terça-feira, 27 de novembro de 2012

O Dia da Laje



Dia em que todos se uniram como guerreiros da terra, do cimento, da lama. Dia em que pessoas simples e fortes determinaram que iriam vencer a maior das guerras, a guerra da laje. E venceram.

Foi assim...
Um grupo de jovens foi convidado a participar da colocação da laje, um misto de cimento, terra lavada e brita fina. Toda ela seria colocada em cima do primeiro andar de minha casa em construção, toda ela seria espalhada, delineada com o objetivo de formar o chão do segundo andar. O trabalho não era para qualquer um...
Contudo, ainda dizem que é um trabalho voltado muito mais à união daqueles que estão ali, se manifestando em favor da grande causa, vencer a guerra da laje – levando terra em carrinhos de mão em questão de minutos, às vezes correndo, às vezes sorrindo; levando até o cimento, que é misturado à água, unida à brita fina, misturados até virar a massa que será levada pelos peões, em um balde, até a parte de cima...
O grupo de jovens que eu convidei para a integração, união e trabalho... No entanto, infelizmente, não compareceu. Assim, o mestre de obras, que possui a visão “além do alcance”, havia preparado um outro grupo, o de guerreiros.
Descendo de suas cavalarias – carros simples – e com suas vaidades em dias, roupas já sujas, meio rasgadas, para enfrentar a guerra, além do diálogo clássico, aquela língua de pedreiro que só eles entendem, tais homens sorridentes, animados, e por que não dizer criados em construção de casas, edifícios, torres..., fizeram uma roda ao redor do mestre pedreiro espartano, seguraram seus escudos, suas lanças, gritavam suas máximas, e iniciaram a maior das orações... O trabalho.
Assim, quem os via dedicados a subir a descer, levantar, cair, falar, se esbaldar em lama de cimento, dizia “esses caras são bons!”. A rapidez, a sinceridade, a força em lidar com seus instrumentos de trabalho, a dação, lembrava-me a palavra vocação.
Dela posso extrair – sem discriminar ou preconceituar – a natureza de cada um onde estiver. E ali, naquele canteiro de obras, seres advindos de lugares diferentes, com objetivos iguais, igualaram-se em ideais, mesmo que involuntariamente, pois fizeram o melhor dos trabalhos, a melhor das lajes.
Pessoas simples, que demonstraram compromisso em meio a um mundo de jovens que se digladiam em frente a um computador que não podem perder a internet, e nela o site, a página, a foto, o recado, senão se infiltram em mundos desconhecidos e ficam mudos. Jovens que não entendem o valor do trabalho, do estudo, da necessidade de cultura, e sequer sabem o que é educação...
Os homens que fizeram minha laje, hoje, talvez, saibam menos do que isso, mas, com certeza, estão mais à frente do que muitos apregoados em bibliotecas virtuais, faculdades de borracha, pois a destreza e o compromisso com os quais se dedicaram naquele dia foi de encher os olhos e o coração de muitos.







Mãe, queria muito que a senhora tivesse visto.
Beijos do teu filho.

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