terça-feira, 31 de julho de 2018

Nascimento de Uma Ideia

Estamos sempre em torno daquilo que é prático e daquilo que é teórico, e isso não é uma máxima. Nossos pensamentos, quando voltados a uma questão, seja ela qual for, planeja, investiga, vai a fundo, e quando acreditamos que há a possibilidade de plasmá-la -- ou seja, trazer à tona, desmistificando-a de nossas imaginações -- damos a ela a concretização de um personagem que pedia para ressurgir de nossas mentes, ou coração.

Por essas e outras temos que preparar nossas mentes, de modo que tenhamos apenas ótimas ideias, ainda que não tenhamos ideias. Explico. Se estou sintonizado com aquilo que me aprofunda ao nada, a lugar nenhum, ou mesmo ao mais sombrio do fosso, é  possível que, quando vierem ideias, serão todas do mesmo nível. Cientistas chamam isso de insigth. Trovões que anunciam a chegada de uma ideia.

Se elevarmos nossas mentes ao que é justo, belo e verdadeiro, ao que o ser humano normalmente tem dificuldades de ingerir, pelo menos na maioria das vezes, é possível que ideias incríveis nos tomem a mente. Muitos, nesse caso, por trabalharem em prol de algo, pela natureza que se lhes apresenta, pela essência humana natural desde a tenra idade, podem vir, mais tarde, a idealizar algo mais forte, mais espiritual, mais elevado que os demais.

Sim, há indivíduos que brilham, que traduzem seu comportamento em algo simples, porém belo e essencial à vida dos demais e em detalhes se distinguem: seja na construção de uma cadeira, seja no apertar de uma mão. Seu caráter inviolável nos traduz uma forma de esperança, dentro da qual podemos nos espelhar, buscar e refletir sobre o que somos. Tais indivíduos são espécies raras, naturais, no entanto, do mesmo lugar que saímos.

Por outro lado, há aqueles que ainda não desenvolveram suas ideias em prol de algo que brilhe, talvez não pensem nem mesmo em fazê-lo, mas outros, que o querem, que pretendem deixar rastros tão belos quanto os primeiros, sempre serão buscadores de referenciais, dos quais poderão retirar algo que lhes compraz, que lhe faça sentido. A esses, a vida sempre será um enigma.

Hoje, em função de modismos, de justiças corriqueiras, de éticas patrocinadas, detemos muto pouco do que realmente é preciso ao ser humano. Mas quando nos sentamos, refletimos e adotamos nossos próprios meios, baseados em grandes homens do passado, dos quais Justiça será sempre algo maior que nosso umbigo, dos quais Ética não é apenas um grupo detentor de leis e opiniões, aprendemos que uma ideia a se demonstrar é a ideia que vem do céu.

Nas comunidade Antigas, quando grandes cidades eram feitas baseadas no universo, quando havia a sincronicidade natural sempre com vistas a trazer aquela organização à terra, ou seja, quando temos a certeza de uma Ordem dentro da qual estamos inseridos, fica mais claro nosso papel ao lado de outro ser humano.

Não é preciso que façamos cidades, que nos espelhemos literalmente em nossos antepassados, somente é preciso que tenhamos a certeza de que nada é por acaso, que nossos relacionamentos são formas universais, assim como estrelas o são, assim como diferentes cometas, que passam voando em torno dos planetas o fazem, podemos ser semelhantes de maneira que usemos nossos corações e alma em torno de nosso universo interno para nos unirmos, mesmo que sejamos diferentes.

Se existem aqueles que possuem a essência ainda em baixa, ou melhor, que ainda não tenha a mesmo visão que a tua, não é preciso que tenhamos discriminações acerca dele ou dela. Marcos Aurélio, imperador romano, um dia disse que "O mais importante é entender que somos diferentes, mesmo que uns sejam bons, outros sejam maus, mas, assim como os dentes de cima e de baixo, podemos ser harmônicos".

Vamos nos sobressair acima dos valores relativos, busquemos melhores formas de pensar; reflitamos acerca do que é válido não apenas a nós, mas ao mundo; peçamos aos deuses -- ou a Deus, como lhe convier -- que os homens tenham arquétipos divinos como forma de referenciais, que seus atos cheguem pelo menos a brilhar no escuro, sem que precisemos de lanternas para vê-los.





segunda-feira, 30 de julho de 2018

Além de Mim

As correntes politeístas do passado sempre foram discriminadas, vistas como ignorantes, pela maneira como negavam a existência de um ser maior, a de Deus e sua onipotência, e onipresença, como se fossem crianças que teriam criado, do nada, outras formas de adoração. Não. A única forma de ignorância, talvez, tenha sido a maneira como algumas religiões supunham ser no passado, dando lastro ao presente de ser a melhor, a maior, a dona da verdade...

No Antigo Egito, uma civilização politeísta -- hoje com uma população mais muçulmana que egípcia -- era uma cultura que aceitava de bom grado clãs monoteístas. que nela se instalavam e cultivavam seus deuses. A maioria entendia, aceitava, entretanto, outras não possuíam essa paciência: não corroboravam com tal filosofia e buscavam meios de se sobrepujarem acima de tudo. Foi o caso de Moisés, grande iniciado, que era filho de hebreus, adotado pelo faraó Ramsés, informado acerca da respeitosa religião da qual fizera parte, resolveu bater o pé e formar mais uma.

Depois de ser influenciado pelo passado, para ser mais exato, pelo faraó Akenaton, o qual, como sabem, adotara o sol como princípio, extinguindo outras entidades, como Osíris, Hórus, Ísis, o que era uma blasfêmia na visão de muitos que já se acostumavam ao clássico jeito se de ser das leis egípcias, que sempre se sintonizou com a maneira natural de ser do universo, Moisés, de politeísta a monoteísta, levou seu povo a outra Terra, desfazendo tratos com seu maior irmão, o faraó. 

Nessa passagem, dizem, houve ameaças do hebreu contra o faraó, se seu povo, o hebreu, não fosse solto. Em estudos recentes, descobriu-se que Ramsés era conhecido pela sua espiritualidade, bondade, e que jamais tentou manter qualquer povo sob uma suposta ditadura faraônica, e apesar de conhecer e amar seu grande irmão, o deixou ir, pois todos possuem caminhos e entendimentos diferentes em relação aos ensinamentos sagrados -- caso contrário, todos seriam faraós!

O mesmo ocorreu do outro lado da Europa, quando cristãos, em 300 d.C, fizeram com que vários nativos nórdicos, os chamados guerreiros descobridores, deixassem milênios de educação religiosa para adotar o cristianismo de forma grosseira e impiedosa. Os vikings eram politeístas, tinham uma gama de deuses adotados como parte de sua vida, assim como outras nações, como a romana, a grega, nas quais o panteão não era diferente, mas caíam na embarcação furada dos cristãos, da forma mais cruel do mundo.

Todas elas tinham uma singularidade, um entendimento único em relação aos seus deuses, mas nunca, jamais, deixaram de acreditar no deus único. A questão, no entanto, vem do entendimento de quem domina, de quem acredita que tais nações, nas quais o politeísmo existia, não tinham opinião acerca de Deus.

Para elas -- as politeístas -- Deus não era racional, relativo, ou seja, não se poderia dele tirar nada, além de um "eu acho". A certeza morava nas relatividades humanas que necessitavam de deuses mais próximos, dos quais tiravam suas explicações, suas origens, a origem de sua própria terra! Já o Deus maior, o Onipotente, Onipresente, era demais em suas mentes, nas quais pairavam somente problemas humanos -- o que comer, o que fazer em relação aos filhos, às mulheres, ao mundo, enfim, um pouco diferentes dos nossos -- como pagar, como beber, como viver, como sobreviver --, mas nada que possamos nos subjugar.

Para os politeístas, que jamais forçaram a ninguém a obedecer a qualquer deus, não poderíamos deixar nas mãos de Deus problemas relativos, mesmo porque não se compreendia uma Inteligência natural, sobre humana, infinita, ou como diriam os vedas, o Parabraham, o impensado, o invisível, inato, enfim, algo que a mente humana não teria condições de abarcar. Então a necessidade de conjugar potencialidades, em meio ao que se poderia opinar. Daí nasceram os deuses.

Blavatisky já dizia que "Ninguém é dono da Verdade".



quinta-feira, 26 de julho de 2018

Nos Corredores (iii): adoradores de Cristo.

Após anos de estudos, unindo faculdade de Letras e especializações inúteis à Filosofia didática, uma pela qual pessoas do mundo inteiro amam entrar e não saírem mais, em razão do exacerbado modo racional com o qual lidam as esferas do mundo atual. Comecei a ler, para avantajar minha inteligência, que eu considerava a pior do planeta, acerca da biografia de homens famosos, como Einstein, Churchil, Stalin, Luter King, entre outros e receoso de ler sobre Jesus, porque havia e ainda há livros que distorcem fatos narrados sobre sua vida e morte; outros, além, dizem que  foi uma invenção muito bem forjada dos antigos, com vistas a trazer à tona um mestre que substituísse outros que estavam em voga há milênios... Jesus se tornou um novo deus.

A realidade me veio depois, e muitas dúvidas tirei sobre esse ser fantástico, o qual, dizem, nos salvou dos pecados do mundo, em uma cruz, assim, do nada. De alguma forma, tenho que dar a mão a palmatória quando nos referimos a Cristo. Se ele foi ou não o que representa mundialmente, fizeram um trabalho excelente no tocante à preparação, argumentação, práticas, mito, lenda, histórias, enfim, nem mesmo o mais engenhoso dos sacerdotes antigos teria feito um trabalho assim como qualquer outro indivíduo como fora feito para elevar um figura ao que foi levado Jesus.

Todos sabem que há elementos fortes, em todos os sentidos, que o personagem em questão carrega, pois fora trabalhado com elementos necessários, segundo pesquisei; ainda que tivera aspectos nórdicos, egípcios, essênios, gregos, com vistas a montar a sua imagem, ele realmente, hoje, mantém, acima de muitos, o respeito e força, vamos dizer, estelar, em se manter preponderante aonde quer que iremos.

E quando digo "aonde quer que iremos", penso em culturas nas quais há outros seres, como diria na antiga e clássica Índia, avatares, sobre os quais toda herança religiosa recai, fica, se alimenta e permanece, como na Japão, China, Taiwan, Laos, os quais, orientais, culturas quais sejam budistas, taoistas, entre outras, possuem cargas fracas, mas possuem, sobre a figura do crucificado.

A bíblia cristã, para mim, não era um meio confiável, porque era restrita demais em sua alegações, com as quais eu não concordava e por outro não entendia -- isso, antes de fazer Filosofia clássica! -- e em minhas tentativas, jamais, sozinho, pude entender uma só página. Havia situações duvidosas, a meu ver. Tudo me cheirava a estranho. E era. E ficava maluco com aqueles crentes que me convidavam a ler, a meditar, a praticar e ir às igrejas, e definhar no meio de outros que não cessavam suas leituras! Eu não entendia por quê.

Mas a realidade me bateu à porta. Todos eles tinham seu caminho, e a leitura não precisava ter coerência com seu cotidiano, como até hoje o é. O mais importante eles tinham: um salvador. Alguém que, antes mesmo que eu cometesse qualquer desnível na vida, já estaria pronto para me salvar de um mal que passasse, e ao se "jogarem" nos pés do redentor, estariam praticamente no céu.

Essa era a realidade dos homens que amavam a Cristo.




Volto mais tarde.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Nos Corredores (ii) Família ou Deus.

Quando pequeno, eu lia muito a bíblia cristã, e tinha minhas dúvidas acerca de tudo que lia. Normal. Eu só não tinha alguém que me poderia sanar essas dúvidas. Um dia questionei minha mãe a respeito de Deus, e ela uma devota mais do que outras, não permitiu que eu me prolongasse com a conversa. Para ela, claro, Deus era inquestionável, era a última instância das sombras humanas, sobre a qual não tínhamos muito o que saber, apenas a reverenciar, pedir e amar.

Entretanto, crianças cujas respostas não são aceitas ou não respondidas ficam com a orelha coçando e iniciam sua busca, perguntando até mesmo a quem nada entende. Normal. Os caminhos, percebi, tinham que ser aventurescos,  no sentido mais duro da palavra (que não existe no dicionário...), a qual pode ser lida como aventureira, cheia de ação, determinação; meus caminhos, nesse ramo da vida, por mais que eu não queira, foram os mais difíceis do que a maioria, e isso eu tenho a certeza.

Por ser um P.N.A, o que sei lá o que significa, mas que possui o direito de ingressos pela metade no cinema (!), desde os seis anos de idade, fui "objeto" de cuidado, não somente de minha mãe, mas de minha família, e por que não dizer de Deus...? Ele, segundo minha genitora, fora o responsável pela minha sobrevivência em um período em que a Saúde era pior do que a de hoje, em que hospitais só atendiam com ferramentas de mecânico... 

Não me lembro de nada, porém. Apenas dias em que caía demais ao chão e por causa disso mantenho minha cabeça com um "galo" na parte direita sempre cantando, e é claro, sempre sujeito a perguntas de curiosos, como meu filho. Mesmo assim, mesmo com tudo dizendo que não sou um mero ambulante normal, pois minhas pernas, mãos e braços possuem sequelas fortes da doença adquirida no passado, mesmo assim, não paro de questionar Deus, seus mistérios, seus fiéis, seu comportamento, seu tudo, seu nada...

Entretanto, com minhas buscas, desde a tenra elucubração acerca do Bem e do Mal, as leituras clásicas começaram a fazer parte de minha jornada, além de exemplos práticos de pessoas que seguiam e não seguiam religião. Todas elas, de alguma forma ou outra, possuíam semelhanças, em andado, em comportamento, em inteligência, em humildade, mas uma diferença me fazia mais astuto e burlador divino: Deus salvava alguns, outros não.

Até então, tenho em mim que tais diferenças sempre vão existir e que cada pessoa, seja em particular ou em grupo, vai conseguir se salvar, ir para o seu céu, seja com Deus ao trono, ou com as sete virgens a sua espera, ou com Alá, Buda, sempre os esperando em algum nível. A questão é que, hoje, se eu morresse, como um saco cheio de ossos  ao chão, sem sentido algum, não saberia para onde ir, ou se viraria um vampiro ao encalço de mulheres lindas para me fazer companhia... Não sei.

Tenho medo de virar um cientista, nesse sentido. Percebo, com meu estudos, que chegam a acreditar que somos apenas um aglomerado de células palpitantes, sobre as quais corre sangue, e acima desse, pele e mais peles, e assim por diante. Claro que é mais complexo do que isso, mas tais estudiosos acreditam na causalidade, que tudo não passa de uma mera forma de organização explícita, vinda de um motor mais explícito ainda, sobre o qual não sabe nada, e nem vão saber. 

O único cientista sobre o qual eu tive coragem de ler foi nosso amigo Einstein, que, de Deus, falava, se informava, e possuí sua opinião clara. Um dia disse, "Não acredito em um Deus que se sobressaia acima dos seres humanos e deles toma conta". O que me fez ficar mais reflexivo, mais perseguidor e questionador da questão, deixando de mão, em quase léguas de distância, minha família, minha mãe.

E por tudo, peço perdão a ela, mas não poderia deixar de entender questões que até hoje me faz um ser sem céu, sem chão, louco para conhecer o inferno, mas também para conhecer a mim mesmo. E quando vejo o sol, quando o vejo pela manhã... Quando tenho minhas inspirações poéticas, minha vontade mudar o mundo... Vontade de ir às ruas e gritar até morrer gritando, a dizer que temos jeito de sair dessa sombra horrível que paira sobre nós... Vejo muito de mim e um pouco de Deus.


terça-feira, 24 de julho de 2018

Nos Corredores do Passado (i)

Um dia um professor me perguntou, "por onde caminhas, filho?". Em princípio,  não entendi, e levantei a cabeça, e falei, "oi, professor, tudo bem, falou comigo?", em uma falta de concentração mais do que falha, nos corredores de uma sala ornamentada de deuses gregos, egípcios, dos quais sabíamos tanta coisa e ao mesmo tempo nada, no entanto, naquela hora, eu, aluno daquele lugar incomensurável e belo, estava cabisbaixo, mas pensante... "Ah, sim, professor, desculpe!", corrigi. 

"Para onde caminhas, meu querido?", salientou mais uma vez, dessa, com um sorriso estampado em seu rosto redondo como um sol, o qual descompassava com seus cabelos rentes ao coro cabeludo, híbrido de raças presentes e passadas. "Eu estou indo para a biblioteca, professor!", disse eu, retribuindo o aspecto facial do mestre. "Não, essa não é a resposta", disse, com outro ar de riso, mais acentuado ainda. "Diga, estou no caminho dos mestres!" - e saiu, com sua enigmática pessoa, acenando a outros que passavam por ali.

...Parecia-me a Grécia Clássica, na qual ambulantes (caminhantes) se tombavam um ao outro por não enxergar por onde andavam. Por um instante, eu estava lá, e quando me veio a figura do mestre, até mesmo a estrutura da escola se assemelhou às escolas de mistérios, nas quais discípulos e mestres, singularmente, se viam, dialogavam, refletiam suas questões mais complexas e voltavam a caminhar como nobres que eram.

Na realidade, não sei como eram exatamente as escolas de mistérios por dentro, mas posso pensar e de repente lá estou, como um pequeno mosquito que pousou na roupa de um Platão, de um Aristóteles, sei lá, e ouviu pérolas acerca do Mito da Caverna, da Justiça, do Amor, da Verdade, e dos deuses; das indagações profundas de Aristóteles sobre a Teoria do Mundo das Ideias, enfim, seria, para mim, o início real da vida.

Entretanto, fiquei-me questionando a respeito do que o mestre, no corredor, me disse. Foi-me mais que uma reflexão, foi um princípio, o início de um "Big Bang" no meu meu interior. Ainda que muitas coisas depois disso tenham me ocorrido, nada me tirou daquele momento, daquela indagação, que, tenho a certeza de que para muitos, não apenas a mim, teria sido ou foi o pontapé de uma nova vida... Contudo... Não foi. 

Em razão de minha origem humilde, de escassez de recursos capitais, da falta de responsáveis para suprir as necessidades básicas de uma casa, tive que quebrar muros, destronar princípios que eu nem sei se tinha, trabalhar na consecução de objetivos rápidos, levar uma família ao sentido de existência básico, e depois... pensar em Filosofia. Esse foi o meu erro.

Tudo poderia ter sido feito com ela, com esse fenômeno natural, que nos faz amar o conhecimento, ultrapassar barreiras, mas da ignorância, quebrar muros, mas simbólicos! reconhecer que internamente temos princípios e saber que objetivos são sempre objetivos, sempre respeitando seus trejeitos. Assim, poderia caminhar, livre, em nome de algo maior, ainda que fosse devagar, mas o que foi feito, foi feito.

Quando me encontrei com aquele professor no corredor, eu já tinha quebrado regras, ultrapassado limites, pisado em lamas, esquecido da hereditariedade natural das coisas, morrido e ressuscitado, e estado ali como uma testemunha de que a vida nos dá chances. Hoje, sei, te-o-ri-ca-men-te, que a vida não é injusta, mas justa em todos os sentidos; que cada partícula do universo tem sua relevância, tem seu trabalho; sei que trabalhar com o oculto é uma prova de ignorância e que para os mestres é prova de humildade. 

Aprendi que a vida que levamos é uma forma micro da grande e maravilhosa vida que nos cobre, nos assusta e nos faz acreditar em milagres, mistérios, deuses, passados e futuros, e sei que há uma grande Organização na qual não sabemos seu limite, mas que é extremamente fiel ao seu Princípio de Ordem.

E mesmo sabendo acerca de Princípio te-o-ri-ca-men-te, nos sentimos donos de nossas vidas, de vidas alheias, do próximo, daquele que nasce, do que nasceu, e até mesmo dos bens naturais, os quais já fazem parte do Todo há milênios! 

"Mestre, quanto ao caminho que para onde vou e passo, não sei, mas sei que a cada passo que dou, dentro ou fora dessa linha imaginária, sofro e volto, como um filho no colo da mãe; dessa vez, no entanto, em vosso colo".


segunda-feira, 23 de julho de 2018

A Sombra concreta do Nada.

Uma viagem ao nada. Mergulhando em lago dos horrores. Nem mesmo um galho para te salvar, escorregando nas pedras lisas no fundo das águas, desesperado, pronto para nada pensar, apenas em pessoas, atos, passado, futuro, nada de presente. 

Antes, escondido por debaixo das cobertas, como caracóis em perigo. Tremendo feito vara verde, preso por ideias lúgubres, arrancadas do fundo de uma alma doente, decadente, presa ao agora, como pequenos barcos presos por âncoras imensas.

O galho não vem, as pedras ainda lisas, a respiração falha, as pequenas bolhas já saem da boca em sinal de que o ar está rarefeito, pedindo ajuda à superfície, mas apenas a natureza escuta, silenciosa, fria, com sua música tenebrosa ao vento, ensurdecendo pássaros que testemunham a impaciência da morte.

Os pés já se cansam, dores se acumulam, lágrimas se vão na água, mãos se inclinam ao mais perto do que pode alcançar, e a mente, pensante, almeja a vida, mas ao mesmo tempo a não vida, pois escorrega não apenas em pedras, mas no que fizera em sua história breve, onde se escondera da verdade, como se desfizera da Justiça, quando sozinha se infiltrava no egoísmo de Gizes...

Sabia aquele filósofo que homem algum teria a possibilidade de ser justo em sua solidão, mesmo porque não sabe referenciar-se em algo imaterial, do qual nasce e para qual se vai. Não há provas contundentes de que o céu existe, o inferno existe, mas há provas de que a alegria e a tristeza são irmãs gêmeas, porém um má e outra gentil.

Por quê?! para que a eterna ignorância humana se debata sozinha quando não há nem mesmo uma brisa a seu favor, ou mesmo alguém que lhe possa dar o galho da salvação em horas tão precisas como essa... Não, não há. Mas há, no entanto, memórias que nos trazem o arrependimento de não viver o que os mestres nos ensinaram, ou mesmo aqueles que sofreram, aqueles que um dia passaram por deveras circunstâncias, nos ensinaram a viver novamente o melhor...

O mestre se desfaz em nossa mente e se transforma em um ato de terror nos transpassando uma realidade a que não conseguimos suportar, até que nossas almas virem pó dentro desse corpo maldito que um dia nos deram de presente para...Nada. 

Feito da mais perfeita célula, em tecidos e ossos se distribuindo, e cada órgão se ajustando na medida de sua justiça, ainda que perdidos em acidentes, se transformam e se inclinam a auxiliar um ao outro, nos dando o poder de nos locomover ao precipício, de chorar frente às guerras, de morrer em vida, caído antes de se ajoelhar em chão puro, nosso corpo foi feito pelo mesmo motivo que nós, humanos, tão fervorosos em praticar injustiças, presos como raízes em mentiras, a crescer como flores belas em hipocrisias, que se revelam como frutos, como potenciais para enganar até mesmo quem amamos...

Quem somos nós? Uma máquina presa a valores sem valor, a pirâmides de lixos internos, os quais são somas do que somos desde os tempos das cavernas, quando matamos ou mesmo caçamos pelo simples e mero prazer de fazer, sem nada a oferecer a ninguém, apenas a nós mesmos, e mesmo assim, sem nada.

Nos assemelhamos a bolhas, que na maioria das vezes, belas ou não, têm uma vida inclinada a subir, outras vezes a descer, a depender do vento, e plum! acabou, explodimos, sem mesmo saber o mínimo sobre o que somos, de onde viemos e porquê. Tentativas humanas no passado se sobressaíram em nome de uma humanidade cujas bolhas, pequenas e significantes, parecem ter conseguido fazer cócegas nesse grande oceano, ao mesmo tempo que, para  muitos, nada foi significativo, mesmo porque o que significa o que sou, para onde vou e porquê se não consigo lidar comigo mesmo, com pessoas, com animais, com a sociedade em minha volta!?

Aparece o fundo do lago. Ninguém veio salvar a vida, que, segundo muitos, não se resume apenas em viver, mas viver bem; ninguém ou nada me ensinou, nenhum animal doméstico me salvou, nenhuma pata, mão, chicote, pé... nada passou naquele instante. Morremos.







obs.: Não levem a sério esse texto. Só quero provar que somos leques com várias possibilidades de pensamentos, nos quais até mesmo a decadência humana tem lugar nele. Entretanto, busquemos sempre o sagrado, a vida, a Deus.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Oculto Frugal

Vamos deixar o oculto misterioso, desconhecido, assombroso, miraculoso de lado. Vamos falar dele de maneira... frugal, como diria meu filho, que está aprendendo a falar difícil, com seus dez anos! Mal sabe ele que faz parte de um milagre sutil da natureza, que o colocou no mundo para nos ensinar a combater a nós mesmos, como se fôssemos grandes guerreiros combatentes, com receio de atravessar uma velhinha na pista...

Não podemos nos aprofundar nessa realidade, nessa base da qual se manifesta toda sombra que nos rodeia. Não há nada de eterno naquilo que se vê, se toca, se constrói, apenas em sua essência que se mostra inalterável, indivisível, para sempre... É por isso que não devemos nos emocionar espiritualmente com o que temos, mas naquilo que se mostra por meio dela, por trás dela, como num texto cheio de palavras e períodos, esquecidos pelo homem, mas reguarda elevadas formas semânticas quando lemos.

Se nos apropriarmos de algo que não temos força, assim como muitos não o têm, poderemos, como ignorantes produzindo pedras ao invés de sóis, desalinhar um pouco mais nosso trajeto aos nossos ideais humanos. E é por isso que autores, além de estudiosos no assunto, pregam a não adoção do oculto como forma de vida. Ou seja, quando temos religiosos se manifestando em prol de forças ocultas com vistas a manipulá-las e transformá-las em espetáculos, em templos, pode-se dizer que aquelas formas ocultas, a que tanto chamam de demônios, podem existir em um determinado plano, no entanto chamá-las à tona como artifícios naturais para chamar atenção de seus fiéis, é um tanto quanto perigoso...

Em templos umbandistas, seguimento de religiões africanas, nos quais há séculos faziam reverências a seus deuses da terra e do fogo, nomeando-os assim como fazem os antigos, hoje seus "sacerdotes" trabalham como para-raios de seus santos, deuses, astrais de pessoas que se foram, e incorporam eloquentemente a fúria e a dor tal qual aquele indivíduo se estivesse presente... 

A natureza nos deu poderes naturais de descobertas, de vontade, de caminhar em favor de nossas elevações, evolução natural, sem precisar incorporar qualquer santo. Apenas aqueles que o podem e respeitam essa possibilidade devem fazê-lo, mesmo assim de maneira discreta, sem publicidade, marketing, de maneira que não seja um produto de venda ou troca.

O que nos resta é viver em função do nosso oculto, desse ser que nos deram quando nascemos e vai prevalecer em nossas almas até nosso corpo expirar seu prazo na terra. E posso dizer, por isso, que não há nada melhor no mundo do que sentir o oculto num abraço de mãe, de alguém que amamos muito, pois aqui não se guarda somente o aspecto físico, mas um sentimento que nos eleva a seres humanos reais, dos quais partem poesias, atos divinos, sacralidades abissais, quando encontramos Deus, no levantar e no dormir.

O que nos resta, muito além, é sentir o cheiro da rua molhada, da espera de uma namorada no portão, de um sorriso após um dia raivoso, de uma palavra amiga, e até mesmo de um grupo que se une com vistas a falar em paz, amor, harmonia, vida, palavras que nos atinge o coração. O oculto está mais que visível nessas ocasiões, pois nos faz mais quentes em enfrentar a vida, cheia de suas nuances contraditórias, sobre as quais dariam outro texto, mas o oculto é pura e simplesmente nosso ideal a ser buscado, para que possamos, com nossas ferramentas diárias, subir um degrau todos os dias.

Tente não sentir nada ao ouvir uma música clássica pela manhã, ou mesmo um texto belo que te eleva antes de dormir; tente não se emocionar com um criança lhe dando um pequeno presente ao saber que você não tem nada materialmente a dar para ela... Tente, só tente. Leia em voz alta sobre os grandes guerreiros e tente imitá-los em sua própria caminhada, assim como o faziam os leitores de Ilíada e Odisseia, Baga vagita, entre outros textos clássicos que sempre estão em moda.

Sejamos um Marcus Aurelius quando em sua saga a desvendar impérios escrevera acerca de sua filosofia de vida, de si mesmo, de um modo tão incrível que há muito o livro do Imperador tem sido a a fortaleza de muitos guerreiros modernos. 

O que nos resta do oculto é respeitá-lo e não buscá-lo além de nossas medidas, mesmo porque ele sempre está entre nós, a nos conduzir, nos puxando para cima, para o alto, e não nos cabe ir por aí a fora como especialistas divulgar bendições ou maldições sem conhecer de maneira frugal o que a vida nos dá.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Desfazendo o Sentido

Hoje, se tivermos uma conversa a respeito de mitos e lendas com um cientista, seja ele qual for, vai nos convencer de que tudo no passado nada mais era do que uma necessidade humana de sobrevivência na selva da ignorância, por meio da "imaginação coletiva". Para muitos, claro, estão certos, mesmo porque a prova de que os mitos funcionam é rasteira e frágil, sem falar nas lendas, contos que, para crianças, servem para fazê-las dormir...

É muita falta de consideração ou falta de profundidade? Acredito que a depender da linha que tomam podem parar em qualquer lugar, mas, de alguma forma, em algum ponto, ainda que obscuro, nos encontramos. Entretanto, o que fica em nossa mente é a maneira como exercem seu papel na sociedade, difundindo ideias sobre as quais sabem muito pouco.

Descobrindo, opinando, trabalhando, aludindo sempre a respeito do desconhecido, do oculto, como se fosse mestres que realmente descobriram o fogo! Mas mal sabem que a realidade é que nem mesmo o fogo foi descoberto, pois já existia na natureza, assim como vários elementos que o fazem vertical, amarelado, quente, forte, enfim, bastando ao homem apenas desfazer um pequeno véu e dizer... "descobri!" -- que coisa, hein!

A partir dessa linha materialista, se infiltram, se enraízam e dela tiram os frutos naturais da vida como se fossem os reais donos da árvore que deu origem aos animais, às plantas e às pedras, ah, já ia me esquecendo, ao homem... E o pior de tudo é que não aceitam que no passado, em nações como no Egito, por exemplo, sacerdotes ou cientistas sagrados tivessem explicações sobre-humanas a respeito do céu e da terra. O que vale dizer é que aquela vassourinha, que varre aquela terrinha que nos faz dá de cara com o esqueleto do dinossauro, é tão importante quanto um estudioso iniciático, clássico, que descobrira planetas com parcas ferramentas, que dera nome ao oculto, e por meio deles explicou o início do mundo, dos cosmos, e com meios sagrados transformou aquela época em uma das mais ricas estrutural e humana possível.

Não podemos falar em inveja. É apenas um caminho do qual se retira pedras e mais pedras, que um dia foram testemunhas e ao passo agentes de várias histórias nas quais o próprio homem, com sua relativa história, quer mudar, que desfazer, quer refazer e ser o principal agente do mundo. Aqui, percebo, a Ciência não é diferente de algumas religiões que antropomorfizam o oculto com vistas a fazer sobressair a figura humana.

Fora isso, o que mais me impressiona e não me passa pelas vias normais do entendimento, é ler a respeito de uma grande opinião, que pode massificar outras e transformar o mundo em algo que não se pode consertar. Uma coisa é perceber que não temos mais referenciais religiosos, políticos, filosóficos, e outra é pisar mais ainda em tudo isso ao invés de levantar o que matamos, como o conhecimento.

A Ciência, no passado, por meio do religare, sentido único da palavra religião, significando "religando tudo a Deus", não tinha medo de refletir e trabalhar com elementos físicos e ocultos, como o fizeram os alquimistas, os quais, em segredo, sabiam que a matéria nada mais era que uma ordem intrínseca, perfeita, mas que resguardava em si vários outros núcleos atômicos, que, com a força interna no próprio homem (alquimista), iniciado, que sabia lidar com oculto, elaborava até mesmo remédios.

Ao se desligar do sagrado, a Ciência sofreu amnésia, esquece-se dos mitos, que resguardam verdades, explicam universos, a vida do próprio homem, transforma civilizações, encanta o mundo e nos eleva quando damos o primeiro passo em direção ao seu caminho. Talvez essa beleza de explicação seja um tanto quanto semântica para que alguns homens de jaleco branco entendam o porquê da vida.


terça-feira, 17 de julho de 2018

Sombras do Oculto

Há milhares de anos, quando o homem se transformou em um ser pensante -- como diria um cientista, "após a Revolução Cognitiva"--, queria entender o oculto, suas manifestações no mundo material, desvendar o porquê da sua sutileza por trás dos ventos, nos nascimentos, nas transformações verticais, nas cores que, de alguma forma, não eram apenas cores e sim lençóis protetores de seus agentes.

Há milhares de anos, quando se iniciou a primeira caminhada em nome de seus objetivos os quais, naturalmente, o fez repensar seus passos, sua vida, seu mundo terreno, pensou acerca do mundo, de seu equilíbrio ante as forças desconhecidas, porém conectadas a ele, homem. Em nome dessas forças, procurou saber mais, muito mais.

Assim, para ele, ainda frio nas práticas usuais, na tecnologia, na falta de instrumentalidade, queria entender o inicio de tudo, do universo, e com o pouco que tinha explicou. Por meio de histórias fantásticas, de lendas e mitos, culturas clássicas do mundo todo, dentro que podiam, teatralizaram o início do universo, do cosmos.

O oculto não foi inventado. Lá estava ele, com suas minucias, a reverberar sutilmente em nome das potencialidades, com sua voz inaudível, sombra invisível, por trás de todos os elementos que conhecemos como visíveis. O papel do homem era apenas reconhecê-lo, não amá-lo e adotá-lo como deus ou divindades, mas respeitá-lo como era, como é e será.

Muitos autores, ao condicioná-lo (o invisível) às práticas de uma necessidade humana, tivera, claro, a melhor das intensões, mas foram longe demais. Graças a eles, sombras foram transformadas em deuses literais, potencialidades, em supostas imaginações culturais, em imaginários coletivos, enfim, graças ao devaneio do próprio homem cultural, cuja necessidade explicar o mundo era maior que respeitar o oculto, tentamos, até hoje, desfazer o que nos prejudica como homens que querem entender o presente e o passado.

Aí vem a Ciência, com sua falta de credibilidade, e nos cerca de racionalismos naturais daqueles que não acreditam no oculto e sim no acaso. Para a ela, a matéria anda por si mesma, como um motor físico e sem ele não vai a lugar algum. O grande motor do universo, até então, é procurado pela Ciência, graças àqueles que transformaram o oculto em emblemas supostamente nascidos na imaginação humana. 

Mal sabem os escritores cientistas que resumir a história da humanidade em imaginários coletivos é dizer que criamos tudo, até mesmo Deus, e isso é inconcebível. Não criamos, apenas plasmamos o oculto e o rotulamos ao nosso bel prazer. Isso não nos faz donos, ainda que acreditamos, do oculto e mesmo assim dele tememos, nós simplesmente não sabemos explicá-lo e quando há culturas que o sabem, há outras que pegam esse mesmo ensinamento e desfazem tudo!

Assim, os mitos se calam, as histórias são esquecidas, os contos tentam sobreviver, os sábios se escondem, os sacerdotes são partidários, dando à Ciência meios para juntar, assim como se juntam provas contra alguém, mais forças contra a Verdade. E por meio de seus observadores de plantão, como medo de entender o oculto, fazem descobertas físicas, mas "esquecem" que por trás delas o oculto pulsa, organizadamente...




A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....