quarta-feira, 31 de agosto de 2016

VOCATUDE (iii) Final




Um chamado da alma, que reluz no cimo de uma montanha gelada, a espera de ser alcançada, inaugurada por uma bandeira branca, sem cor e sem dono. Porque somos sem cor, sem donos, e no fundo de nossas pretensões internas, as mais belas, bate um coração transparente, cuja veia tem uma ligação com o universo, com o mais profundo do cosmos, no qual o mais misterioso dos seres reside: você.

Assim vejo a vocação... Distante e ao passo livre de interesses, dos quais surgem a mais belas ideias a respeito do homem, de seus ideais, de seu caminho. Ideias essas que nascem por segundos e morrem noutro, mas que jamais serão esgotadas quando direcionadas ao ideal, simplesmente porque ele é espiritual – nada mais.

Hoje, em meio à crise não apenas de valores, mas em todos os sentidos, há heróis que se desvencilham de suas reais profissões nas quais esteve há anos, e que sobrevivera a vários governos, os quais não foram tão cruéis, entretanto, há sempre um que vai lhe dar todos os precipícios e vai fazer você pular de um... abandonando aquilo que você mais ama – a sua profissão, que desde pequeno lutara para ser.

Não se pode falar, atualmente, em vocação, graças a essa demência política porque passamos, a que assistimos, e que dela morremos um pouco todos os dias. Vocação, aqui, hoje, soa como uma brincadeira anormal, sem graça, ou apenas uma brincadeira filosófica, que reacende as chamas de nosso pensamento em meio às cinzas nas quais passamos descalços, e depois, voltamos tudo de novo.

Mas... Os valores são utópicos até o momento em que nos sentimos passiveis de respeitá-los como tal. Se somos passivos a ficar sentados, morreremos sentados; mas estamos de pé, caminhando, buscando, renovando para o nosso bem a história nossa que precisa de não somente ideias, mas de reformas a partir de preceitos antigos, dos quais grandes nações nasceram, foram maiores que estas que admiramos. Estas que se mostram civilizadas, porém, desrespeitam a matéria prima: nós, humanos.

A vocação não deve ser um conto de fada; nem um mito, no pior sentido da palavra, mas um coluna forte, feita do melhor material, erguida pelo melhor dos homens, e plantada na profundidade de uma fundação milenar.


Por enquanto, enquanto a grande montanha é apenas um sonho, sejamos nós mesmos.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

VOCATUDE (ii)






...Esqueçamos o universo por enquanto, ou pelo menos um pouco, pois, a querer ou não, ainda somos o pingo. Falemos mais sobre a juventude, que, como uma avalanche, desce loucamente as montanhas, as geleiras, e invade as geladeiras sem permissão (isso foi fora do assunto, claro).

Mas o que nos apraz agora e sempre é a educação, tão falada e ao mesmo tempo sem conceito, graças ao que fizemos com ela. O que era a porta maior para a vocação, hoje, tornou-se a porta para o “sucesso”, seja ele qual for.

Prova disso são as instituições que lotam suas salas de mocinhos e bandidos e os fazem, no mesmo teto, repensar seu futuro. Qual? Se houver uma personalidade voltada ao bandidismo, não será uma sala ou mesmo um professor super informado que irá mudar seu ideal – roubar, assassinar, ou mesmo ser um mafioso – mas o que me mata não é isso, e sim, quando ele deixa tudo de mão, sendo bom ou mau, para ser um político.

Para Platão, filósofo grego, a palavra político se emprega na essência de cada um. Mas não da forma que vemos. Em sua Republica Idealística, aquele que se incomoda com as algemas, olha para trás, e não deixa de seguir o seu caminho, é o filósofo; mas quando sai da Caverna*, percebe a verdade, o bem e a Justiça, e (o mais importante) volta para auxiliar os seus, aqui, nesse momento, é o Político.

Entre as algemas e a saída, há diversos pontos simbólicos como sabem, porém, ao tratar aquele que “volta” para salvar seus entes queridos e dizer-lhes a verdade acerca do que viu, chama-se de Político, é darmos um “cavalo de pau” e um navio de carga... Por isso nossa dificuldade em entender tudo.

Mas Platão, ao observar o político como temos em mente, nos mostra a sua essência, a sua beleza, após passar pelas intempéries “cavernais” e demonstrar que político tem tudo a ver com vocação natural do ser humano em auxiliar o próximo quando se está em perigo, ou mesmo quando se encontra perdido, seja física ou emocionalmente.

O Jovem atual se encontra assim, perdido, sem atravessar as pontes necessárias para a sua essência. E quando encontra, é possível que sua natureza seja levada a um abismo pior do que a própria caverna, que, a depender do tamanho, ilude como papeis de parede iguais à realidade, ou semelhante a seus sonhos. É covardia.

Em meio aos percalços, encontra-se uma gama de informações distorcidas acerca da própria Educação. Nela, a informação genérica, a propaganda massiva de referenciais pobres e falsos, os quais norteiam gerações, que se deleitam com troféus novos, com falas enrustidas de nobreza falsas, ternos e gravatas engomados, para, em tribunais, abrilhantar o caráter que não possui.


Por essa e por outras, a Vocação deve ser objeto de reflexão. 

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

VOCATUDE (i)

Vocatude : Vocação e Juventude



O Pingo é o Oceano; o Oceano é o Pingo



Quando olho para o meu filho, logo me pergunto, após refletir comigo mesmo, o que ele será quando crescer?... Será que ele vai gostar, vai se dedicar, estará feliz com o que escolheu ou vai simplesmente, assim como os jovens atuais, viver pulando de galho em galho, até que encontre uma profissão que lhe dê suporte financeiro?

Nosso mal, nesse minuto, é desconsideramos o fator Vocação. Ao observarmos nossos filhos com características pessoais, não somente uma, mas muitas que nos vão atravessar com o tempo, percebemos que seus olhos ainda estão voltados a algo flexível e que nos engana, tapeia, até o dia em que ele nos dirá o que vai ser.

Quando pequeno, com seus oito a dez anos de idade, aparecem os heróis e com eles as grandes profissões, como bombeiro, policial, soldado, enfim, profissões que se alojam por deterem aspectos lúdicos, mas ao mesmo tempo heroicos; contudo, ainda não são profissões nas quais seu filho irá viver, a não ser que nele, intrinsicamente, haja uma vocação para tanto...

O que seria a vocação? – Não gosto de explicar esse termo maravilhoso do modo usual, como nos dicionários, mas da maneira como aprendi. E o que aprendi é que a palavra vocação vem do latim vocare, chamar, chamado, ou seja, quando o seu eu recebe um chamado. E isso independe do lugar, do que somos, do que temos, e sim da natureza que desconhecemos em nós.

Lá no fundo da alma, do self, guardamos a profissão natural, aquilo que vamos desempenhar sem lágrimas, sem sorriso falho, sem dor; está guardado como um filho mágico que ainda não conhecemos, e que nos dará ânimo dentro de nossa esfera terrestre unida à grande Lei.

A LEI

No universo – esse em que moramos há milhões de anos, e que mal conhecemos graças ao pouco instrumento físico e intelectual que temos, trilhões de células nascem e morrem, e outras milhões de galáxias nascem e morrem todos os dias, com finalidades desconhecidas pelo homem, mas nem por isso são aleatórias – isto é, de qualquer modo, pois são pontos naturais  e profissionais, pois não deixam jamais de fazer o seu trabalho seja ele qual for.

Na terra, nesse planeta cheio de outras milhões de células e átomos que desconhecemos, fazem o mesmo, e estão tão perto de nós quanto àqueles que somente os grandes telescópios sabem que existem. Ou melhor, tais células não precisam ser visitadas para serem conhecidas, mesmo porque não sabem autografar! Vamos brindar as árvores, as folhas, as flores, o verde, o caule, as raízes, enfim, tudo que ao nosso lado “trabalha” para a formação de um universo não paralelo ao nosso, mas que também não se mistura e ainda sim dele precisamos.

O universo humano não é tão complexo, mas ao nosso ver também não é tão simples, pois, além de deter nossa evolução, tem o prazer de observar outras evoluções, como a dos animais... E isso nos faz refletir, pôr os pés no chão, e ver que nossas vocações independem deles, mas que devemos observá-los com objetivos simples: que ele já a alcançaram.

E quando digo que os animais são evoluídos mais que nós, não me refiro espiritualmente, mas em relação à lei a que obedecem. São seres vivos que não precisam se perguntar quem são, para onde vão e por quê. Fora os contos de fada, a histórias nas quais há seres estranhos que comunicam, os animais fazem o que fazem porque são animais e ponto. Nesse quesito, somos meio confusos, pois o que fazemos e o que pretendemos fazer (isso por baixo), e o que estamos a buscar, sempre reflete o que somos, superficialmente, não profundamente...

É da profundidade de que falamos, daquele poço em que a água brilhante nos ofusca pela sua pureza, pelo seu gosto; é de seu gosto, do profundo significado que guarda em seu gosto, e quando provamos nos sentimos realizados, tal qual aquele lobo que fora criado pelas hienas e que um dia, ao saber que era da alcateia, que era lobo legítimo, não tinha mais o que buscar.


Nossa busca é incessante, mesmo porque há desvios que nos faz acreditar que o mais importante é o status, é o dinheiro, é a tecnologia, é a cultura disfarçada de cobra. Não podemos nos deixar enganar, nem mesmo por um instante, pois somos filhos de um universo que nos pede que nos encontremos para a ele encontrar. Temos que voltar a ser o pingo no Oceano, mas para isso é preciso que nos reconheçamos como pingos, feitos de diversas formas de oxigênio; mas pingos com suas vocações naturais em meio a um universo que nos espera.

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....