...), foram mais que necessário – pois não só fizeram parte daquele espaço no qual foram colocados, mas também já estavam, todavia, agora, representando, por meio de ações bárbaras, o mundo, o universo, ou mesmo o próprio homem...

Esse foi o quesito que completou as lacunas entre o guerreiro do passado e o guerreiro do presente. O primeiro, ainda que não houvesse um entendimento claro do sagrado, amava e respeitava o mito de criação de sua cultura, e por ela (ou por ele, o mito) clamava a liberdade, o amor, transformando-se assim em lenda, pelo mais simples ato que pudesse realizar, mas que fosse em nome de algo que religasse ele com o sagrado,,,

E por que nós os respeitamos tanto quanto os do presente? Porque neles resguardam os reais valores pelos quais lutar. Que queremos lutar.





segunda-feira, 19 de março de 2012

Mãe Lua

Rosas Vermelhas: as preferidas




Saudades, minha mãe querida,
Parece que nem se fora a senhora,
Tua presença nos foi tão sublime
Que tua alma forte ainda nos fortalece
Agora..


Seu quarto vazio não parece frio,
Nem mesmo contigo ausente.
Graças ao teu belo semblante,
Nos sentimos unidos, e meio errantes.


Contudo,

Nossa lágrima ainda forma rios,
Não poderia ser diferente, (pois)
Nos dera teu oceano de sabedoria,
Em meio a poeiras cantantes.


Mas ficamos sem miragens,
Num deserto de seres carentes,
Estamos em chuvas de meteoros,
Desafiando um sol ardente...


Todavia, é como via que não se passa,
É ter parcimônia com o tempo,
Que de sopro nos cura a ferida
Que de dor não se cansa.


É ser forte na subida,
Ainda com olhos calados,
Com a alma pesada,
E ânimos cerrados.


É entender que não nos deixara sem ninhos,
Muito menos sozinhos, à beira do mar,
Pois tua Barca nos dera caminhos
Diante de sóis pequenininhos

Por onde singrar.




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À minha mãe, que se fora há um mês.  










sexta-feira, 16 de março de 2012

Pais e Filhos



Há mais mistérios entre pais e filhos do que...



Da terra que nasce em meio ao verso,
E de tuas liras tocadas ao céu,
Respondem os deuses da vida,
Em meio a guarida,
Nos deixando mistérios,
Sem nos revelar o que há
Por trás de seu divino véu...

E desses lírios que nascem
Vestidos da essência sagrada,
Correm em nossas veias
A pureza da vida,
Resvalam tristezas,
Escorrem feridas,

Todavia, em meia a vidas,
Nascem os humanos,
Tais grãos de milho,
Nascem num mundo tangente,
Com forças prudentes,
Biologicamente,
Espiritualmente,
Pai e filho.

E deságuam no oceano como gotas,
Que de infinitas se tornam elas,
Escorrem em riachos,
Como estrelas vadias,
Expurgando o desamor do espaço,
Transformando o universo em vida.

Lá se vão nossos mistérios,
Tão belos quanto o próprio Deus,
Que sorri pelo sol que desce,
E chora pelo sol que se vai...

Não, não vai.
Vá, sol, arrebatar a chuva 
ser o expoente de tudo,
Exclamar a beleza,
em volta à tristeza que quer nascer.


quinta-feira, 15 de março de 2012

O Céu e o Inferno de Todos Nós (fim)

Céus e Infenos: batalhas eternas


E pra terminar, teríamos que morrer e voltar, ou ficar não sei onde, e dizer “realmente, encarnei em outro corpo!” ou “Olha só, o céu existe! Deus está comigo aqui do lado!”, ou “o inferno existe, galera, e tá todo mundo aqui comigo, menos minha sogra!”.

Não tem como. Nossas naturezas rondam em torno de suposições acerca do extraordinário (até mesmo do ordinário...), porém, apenas os sacerdotes do passado (leia-se: os iniciados nos mistérios sagrados, do céu e da terra) poderiam nos dizer algo a respeito do que se reverbera aqui e agora, mas não estão aqui. Ou melhor, estão em bibliotecas imensas e respeitáveis, como as de Oxford, na Inglaterra, em Harvard, no Estados Unidos, até mesmo no Vaticano, Itália, em forma de literaturas clássicas sobre ocultismo egípcio, hindu, maia, ou mesmo quando se refere às escolas iniciáticas gregas, etc; contudo apenas os letrados na matéria podem consulta-los.

No entanto, há literaturas das quais podemos reverberar e tirar algo acerca do nosso enunciado, de maneira a sintetizar, repeitando, naturalmente, o que nos deixaram como legado filosófico. Estou me referindo aos grandes autores (ou pós-modernos) os quais seguiam a tradição quando tocavam em assuntos de diversas áreas, principalmente quando aludiam acerca da vida, da morte, da dor, da justiça, verdade...

Entre esses autores, escolhi o mais difícil, porém um dos mais modernos que se seguem a tradição. Helena Petrovina Blavtsky.

Blavatsky, a criadora da Sociedade Teosófica, se aprofundou nesses itens – céu e inferno – de forma que nos parece que estivera lá, ou não!... Deixando rastros de uma verdade incontestável junto aos mais polêmicos órgãos religiosos e místicos de sua época, contestados até hoje pela Igreja (claro...), mas sempre respeitada a ponto de nunca ter suas informações ditas como contraditórias... Vejam por quê...

Blavatsky dizia que a reencarnação era algo tão natural aos homens quanto aos seres em sua volta, não deixando, no entanto, de retratar a antítese céu e inferno, bem sintetizados pelos cristãos, como respectivos estados de bem aventurança (céu) e estado de desobediência a Deus (inferno). Mas...

Segundo a respeitada teósofa, o céu é o svarga que em sânscrito significa "mansão celeste" ou aquele estado puramente subjetivo de perfeita felicidade, no qual se encontram as almas dos justos durante o período existente entre duas encarnações consecutivas; ou seja – dentro das leis cármicas – haveria o bônus temporário ao indivíduo que, após sua morte, haveria de ser contemplado com um “descanso” antes de vir a reencarnar ao mundo.

Já em relação ao inferno, o esoterismo blavatskyano nos diz que a palavra “inferno” vem da cultura egípcia, que, tendo o deus Rá como deus das alturas e do submundo, teria se convertido em deus do fogo, e os maus, aqueles que mereciam o ônus após a morte, eram ameaçados com o fogo de Rá, ou melhor, infernal – de indeferi, mundo inferior.

Assim, temos elementos para decifrar um código, o qual, somos obrigados a dizer, “predomina há séculos” no Ocidente como pedra fundamental da cultura, a qual se norteia, por diversos ramos (facções), encerrando-se como verdade “natural”.

Elementos como “diabo”, “inferno”, “Deus”, “paraíso”, etc podem ter sido trazidos de culturas antigas as quais trabalhavam com simbologias, com a finalidade de direcionar a cultura do seu povo, hoje, a nossa cultura o faz sem a mesma simbologia, dando margem a compreensões individualistas, trazendo à tona o mercantilismo religioso – compra de fiéis, dízimos mal direcionados, compra de terrenos, vendas de livros religiosos; trazendo ainda diversidade de opiniões, de informações acerca de vários elementos reiterados pelo passado arcaico, ou seja, para a consecução de seus fins, a Igreja inventa, além dos antigos, mais pontes para a compreensão do que não se entende racionalmente...

E como já falamos em textos anteriores, tínhamos mais símbolos trazidos de outras culturas, como a grega, da qual foram retirados elementos do deus pagão Pã, o qual significa Tudo, todo o Universo, que, segundo o mito, vinha dos céus e assustava os seres humanos com sua figura meio demoníaca, a qual, naturalmente, fora levada ao pé da letra pelos cristãos...

Essa vinda do deus Pã a terra, está na palavra Pânico (medo de Pã), talvez, mais uma vez, essa retração à figura “demoníaca” da qual todos ainda medo, pânico – agora, muito mais, pela grande propaganda cristã em desfavor de um ser que ela criara em paralelo ao mito.

Resumindo

Podemos então dizer que céus e infernos foram figuras simbólicas obedecidas pela maior parte das civilizações com vistas ao comportamento frente ao sagrado, ou seja, ao todo. Foi mais que isso, foi o desmembramento de mistérios sagrados dentro dos quais muitos iniciados conseguiram, até hoje, resguardar, mas não transcender nas culturas pós-helênicas, o que para eles era uma verdade rebuscada das entranhas das grandes civilizações douradas, para nós virou uma feira de contradições.

Céu e Inferno sempre, em algum nível, terão suas explicações naturais, racionais, emotivas, simbólicas, com um ar de medo ou mesmo respeito, graças ao mistério que as duas resguardam, ainda que tenhamos “iniciados” que se dizem portadores da verdade e que derramam seus enxofres dentro de um mundo que, de acordo com o real (ou fictício) conceito, sempre nos mostrou o inferno e o céu de cada dia...


E quando eu olho para o céu, penso na figura divina de Zeus e Hades na luta deliciosamente inconsequente pelo equilibrio mundo -- pois são forças duais -- os dois, com duas espadas imensas, além-nuvens, sorrindo um para o outro em um eterno duelo de prazeres e harmonias; um, o grande Zeus, burlando o vento para a danças das árvores, do sol, da vida.. E o outro, Hades, com sua ferocidade, esperando o próximo humano a nascer para lhe dar, na primeira oportunidade, o egoísmo, a inveja... E assim, caminhamos juntos, como espinhos em rosas, como pedras em rios, como espadas debaixo do grande manto das paixões.




terça-feira, 13 de março de 2012

De Volta às Origens


Eternas guerreiras, obrigado.



Eu havia perdido a noção do belo e do simples nessa vida, nesse oceano em que desenvolvemos nossas personalidades sempre voltadas ao complexo. Pensei que tudo por que lutávamos – a volta à nossa origem, ao simples, à verdade – estaria tão longe quanto o homem de seus mistérios sagrados.

Como eu estava errado! Tão errado, que tive medo quando encontrei. Eu me senti eu mesmo, e tenho a certeza de que muitos – graças a uma senhora belíssima de princípios fortes – também se sentiram assim. Tal senhora era minha mãe.

Tudo isso se deu em um evento no qual a forte senhora e várias outras mulheres foram homenageadas graças ao Dia da Mulher, senão... Quer dizer... Não sei, talvez houvesse outra ocasião na qual fossem lembradas, mas nada melhor, do que ouvir da boca, dos olhos, da alma das senhoras as venturas em uma época em que muitos se acomodaram, muitos se fizeram, outros fizeram muitos, e outros se realizaram honesta ou desonestamente. Época da construção da capital Brasília.

O inicio


Uma jornalista de nome Tânia havia telefonado para minha irmã, e disse a ela para levar algumas fotos de nossa mãe, já em seu descanso eterno,  pois haveria um evento no qual várias mulheres, entre elas nossa genitora, seriam homenageadas na Semana da Mulher.

Nesse grande evento, todos da família deveriam ir, pois haveria uma homenagem em particular a nossa mãe, porém, o que vimos foi a síntese do que somos e do que poderíamos ser antes e depois da realização do evento. O evento em si norteou-me.

A metade da família chegou atrasada, graças ao trânsito. A outra metade chegou em cima da hora, mas as homenagens não haviam começado, graças à compreensão da jornalista, que sabia o que aconteceria naquele dia, naquela hora, em um dia tão perto do fim de semana. Enfim, a família quase toda estava unida em torno de uma das mais lindas formas de mostrar o que somos e de onde viemos, e por que motivo, pelos olhos e alma das mais belas e lindas senhoras que beiravam a setenta a noventa anos de idade, contudo com uma jovialidade estelar, quase transcendente, chegando a burlar nossas consciências quanto ao que podemos fazer em um mundo tão velho e sem ideal.

Na sala onde havia um pouco mais de quarenta pessoas, aparece-nos a anfitriã, a jornalista Tânia Fontenelli. Uma pessoa, por assim dizer, incrível. E, pelo que nos passara, senti que seu trabalho, o de recolher depoimentos femininos a respeito da origem da Capital, fora um daqueles trabalhos que, em vida, não se fazem mais. E mais, acredito que, agora, seu dever foi cumprido.

Assim que me viu, sentiu que devia me congratular por estar ali, assistindo ao seu trabalho, o que já me deixara bem à vontade. Porém, ao questionar a respeito de minha pessoa, ficou tão feliz quanto eu, por saber que eu era filho de uma das mulheres mais fortes e incríveis que ela tinha conhecido -- minha mãe; logo após, chegaram meus familiares, os quais sentiram o mesmo que eu na recepção. Era um momento histórico.

Ali, naquele dia, perceberíamos o quanto nossa mãe havia lutado com todas suas forças para criar um bando de crianças em meio a poeiras e batons.

Nossa heroína

Nunca, em nossa vida, tínhamos sido homenageados. Mas a pessoa que nos deu tal presente não estava ali, ou melhor, estava em astral, em mente, em lembranças. Sua alma, tão presente quanto à nossa, levitava em nossos corações e nos fazia sentir, de novo, ao lado dela, como nos velhos tempos....

Sua figura, forte, austera, sincera e meiga nos transmitia (e nos transmitiu) uma paz fora do comum, e isso é o que nos falta hoje, após a sua ida. E quando os depoimentos começaram, sentimo-nos presos às cadeiras de filmes futurísticos, nos quais até mesmo público participa. Naquele dia, no entanto, apenas nós, da família, tínhamos esse privilégio, quando a dona de nossos corações apareceu recontando, de maneira sábia e simples, seu passado brilhante de heroína, que salvou a muitos, inclusive nós, da vulgaridade natural humana, pela qual poderíamos ter passado sem ela, essa figura bela – chamada Josefa.


Depoimentos.

Foi uma aula de simplicidade. Todas senhoras ali entrevistadas nos deram aulas de amor ao trabalho, de consciência em relação a nós mesmos, pois não tinham que esconder suas almas com vergonha de dizer quem eram e porque fizeram tudo aquilo.

Foi mais que isso, havia entrevistadas que se sentiam no período em que a capital estava prestes a iniciar sua construção e nos faziam rir, outras vezes chorar, mas que, em nenhum momento, nos transmitiu o medo, a dor, o desespero da miséria pelas quais passaram – foram heroínas.

A natureza feminina de confronto, de alguma maneira, é mais prática e viva do que a dos homens, pois é regada de feminilidade, ainda que debaixo de chuva e lama, poeira e lágrimas.

A maioria dos depoimentos falava da simplicidade da época, e faziam comparações com a atual – cheia de roubos, estupros, violações – ao contrário da passada, que nos limiares de uma construção, formava família, uma grande família, com princípios e valores ainda por ser formarem, mas que não pendiam para a violação dos direitos das mulheres e nem dos homens...

Eram valores que ainda em suas cabeças atuais residiam, por isso, a beleza de ouvir todas elas.

“Eu vinha de Berorizonti. E meu marido dizia ‘vamos pra Brasília’, lá vai ser o nosso lugar agora; e quando nós chegávamos, ficávamos espantados, pois não havia mais nada, a não ser trabalho, trabalho e trabalho...”

“quando meu marido disse ‘nós vai morar é aqui’, e eu fiquei abismada, pois a casa parecia um galinheiro!”

“Nós pegava e levava todas calça dos piões, porque ficava toda suja de barro, dos pés ao joelho”.

“Tinha a Casa da Placa da Mercedes, e todos os homes fazia fila, era mais de duzentus, um atrás do outro”

“Sim, era pau de arara. Um atrais do outro, assim e assim (gestos)”

“No dia da comemoração, eu coloquei o meu melhor óculos. E fui. Não sabia porque riam de mim, não. Eu tinha o meu mió vestido, meu mió óculos! Mas despois eu fui ao banheiro, e vi: minha cara estava toda amarela (de poeira), e quando eu tirava o óculos... a marca”.

“Tinha o clube dos rico e o clube dos pobres. Mas nóis dava um jeito de ir nos dois”

“Eu fazia comida pros piões, sim, e fazia todos os dias. Mas meu marido e eu conseguimo viver até hoje, graças a Deus!”

“Muitos conseguiram diploma de contador, em sê contador”

“Era muita gente, gente demais! Todas ela vindo de longe, de todas as parte; parecia que Brasília tava sendo invadida!”

“Era a coisa mais linda do mundo!”

“A coisa mais triste que eu vi foi quando o Jânio (Quadros) mandou todo mundo ir embora. Ele não queria vê nenhum nordestino por aqui mais. Até os home chorou.”


O ensinamento

As expressões de cada uma delas, que se formavam no telão, nos davam a impressão de que o mundo, para elas, tinha estacionado apenas para aquele dia, o dia delas. Mas para mim, esse que vos escreve, foi o dia em que tivemos uma consonância com o passado, com o nosso passado; dia no qual aprendi que temos que entender que todo o universo, ainda que nos pareça fútil e desagradável aos olhos, deve ser respeitado e amado, e por isso deve ser levado a gerações sua história, pois a sua essência sempre vai prevalecer – é o caso de Brasília.

Aprendi que somos mais que imagens em espelhos, e almas que em busca de uma verdade infindável, nós temos – cada um de nós – uma história para contar, não apenas aos filhos, aos netos, mas ao mundo, e quem sabe propagar em sua grande alma um pouco da nossa.













quarta-feira, 7 de março de 2012

Mulheres de Atenas

Atenas: deusa da Guerra




Mulher...

Ainda que se encontrem em vielas, nas esquinas frias, à noite, como crianças abandonadas ao vício, à prostituição... Ainda que a vida as agrida, em forma de machismos, comunismos, em forma de sistemas que as oprime, sem dar-lhes direitos acima das obrigações... Ainda que o medo de sair de suas casas, ou mesmo pôr suas singelas cabeças na simples janela gradeada... Ainda que homens revestidos de bem, mas que se desmancham em violência em seus rostos e corpos, na madrugada, segredando-lhe o terror em forma humana...

Ainda que o mundo te deixe em desconforto nas horas em que mais precise, ainda que seu âmago peça para morrer na falta de alguém a te proteger... Ainda que sejas comparada à parte mais frágil do mundo... Ainda que haja uma idade média em valores -- em comportamentos, em amor..., Em justiça...

Ainda que bombas explodam em seu lar, deixando-a solitária com seu filho no colo, ainda que o mundo doente explore sua cor, sua raça, sua dedicação, sua crença... Ainda que nasça em tribos, em família miseráveis, em favelas, em nada... Ainda que suporte a dor do homem que nasce e que morre em seus braços... Ainda que este mesmo homem, um dia, te dê adeus, e que esse mesmo filho, um dia, tenha que singrar os mares da vida sem você por perto... Ainda...

Ainda és a lua que recebe o dom de nos trazer a calma, ainda és o rio que corre oculto em nossos sonhos, ainda és o Logus divino que completa, que edifica e transforma a natureza com sua presença... Ainda és a flor que nasce num deserto de homens frios, a flor que amanhece ao pé da janela aberta ao teu sorriso.

Ainda és é sempre será a parte que amamenta, não apenas seu filho, mas também o mundo onde dorme e acorda o homem que vence, o homem que ama, pois, por trás de cada um de nós, e dentro de nós, sobrevive um ser que nos beatifica com seu ser doce e  largo, seja em forma de criança, seja em forma de uma idosa a qual sintetiza a experiência montanha, e ao mesmo tempo jovem...

Ainda és a fortaleza que assombra os lobos da selva, és o segredo do oceano, és a chuva na terra seca... Ainda és a sombra da familia, ainda que de longe permaneça, ainda que do Céu nos observe. Ainda és o fruto doce de nossas lembranças, de nosso viver, és o lenço de nossas batalhas... E como diria o  mais sábio "és a ponte entre o Amor e Deus"...

Ainda que eu escreva pelo resto de meus dias, e o farei, não direi a verdade completa, pois ela adormece nos tempos que passam, porém acorda em nome da paz, da guerra, da vida, na qual tanto nos ensina todos os dias.




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Á minha doce e querida mãe, que se foi. Graças a ela, chegamos à metade de nossas jornadas, e realizamos a maioria de nossos sonhos, nos quais ela própria era um deles.

O Céu e o Inferno de todos nós (iii)

Hórus, Isis e Osiris: Tríade egípcia.


Assim como em muitas culturas antigas, no Antigo Egito respeitavam e muito a tríade sagrada – da qual saíam todos os elementos vivos e inertes do universo – Isis, Osiris e Horus; sendo que, antes de se estruturar, um mito explicava (e explica) a complexidade da formação da tríade...

As tríades, normalmente, tratam de reunir três logos. Sendo que um deles é feminino. Na Egípcia, temos Isis; na Bramade, Manas (de Atman, Manas e Budhi); na cultura Ameríndia, tínhamos Whiracoxa -- de Kon, Quila, Whiracoxa...

Na Tríade Cristã, consegue-se perceber que há algo de “estranho”, pelo fato de não haver, entre os Logus, a parte feminina do universo, a qual sintetiza toda essência de uma natureza intuitiva, organizativa, prática, sem os qual o uno não funciona...

Mas o que teria tudo isso a ver com nosso céu e inferno de cada dia?...

Quando se tem elementos históricos dentro dos quais não se possui uma real estrutura mítica, fica mais fácil manipular. Sabemos que o Filho de Deus** nos deu uma tríade a orar, mas não fora de maneira aleatória, mesmo porque nenhuma dela o é, pois carregam em si uma compreensão (seja ela cultural ou não) do universo, de Deus, organizada na maioria das vezes por iniciados. E acredito que, antes que houvesse a tríade capenga, algum dia houve nela o aspecto feminino.

E o inferno se fez para as mulheres na Idade Média...

O Lado Escuro

A parte escura da tríade, para não dizer ‘o lado negro da força’, é parte dela, mas apenas em sua formação – ao contrário de algumas que se formam do nada. Ou seja, na tríade egípcia, por exemplo, temos Seth, o deus que matou Osíris, que, mais tarde, fora vingado pelo filho Horus.

Seth, por assim dizer, era o deus do “mal”, mas um mal que significava tanto mistério quanto qualquer outro deus, assim como o Pã e Hades. Para os Egipcios, não havia o deus do mal, assim como nos acostumamos a dizer no Ocidente, mas sim uma formação em paralelo ao deus Osíris, que, após ser despedaçado pelo irmão e se tornado parte do universo (tanto que a cor de Osíris é negra), sua esposa-imã, Isis, o ressuscita e Osíris vive eternamente entre o submundo, terra e céu – um ser unificado.

Assim como na Tríade Egípcia, descrita de maneira superficial acima, todas elas (tríades) se estruturam graças há uma forma mítica que as fazem sintéticas em três – sempre, e mais uma vez, com uma parte que sempre irá refletir o aspecto feminino – por isso, representações de deusas, em todas as culturas, caracterizando - o .

O lado escuro, como já foi dito, também se reflete na hora de entender a natureza, pois ela terá sempre o lado Espiritual, o qual se torna indefinível até mesmo quando se estuda a filosofia grega, principalmente, Parmênides, Platão, Plotino..., mas ao mesmo tempo sabe-se que fora a “porta” que gerou os outros dois Logus, o feminino e o masculino, dentro dos quais cabem apenas as raças masculinas e femininas na terra, e as dimensões masculinas e femininas no universo.

O mal em receber uma tríade sem o masculino ou sem ou feminino nos faz refletir acerca de um universo que já discrimina (naturalmente) um dos lados. E a consequência disso é a não possibilidade de trazer à tona elementos míticos que ficaram por trás de sua formação, pois, a depender de quem as cria – no nosso caso a Igreja – pode haver gerações que se submetem a valores capengas, ou seja, sempre faltando algo em seu âmago, isso tudo por meros interesses históricos.







A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....