sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Mudanças


O grande filho quer mudar. Todos já se foram. A mãe, que se tornara filha, clama aos deuses que ele não se vá. Os deuses, ainda que lancem o mal àquela pobre senhora, a atendem. O grande filho, contra os deuses, contra a própria família, após anos de felicidade, ao mesmo tempo, anos de tristeza, quebra o silêncio, quebra o cordão umbilical psicológico – o mais forte que o físico --, quebra a própria mesa, e se vai. A amargura no ar aperta o coração de todos, mas não o dele, que já previra tudo. O funil se faz.Irmãos degradam irmãos, depreciam o ato do irmã-pai. Restringem emoções. São fortes. A cólera é maior que o amor. O amor se esvai.



Se ainda choramos por causa das mudanças, é por que somos fracos.
A natureza sempre muda, todos os dias. Dizia o filósofo Heráclito “Não se banha no mesmo rio todos os dias”. A natureza está em eterna mudança. Ainda um grande filósofo ressalta em uma máxima inesquecível o poder da mudança – “Nada é tão estático quanto à mudança”.

Olhar para o céu, ver as aves mudarem, migrarem de lugares longos, apesar de suas pequenas asas, grandes ninhos, deixando-os em suas árvores com enormes galhos, traçados milimetricamente, como um arquiteto natural... Além dos seus filhos, que crescem, caem do galho, às vezes morrendo, às vezes voando alto, às vezes não voltando...

Não há problemas. Mas a nossa espécie, a humana, e seus sentimentos enraigados de pensamentos voltados ao passado, ao futuro, criam formas mentais lúgubres, criando cascas pesadas em torno de uma vida que, ao ver dos sábios, veio para ser leve e dar oportunidades a todos de viver, crescendo, aprendendo, errando, e por fim morrendo dentro de circunstâncias que nós próprios criamos. Circunstâncias essas cuja natureza e responsabilidade de ser boa ou ruim é nossa. O universo nos deu o livre arbítrio.

No entanto, livre não quer dizer fazer o que queremos, onde queremos. É viver dentro de nossos limites humanos, respeitando leis, obedecendo-lhes, seja em qualquer ocasião, lugar. A mudança deve ser feita dentro desse critério.

Não há porque tentar fazer mudanças só por fazer. Criaríamos inimigos, consequencias, desarmonias, e o pior, o mal a si próprio. A mudança deve ter finalidades, a de crescer, desapegar, voar, migrar, em nome de algo maior que cresce junto conosco em nossos corações; como uma vontade de crescer, elevar-se, planejar futuros, rever passados – às vezes, esquecendo-o, se for em nome de uma lei a que devemos obedecer.

Porém, se não há leis, não há rumos, não há nem mesmo propósito, a mudança se desfaz antes mesmo de ser feita. A mudança devia ser a meta humana, se houvesse referenciais. Sem eles, é como se fôssemos bêbados traçando a linha que demarca o meio de campo...


Não sejamos bêbados. Nada melhor que aceitar mudanças, antes mesmo de ser o sujeito da ação. A própria vida nos faz homens que mudam a toda hora, interna e externamente; então, na hora em que a flauta do céu tocar, vamos ouvi-la, e como pássaros sorridentes, em grupo ou individualmente, voamos e voamos ao encontro do sol -- ou ao encontro de nossos pequenos objetivos.


Sejamos fortes!





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