Na minha infância, os deuses atuavam com seus anjos ao meu redor, me protegendo de minhas peraltices, ou mesmo de meus atos puros, os quais, às vezes, até eu mesmo poderia senti-los a brincar comigo na ausência de amigos. Isso no inicio de minha vida, quando eu tinha uns cinco ou seis anos. Anos dourados, nos quais árvores, terras, ar e fogo eram presentes tanto quanto meus irmãos e pais.
Minhas lembranças se vão à medida que cresço, à medida que amadureço; mas não se vão em minha alma, que, volta e meia, transforma-se em criança e me faz voltar aos tempos em que a liberdade e o amor eram raízes naturais em minha família. Hoje... Não importa. E por ela relembro, simbolicamente, quem fui e o que sou.
Um episódio que me faz pensar e repensar meus valores foi o da “bacia”: eu não era um aluno disciplinado – assim como todos de minha idade (à época seis anos) eram – e sim um daqueles que eram levados pelos irmãos a uma instituição que possuía vários seres de minha espécie, cujas roupas se pareciam, os tênis, cabelos... Enfim, apenas o andado é que não se parecia. Onde havia seres maiores que nós, sentados à mesa, brincando de levar à lousa letras complicadas, pelas quais tínhamos que seguir e levar um pouco delas para casa e... interpretá-las. O que era tão difícil quanto tomar banho de cabeça para baixo, numa banheira rasa (rs)!.
Tínhamos um barraco forte, feito de madeiras fortes, importadas de cidades já feitas longe de Brasília (que ainda estava sendo feita), a qual irradiava solidão nas esquinas por falta de pessoas que queriam amigos, e sim construir, construir... E meu pai fora uma dessas pessoas, além de minha mãe, que fizera história deixando seus filhos fora das imediações fazer o que queriam – não tinha muito o que fazer senão brigar com outros de esquinas diferentes das nossas ou buscar namoradas que sabiam apenas beijar bem... Que tempo bom!
Eu, um filho que observava de longe o crescimento de tudo, inclusive das estruturas, sorria inconsciente. Apenas sorria, nada mais.
E esse ser puro e belo, que trilhava seu caminho nas ondas da natureza, subiu dentro de uma bacia com intuito de tomar um banho; nu, magrelo, tão fino que o vento não batia, esmurrava a água, deixando-a cair do outro lado, a molhar o chão – ainda não encimentado. A alegria de sentir meu corpo submerso nas pequenas ondas daquele elemento quente subia-me à mente, talvez até além dele, e não sabia. A sensação dos ventos no rosto, de ver as árvores dançando a cada gargalhada minha, a luz do sol a refletir às margens da bacia... Não sei, mas todos elementos nobres da vida pareciam comungar parte daquele cenário luminoso no qual eu, filho de não sei quem, que ia não sei para onde, a escutar sei lá o quê, santificava-se ao ponto de levitar daquele objeto em forma de cunha... Era a liberdade!
Mas não sei o que me fez “descer” às terras dos homens e correr em direção ao meu quarto e trocar-me, ou melhor, vestir-me para aquela instituição cheia de crianças iguais a mim. Não houve correrias, apenas o que me era obrigado a fazer: sair correndo, como sempre, com uma mochila de pano lotada de cadernos e livros – não sei porque até hoje, pois só havia uma aula! – e nos caminhos cheios de pedras, subidas e descidas, que, para mim, eram ruas retas e ladrilhadas, voava ao encontro da pequena carteira de madeira que me servia como luvas.
Lá chegando, não havendo professoras, ou professores em sala, sentei-me. Calado e comportado, ninguém me notou. E assim a alegria se tornou constante naquele dia divino...
A infância dos homens serve, talvez, para relembrar seus dias frente a Deus; naquela comunhão inocente em que nem mesmo o nosso nome nos lembramos. Assim foi o meu dia, o dia da bacia. Sei que todos tiveram o seu e que tentam se lembrar da vezes em que foram crianças reais (não as de hoje que já nascem com o controle-remoto na mão) e que tentam resgatar em seus filhos e filhas tal vida.
Todavia, nascemos sob signos diferentes em meio a batalhas idem, nas quais inimigos e amigos são mais diferentes ainda. E, querendo ou não, fazem a diferença na caminhada frente à consecução de nossos objetivos. Pois deles vivemos e morremos (bem... pelo menos era assim na minha época!), e vivemos e morremos. Mesmo assim, a busca continua, e viramos crianças quando pudemos e nos revelamos ridículos seres na tentativa de educá-los, engatinhando como eles, brincando de bolinhas-de-gude, etc... E, quando nos falta o sorriso, nos vem o choro de vê-los dando seus primeiros passos... É o ápice!
E quando completam um ano, descobrimos que envelhecemos, a desembrulhar, sob lágrimas, seus primeiros presentes: lá vem o caminhão grande de plástico, as bolinhas, os bonecos... Tudo que um dia ganhamos está ali, de novo, como um ciclo. Seu filho se torna você, e você se torna um deus a educar seu filho nas mesmas ondas por que passou...
As tentativas não são vãs. Mas seu filho te olha, sorri e diz, com seus pequenos olhinhos, que te ama, mas não será semelhante ao pai.
Não há importância nisso, apenas queremos que um dia ele tenha respeito à sua natureza e que tenha em seus arquivos mentais uma lembrança de um pai que o ama mais que tudo, até mais que a si próprio, e que a “bacia” será apenas uma das mil lembranças na qual deve se referenciar para não perder a sua essência, apesar do mundo que o aguarda.
Minhas lembranças se vão à medida que cresço, à medida que amadureço; mas não se vão em minha alma, que, volta e meia, transforma-se em criança e me faz voltar aos tempos em que a liberdade e o amor eram raízes naturais em minha família. Hoje... Não importa. E por ela relembro, simbolicamente, quem fui e o que sou.
Um episódio que me faz pensar e repensar meus valores foi o da “bacia”: eu não era um aluno disciplinado – assim como todos de minha idade (à época seis anos) eram – e sim um daqueles que eram levados pelos irmãos a uma instituição que possuía vários seres de minha espécie, cujas roupas se pareciam, os tênis, cabelos... Enfim, apenas o andado é que não se parecia. Onde havia seres maiores que nós, sentados à mesa, brincando de levar à lousa letras complicadas, pelas quais tínhamos que seguir e levar um pouco delas para casa e... interpretá-las. O que era tão difícil quanto tomar banho de cabeça para baixo, numa banheira rasa (rs)!.
Tínhamos um barraco forte, feito de madeiras fortes, importadas de cidades já feitas longe de Brasília (que ainda estava sendo feita), a qual irradiava solidão nas esquinas por falta de pessoas que queriam amigos, e sim construir, construir... E meu pai fora uma dessas pessoas, além de minha mãe, que fizera história deixando seus filhos fora das imediações fazer o que queriam – não tinha muito o que fazer senão brigar com outros de esquinas diferentes das nossas ou buscar namoradas que sabiam apenas beijar bem... Que tempo bom!
Eu, um filho que observava de longe o crescimento de tudo, inclusive das estruturas, sorria inconsciente. Apenas sorria, nada mais.
E esse ser puro e belo, que trilhava seu caminho nas ondas da natureza, subiu dentro de uma bacia com intuito de tomar um banho; nu, magrelo, tão fino que o vento não batia, esmurrava a água, deixando-a cair do outro lado, a molhar o chão – ainda não encimentado. A alegria de sentir meu corpo submerso nas pequenas ondas daquele elemento quente subia-me à mente, talvez até além dele, e não sabia. A sensação dos ventos no rosto, de ver as árvores dançando a cada gargalhada minha, a luz do sol a refletir às margens da bacia... Não sei, mas todos elementos nobres da vida pareciam comungar parte daquele cenário luminoso no qual eu, filho de não sei quem, que ia não sei para onde, a escutar sei lá o quê, santificava-se ao ponto de levitar daquele objeto em forma de cunha... Era a liberdade!
Mas não sei o que me fez “descer” às terras dos homens e correr em direção ao meu quarto e trocar-me, ou melhor, vestir-me para aquela instituição cheia de crianças iguais a mim. Não houve correrias, apenas o que me era obrigado a fazer: sair correndo, como sempre, com uma mochila de pano lotada de cadernos e livros – não sei porque até hoje, pois só havia uma aula! – e nos caminhos cheios de pedras, subidas e descidas, que, para mim, eram ruas retas e ladrilhadas, voava ao encontro da pequena carteira de madeira que me servia como luvas.
Lá chegando, não havendo professoras, ou professores em sala, sentei-me. Calado e comportado, ninguém me notou. E assim a alegria se tornou constante naquele dia divino...
A infância dos homens serve, talvez, para relembrar seus dias frente a Deus; naquela comunhão inocente em que nem mesmo o nosso nome nos lembramos. Assim foi o meu dia, o dia da bacia. Sei que todos tiveram o seu e que tentam se lembrar da vezes em que foram crianças reais (não as de hoje que já nascem com o controle-remoto na mão) e que tentam resgatar em seus filhos e filhas tal vida.
Todavia, nascemos sob signos diferentes em meio a batalhas idem, nas quais inimigos e amigos são mais diferentes ainda. E, querendo ou não, fazem a diferença na caminhada frente à consecução de nossos objetivos. Pois deles vivemos e morremos (bem... pelo menos era assim na minha época!), e vivemos e morremos. Mesmo assim, a busca continua, e viramos crianças quando pudemos e nos revelamos ridículos seres na tentativa de educá-los, engatinhando como eles, brincando de bolinhas-de-gude, etc... E, quando nos falta o sorriso, nos vem o choro de vê-los dando seus primeiros passos... É o ápice!
E quando completam um ano, descobrimos que envelhecemos, a desembrulhar, sob lágrimas, seus primeiros presentes: lá vem o caminhão grande de plástico, as bolinhas, os bonecos... Tudo que um dia ganhamos está ali, de novo, como um ciclo. Seu filho se torna você, e você se torna um deus a educar seu filho nas mesmas ondas por que passou...
As tentativas não são vãs. Mas seu filho te olha, sorri e diz, com seus pequenos olhinhos, que te ama, mas não será semelhante ao pai.
Não há importância nisso, apenas queremos que um dia ele tenha respeito à sua natureza e que tenha em seus arquivos mentais uma lembrança de um pai que o ama mais que tudo, até mais que a si próprio, e que a “bacia” será apenas uma das mil lembranças na qual deve se referenciar para não perder a sua essência, apesar do mundo que o aguarda.
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