sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Paixão: a Guerra de um Homem Só.



Às vezes é preciso se apaixonar para dizer o quanto somos volúveis como sacos ao vento. É preciso mais que isso; é preciso ir ao fundo do fosso e dizer “como vou sair, pelo amor dos deuses!”, e mais tarde chorar porque saiu e viu, de longe, em que se meteu.

É, como diz a palavra a ela cognata, é de se apaixonar!
Quão fogo, larva, dor, terremoto, e ao tempo luzes, flores, sorrisos, paz... E depois, guerra, sangue, dúvidas, loucuras conscientes... Enfim, uma gama de luas e sóis permeando nas janelas de sua alma e ao passo... Dentro!

Faltava-me subir as paredes, escalar montanhas com as unhas, enfrentar gorilas, leões, comê-los crus no almoço... Bem... Uma coisa foi bem certa: todas as vezes que me vinha à consciência de meu estado, eu refletia. Mas uma reflexão inútil, pois me tornava pior com cada minuto que restava, quebrando tudo, distorcendo minhas emoções, desvirtuando meus pensamentos, desmistificando meu caminho...

A consciência, presa à loucura, quebrava a jaula dos idealismos, da religiosidade, e o pior... da própria filosofia... Lembrei-me das obras de Wagner ao iniciar com um grande órgão e explodir com os instrumentais ensurdecedores!

A educação, esmerada num principio significativo – a do legado de uma tradição --, mostrava-se crua, sem gosto, também inútil. Tanto quanto uma lula sem seus tentáculos, minha educação tornava-se deficiente, ou invisível. Motivo: a paixão! Esse monstro cruel que destrói famílias, desconserta sociedades, descaminha heróis, retira a pureza das flores, e assassina a todos. Esse sentimento baseado no sem-principio, na matéria carnosa, no sexo, nos lábios, no corpo, nos encontros, no nada... é como um filho desgarrado a transformar um canteiro zelado por Deus em migalhas pisoteadas pelo Diabo.

Assim, a empurrar o homem do mais alto abismo, a paixão sorri do alto e conta mais uma vitima – eu. Sofregamente embriagado, desfiz de meus princípios educacionais, cai na lona vermelha da vida, a ser pisoteado pelos mestres, os quais nem me viram pedir ajuda. Todavia, fui culpado de tudo. E estava apaixonado!

Nessa selva fria, sem uma fogueira para alimentar minhas esperanças, sozinho, com os piores dos animais – eu --, me punha a gritar em silêncio em meio a zebras, onças, cobras, tal qual o mudo em uma tentativa vã de ser ouvido. Meu grito, todavia, era interno, a causar uma dor maior, a da solidão, aquela praticada apenas em prisões turcas, nas quais nem mesmo a própria mãe sabe onde você está...

A tortura começava e não tinha tempo para cessar. Minhas mãos, trêmulas com cada ato, burlava meu rosto, quebrava vidros; meu rosto, sem poder mostrar a aparência denotativa, caía na conotação da alegria explicita, sem mesmo mostrar os dentes.

Meu coração, coitado, a mais de duzentos por minuto, tentava, em vão, sair do corpo, como no filme Alien, o oitavo passageiro – quando o monstrengo, depois de se alimentar das vísceras, tentar abrir, no meio de nosso estomago, uma fresta, esticando nossa pele... Assim eu me sentia.

A paixão é um verme que nos comanda. Ter consciência desse verme é pouco. É preciso estar preparado disciplinarmente e quando encontrá-lo vivenciá-lo como um poeta. Assim eu fui... Ou tentando ser.

De uma coisa estou certo. O amor pode ser confundido com paixão. A principio, leve como uma brisa, perfumado como uma rosa-criança, e termina como tsunami na alma, sequestrando nossos ideais mais íntimos. O homem apodrece, cai à lona, morre, ressuscita, tenta se elevar, mas os pés não andam, os músculos doem, o corpo inteiro não obedece... A guerra ainda não acabou.

Os poros de minha alma, também dolorida, me fazem sucumbir às palavras mais singelas, mas continuo com o sorriso trôpego, andando ao encontro de minha vida, e sendo puxado pela morte, esta que dá gargalhadas à beira de meu ouvido ferido. Não há, nem mesmo, alguém que venha do céu e me auxiliar a morrer, ou viver, apenas a me pisar na seca de meus sentimentos...

Mas a paixão se solidifica, torna-se tão forte quanto uma ponte. Difícil de desabar, e ao mesmo tempo rangendo suas tábuas mais podres a cada passo meu. As cordas, no corrimão, fragilizadas... E, mesmo assim, forte.

Mas as metáforas da paixão serão sempre inacabadas quando se trata de expor os sentimentos na tentativa de compará-la. Nunca haverá palavra no mundo que demonstre o horror de suas características quando inclinadas a explicar o que sentimos.

Mas uma coisa é certa. Enquanto houver a mulher, esse ser que perturba e ao passo completa o homem, jamais na história da humanidade o homem entenderá o que é paixão – pois estará muito ocupado tentando se levantar da terra que o tenta consumir...


A todas às mulheres.
























R:)

Um comentário:

  1. Querido RegisBamaScorcese,

    você escreve pacas! Adorei o texto, poético, lírico e divertido. Ó, quanta angústia provocamos, não é mesmo? Pobres homens a se martirizar em nosso nome...Confesso que me senti muito poderosa!

    Parabéns!

    Abraços e siga nos brindando com textos legais assim.

    Dona Lu

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"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....