quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

"Quando se Pensa que se Sabe Tudo, a Natureza Muda as Peguntas"

A Batalha de Achilles
 -- Parte II -- 




Não sei quem disse isso, mas foi o que constatei na realidade a veridicidade dessa máxima. Uma daquelas que nos obriga a refletir assim que nos ocorre, que nos faz pés no chão e mais sábios. Foi essa impressão que tive quando meu filho, de nove anos, sofreu um aneurisma, consequente de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), em outubro último. 

Foi de longe a pior coisa que poderia ter havido em minha vida (ou a de qualquer pai), desde que pensei em ter uma linda família, como a que tenho. Mas mesmo as lindas famílias -- ricas ou pobres -- possuem problemas, possuem maneiras de lidar com suas ferramentas e enfrentá-lo. No meu caso, foi uma das doenças que jamais pensei em ver em criança, principalmente a minha.

De viroses que dão dor de barriga a quedas, de tudo já passamos. A Natureza, como eu havia dito, me enganou. Deu-me um dos mais complexos problemas já trazidos ao homem moderno. A maioria dos pacientes, no AVC, ficam com sequelas, pois, a depender seu teor, atinge a parte direita ou esquerda do cérebro e também a maioria dos órgão externos, como um braço e perna, ou os dois. 

O Terremoto

Do meu filho foram os dois. Vou contar somente o superficial: meu filho estava pronto para deixar a virose que lhe consumia em dores na barriga. Foram dois dias tomando remédios caseiros. No terceiro dia, fomos obrigados a levá-lo ao médico, pois ele não aguentava mais. Ficou, assim, em repouso no próprio hospital, que cedera um pequeno quarto na ala das crianças.

Ficou bom. Fomos para casa. Ficou à base de remédios. Mas uma famigerada segunda-feira nos fez repensar o que somos, o que fizemos, para que viemos ao mundo e o que deixamos de fazer em prol de nossos filhos, e de nós mesmos. O menino de nove anos, que só tira nota dez na escola, que ama a todos em sua volta; que faz questão de ser criança; que ama loucamente seus pais e amigos, naquele dia sentiu uma dor feroz. Sua pequena cabeça doía fortemente e minha esposa acreditou que era enxaqueca, a dor que sempre dá em adultos antigos e em crianças modernas.

Deu-lhe remédios para cessar o mal. Não adiantou. Achávamos que, pelo medicamento dado, acabaria de imediato aquele suplício. Ledo engano. Peguei meu filho, apertei seu corpo contra o meu, pus minhas mãos em sua cabecinha, dizendo palavras de conforto... E nada. Uma coisa, depois disso, que jamais me esquecerei, acontecera: seus olhos viraram contra mim; suas lágrimas cessaram; sua voz, calma, não dizia nada com nada.

Sempre que conto esse episódio, meus olhos e coração se enchem de água. Ele, meu filho, estava tendo um rompimento de veia no lobo temporal do cérebro -- uma Amavi, segundo os médicos -- o qual, também, era responsável pelos movimentos do lado direito de seu corpo. Pedro não conseguiu falar, e quando o levei ao banheiro, a pedido insistente dos seus gestos... suas pernas estavam se arrastando, principalmente o lado afetado -- o direito.


(Desculpem-me, amanhã eu continuo)

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