segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Fúria de Titãs, epilogo.


Chegamos, enfim, à nossa reta final!


Desde que pensei em discorrer acerca dos mitos, achei que fosse algo, como diria os gramáticos, “gratuito”... Mero engano. Não há nada de gratuito, é preciso ter uma razão, um motivo, primeiramente, com a finalidade de dissertar sobre algo tão profundo... No entanto, da maneira como se foi falado – por mim, claro – não havia nada de profundo. Eu, simplesmente, enrolei, e, claro, fui displicente, tolo, mais ou menos culto em relação à tentativa, não ao texto, mas ao assunto e consegui expor de maneira bravia (porém tola) um pouco sobre o assunto...

No último texto, citava a Caverna de Platão, uma alegoria mítica, que o filósofo teria feito supostamente em homenagem a seu mestre, Sócrates, que, à época, segundo se tem notícia, desvirtuava a política do seu tempo, corrompendo os jovens, em conceitos filosóficos sobre a verdade, amor, beleza, ética, moral, coragem... Enfim, conceitos que, em nossa época, também estão tão desfalcados de suas origens quanto no passado. Por isso, foi levado a tomar veneno como castigo...

Mas não vamos, hoje, falar de Sócrates, vamos terminar nossa discussão sobre mitos, esse ser maravilhoso que se esconde e se mostra como a ponte entre o sagrado e o profano. Vamos tentar demonstrar em linhas breves o que podemos tirar desse manancial que nos deixaram como legado, e que, infelizmente, o percebemos com olhos de soslaio...

Mídia

A Caverna de Platão talvez seja a mais simples de se compreender, tanto no quesito simbólico quanto no metafórico, porque já nos apresenta elementos claros de sua intenção. Mas que intenção? A de que estamos presos a algo.

Mas o mito transcende esse sentido. Não nos passa, de pronto, seu sentido real. Se nos leva a questões de nível psicológico, não é do teor simples como Freud, o rei da psicanálise, acredita. Não tem nada a ver com o aspecto físico, biológico, sexual do homem, ainda que existam interpretações para tanto, mas, ao contrário do que se percebe com nossas lentes, sempre o psicológico voltado à Alma universal, como foi dito em eloquentes relatos, nos textos anteriores. Mas o que nos fez ver o mito com se fossem historinhas de ação? Será que foi a mídia?

O papel da mídia tem sido preponderante para que a educação humana se desvirtue tanto. Se não fosse essa deseducação, que faz com que a distância entre a realidade das histórias, dos personagens, das palavras, e enfim, dos mitos fosse tão lastimável, teríamos, pelo menos, uma visão menos assustadora do que ele significa.

A culpa, no entanto, não é dela, da mídia. A culpa é daqueles que desceram os degraus da iniciação, ou melhor, desistiram de resguardar os grandes segredos e repassaram para a massa, o povo. Este, cheio de relativas ideias, e confusas, desfazem naturalmente, no entender dos princípios, daquilo que é realmente válido. Ou seja, ainda que achamos que seja triste o papel daqueles que desceram os degraus para repassar, cheio de interesse, sua sabedoria ao povo, e este, tão ignorante quanto pedras incrustadas em cavernas... Há uma necessidade por detrás de tudo de decair no fosso dos princípios sem significância os valores humanos, caso contrário ainda teríamos Roma, e sua fortaleza; teríamos a Grécia, e sua sabedoria; teríamos o Egito, e suas belezas, além dos grandes faraós reinando...

O mito, uma dessas verdades que virou mentira, ainda brilha como uma estrela ardente em meio a um sol maior ainda, mas existe. Seu significado abrangente, assegurado pelos sacerdotes antigos, cujo legado nada mais foi que trabalhar para que o homem moderno não atingisse o cerne, a sua essência, ainda baila na alma universal.

Fúria de Titãs

Uma prova disso ainda são os filmes hollywoodianos, que, por mais que tenham a ideia de clamar heróis a todo custo, buscando o mesmo objetivo nos mitos – por exemplo, na de Zeus e seu filho, Perseu, como demonstraram em Fúria de Titãs --, apresentam, antes de tudo, a relação cósmica do homem com o uno, com deus, sempre se dualizando entre o espírito (Zeus) e matéria (Hades).

O mito grego de Zeus, Hades e Perseu se transforma na busca de uma realização heroica no filme, o que descaracteriza completamente seu ideal. Contudo, ao observar de perto a cultura que há séculos nos deu Dédalo, Minotauro, Teseu, Ícaro e vários personagens clássicos, sabemos que temos em mãos vários aspectos simbólicos a decifrar.

Hades, assim como todo problema, transfere a Zeus a inveja, o egoísmo e a relutância dos seres humanos, os quais vivem com Arjuna – outro personagem mítico da Índia – que nos representa também entre nossos valores materiais e espirituais. Perseu seria a realização, ou melhor, concretização dessa dualidade entre os deuses e seres humanos. O filho do deus-maior reluta em ser um pouco temperamental como o Pai, mas não tem jeito, todas as coisas pelas quais passa têm uma forma divina de serem realizada.

Zeus, para tudo, lhe dá presentes para combater o mal, e, mesmo na relutância, Perseu aceita. Contudo, mostra que, ainda seja semideus, realiza facetas com potencialidades tais, que nos assemelha em tudo, quando temos força em nós mesmos.

Significado

A guerra entre Zeus e Hades nos lembra a natureza de nossa razão, sempre no meio de uma linha imaginária, relutando entre o céu e o inferno (simbólicos), os quais pairam eternamente em nossos ombros como dois seres briguentos, cada um levando a razão para onde quer. Na maioria das vezes, em nós, Hades vence.

Hades, na Grécia antiga, tinha uma simbologia tão profunda, que não era pronunciado. Era proibido. O homem comum grego não era medroso, mas espiritual e tinha lá suas razões para não citar o nome do deus que representava o mistério mais profundo do universo ou da alma humana.

Zeus, uma potencialidade que se parece com o homem, sempre descendo e amando as mulheres humanas, fazendo semideuses, representaria, talvez, a descida do divino à terra com a finalidade de elevar o ser humano. Perseu seria a figura do ser humano divino, porém com o pé ainda na matéria – ou vice-versa.

No filme, Perseu vence as armadilhas de Hades, reconhecendo, enfim, Zeus como seu pai. Na película, ainda se vê o filho terminando como uma sacerdotisa, como se fossem filmes em que a mocinha termina com o mocinho, depois da morte do vilão.

A importância, ainda que esteja longe de ser dita, não está tão longe. Está tão perto quanto nossos corações de nosso corpo, apenas não percebida. E todas as vezes, será assim, vamos transformar tudo que não pode ser compreendido em meras visões humanas, na busca da real essência, o que seria impossível. A real essência de tudo se resguarda em um intimo universal, divino, sagrado, nas mínimas e simples coisas...

Fim

Ufa! Assim, entre mitos a humanidade se vai, o universo se expande; entre mitos, nascemos, crescemos, vivemos, envelhecemos e morremos com sabedoria, sem medo, sem dor. Entre mitos, somos mais que pedras paradas nas calçadas, mais que plantas em busca de água e ritmo, ou animais em busca de alimentos... Entre mitos, somos humanos beirando a divindade, ou buscando ser.






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"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....