Natural pedir, implorar, rasgar-se em desespero numa época em que governos e sistemas não dão nada. Natural, ainda, ir a templos budistas, xintoístas, no fim de ano, ainda que seja declarado cristão xiita, e pedir a entidade local bençãos para o próximo ano. Natural virar crente, budista, afro candomblé, etc, em nome de interesses pessoais, nos quais pairam sempre o financeiro, com vistas a pagar suas contas no fim do mês, ou no início do ano...
Nossas finalidades estão se esvaindo com o tempo. Nossos atos dizem isso. Não precisamos repensar o que somos, nem mesmo refletir para onde vamos. Nós somos perfuradores de crateras, somos construtores de abismos, fabricantes de venenos, desdenhosos de nossas obrigações, e Indiana Jones de nossos direitos!
Se eu pudesse, de forma metafórica, trazer à tona uma imagem que refletisse nosso estado humano, desenharia um fosso, bem fundo, infiltrado de formiga (nós), buscando o alimento espiritual, só que para baixo, com a mente voltada ao literal, frio, cheio de estrumes, e ainda sim, ao nosso ver, espiritual.
Quando pedimos, estamos desvinculando o que chamamos de eternidade, que ao nosso redor se edifica com o tempo. Quando clamamos, como filhos desgarrados, nos posicionamos como fracos guerreiros que nascem e crescem para perder a guerra. Parece honroso, até mesmo belo, no entanto, o que de nossa entranha sobressai é vontade de pedir... E quando não o fazemos, perdemos o 'contato' com o sagrado, com o que nos realmente nos faz (ou pelo menos fazia) de humanos...
Para incrementar o que digo, trago à tona um exemplo, o das árvores, que, semelhantes aos homens, não pedem, não imploram, não morrem clamando à divindades das selvas, e mesmo assim morrem tão árvores quanto nós, humanos, que tentam sempre, todos os dias, entender essa saga vital que nos traz e nos leva para o outro mundo...
As árvores são seres que morrem árvores, assim como pedras, animais, até mesmo a outros elementos mais sutis, como o fogo, o vento, a água... enfim, não têm problemas para serem o que são. Nós, entretanto, sempre nos assemelhamos a um desses, que, com certeza, burlam dentro de nós, de forma simbólica, e ao mesmo tempo, nos auxiliam no crescimento interno.
Mas não sabemos o que é ser humano. Não sabemos SER humanos, ainda que possuamos corpos, mentes e ideias como ferramentas suficientes para nos tornarmos um. Desperdiçamo-las. Jogamos ao mato, esquecemos onde estão, e nos tornamos aquilo que nos primeiro aparece... Até mesmo um outro ser humano...
Os mestres antigos já diziam tudo isso. E falam aos nossos ouvidos. O tempo para escutá-lo, todavia, se vai, e nós, também.
Vamos parar. Vamos pensar. E agradecer.
R.
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