quinta-feira, 17 de junho de 2010

Eu: pai.


Quando saio de casa, fico em dúvida em dar beijos de adeus ao meu filho, não porque não gosto, mas pelo sono dele que é, sem dúvida, muito leve. Assim, prefiro sair sem ranger a porta, sem balançar o trinco da chave e nele pensar o dia todo.

Outras coisas em mim pairam quando vejo meu filho a dormir seu soninho quente em seu berço forte. Penso em mim. É, esse ser que trabalha interiormente em favor de outro ser, só que exterior, meu filho. Penso no sorriso largo de sua boca pequena e dos saltos desajeitados no chão da sala ao me ver chegar. Penso em sua face brincalhona até o fim do dia, implorando minha presença em seu quarto – que é fechado à maneira Poderoso Chefão --, a fim de brincar, brincar, brincar. Sem falar no seu amor à bola. Nunca em minha vida, nem mesmo os meus sobrinhos de quem cuidei, vi um ser tão pequeno gostar de jogar bola tanto quanto meu filho... Talvez reminiscência...!

Mas minha vida com meu filho não se resume apenas em brincar ou vê-lo sorrir, mas tentar educá-lo para a vida que o chama, ao poucos, e o fazer sentir em sua pequena alma as artimanhas do sim, do não, do errado, do certo... De longe, nos parece fácil. Na realidade, é algo tão transcendente quanto uma ida ao metafísico platônico e voltar sorridente como se tivéssemos compreendido tudo. Não é fácil.

Todos os dias, peço aos deuses coragem para entender a semântica da vida, no tocante a essas duas palavras que nos barram naquilo que, em nossas convicções, é errado, e certo. Pois hoje, em minhas andanças, percebo que gostamos de barrar o externo, mas não sabemos lidar com aquilo que nos faz pior internamente, e com ele vivemos sem barrá-lo. É a nossa personalidade, cujos parâmetros tortos nos dificultam viver a real educação.

Uma educação que nos permite ser maus e ao mesmo tempo querer passar o bem aos filhos. Mau no sentido educacional, não no pérfido, frio... Um mau “convivível”, e que, dentro dele, podemos nos enrolar como se estivéssemos em labirintos internos, nos quais o prisioneiro – nós – não sabe se está preso ou não. Um labirinto mítico, descrito pelas tradições como sendo o próprio homem preso dentro de si mesmo.

E acredito que, às vezes, me sinto assim, e tenho um grande medo de passar esse medo a ele, ao meu querido filho. Passar essa confusão que paira como nuvens em minha cabeça e ao mesmo tempo medo em fazê-lo também confuso quanto aos sentimentos. Um medo normal, mas perigoso, pois pode fazê-lo ter receio de si mesmo frente à vida, às pessoas, ao comportamento em relação a elas, enfim, um medo bobo, mas que pode transfigurar-se em uma realidade nada boba...

É mais que confuso, percebo agora.
Como diria um gramático, revelando a complexidade em explicar a gramática, “Não é algo gratuito”. Também digo... “Não é algo gratuito” explicar uma educação que depende exclusivamente de nós. Somos tão débeis, que não visamos – ou não queremos entender jamais – a educação como ela é. Somos notórios em fugir daquilo que nos é responsável, ou melhor, daquilo que nos é inerente, como diria o mesmo gramático... “do adjunto que nos segue”.

Nunca fugi de responsabilidades que os deuses me deram, muito pelo contrário, sempre achei que elas são o motor nosso de cada dia, a movimentar nossas carcaças desajeitadas e ocupar nossas mentes vazias, no entanto, compreender a educação como um todo, como diria os gregos, é compreender o sentido da vida... Pois levar o que temos de bom (principio básico) àqueles que fazem parte de nosso âmbito familiar, âmbito social, religioso nos é complexo. Primeiro, na realidade, entender a si mesmo, descobrir seus defeitos, canalizá-los a algo bom a humanidade, transformar-se, dentro de experiências únicas, em homens reais; trazer a si mesmo a sabedoria do comportamento, na comunicação, na própria solidão, no buscar a Deus em si e nas coisas... Enfim, é um passo único, porém difícil. Mas, como diria Lao Tse, uma caminhada de mil milhas só se começa com o primeiro passo.

Quando olho para o meu filho, Pedro, sei que seus passos rumo ao desconhecido – às coisas noivas pelas quais passará – são miniexperiências que o farão maduro para enfrentar mais e mais armadilhas da vida. Cairá, contudo, não sofrerá tanto quanto pessoas que foram proibidas de darem passos rumo ao principio (não ao precipício!). Ainda, como um grego que é, meu filho tornar-se-á um guerreiro de um pai guerreiro, de uma mãe guerreira, e conseguirá ultrapassar batalhas como um “namoro no portão”, parafraseando Milton Nascimento.

E eu, pai desse Achilles da modernidade, tentará, a qualquer preço, buscar meios de lidar consigo mesmo, no sentido de ser mais construtor, mais sábio, mais homem, mas responsável, mais maduro, além de ser um herói, nas horas vagas.




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"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....