Não pude de deixar de ver uma matéria excelente no programa global Fantástico, que falava de um grupo de jovens que havia deixado, em uma caixa, lembranças de uma época em que tinham entre treze e dezesseis anos. Hoje – quer dizer, agora – ao abrir a caixa, com seus vinte e três, vinte seis anos..., com seus lembretes antigos – cartas, mensagens, hinos de clubes, fotos --, depois de formados ou não, viram o quanto seus desejos mudaram com o tempo. Ainda, viram o quanto perderam tempo...
Isso me lembra Cronos, deus do Tempo, que começara a comer seus filhos, em uma alegoria que nos diz que o tempo urge, não para, e devora, sempre, o que encontra.
Mas não queria falar de tempo, e sim de comportamento – o que nos exige uma dose se simpatia de alguns que não compreendem a ordem prática da vida. Pelo menos quando se é jovem --, é o que parece. Mas por que somente quando jovens?
A falta de critérios, de caminhos, de uma convicção, de uma reta a seguir... – o que significa não precisa ser algo grandioso, mas que seja algo que nos imprima lealdade, um dos princípios que recebemos quase de maneira inata – ou seja, dos deuses, de Deus, sei lá, e que nos sobressai na juventude tão forte quanto qualquer guinada de um poço de petróleo descoberto.
É por isso que temos que levar a sério essa questão, porque é uma das primeiras virtudes direcionadas a algo que vale à pena – quer dizer, a depender de quem a leva. Muitos mafiosos, ladrões, traficantes, homens-bomba, etc, por exemplo, são leais, o que não significa que lealdade seja mal, mas o próprio homem que a conduz...
É como se pegássemos uma faca e, com ela, a vida toda assassinássemos a torto e à direita todos que encontramos. Mas, na realidade, a sua finalidade é cortar carne, batatas, presuntos, salsichas... Assim tratamos a lealdade. É um ponto necessário de se entender. Não só jovens, mas muitos marmanjos ainda não entendem essa questão.
Hoje, em minhas andanças, por exemplo, percebo o quanto errei no passado e gostaria muito de rever certos conceitos de maneira a não desvirtuá-los no futuro, ou seja, hoje. Mas, hoje, também acredito em determinadas coisas errôneas, e minha finalidade é buscar “reconceituá-las” e, na medida do possível, entendê-las, praticá-las – enfim, eu também sou humano, e por que não dizer... Jovem? Quer dizer, pelo menos, em algumas coisas nas quais claudico... Em outras, maduro o bastante para saber o quanto estou errado em continuá-las. Essa é consciência real do homem. Saber dos seus erros e por eles traçar uma meta, sempre na tentativa de, com eles, aprender e ser leal a eles.
Aqui e agora, não sabemos nada do que nos ocorrerá no futuro, por isso tememos até mesmo os importunos, assim fazemos de tudo para vivermos a máxima do viver sem controle, sem respeito, sem amor, sem direção; viver sem olhar onde pisamos – seja em minas, seja em pessoas, até mesmo em crianças abandonadas, mas o pior de tudo é viver sem tentar ser amigo de quem mais precisa de nós: nossos pais, irmãos e filhos.
A caixa aberta pelos jovens, depois de dez anos, não só impressionou a eles, mas a nós também. Seus olhos de arrependimentos foram nossos olhos, nossas lágrimas. A menina que tinha escrito coisas vãs sentiu-se a mais pobre das criaturas ao descobrir que poderia ter deixado uma lembrança dos pais que haviam morrido dez anos depois. Um garoto ficou feliz por ter realizado seu sonho de terminar a faculdade, se formado em arquitetura, mas triste por muitas coisas que havia dito na pequena carta de há dez anos.
Se pudéssemos fazer isso com freqüência, sentiríamos a mesma dor da decepção de nossas imaturidades. Contudo temos a consciência de que podemos melhorar nossos pensamentos, nossos relacionamentos, seja com pais, mães, filhos, amigos, enfim, começar de novo, com novas premissas, novas idéias e comportamentos. Rever, assim, nossos conceitos de liberdade, de amor, justiça, de paz, de lealdade... E, quem sabe, conversar um pouco consigo mesmo, sempre refletindo o que poderia ou não sobreviver nesse mundo depois de dez anos, ou mesmo a eternidade naquilo que fazemos diariamente.
Regis :/
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