segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O Sal Amargo de Nosso Tempo.


Existem processos históricos que devem ser relevados (e observados) não só pelos historiadores parciais, mas também pelos gênios de nossa época – pelos menos assim eles se proclamam; ganhadores de prêmios Nobel, de troféus televisivos, autores de best sellers, e entre outros, eles se expressam pela maioria que compra seus produtos, pela maioria que segue seus passos rumo ao precipício do vazio, e o processo histórico, aquele pelo qual o conhecimento foi gerado, e nele o fortalecimento do legado humano gerado, graças a eles, não faz parte de nossa educação.

É claro que nem todos são dessa forma, mas a maioria – Saramago, Dan Brawn, Mark Baker, Morris West etc – se vê como divindades intocáveis e vivem dentro de um âmbito egocêntrico no qual suas opiniões tão contextuais quanto seus textos não melhoram o mundo nem mesmo a eles próprios.

Saramago (José Saramago), um dos maiores escritores portugueses modernos da língua lusa (é o que ele acha), ultrapassa todos os limites de credibilidade que o mundo pode lidar. Mundo esse que sofre com opiniões e morre sem a praticidade dos bons. Com intuito de seguir o menu da decadência, o escritor, assim como muitos que estão quase esquecidos pela mídia – conjunto de informações atuais dadas pelos jornais, tv, rádios... – fez um manual de como não se deve envelhecer, dessa vez, falando mal dos religiosos em geral e em profundidade... de Deus.

Um escritor que se julga um bom escritor deve ter pelo menos uma razão para determinadas teorias que elucida em seus textos (ou seja, críticas). Em algumas obras tenta impor uma opinião divergente em meio a popularesca filosofia que defende e a religião que não tem. Em “A Caverna”, título que revela a tentativa de dualizar com o mítico Platão sua alegoria dita no livro VII d’ A República, escrita há quientos anos antes de Cristo, Saramago moderniza tanto o aspecto simbólico, que o texto fica ilegível, além de sua forma singular de escrever... Repugnante. Muitos, além, dizem que o escritor inventa formas apenas para se mostrar original. Isso dentro de uma língua que, por si só, já se mostra dificultosa para muitos.

Em outra aberração literária, Saramago – agora mais sal amargo do que nunca – no livro o “Evangelho, segundo Jesus Cristo”, opina acerca de Cristo e seu provável relacionamento com Maria Madalena (o mais interessante é que o escritor parece não se cansar de tentar ser original)... Acredito que Dan Brawn, de ‘Código Da Vinci’, devia tê-lo lido... Ou o contrário?!

Mais uma vez, irrelevando o processo histórico, o ‘grande’ imediatista e escritor esqueceu-se de que houve nações como a Índia, na qual se aceitou o processo de evolução espiritual de Sindarta Gautama, o qual transformou-se em Buda, contudo, antes de sê-lo, teve uma vida tão normal quanto qualquer ser mortal, casando-se com uma mulher arranjada pela família – costume do país. Saramago perdeu, de novo.

A longevidade da história é tão maior quanto a ignorância de Saramago; ainda bem! Ela, a história, nos diz que houve ainda Sócrates, talvez o maior de todos os filósofos, com uma sabedoria notável em relação a tudo, até do próprio universo... Contudo, sempre dizia... “só sei que nada sei” – lembra-se disso, Saramago? O filósofo nascera com todas as ferramentas para dualizar com seus contemporâneos, mas fora morto por simplesmente expor suas ideias, tão naturais quanto sua burrice, meu caro escritor, e fora morto por isso. Tempos difíceis aqueles, não?

Nosso tempo perdoa os canalhas, pois está fantasiado com uma capa chamada Democracia, na qual todos podem desrespeitar, fantasiar, burlar, ainda que seja um homem que teria tudo para ter em sua consciência a natureza cortês em lidar com as palavras, com as pessoas e com as instituições... Tempos fáceis, não?

Mas não... Dentro desse processo em que vivemos, esquecemos dos maiores que nos trouxeram as simbologias naturais, as quais nações inteiras – egípcias, maias, hindus, gregas, romanas, -- traspassaram como sinal de uma evolução humana em compreender as divindades, ou mesmo Deus. Contudo, autores modernos, talvez por quererem criar, remodelar conceitos, tal na arte, na música, na religião, na política, transformam tudo numa dantesca obra de uma vaca descuidada... E Saramago, como uma grande vaca – não descuidada – modela o tempo, a nossa época a seu bel prazer, a levar o pior às culturas, ainda que sua natureza seja voltada ao contrário; ou seja, poderia o autor, sob a égide do conhecimento que adquiriu ante sua grande passagem pelo mundo – ainda não passou, desculpe-me –levar o que há de necessário a seu público específico...

Mas se fizesse isso, teria que confrontar com outros que o fazem de maneira mais engajada, verdadeira e até virtuosa, o que lhe daria, pelo menos, nessa corrida pela ética e moral de uma humanidade carente, o último lugar.

Prova disso, além das expostas, é seu novo livro “Caim”. Ao tentar brilhar com holofotes que ele mesmo produz, não a mídia, revela não só a descrença como também o despreparo em relatar fatos necessários à elucidação da historicidade do texto bíblico – texto esse que exacerba infantilmente, atingindo comunidades e a própria Igreja, que, sem ferramentas, não consegue se defender do escritor, que, sorrindo, destrona, como um antiherói, uma mentira contada há séculos – porém, da maneira mais injusta e vil possível: com outra ignorância.

A Biblia

Com o ateísmo que lhe é peculiar, Saramago chama a Bíblia de “manual de maus costumes”.
A Bíblia, assim como todos livros clássicos, foi feita por um povo, uma comunidade, cuja cultura, ainda que obscura, em razão de até hoje se achar perseguida, nos trouxe, de alguma forma, a tentativa de nos elucidar a figura de um homem, que, segundo muitos, tornou-se Cristo depois dos doze anos de idade; este, após a maturidade iniciática, transladou todo o pensamento ocidental. Cristo se tornara, graças a seus discípulos, a figura solar do século – isso no Ocidente. Repartida em dois livros – o Velho e o Novo Testamento --, a Bíblia cristã inicia, cheia de simbolismos, o universo – elevando como mestre de obras e seus operários Deus e seus anjos; Adão – feito por meio das ‘narinas’ divinas, após a construção do mundo (água, ventos, terra, fogo...), supostamente o primeiro dos homens, teria toda a pureza e ao mesmo tempo todo o poder pela frente, mesmo porque fora a primeira criatura entre aquelas cujos atos eram apenas comer, pastar e viver conforme sua natureza. Adão era homem e vivia em meio a criatura que, segundo Deus, denominar-se-iam animais. O primeiro filho de Deus, a primeira criatura com pensamentos, tinha o mundo só seu, mas não sabia lidar sozinho com criaturas que não tinham o seu sexo; assim, Deus, sentindo a solidão do homem, o pegou, retirou dele uma costela, e fez, com sopros, tal qual o Adão, Eva, a primeira mulher.

A Tradição é repleta de simbolismos, os quais entre mitos gregos, egípcios, maias, astecas, hindus, etc demonstram, dentro de suas possibilidades, uma realidade muito profunda. Às vezes, nos mostram o inicio do grande Universo, a Alma, o Espírito, a busca pela compreensão humana, o próprio ser humano, e assim por diante. Até mesmo os sonhos são pequenos meios simbólicos para a compreensão nossa do dia a dia, quiçá de nós mesmos. Mas os autores modernos, até mesmo os que não são tão ateus, não cedem o conhecimento a essa complexidade, dizendo que a Tradição deve ser esquecida, e que tudo é passado, dando margem à outra complexidade: a de que a educação enraizada em preceitos antigos deve ser enterrada. Sabemos nós o valor de tais declarações...

Dan Brawn, o escritor da hora, sabe muito sobre simbolismos, mas, assim como outros enganadores de renome, engana muito a todos, em todos os seus livros, principalmente em “Codigo Da Vinci”, no qual relata a aventura de um professor de simbologia que persegue a ‘verdade’ após a morte de um iniciado mestre maçon. No livro, Brown elucida pontos importantes como a indagação sobre o Conselho de Nicéia, que, provavelmente, teria inventado a figura de Cristo apenas para manipular a situação, com a ajuda do imperador Constatino, que, ante o crescimento do Cristianismo, impõe à cultura da época vários pontos da Tradição, contudo, distorcidos, apenas para fortalecer a base Cristã. E conseguiu. Até aí tudo bem, mas, no andar da carruagem, o escritor que comprara uma ilha com a venda de Código Da Vinci distorce, também, um fator histórico muito importante, a de que o Santo Graau seria, nada mais que nada menos, algo restrito ao Cristianismo, e mais, que o Graau seria Maria Madalena... Ufa! Absurdo histórico. Sabemos todos que os celtas já possuíam o simbolismo do Graau em sua cultura, e ainda o têm. O Graau seria o próprio homem, segundo o simbolismo celta. Quando Artur o encontra, tudo floresce, acende, vira fogo – não no sentido literal --, e levanta-se derrotando o mal a sua volta... Artur, o grande, torna-se um sábio. Falemos mais tarde desse mito.

O ruim do ateísmo é que, quando se aprende que Deus não existe, falamos de uma entidade que circula em todos os lugares como se fosse um vento que não para. Mas, ao clamá-lo, está sempre conosco, resolvendo nossos problemas familiares, de saúde, de amor, financeiros, etc. Ou seja, sempre visualizamos uma grande sombra a nos rondar e que, ao precisar dela, está sempre ao nosso lado, e, quando ela não está, apesar de todas as nossas aclamações, choros, berros, suicídios... Aí, Deus não existe...

O ruim do ateísmo é que as opiniões não se aprofundam em torno da própria questão que o aflige, e quando se buscam opiniões relativas às dúvidas, encontram-se pessoas cujas opiniões nada mais são que meras elucubrações cruas, ignorantes, sem argumento...

Ateísmo
Saramago é ateu. Nisso, como diria o cristão, “ele peca”. Na antiguidade, se houvesse algum ateu, com certeza, não seria daquela época, mesmo porque não teria como sê-lo. Todos, inclusive indiano da grande Índia dourada – a Ariavarta – tinham conhecimentos profundos acerca do Universo, era uma nação comandada por sábios. Deus, para eles, era o Mistério; suas ramificações eram os deuses; por isso Platão sempre dizia “O homem é um Deus e disso ele se esqueceu”, porque o homem faria parte dessa ramificação. Deus estaria na dualidade, na incerteza, na pobreza, no amor – que une – no mal que separa. O resto: diabos, anjos bendidos, anjos rebeldes, nada mais que invenções necessárias ao engano coletivo, reforçado na Idade Média Ocidental.

Voltando à Bíblia

... Adão, segundo H.P.Blavatsck -- fundadora da Sociedade Teosófica --, teria um significado voltado mais à formação do Homem – Adão não seria literalmente o barro, mas significaria terra, tudo que é concreto, e Eva, Céu. Estudiosa, filosofa e ocultista, Blavatsck nos diz que em várias culturas o papel do homem e da mulher se complementam, como Um; o terceiro elemento nos daria a formação de uma Tríade superior. O Deus bíblico, nesse caso, seria o Nous, o espírito acima do homem, mas não o total que une o homem a tudo. Soma, a totalidade de uma personalidade; Psique, a Alma, e Nous, o espírito, o qual não se discute em termos humanos. Para o Cristianismo, que adotou a linha literal da palavra, Adão nada mais é que um homem que nascera primeiro que todos os homens. E Eva, a primeira mulher. Nesse caso, não caberia qualquer projeção simbólica ao casal. Uma falha medieval!

O pecado original, segundo a Igreja, seria a parte que, durante séculos, permeia com o maior dos pecados: o sexo de Adão e Eva. Tal ato deve-se ao desejo de Eva, junto com a Cobra, a grande maldita de todos os tempos, de comer a simples maçã, o fruto proibido, do desejo...

Adão e Eva, criando a consciência de suas realidades, nus como crianças, taparam seus sexos com folhas, e ficaram envergonhados perante o Pai. O simbolismo nos permite dizer que distorção feita pelos cristãos em relação ao “pecado original” foi diretriz a muitas gerações que acreditaram que Adão e Eva realmente existiram e fizeram o mal quando comeram do fruto, tiveram a consciência e se questionaram acerca do que estavam fazendo...

O simbolismo ainda nos permite dizer que a tomada de consciência, em qualquer época, é boa; é mais que isso. Para nações, sociedades, sejam tradicionais ou não, arcaicas ou não, é uma característica humana, não animal, mineral, o que nos dá a chave para muitas realidades, qual Adão e Eva. Governos mudam, países se modernizam, déspotas caem, corruptos são presos pela consciência coletiva...

A consciência, mais que uma forma de iniciativa, torna o homem mais humano pelo fato de tentar entender os próprios mistérios a sua volta, Deus. Então, não se pode levar em consideração argumentos que nos fazem pensar que Deus seria uma entidade que nos proíba de qualquer coisa, muito menos em CONHECÊ-LO, mesmo porque não estaríamos falando Dele e sim de um ser com botas, chicotes, bigodes, barba por fazer; cicatriz imensa no rosto dizendo “Por que comeram do fruto proibido? Eu não mandei ficarem longe da macieira?”

Esse tipo de constatação não é fácil; apenas aos voltados a respeitar os direitos educacionais e históricos da humanidade, o que não nos dá, por assim dizer, razão para desdizer grandes instituições como Igreja Católica ou qualquer Igreja que queira manter o arcaísmo em sua filosofia de vida, levando “iletrados e românticos” ao curral, como dia Marilena Chauí, filósofa – não podemos ser salvadores da pátria, sem pátria.

Continua...

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