quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Pequenos e Simples Milagres

Simples gestos, grandes milagres.

A vida em si já é um grande milagre. Ao se deparar com o sol, com suas nuances cristalinas que rodeiam o céu azul, depois, tornando-o alaranjado no fim da tarde, penso que somos filhos de uma ignorância tamanha que nos engole em processos como esse, tão simples e belo.
Pois o sol, a chuva, a natureza como um todo, além de ser um grande mistério ao ser humano, também nos colocar como um deles, talvez até como o maior dos mistérios, e o maior dos milagres...
Digo isso porque percebo em templos a busca por milagres fortes, como a tentativa em fazer uma pessoa andar, falar, enxergar, sair de suas dores internas, além das principais dores do dia a dia, a falta de dinheiro para prosseguir...
Aí, nos aparecem as igrejas, tão sólidas na sua finalidade em fazer pessoas humildes felizes, que esquecem que o real milagre – o que procuramos – esconde-se em nós, e para desvendá-lo nem mesmo o pensamento mais racional, científico, com suas nuances matemáticas, físicas, químicas, poderiam explicá-lo... (ou poderiam, apenas com intuito de desacreditar do espírito...).
Mas teorias, por mais radicais que sejam, profundas no sentido exato, não fazem o espírito deixar de existir, pois não há como provar a inexistência de algo que nos faz amar, sentir o mais profundo sol, a mais bela poesia e não chorar... Até o mais incrédulo cientista não resistiria!
Sabe por quê? Porque somos milagres ambulantes, antes de sermos homens que duvidam, e teorizam acerca de tudo. Temos a semântica – espiritualidade infinita – enraizada em nossas células, em nossos ossos; temos a alma!
Hoje, meu medo maior não é a formação de cientistas, mas a formação de um duelo entre o homem que acredita saber tudo, e aquele que acredita ser Deus. Os dois, cientista e religioso, em paralelo em seus mundos, tentam provar a existência de entidades diferentes, uma racional e a outra sobrenatural.
Tais entidades, existentes em sociedades diferentes, se cruzam apenas com intuito de digladiar inutilmente, provando com seus livros ou com suas teorias, duas verdades, que, na realidade, se encontram no fim de uma reta, formando apenas uma só Verdade... (até mesmo Einstein dizia que duas retas paralelas se unem no final rs).
Mas como diria o filósofo Fernando Schwatz, “o racional tomou conta de gerações e dificultou o entendimento do ser humano”, e ele tinha razão. Pois não somos apenas ossos que se vão para a terra e seus vermes comerem, como pensava Darwim.

Somos milagres que têm a capacidade de entender a si mesmo, se aprofundar nos mistérios, sorrir ante o medo; dar o primeiro passo ainda que não tenhamos pernas! Somos seres que enxergamos, até mesmo sem a visão biológica; somos guerreiros romanos, persas, egípcios, somos reis!
O milagre mais belo, no entanto, não é aquele que nos faz ir atrás do sol, ou mesmo que nos faz ser humanos, mas aquele que veio antes de nós, que se chama ideal. Este, tão retilíneo quanto a melhor das retas, nos propõe a natureza, humana ou não, da continuação da vida, dentro desse grande mistério chamado Deus.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Começar de Novo...

Recomeçar sempre!




"Sim, eu volto atrás; eu não tenho nenhum compromisso com o erro" (JK)


Sempre, sempre, sempre, diriam os grandes mestres, sempre iniciamos um processo seja qual for ele, com um intuito de melhorar nosso caráter frente à humanidade, ao universo, a Deus. Muitos dos grandes homens, que sempre tiveram esse ideal, sempre começaram – ainda que erros tenham cometido depois --  e voltaram, refizeram suas vidas e conseguiram realizar seus projetos.
Assim, devemos ser, nunca desistir, ainda que seja por meio de caminhos difíceis, vamos cair, e nossos astrais, imbuídos de sentimentos arcaicos, preconceituosos de terceiros, vamos levantar, olhar para o alto, e quem sabe também realizar nossos projetos, e que estes sejam em nome de algo belo, verdadeiro, simples e justo – divino por excelência!
Vamos começar com nossa alma em forma de paz, e nos levantar, como diria nosso amigo Marcos Aurélio, pensado no tolo, do insensato que esperam nos destituir de nossos ideais. Pois esses seres fazem parte de nossas vidas como irmãos – não biológicos – e que são a segunda parte de nossas vidas, assim como a parte de baixo de nossos dentes o são com a parte de cima, ou mesmo como as mãos o são uma para a outra...
Vamos nos esquecer que a vida é só tropeções – ainda que existam! – e revelar nosso lado positivo tal qual aquele bobo alienado que ama o próximo sem mesmo olhar para a face dele, mas nós, conscientes, somos realistas no sentido positivo das palavras, e percorremos todo trajeto da vida, sem reclamações, sem desamor, e com muita espiritualidade, porque acreditamos que não se espiritualiza-se apenas em templos, em bares risonhos nos fins de semana, e acreditamos que a vida é algo realmente bom, e que o real culpado pelas mazelas no mundo é o próprio humano, não a natureza, os animais, as plantas, as pedras, os vermes – mas os vermes bípedes que se enamoram com o capital e dele se vestem, criando capas, a sorrir, a amar, a viver, a desfazer o elo entre o humano e Deus...
Vamos começar de novo, se já sabemos que erramos. Mas, se erramos, vamos tentar outra vez, até que um dia, pessoas se sintam pessoas, e que o animal seja respeitado com tal; pois nem mesmo os animais têm espaço entre os homens que se acham donos do planeta; animais se escondem, correm o tempo todo, e nessa enfadonha injustiça, professores hipócritas se armam intelectualmente com faces voltadas a livros contra matança nas selvas, ou se antes desses, seres que se julgam conscientes, mas confusos como crianças em tiroteios, pois não sabem se defendem o humano ou as baleias encalhadas, ou boto cor-de-rosa, ou...
Vamos começar de novo esse processo humano. A vida pede isso, nas mínimas coisas, já percebeu? Quando nos zangamos com amigos, ou antes, com nossos irmãos, sabemos que culpados não há, pois, nada há de anormal em conflituar em famílias ou em conjunto com pessoas conhecidas. Contudo, só percebemos que nossa natureza só se acerta depois que iniciamos toda a amizade ou irmandade, seja dentro de casa ou não...
Uma prova disso seria quando você fica de “mal” com alguém. A natureza tenta os unir, trazendo circunstâncias nas quais você se depara apenas com aquela pessoa com que você se zangou... É a natureza dizendo “tentem de novo”.
Entretanto, víramos o rosto, olhamos de lado, para baixo, e caminhamos sem saber interpretar o que aquele contexto quis nos dizer. Choramos, e começamos a rotular nossos momentos mais misteriosos... Na maioria das vezes, de forma errada.
Quando casais se desfazem, quando filhos se vão, quando alguém se vai, para sempre ou não... Quando o amor se vai, quando decepções aparecem, quando a verdade nos vem, quando a guerra nos vem, é sempre um difícil recomeçar, mas o que seríamos de nós sem as continuações, sem os recomeços, acredito que nada.
No entanto, há aqueles que fogem de si mesmo, das situações, e mergulham em dores profundas sem a chave do recomeço, pois não sabem que a vida é um eterno caminho ladrilhado pelo nosso caráter -- seja ele em conjuto ou coletivo -- e que pontes há em nossas almas com finalidades precípuas, como a de unir o homem a seus ideais, ou ao grande Ideal.

Começar de novo é humano. É entender que somos parte de um universo, que possuimos uma consciência que pode errar, mas que pode acertar, elevar, e quem sabe evoluir.

Vamos começar?

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Na Trilha do Infinito

Quando somos possuídos de um sentimento forte de ação e aventura, parece-nos criar no âmago uma fonte de reações incandescentes, como tochas que se apagam apenas com o acordar de nossos sentidos opostos. É belo por natureza; é infindável, mas até o momento em que paramos para refletir acerca desse vento que se faz  com o criar da brisa.
São cinzas apagadas que, em meio a um deserto quente, recebem do sol a mais intensa energia e se revelam fogueiras na noite. São águas mansas que, na noite de lua cheia, se arrebatam, como ferozes seres, nas rochas do cais; são brisas que se vão e que se revelam ventanias nas quais não se pode andar, apenas esperar que se amansem na madrugada; são cachoeiras imensas que se formam com apenas uma gotícula heroica...
Assim, nesse turbilhão que nos envolve em todos esses sentimentos, em questão de segundos que nos levantam da morte, ou antes mesmo de uma vida que se vai ao léu, sem percebermos se faz a criatura ate seu ideal...
E eles continuam, e se vão, como tornados a levantar casas, animais, cercas, árvores... Tsunamis com cheiro de onipotência, arrebatando vidas, fazendo outras, e, no mais das dores, nos transformando em renovadores natos de mundos. Agora, no entanto, seria em direção aos mistérios sagrados dos quais tiramos nossas mais emonáveis aventuras, de onde tiramos o fôlego do fogo que cria e destrói mentes. De onde tiramos os reais heróis, que vêm de Heros, deus do Amor.
A trilha, assim, se inicia sobre o caos. A palavra vida é a energia, é a lei advinda desse manancial. E nós, filhos do Todo, nos levantamos de nossas camas psicológicas, destruímos nossos valores  arcaicos, e prosseguimos apesar de tudo.  É a ação e a reação humana para a consecução dos sonhos; a ponte entre o homem e a razão interna, por onde se passam seres misteriosos que só conhecemos quando dormimos...

Vamos caminhar, o destino se faz com a primeira caminhada rumo a si mesmo.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Apego

"Tudo é sangue, sombras e nuvens" - M. A.


A solidão de teus beijos em minha boca,
Surrupia o céu mais profundo, de um mundo,
Tão vasto e ao passo imundo,
Na praia de minha alma pouca.

E nesse mundo vadio e cruel,
Ainda que sem teus olhos e trilhos,
Corro em teu corpo imaginário,
Solitário, e frio.

Vou-me em meu rio,
Sobre as ondas do meu passado,
Donos de luas e sois alados,
Apenas eu e meu ser sozinho.

Como o mundo é vasto!,
E o meu, tão perplexo por você!
Surgem sementes de um amor bandido,
De um sonho sem gemidos,
Da falta do meu prazer.

Ah, solitário mundo que me corrói!
Por que destróis esperanças,
Que foram frutos de minhas andanças,
E que morreram em meu quintal?!

Sabei que das dores não podeis tirar nada,
Nem mesmo o som dos cabelos da amada,
Apenas o que me deras entre o bem e o mal!...

Não me deixai, eu vos peço, oh dia que se vai,
Seus ensinamentos, meus momentos,
Não vos esquecerei jamais!...

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Cavalgando com o mestre (II)


Marco Aurélio: "Compete a você!"


Como foi dito no texto anterior, Marco Aurélio escrevia suas meditações em meio a batalhas, assim como se nestivesse a escrever um diário de modo normal, semelhante a outros que se criam com a finalidade de segredar seus afazeres em poucas ou muitas linhas, sempre com datas, dia, lugar, mas não era não um diário... Eram pensamentos, meditações!
Seus pensamentos, que partiam de premissas estoicas, foram se delineando e tomando espaço à medida que se iam crescendo. Já que o mestre era partidário de uma escola cujo ensinamento era voltar ao que o velho Sócrates ensinava, não deixou por menos o que dela entendera.
Sabia o imperador que todas as dúvidas relativas ao estoicismo vinham da compreensão do modo simples, do viver natural do homem, o qual tinha (tem) dificuldades em trazer ao seu mundo pequenos valores advindos de seu Eu, portanto, Marco Aurélio, o fez da melhor maneira possível: na prática diária, ou melhor, nas batalhas diárias, que, por sua natureza, iam de encontro ao que o homem chama de paz, harmonia, integração, mas o imperador, ao saber disso, trouxe-nos o grande ensinamento de que fica melhor ensinar na presença de problemas, do que na ausência deles.

Um pouco do grande Ensinamento

“Desde o raiar do dia, dia a você mesmo: hoje vou encontrar um intrometido, um ingrato, um insolente, um mentiroso, um intrigante e um grosseirão. A ignorância da natureza do bem e do mal fez deles o que são. Mas eu sei que o bem é por natureza belo e mal, horrendo, e sei que estes que erram são por natureza meus irmãos, não de sangue, mas por serem todos dotados de razão, e participarem do divino” (Escrito entre os Quadi no Rio Gran)...
Todas as vezes que leio esse pedaço de capítulo, tento sobreviver a pessoas que vivem somente para o mal (ou menos que isso, claro). Dessas que nunca dizem “bom dia!”, ou mesmo “tchau, até amanhã”, mas principalmente dessas que burlam sua personalidade pacifica ao ponto de deixar-nos com o pior aspecto astral desde a hora em que chega a algum lugar até o fim de sua presença no dia...
Ao ler,  reflito acerca dessas pessoas, tento não pensar em Hitler ou Mussoline – ditadores-homicidas da história que deixaram rastros de dor e  que até hoje ao serem lembrados nos dão a impressão de que ainda podemos ser assombrados pelos resquícios de seus pseudoensinamentos que, com o tempo, ganham mais adeptos.
Sei também que somos pacíficos de sê-los, não da maneira como foram. Podemos sê-lo na negação consciente ao próximo, no destruir de uma amizade, de uma família... Enfim, o que um dia nos parece impossível, mas que, mais tarde, pode vir a ser tão natural quanto o ar que respiramos.  Não podemos deixar a tanto.
Por isso, penso nessa máxima estoica como mais um tijolo, não como um referencial, para montar uma estrutura maior que eu, dentro de minhas possibilidades. E sei o quando é difícil, mas Marco Aurélio sabia e dava aos seu soldados a batalha, e nela a possibilidade de ter um ideal, podendo o soldado morrer como um simples ser humano, ou um herói. Porém, sabemos que, no estoicismo, herói somente seria aquele que vence a si mesmo. Podemos ser heróis que nascem com a alma elevada, ou procura sê-lo,  ou simplesmente um  humano a reclamar da vida, das pessoas, da sociedade, do mundo...
Então, “desde o raiar do dia”, tentemos, como nossas ferramentas, lidar com pequenos seres que tentam exterminar nossas possibilidades de crescimento, pois sem eles, não haveria a contrapartida do universo – pois nem todos os seres são maus, ou mesmo totalmente bons. Marco Aurélio nos convida a nos harmonizar não somente com as coisas belas, mas principalmente com valores que fazem parte da esfera humana, ou seja, com pessoas que tem a índole separatista, egoísta, interesseira, mas que fazem parte do todo também, e que sem elas não podemos nem tentar ser que queremos ser... um pouco divinos.

(volto com mais pensamentos)


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Cavalgando com o Mestre (I)


Ave, imperador!

Nesses textos que seguirão, pretendo levar ao leitor um pouco da filosofia greco-romana, a partir de um general-filósofo, que, em meio a batalhas, conseguiu escrever suas anotações de modo a vivenciar cada aspecto de sua vida com profundidade, tendo como referencial o estoicismo, uma escola criada por Zenão, e que tivera grandes discípulos, tais como Epíteto e o próprio general Marco Aurélio. E há quem diga que, até mesmo o discípulo Paulo, o guerreiro de Cristo, bebeu na mesma água.
Nascido em Roma, conhecido como o imperador filósofo, de uma família de prestigio, herdou uma das maiores fortunas de Roma. Mas foi com o escravo Epíteto, considerado por ele seu mestre, que Marco Aurélio sentiu a necessidade de algo espiritual em sua vida e, assim, assimilou a filosofia tradicional e tentou vivenciá-la ainda que sob os grilhões de uma Roma em decadência. Mesmo assim, segundo historiadores, seu império foi um dos melhores pelo qual o povo romano passou.
Nas batalhas, o imperador se via ameaçado, às vezes, ameaçador, mas, antes de tudo, um filósofo que escrevia suas Meditações, que, mais tarde, em várias línguas, foram traduzidas como um dos melhores livros de filosofia estoico. Muitos veem Meditações, de Marco Aurélio, como um livro de autoajuda, porém, sinto muito a esses, pois, embora possua o livro palavras de incentivo, traz uma filosofia prática, forte, romana. O que, em termos gerais, significa que, antes de nos sentirmos bem ao ler suas meditações acerca do universo e do homem, teríamos que nos abster de valores modernos, na tentativa de elucidar nossos próprios mistérios, pois cada um de nós somos um pouco Marco Aurélio, cada um em sua batalha, mas também somos Nero, a discriminar e a queimar nossas possibilidades de crescimento, graças ao nosso vadosismo.

O Guia do Imperador

Marco Aurélio, que sempre amou sua família, assim como todos nós, reverenciou a todos aqueles que lhe deram um ensinamento involuntário e particular. No livro, agradece a todos, seu avô, ao pai, a mãe, ao bisavô, ao seu tutor, cada um em um agradecimento especial, que o levou a ser o que era, um homem gentil, humano, firmado em suas convicções, mas que nunca, jamais esqueceria da coluna mestra que o cultivou até sua morte – a família.
Aqui, nesse texto, vamos tentar traduzir algumas das passagens clássicas do livro de nosso general-filósofo, que, depois várias compilações, transformou-se em o Guia do Imperador.
É necessário, no entanto, lembrarmos que Marco Aurélio era estoico, uma escola de filosofia que, depois de Cristo, tentou resgatar um pouco a filosofia de Sócrates, e o que temos notícia é de foi a que mais fez, de modo simples e profundo, nos trazendo a todos desse século – complexos que somos – uma realidade da qual todos podem participar, mas sempre com vistas ao espírito, aquilo que dorme como criança no mais infinito de nosso racional.
O estoicismo peca pela complexidade, dizem alguns especialistas, mas, ao lerem acerca da vida de Marcos Aurélio e Epíteto, sabem que a dificuldade não se encontra na escola estoica, em sua filosofia, mas em nós mesmos, porque nos tornamos robôs frios, que se enclausuram em nossas almas, revelando-se na maioria das vezes animais, vegetais e pedras ambulantes por falta de referenciais.
E o estoicismo pede que trabalhemos essa parte interna tão intensamente, que, ainda que em meio a um mundo desabando, sejamos capazes de sorrir, amar, viver como um jardineiro a cuidar de suas rosas tão belas e harmônicas com aquele universo. As rosas, nesse caso, seriam o que temos em excesso, mas também o que nos une a Deus, mas não há como podá-las sem a vivencia prática, pois somos humanos, acima de tudo. E mais, possuímos uma natureza que nos faz religar com o divino, a qualquer hora, aqui e agora.


Volto no próximo texto...

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O Homem e o Verso do Uno: o sagrado

O Sagrado e o Profano está em tudo.

Terminamos o texto anterior falando sobre o sagrado, que não seria somente aquilo que denominamos, a grosso modo, como o  que nos exigiu ou exige sacrifícios, mas seria, aos olhos dos grandes do passado, ou melhor, das grandes civilizações, como tudo que se respira, se vive, se move, ou estático, como os minerais, mas que apresentam átomos, prótons, elétrons burlando em suas estruturas internas tais qual a de qualquer ser, ou seja, não apenas no homem e seus feitos, no homem e em suas religiões, mas principalmente no que considero em Deus, ou seja, em tudo.
Não vamos minimizar, claro, o que refletem atualmente acerca do que é sagrado. Pois há uma relevância baseada em preceitos psico-religiosos. Explico. Hoje, há mais do que um modo de vida quando se trata de religião, há um modo de vida escolhido por quem a defende. Uma escolha, que na realidade vai fazer efeito pelo resto de sua(s) vida(s). Por isso, dá-se, atualmente, como sagrada a escolha, a seita, a religião, enfim, tudo que exige um belo sacrifício.
Respeitemos, então, esse conceito. Mas nunca nos esquecemos de que, se levarmos em consideração que sagrado se refere apenas ao que denominados como tal, cairemos na face de uma moeda que nos exige questionar o que não é sagrado.
A principio, segundo conceitos atuais, seria tudo aquilo que é feito pelo homem, não direcionado a qualquer dedicação religiosa ou familiar. Até aqui, fica fácil de racionalizar, mas o que fugiria tanto desses dois aspectos que não seria considerado sagrado – e sim profano? Talvez a própria maldade humana. Porém, até mesmo ela (a maldade) tem seu por quê; tem seu inicio e fim. Até mesmo a maldade existe em determinados mitos com fins simbólicos. Mas a maldade humana tem fins simbólicos? É uma pergunta difícil de responder...
Sabemos, no entanto, que a natureza humana possui um leque de possibilidades – graças a uma personalidade nascida para tanto – dentro das quais podemos colocar o mal e o bem como extremos, em qualquer nível – o noticiário está aí!
Ou seja, podemos ser deuses ou demônios sem saber. Porém, uma coisa é certa, até mesmo os demônios são deuses em algum nível, pois participam de sua natureza com fins de modificar, quebrar, desajustar, retirar, separar, matar, desfazer tudo que os deuses o fazem, mas com outras finalidades, como a de unir, integrar, adicionar, reintegrar, dar, etc, ou seja, estamos em esferas dúbias, com propósitos de nos elevar, chegar ao topo, subir montanhas, entender o mistério da vida, mas para isso temos que descobrir que o sagrado não é apenas um conceito vago, cristão, budista, mas principalmente aberto, porque tudo, segundo a tradição, é sagrado.
Baseado em nossos devaneios acima, podemos dizer que o homem é ser sagrado, que pode se ajustar de acordo com tais premissas, mas deve, por obrigação, conhecer o lado negro antes mesmo de ser um Cristo; deve, sempre, em suas possibilidades, ser um guerreiro, um herói em seus afazeres, pensamentos, atos simples ou não, determinando, a partir deum pequeno lavar de uma louça ou mesmo em uma decisão que pode modificar um país, que seu trabalho material é uma necessidade universal para se chegar à compreensão de si mesmo, desse modo, vivendo em harmonia com o todo.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

O Homem e o Verso do Uno -- entendendo os deuses

Não ter medo do mistério, ele faz parte de nós.


No texto anterior, falamos um pouquinho sobre os mitos, os quais foram presentes em determinadas épocas com a finalidade de o homem conhecer um pouco a si mesmo e o universo que o ronda. O mito é uma realidade atemporal e possui, em si, essa possibilidade, pois há nele elementos para tanto...
Contudo, o homem não se pode ver separado do universo, como se fosse um ser especial com finalidades especiais, mas sim entender que nascera com uma consciência – como diria os indianos, um Kama Manas (mente egóica)--, refletindo suas debilidades, como o egoísmo, a inveja, os interesses, o que o estaria prejudicando em sua evolução como ser humano.
Daqui, dessa mente, nasceriam vários mitos – como o de Prometeu, que dera o “fogo” (Kama Manas) à humanidade, e fora castigado por Zeus mais tarde; Narciso teria se apaixonado por sua imagem (egoísmo em Manas); quando Ícaro desobedecera ao seu pai e caíra nas águas (dúvida em Manas)...
Enfim, uma série de citações simbólicas teria demonstrado a voluveidade humana a partir de sua consciência, esse presente divino. Porém, acredito que após várias gerações, ao entender que possuímos artifícios para domar a mente, transformar nossa estrutura, e nos elevar, a personalidade – um conjunto de valores natos criados por opiniões que se transformam em um outro ser – cria uma barreira, um muro, às vezes, tão alto, que nosso papel, a depender de nossa vontade (egoica), conseguimos escalar ou não...
Explico. A personalidade – nosso físico, astral, intuição, desejos... – desde que viemos ao mundo, se torna um ser mais forte a cada dia com valores opinosos, os quais criamos com nossas leituras, experiências, educação, etc, e sabemos o quanto podemos ou não ascender ou ao espiritual – Isso é uma aventura de cada um.
É por isso que, no passado, preocupavam-se muito mais em dar a real educação (edutiere, o que é de melhor, de fora para dentro) aos escravos que nasciam, aos príncipes, aos reis, de modo que entendessem, inicialmente, o que era o ser humano e seu papel na Natureza.
Grandes generais, entre eles, Júlio César, tiveram essa educação honrosa, baseadas em preceitos antigos, a qual se dava apenas em escolas fechadas, como o estoicismo, epicurismo, entre outras, e que serviam como um conjunto de peças essenciais aos cidadãos romano, grego... Enfim, eles respiravam uma realidade que se contaminou com o tempo.
E dentro dessa esfera educacional, nada era feito por acaso, pois se criara uma ponte entre os deuses e o homem, uma ponte chamada religião. E traduz-se religião tudo aquilo que se religa a Deus, ao próprio universo, a si mesmo – Deus estaria em nós, principalmente. Era o religare, não o “rotulare”, como hoje o é.
A exemplo teríamos Roma, na qual havia deuses em todos os lugares, pois Deus estaria – dentro do que acreditavam (não apenas eles) em todas as coisas, por isso determinar, de acordo com a circunstância, o lugar, a atividade, a atemporalidade, o nome do deus, como Ceres, da agricultura; Mercúrio, deus do Comércio, entre outros. Tal mentalidade, assim vejo, daria mais possiblidade concatenar o homem com suas atividades – aqui sagradas – e por consequência, com as potencialidades: deuses.
O Homem enfim seria uma partícula dotada de conhecimentos voltados ao sagrado, a Deus. E quando digo sagrado, não seria apenas o que favorece o ser humano, mas tudo que estaria no lado obscuro do próprio homem, como  suas debilidades internas, advindas de sua própria personalidade, a qual, nem sempre, estaria de acordo com seus universais...
Sim, porque, sem tais debilidades, não teríamos jamais a involução histórica humana! Tudo isso também seria sagrado, divino, e seria Deus também. E os sábios gregos, egípcios, romanos, persas, indianos sabiam disso, pois o conhecimento é muito mais para poucos do que para muitos – ou seja, apenas aqueles que realmente davam valor ao espiritual baseado em preceitos tradicionais é que sabiam da necessidade de sair das cavernas (personalidade) e ganhar o sol (espírito).

Falemos nisso mais tarde...

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O Homem e o Verso do Uno

"somos deuses e disso nos esquecemos"

Muitas nações civilizadas do passado um dia tentaram copiar a forma do universo em suas cidades – assim como Roma, Egito, Grécia – de maneira que o todo fizesse parte de seu dia a dia, não distanciando, assim, o homem de sua natureza. Era uma das formas mais espirituais já constatadas pelos historiadores, que, dentro de suas experiências módicas, foram a fundo e conseguiram entender que o homem clássico sempre seguiu uma filosofia distinta a de hoje.
Sim, pois, nada nos faz crer que o homem atual tenta copiar formas universais com vistas ao respeito a qualquer entidade, a não ser que exista, em algum lugar do mundo, alguma civilização que o faça, mas que ainda não fora descoberta... Como uma sociedade indígena, talvez, que ainda, em sua praticidade diária, sobreviva fazendo orações  ao sol, à chuva, e respeitando à caça aos animais.
Talvez... Mas, no passado, esse período dentro do qual viveram os arianos (Índia), egípcios, maias, incas, ou mesmo persas, não foi apenas uma época na qual o homem tentava copiar seu meio de vida em conjunto com o universo, não. Havia uma filosofia de vida – principalmente entre os seus regentes – a qual sintetizava a tentativa do próprio homem (como um todo) assemelhar-se ao universo, e isso advinha de outras épocas tão passadas quanto.
Muitos falam de Atlanta, outros de dilúvios cristãos, gregos,  nos quais sábios deixavam seus conhecimentos após o término de uma geração, e  destes ainda teriam saído as ideias de manifestações piramidais, as quais, em si, possuíam a ideia de comunhão com o universo. Por isso, réplicas delas em vários países diferentes.
Não se sabe a idade dessas construções, nem mesmo como foram feitas, mas aquele que a levantou sabe da profundidade e da importância em manter tal obra às gerações posteriores, ainda que sob dúvidas irrelevantes acerca delas – quem fez, como fez, com quê, etc.
Sabe-se que nessa época maravilhosa, na qual fomentava um momento reflexivo intenso, o uno e o homem conspiravam a favor de uma evolução em conjunto, pois o “Conhecer a si Mesmo” estava fervendo como larvas vulcânicas. Nessa mesma circunstância, os Vedas, talvez o livro que resguarda seu valor simbólico mesmo depois de muito tempo, foi feito pelos sábios indianos que inspiraram valores da atual Índia. Mas o homem nunca é o mesmo...
E continuava a fluir a filosofia forte em relação ao uno e ao ser humano, agora, em forma de mitos. Tais formas de histórias que possuem peças humanas, animais, e formas universais, em versos ou legados espirituais, conseguiram poupar o homem simples de sua procura por entender a Deus, pois ali estavam articulações necessárias que o religavam ao todo. Algumas formas de mitos traduziam uma época – como o da Caverna, de Platão – mas muito mais o comportamento humano diante de suas fragilidades, e do próprio universo.
E o mito se tornou peça principal – principalmente na prática diária – no sentido de o homem saber lidar consigo mesmo e com o mundo em que vive, pois no mito as potencialidades criaram vida – antropomorfizaram-se – e se tornaram homens e mulheres semelhantes a nós, mas com poderes de mudar nosso próprio destino. Aqui, muitos filósofos alertaram os escritores para que não fizessem com que as divindades se assemelhassem aos homens, pois, dentro de poucas épocas, entenderiam que os deuses fossem pessoas reais, o que não seria verdade. Os deuses são manifestações, potencialidades naturais, sem as quais nada existia, isso desde o verme que se conhece até a última partícula universal que se quer descobrir...
O mito foi um dos instrumentos necessários em uma época para o autoconhecimento humano. Mas outras ferramentas surgiram e se tornaram tão essenciais quanto ele.

(Falamos nisso mais tarde...)

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Prelúdio de Uma Saudade (final)



Uma mulher. Uma mãe de Verdade.


"Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento."
C.D. Andrade



“Churrasco com muita farofa é sinal de pouca carne!”

Queria ressaltar um pouco mais sobre minha mãe, terminar falando de uma pessoa valente, destemida, que lutou até o fim de seus dias por nós. Falar um pouco, agora, do que a levou de nós, de sua braveza, de sua valentia, coragem... Enfim, um pouco mais sobre uma senhora que se transformou em uma estrela que nos conduz, todos os dias.

O Início da Teimosia
Minha mãe sempre foi teimosa, desde criança.  A teimosia em querer resolver problemas alheios, a de cuidar dos filhos, netos, bisnetos, e não de si mesma; a de cuidar das doenças alheias, de seus filhos ou não. Enfim, sua jornada teve uma esfera maravilhosa, dentro da qual podíamos espreitar de longe, ou de perto, o que ela era realmente: um ser que resolvia tudo.
Entretanto, as leis naturais da vida nos diz que somos ignorantes perante ela; diz que somos crianças felizes brincando em campos minados, nos quais, ao saber que há bombas em algum lugar, acreditamos que nunca uma irá explodir conosco.

“Não corte o pé de uma mula teimosa, você pode precisar dela, meu filho, mais cedo ou mais tarde” – sobre pessoas que de caráter duvidoso...

Minha mãe, ao dar a alma por todos, esqueceu-se de se cuidar, de se amar mais. Um grande exemplo disso era a sua perna esquerda, na qual havia um problema sério (na pele), que exigia dela tantos cuidados quanto o de qualquer pessoa ao seu redor. Ela, disfarçadamente, passava um remédio ali, uma faixa aqui, mas nunca quis tratá-lo com afinco, pois acreditava que iria perder a perna... E o tempo se passou.
Tal problema ficou com ela durante anos, mas se aprofundou após constatar-se que ela tinha principio de diabetes. A luta não tinha sequer começado. Depois de várias andanças em busca da resolução de problemas – burocráticos, ou mesmo uma pequena caminhada valorosa para aquecer os nervos – fez de minha mãe uma pessoa  incansável, mas, quando chegamos a uma certa idade, desconhecemos o que nos fez realmente mal no passado, e insistimos em pontos essenciais que nos prejudicaram. Tipo o açúcar em excesso, o sal em excesso, a gordura animal, enfim, tudo que nos fez mal nos fará mais mal ainda numa idade avançada.

Médicos diziam que não poderia comer doce de manga, mangas, bolos; e além de tudo, tinha que desfazer do excesso de sal. Ela tinha uma doença na qual os excessos deterioravam o mais forte humano, se este não tiver o cuidado na juventude ou mesmo na infância. E minha mãe caprichava, às escondidas, em tudo que não podia. Enfim, unindo problemas anteriores com os atuais, a valente senhora iniciou um processo de dor acuado do qual só ela, e mais ninguém, poderia retirar o triste aprendizado.
A Dor da teimosia
Quando estava realmente a vista, sem que pudesse esconder, seus olhos de criança  choravam internamente o que a realidade demonstraria mais tarde. Em casamentos, em reuniões, em fins de semana, seus movimentos, que eram céleres comparados aos das minhas irmãs mais novas, começaram a claudicar. Seu astral, que nos conduzia ainda que de longe, pelo respeito, começou a se apagar. Seu respeito, no entanto, crescia à medida de todas as coisas.
Não era o bastante, entretanto, a teimosia continuava. Achava que com remédios alternativos a coisa consertar-se-ia com o tempo; achava que, com o passar, médicos deveriam ser deixados de lado, pois as fórmulas dela estavam dando “certo”.

“Vai cair alguma coisa?”, frase dita todas as vezes que eu me negava a fazer um trabalho considerado de mulher.

Não estavam. Por ficar em evidência tudo que seus olhos tentavam nos esconder, não pôde ficar com suas dores no anonimato, e fomos obrigados a intervir como furadeira  no cimento mais forte do mundo. Minha mãe não aceitava ajudas, pois sabia que médicos atuais possuíam métodos modernos  que retiravam, a seu ver, o pudor que antes (em sua época) eram tão resguardados.  Aqui, soava a tradição arcaica, na qual senhoras da década de cinquenta, ainda hoje, sob grilhões, são levadas a aprender, mas a resistência de minha mãe era maior do que qualquer avenida.
A Divina Palavra
Muitas vezes desistimos. As expressões “glória a Deus” e “vai me libertar de...” eram repetidas milhares de vezes como mentiras que viraram (Há séculos) verdades. Todas as vezes que se colocava o nome Deus na frente de vários de nossos problemas, tudo, para ela, considerava-se resolvido...
A religião, para minha mãe, desde que veio para Brasília, tornou-se uma muralha entre ela e mal do mundo.  Era de assustar. Poderia vir até ela o mais sábio dos homens com seu intelecto de Haward, e não adiantava, noutro dia este homem estaria sorrindo pelas palavras fortes e rápidas, e se modificaria com elas. E mais, jamais esquecer-se-ia da senhora simples, sem didática, sem afinidade com as palavras, mas, ao pronunciar Deus, o mundo parava...
Nesse aspecto, eu sempre a invejei. Eu queria muito acreditar em algo que me desse força, firmeza, paz, amor, bondade, de uma maneira que somente tocando  no nome desse algo eu ficaria mais forte ainda. Assim era a relação de minha mãe com Deus... E eu a decepcionei.
Depois que comecei a ler livros clássicos, parei em um curso de filosofia que a fez desabar. Adeus ao menino que seria , segundo alguns, o pastor ou mesmo o ancião da família. Ou seja, ela tinha jogado todas as cartas em uma pessoa que lia demais. Esse foi o meu mal (?), diziam ela e meus irmãos.
Não foi não, minha mãe, com minhas convicções, estou sendo forte e um tanto quanto destemido tal foste um dia aqui do meu lado. Com o que tenho acerca dos céus e infernos, posso enfim, mãe, dormir melhor, sem espantos. Mas sei que a senhora dormia melhor do que eu, pois tinha suas convicções mais fortes ainda presas ao seu coração. Eu ainda falho nesse quesito. A senhora era a melhor de todas as mulheres nesse fim.
Minha mãe e eu
Ela tinha um carinho mais forte por mim, não há como negar. Por vir ao mundo muito bem, mas, graças a um pequeno problema chamado caxumba, tive que ficar no hospital por meses, e, segundo alguns, quase me fui. (quase) Morri. (quase) Passei dessa pra melhor. Infelizmente estou aqui. Não fui, mas ficaram resquícios físicos de minha luta. Mas nem tudo é mal, como se diz. A gente só não conhece o lado ‘b’ da moeda.

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“Desde que eu me conheço por gente, eu tomo esse remédio, e nunca morri!” – dizia todas vezes que sentia incomodada quando questionada sobre seus remédios.

Eu, pela grande força que ela me dera durante toda minha vida, a amei e morrerei assim, com esse amor real, que só combina com o amor que tenho por meu filho de quatro anos, o qual nascera feliz e lindo, e graças aos deuses, minha mãe pôde conhecê-lo, amá-lo e dele cuidar um pouco.
Com relação à minha esposa  e a amizade com minha mãe, queria um capitulo à parte, mas tentarei, com lágrimas, expor ou melhor descrever:
Eu tinha uma linda e bela namorada, mas não dera certo. Fiquei com ela muito tempo. Todos se acostumaram, mas minha mãe a tomou como filha. Mas tal filha, por ser dedicada demais à mãe (minha), teve que voltar a sua mãe real.  Minha família entristeceu, e minha mãe, que aprendeu a amá-la, ficou tão triste que prometeu não amar mais ninguém ou chamar de filha qualquer mulher que eu a apresentasse...
O tempo, no entanto, mostrou-se depósito dos horrores – o que era ruim ficou no passado --, e deu uma nova filha à minha mãe. Após anos contra meu casamento atual, tive a oportunidade de ouvir minha mãe chamar, com toda a sua voz, minha esposa de filha, e mais. Há relatos nos quais, ainda sem a presença daquela, minha mãe teria comentado que ela, minha esposa, ela a melhor nora dela, em meio a algumas que ficaram estáticas quando adoeceu, ao contrário de minha esposa, que, com seu pequeno tamanho, mas de grande determinação, atuou como uma guerreira maravilhosa. Obrigado, amor.
Há episódios e episódios, e preciso me restringir senão...
A Guerra Maior
Mas minha mãe tornou-se um símbolo de guerra. Após a descoberta de um liquido negro na barriga que a fez literalmente parar de vez, acamada, enfim, pediu ajuda. Mas o mal só estava se mostrando em forma de um liquido que a pusera em choque. Nem mesmo o médico sabia o que era, no inicio, tanto que a fez voltar. Mas seu estado já nos fazia nervosos, e sua teimosia – pelo menos o que restava dela – mais ainda.
Após passar uma semana no hospital sob orações paralelas de vários irmãos de sua igreja, minha mãe havia voltado pra casa – foi a última vez. Foi direto para o quarto no qual resido com minha esposa, na casa principal. Lá, esperta, com os olhos atentos, respondia às perguntas de todos. Ao mesmo tempo, recebia cuidados à parte de suas filhas que haviam, até ali, se dedicado, além de minha esposa.
Mesmo assim, não foi o bastante. Uma semana depois, tivera que voltar ao hospital, pois não conseguia ingerir nada. Seu estômago não negociava nada, e expunha a realidade de uma doença que a corroía internamente, e não sabíamos.  Ficávamos inertes. Todos os remédios, todas as precauções tinham sido tomadas, mas muito tarde.

“Você é homem, meu filho. Você pode tudo”

A guerreira teve que passar por vários outros exames, e neles constatou o que os deuses até agora haviam resguardado apenas a eles, pois, até hoje, não há solução para essa enfermidade, a qual já levou milhões de seres humanos, bons, maus, lindos, feios, humanos, desumanos, cães, gatos... Tal qual ela mesma. Nada a ela se compara.
O Guerreira se vai
Durante todo processo, ficamos em frangalhos. Não estávamos acreditando. Eu queria processar o médico que nos havia dito, no inicio, que a mãe nada tinha, e a liberou. Mas a família achou que eu estava sendo mal educado. Então fiquei sozinho em meus pensamentos. Minhas irmãs, cada uma sofria mais que a outra – e ainda... – porque não havia mais pensamentos de esperança, apenas um só, aquele que ela nos ensinou, desde a mais tenra idade de cada um de nós... Deus.
Em tudo que fazíamos;  em tudo que pensávamos, em tudo que chorávamos, em tudo... Nada mais ficou em nós além dessa palavra que significava perdão pelos nossos erros. Significava muito mais. Tínhamos nela a verdadeira convicção de que minha mãe voltaria e seria aquela mulher forte, brincalhona (até com sua doença rs), amada, que sabia de tudo, cuidar de nós, e nós dela, e iriamos suprir essa falta que já nos fazia há semanas!...
Todos da Vila, até mesmo de igrejas católicas, evangélicas, presbiterianas, etc, na qual existiam pessoas que ela auxiliava ou dava sua palavra divina, rezavam por sua recuperação. Foi lindo, e ao mesmo tempo triste. Acho que faltaram orações...
Depois de duas cirurgias que a deixaram imobilizada, ela teve que passar por uma terceira, a qual, já sabíamos, seria a pior... (desculpe-me...).
Na noite de seu falecimento, eu e minha esposa tínhamos ido fazer compras, e na chegada a nossa casa, antes de subir o degrau que dava acesso à porta principal (morávamos no segundo andar de uma kit net), um telefonema chega à minha esposa, que atende. Minha esposa grita num apelo em vão. Eles queriam informar aos parentes do doente o que havia ocorrido. Minha mãe havia falecido apenas dois meses depois de sua última ida ao hospital.
O Que ficou
As dores, depois de sete meses, ainda burlam nossa alma como forma de lembrar o que aconteceu. Minha mãe tinha um tipo de câncer raro, que, segundo o médico, foi engatilhado em razão de uma emoção que ela poderia ter tido há, no máximo, três anos – o que nos fez pensar na perda de nosso irmão, o primeiro filho de minha mãe, João, que se dera há exatos três anos.
...E é possível, segundo constatei. As emoções também são concretas, pois atingem mentes, corpo, células, hormônios, enfim, desconfiguram as estruturas físicas, biológicas e psíquicas, e minha mãe tinha ido um pouco após a morte de seu filho maior.
Poeira, Batom e Lágrimas
No enterro, fizeram uma grande oração a ela. Seus irmãos de igreja me fizeram, enfim, chorar. Na colocação dos véus – os quais são tradição entre eles, os irmãos – fizeram em minha mente multiplicar, diante de meus olhos, mais de cem mães! E não aguentei.
Semanas depois, nos aparece um convite para participar de um evento em homenagem às cinquenta pioneiras de Brasília, e lá estava minha mãe entre elas. No cartaz, o rosto (que inicia essa homenagem no blog) dizia tudo sobre aquela que, apesar dos pesares, estava sempre sorrindo aos cantos e nos encantando.
No evento, fomos eu e minhas irmãs, mais um irmão. Uma plateia simpática compunha as cadeiras do pequeno auditório de uma livraria conhecida – a Cultura -- no qual se daria um momento inesquecível. Em uma tevê de mais ou menos quarenta polegadas, a aparição de nossa mãe, conversando com uma entrevistadora (realizadora do evento Poeira e Baton) que não poupava perguntas acerca da vida da mãe quando pioneira, nos fez transmutar em lágrimas...
Nossos corações ficaram comprimidos e quase não conseguiram bater de tanta emoção. Foi eterno.
Depois,  agradeci a realizadora do evento por tudo que fizera à minha mãe, deixando-a bem à vontade, e aproveitei para dizer que, sem ele, outras mulheres não seriam conhecidas pelo que fizeram pela Capital. Mas, pelo que percebi, minha mãe era a única pessoa mais simples de todas as cinquenta...
Obrigado
Mãe, não temos a audácia de crucificar a senhora por não ter se cuidado, jamais. A senhora já se crucificava por nós, esses marmanjos que chegavam chorando de suas casas, com intuito de levar seus problemas, e de lá sair sorrindo, enquanto a senhora, em sua santidade, chorava por dentro. Nós é que devíamos nos bater, como aqueles loucos que se batem com chicotes nas costas por não entendermos que a senhora é que precisava se abrir. Fomos egoístas, imaturos, infantis, e morreremos sentindo falta da senhora, que sempre nos pôs no colo e nos dava sua surra de palavras. Nós é que devíamos estar no lugar da senhora, pois não merecemos uma pessoa que jamais será esquecida. Enquanto nós...  Eu duvido que alguém lembre.
Obrigado, mãe, pelas horas, minutos e segundos de sua vida preocupando-se conosco. Isso é a maior forma de demonstrar um amor sem fim, mesmo àqueles que ainda nem sabe o que é amor materno. Não importa, a professora eterna não reprova seus filhos-alunos nunca, pois vieram de seu útero sagrado.
Aqui, agora, não quero filosofar acerca do céu ou da sua bem-aventurança. Irei chorar mais ainda. Então fiquemos com nossa ignorância, e imaginemos, com toda nossa crença, que um ser como esse que se vai, não morre, vira um ser maravilhoso tanto quanto o foi. Vamos dizer que está vivendo as férias de seus sonhos, sem as reclamações diárias, sem as andações, trepidações, aborrecimentos, enfim, está junto dos mais sábios homens e mulheres, aprendendo e revivendo seus melhores dias aqui, conosco.

“Meu filho, não vai haver nenhuma mãe como a sua mãe.”



domingo, 2 de setembro de 2012

A Solidão de um Texto


Imagem conhecida nas redes sociais.
 Poderia ser real.

Eu sou um texto. Normalmente eu venho das mentes humanas mais discursivas, racionais e, normalmente, mais poéticas-emocionais, em forma de poemas ou poesias, os quais refletem o âmago, o universo, o cosmo interior dos homens, ou antes de tudo o poço, o rascunho, a hediondez daqueles que morrem em vida.
Mas não deixo de ser texto, às vezes discursivo, narrativo, descritivo ou na maioria das vezes opinoso, que se veste de drama, invenções suprarrealistas, advindas de uma realidade fria, falha, e fina... Coberta de um sentimento falso. Mesmo assim, não deixo de ser esse mundo no qual letras, vogais e consoantes, se unem e formam silabas. Destas que se unem, formam-se palavras, e destas eu formo linhas que transformam em orações, e não tardam em virar períodos.
Queria falar destes seres que me constroem – períodos --, eles são belos por excelência. Lembram-me no inicio, quando os sumérios e suas cuneiformes escritas tentavam passar aos homens, através de mim, uma linguagem simples... serio! Na realidade, a simplicidade não havia, apenas na mente dos sacerdotes, dos reis, e mais tarde, na escrita sagrada dos iniciados, semelhante aos egípcios.
O período se iniciou e não tardou para surgirem os textos – olha eu ai! --  sagrados, mas eram tão sagrados que, nem se existissem faraós atualmente, teriam a capacidade de interpretá-los, apenas os antigos.
Mas não foram apenas os textos sagrados que ficaram restritos não. Houve uma época na qual o latin, advindo do Lácio, terra que virou colônia de Roma muito tempo depois, se tornou a raiz de várias línguas latinas (ou seja, latin), e, em uma outra época mais remota, muitos homens fizeram vários textos fechados com finalidades interesseiras, o que tardou a muitos compreenderem o que se passava ali, ao seu lado... Até hoje.
E ainda hoje, magistrados – doutores em Direito – usam dessa artimanha com outros propósitos, o de abreviar expressões que, em português ou espanhol, argentino são longuíssimas etc, mas também – ou melhor, com mais desejo, de imperar aquele sentimento de reis, sacerdotes, sei lá...
Mas eu, como texto, sou apenas um tradutor. Traduzi por muito tempo o sentimento de amor dos grandes amantes, que chegavam às damas, pelas mãos de um cavalheiro, que corria feito louco apenas para satisfazer a alma da amada; era extremamente belo... Hoje, se aparece um papel – não papiro como antes – cheio de letras escritas à caneta, rasga-se sem saber o conteúdo, pois o que vale, agora, são caracteres expressos em tela de computador, de maneira que nem eu sei se são ou não linhas, frases, períodos... o que revela não apenas a dificuldade de expressar o que há nos humanos, mas rapidez como o mundo está se transformando em um planetas de seres iletrados (sem letras), não românticos, pois é preciso amor nas palavras, no coração, e coragem para dizer “te amo” com todas as suas sinonímias.

Hoje, t. amo. T. q-ro; uma forma frágil e ignóbil de revelar o que se tem no fundo de uma alma que se prepara para ressaltar todos arquétipos internos, mas, graças à instituição criada pelos humanos com finalidades de castrar sentimentos, e fazer apologias ao que correram os homens de bem, nada mais se faz... Ou pior que isso, revela-se naturalmente uma característica que não nascera com o homem, contudo encarnou-se nele após o advento da sinceridade netiana (rede sociais), que é ser o um ignorante nas palavras, escritas ou orais, como se fosse algo tão normal quanto andar...
Eu não ando. Mas vejo que estou desaparecendo com o tempo. As palavras que enganam estão surgindo da boca de milhares, e ganham mais textos; é o chamado neologismo forçado, pois encantam, com pirotecnias verbais, não com finalidades sagradas – longe disso – mas para criar grupos que se viram sem gramáticas, sem leituras, apenas com o que tem nas idéias... O perigo vem daí.
E quando se falam em livros? É trazer à tona fantasmas de épocas nas quais Machado de Assis, Álvares de Azevedo e outros clássicos são vistos como criaturas estranhas ou monstruosas, a depender a quem se fala, pois estaremos espantando ou criando inimigos – ou pior, dando uma de intelectuais!
Os livros são pensamentos humanos, e muito mais que isso, são experiências pelas quais se passa um ser, ou muito mais. Podemos dizer que livros são o baú das culturas clássicas, modernas e atemporais. E, racionalmente, posso dizer, como diria um humano, um universo de períodos concatenados com ideais naturais e singulares de se compreender, por meio de letras, silabas, palavras, frases, períodos, e muito amor.

Eu sou um texto. Eu meu objetivo era transpassar o que antes tentavam os antigos homens. Seria, no mínimo, revelar os segredos de uma época com vistas ao respeito de cada sociedade, cultura, ou mais provavelmente, de cada homem. Não vejo mais isso... O povo, agora latões de depósitos criados com o tempo, tem a sua educação em particular,  tem a gíria, tem a linguagem de internet, tem os pequenos símbolos ao lado do computador como forma de dizer o que está se passando em corações e mentes – com pequenos corações, com travessões, dois pontos -- , enfim, não temos muita coisa, não temos nada... Temos apenas a frialdade inorgânica do ser humano como símbolos disfarçados de tudo, até de texto.



Uma imagem vale por muitas palavras. Uma palavra, por milhares de armas.

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....