quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Pilares do Céu e da Terra




Esse texto, antes de tudo, gostaria de dizer, é uma homenagem àqueles que nos direcionam a uma educação, a um norte, a um principio vital: dar valor ao que se colhe. Falo dos pilares do céu e da terra, ou seja,  pais e mães de todos os dias...

Falo daqueles que se alegram, se sentem loucos em nos ver nascer, e eu, hoje, como pai, sei o quanto é enlouquecedor e maravilhoso assistir ao nascimento de um filho. Falo dos “corretamente loucos”! Não há explicação. Hoje, eu, como pai, digo que seria necessário buscar em meio a dicionários palavras para retratar tanto sentimento... Por isso, nos corre uma literal minicachoeira salgada, chamada de lágrima, que se esvai pelo rosto a fora, às vezes pelo coração a dentro.
                       

Ser Pai


Ser pai, o pilar da terra, pelo pouco que percebo, é ter a coragem de assumir valores que teorizamos a vida inteira. E eu, que lia muito acerca de pequenos indivíduos que brotam do útero materno, desmanchei o que os manuais teóricos me ensinavam, até mesmo alguns modos práticos de como cuidar de sobrinhos. Nada é tão forte, tão belo e poderoso, quanto um filho que se adentra em sua vida, pedindo licença entre sua esposa e você, a tomar posse dos braços fortes, porém femininos da mãe, que o recebe como um semideus intocável.

Ser pai, na hora do nascimento, é subir às alturas, é encontrar estrelas que eram apenas reverberações em poemas, é mais que isso, é impor uma bandeira em um local só seu, e dizer “eu encontrei o que procurava!”. Mas que fique bem claro que emoções não servem a pessoas frias, sem objetivos e que não aceitam responsabilidades, como um filho ao mundo, que será levado ao colo, amado até morte, e depois dela...

Eu, hoje, agradeço a todos os elementais cármicos e dármicos que me deram a grande oportunidade de ser pai, ou seja, agradeço a Deus por tudo. E agradecer faz parte de um ritual seja noturno, seja diurno, mas que haja tais rituais, sempre em função daquele que veio e, a partir de agora, faz parte de sua vida, aonde quer que você, pai, vá.

Ritual

Por falar em rituais, é bom lembrar que o pai, como uma figura simbólica-natural na antiguidade, para ser mais exato, na época dourada de Roma, Pérsia, Grécia... Era uma entidade sagrada, concretizada, sempre visto como um deus familiar, tendo como disciplina a ponte entre os deuses e a família, sociedade... Pois era ele que mantinha os rituais tradicionais. Na Roma Antiga, por exemplo, quando um pai morria, o filho homem teria que substituí-lo em respeito à tradição, que dizia que o “o Fogo Sagrado” jamais deveria ser extinto. Depois que o foi, não somente Roma, também outras civilizações que erguiam alterares para o deus fogo, se declinaram e “morreram” – pelo menos estruturalmente...

E o filho – segundo Fustel de Coulange, autor de Cidade Antiga – após a morte do pai, teria que abraçar todas as obrigações tradicionais, dentro das quais estava a de ornamentar o túmulo do genitor, oferecer comida, roupas, e deixá-las no local, como se a figura do dono da família estivesse ali viva. A sociedade também cobrava impostos do morto, até certo tempo, mas sempre deixou bem claro que o pai, aquele ser que em vida fez tudo pelo país e família, deveria não apenas ser respeitado em vida, mas depois dela também.

Hoje


Atualmente, o respeito à figura do pai claudica muito em razão de estarmos em uma outra forma de civilização na qual o caráter de predominar (manter) suas tradições é tão relativo quanto vestir-se, ou seja, não há uma importância deveras ao que se deixa como legado seja do pai, seja da família ou mesmo dentro da sociedade... Esquecemo-nos de quanto é importante, no âmbito humano, fazer com que prevaleça certos rituais com a finalidade de encontrar as origens, a nossa origem.

E como o Pilar da Terra, o pai é e sempre será esse Logus forte que vivifica os valores até que eles sejam passados de geração e geração; no fundo, ele sempre será responsável por um fogo invisível que corre dentro de casa, da sociedade, pois, se não há exemplos concretos de sua presença, haverá alguém que se portará como um pai a fim de educar uma criança, desde o dia em que ela chora ao sair do útero materno, até o dia em que ela chora por ter recebido seu diploma – aí, os dois é que choram rs.


O Pilar do Céu

O pai, ao falecer, como fora dito, ainda era visto como um ser tão vivo quanto àqueles que o homenageavam depois de sua partida para o “desconhecido”, porque, em vida, sua figura era a de fazer com que os deuses fossem louvados, respeitados, de cujas chamas nunca deveriam se desfazer. Aqui, entra o papel da sacerdotisa, que, em muitas culturas, jamais saia de perto do fogo e cuja responsabilidade era a mesma a do homem romano, a de preservar o respeito às entidades sagradas, mais que isso, era a de eternizar uma civilização por meio de rituais, que, se segundo Coulange, eram tão importantes quanto o cidadão. Esse ritual equilibrava o universo, segundo o autor.

A mulher não tinha o papel tão forte quanto o do homem, contudo, não era vista com desprezo. Pelo contrário. O homem, ao sair para os campos de batalha, poderia confiar-lhe toda a casa, e não havendo filho homem, dava-lhe a grande obrigação de ficar com os deuses do Lar.

E como pilar do Céu, a mulher o fazia tão bem quanto o primeiro. E, hoje, dentro de seus lares, a cuidar dos filhos e do marido, percebemos o quanto nós somos injustos por não dar-lhes a atenção que tanto merecem, pois são seres que nos ensinam que não se pode voar apenas com uma asa. Ou seja, o homem necessita tanto do sexo oposto quanto o contrário, pois nos faz pensar onde um ser tão frágil encontra tantas forças para ser mãe, mulher, filha e bela ao mesmo tempo.

Tal ser, enraizado de um universo misterioso, nasceu com o Logus da proteção, da intuição, da coragem, da fé, e principalmente do amor. Para a mulher, talvez, ser mãe, é como se conseguisse chegar ao cume de uma montanha visualizada apenas nas geleiras do Tibete. Ser mãe, além de encostar-se no céu, esbarra na figura de Deus, e a ele obedece como se este fosse o principio, meio e fim de sua vida – e é.

Exemplo disso é quando partem rumo à terra “desconhecida”. A mãe, por ser mãe, ensina a seus filhos como se portar ante o pai, ante a vida, pelo resto de nossos dias. E quando se vai, todos os filhos se separam – cada um para seu lado --, não ocorrendo quando o pai os deixa, pois este não tem o Logus do Amor em sua alma, mas o da Disciplina, Retidão, o que o difere da mãe, a qual busca, ainda em vida, e sempre buscará (onde quer que esteja), unir a todos, vê-los sempre por perto, como se fosse uma grande águia.

E hoje, quando vejo a dedicação de muitas mães, inclusive a minha – e por que não falar de minha esposa? – subindo, descendo, clamando, se ajoelhando, a passar noites em claro em nome da grande união familiar, sinto a dor do mistério que me bate o coração, de tão admirado que fico. Homem nenhum faz isso. E nem poderia.

E não adianta cozinharmos perfeitamente, por mais que o fazemos, não fazemos com tanto perfume e amor o almoço, o jantar, ou mesmo o pequeno misto quente ao filho que chega cansado da escola, ou o cachorro quente que nos assombra de tão gostoso que fica. Não podemos, em qualquer atividade feminina, nos sentir melhor que elas, ainda que a façamos quase perfeitamente, pois cada mulher-mãe possui em si características que fazem do seu mundo, das coisas em que toca, trabalha, vive, um mistério divino que era percebido e amado por todos os egipcios, gregos, romanos, indianos, nas deusas que eram louvadas.

Não, não adianta acharmos que somos melhores que o outro, pois somos asas de um mesmo corpo; somos complementos naturais dos quais se retiram qualidades e defeitos que se completam, e ao mesmo tempo constroem mundos; somos seres que se amam sem falas, às vezes, aos gritos, em gestos, em atitudes, em decisões que fazem a terra refletir seus movimentos. Somos pai, somos mãe, pilares do mundo.

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