quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Fúria de Titãs, terceira parte.


O mito é u´a comunicação do homem com sua essência. E como toda essência que se resguarda em labirintos, bosques, cavernas, deve ser transformada em objeto de busca. Mais que isso, é um ideal de vida. O homem procurando o Homem em si mesmo. Tudo isso levado, sutilmente, secretamente, pelos mitos.

Antes dos mitos, contudo, vale dizer que os contos de fada eram a forma pela qual os iniciados – druidas, sacerdotes, bruxos (bons) --, se comunicavam e transferiam naturalmente à camada menos sábia – mesmo porque eram educados para entender que era um meio simbólico de tradução do sagrado – a filosofia do que viria a ser uma realidade profunda, mas que trazia os deuses até eles.

Os contos, mais tarde, deviam ter a mesma potência, no entanto foram deixados para trás – entre aspas --, pois foram introduzidos aos povos de maneira simplória, ainda que arquitetando a beleza do próprio homem. Deles, surgiram princesas que aparecem, até hoje, do nada, e fogem com o príncipe, também um belo cavalheiro que a salva sem pedir nada, sem mesmo saber quem é ou será a donzela – sem falar nos dragões, “pobres animais” que eram mortos sem ao menos uma defesa prévia... Os contos são assim: simples e complexos.

Cada elemento do conto nos levava a um ponto: a alma humana – correção, nos leva. Sua fragilidade, sua leveza, sua natureza volúvel transformou o mundo dos contos de fadas enriquecedores e educadores de crianças à beira das fogueiras. Hoje, em meio a tiroteios de mídias, competições, modernidade fugaz, o que nos oferecem são contos modernos, às vezes, sem sentido algum, ou sempre com o fundo voltado a uma educação mais fugaz ainda.

O conto possui uma natureza simples em comparação com o mito, tornando-se, pelas figuras que o caracterizam – anões, princesas, maças, heróis de chumbo, animaizinhos, florestas, lobos-maus, etc... – visualmente mais voltados às crianças, as quais entendem tão bem quanto o adulto.

Mas o mito – voltando --, pela estrutura, nos remete a forma universal, com elementos suprarreais – cavalos alados, semideuses, deuses, enfim... Sem os quais não haveria a possibilidade de formação de um universo, de uma tradição...

A Caverna

No livro Sete da República, de Platão, escrita há mais de mil anos, o filósofo fala de uma alegoria – chamada o Mito da Caverna -, na qual cria diversos símbolos partindo de uma realidade semelhante à nossa.

O mito nos conta que, em uma caverna extensa, moram vários indivíduos algemados de costas para a entrada e de frente para o seu fundo. Como desde pequenos estão ali, não sentem nada em relação a muitas coisas, principalmente à liberdade (conceito filosófico).

Por trás deles, queima uma fogueira imensa, que, por refletir em seus corpos e de outros que nela moram, mandam e vivem, sombras nela se fazem. Assim, todos vivem do reflexo, não da realidade – segundo Platão.

Mas quando se trata de ser humano, ainda que parecidos física, psicologicamente, temos uma alma cuja natureza é buscar, descobrir, se irritar, ir atrás de seus ideais, por mais dificultosos que sejam – assim diziam os sábios – e desgrudar de arcaísmos, e é aí que somos essencialmente diferentes; porque não tomamos partidos de determinadas coisas coletivamente, mas instigamos para isso, ou seja, a partir de reações individuais pode haver ações coletivas.

A partir disso, Platão fala de um dos indivíduos que se mexem entre todos os moradores, tenta desfazer das algemas a principio, e, mais tarde, o consegue. Ao perceber que estava sem as algemas, começara a perceber a realidade aos poucos, andando em direção oposta àquela que desde pequeno vira; vê a labareda que os enganava com suas formas em sombras, percebe que há uma saída, e para finalizar vê o sol. Acreditando naquilo que sente – vê, sente, ouve, pega... – tem apenas um objetivo: levar aos irmãos a sua realidade, a verdadeira...

Tradução (@&*...)

É vã encontrar a extensão do significado desse mito. Porque é enorme. Daria pelo menos duas ordens de mil páginas apenas para introduzir... Mesmo assim, estaríamos tentando apenas fazê-lo, pois a visão relativa do homem cai no racional e nos transfere o que a inteligência tem certeza – o que para a real tradução não passa de uma forma também relativa.

Vamos nos basear no aspecto filosófico da questão, não outro. Digo isso porque, em razão de muitos historiadores, políticos, religiosos, donos de botequim lerem o mito, e dele fazer devaneios interesseiros.

Os mitos, como foi dito, possuem ferramentas para a compreensão humana e universal, contudo, não temos para compreensão do que cada ferramenta nos serve. Por isso, nos alimentamos de metáforas pelas quais assemelhamos fatos corriqueiros com a ficção. Assim, para nós, o Mito da Caverna nada mais é que algo relativo também, ainda que tenhamos um ponto de vista filosófico, o maior que podemos ter...

Assim, em minha tentativa vã, tentarei com o que tenho reverberar acerca do Mito.

Desde a caverna, seus moradores, as algemas em suas mãos; passando pelas sombras – reflexo –; o individuo que se sente incomodado; o fogo, o sol, a natureza... Tudo possui um simbolismo metafísico, todavia, em nossa esfera, podemos dizer que tudo está em nós. Pois nossa alma, aprisionada, sente a necessidade de busca pela verdade, a qual está no próprio homem – estamos falando do divino.

Sua natureza volúvel, no entanto, nos aprisiona à matéria – não somente à física, mas também ao nosso passado, às nossas dores psíquicas, ao nosso mundo que tanto defendemos com unhas e dentes.

Por fim, estamos presos, de alguma forma, à minicavernas cujas estruturas são tão fortes quanto às reais. Platão, não sei, talvez, quisesse dizer isso. E prosseguimos com a tentativa de “desobscurecer” a caverna.

O individuo, quando tenta sair de suas algemas ou percebe o fato de que elas não são algo natural à sua identidade, se mexe, puxa, se incomoda... e sai daquela realidade imposta a ele desde criança... Após isso, começa a busca por algo que a todo ser humano é inerente: a busca pela verdade, pelo conhecimento, pelo Amor, Justiça, pelo Bem. Depois de seguir em frente, saindo da caverna, e ao encontrar o sol – símbolo tradicional do sagrado -- entende que a Justiça, a seu ver, é agir de acordo com sua possibilidades, natureza e capacidade; que Beleza é um conceito arquetípico (pararracional); que o Bem ilumina a todos... Que o Amor é vontade divina, não humana; e o filósofo ainda chama de político (filosoficamente) o ser que saiu e voltou para a caverna a fim de ajudar os outros que nela ficaram – e que nunca nele acreditariam.

O fogo, em muitas tradições, revela-se a espiritualidade simbólica, sempre vertical; na caverna, estou longe de saber. Mas as sombras, desde o inicio, são todas as coisas em que acreditamos materialmente, ou seja, objetivos palpáveis a nós embutidos por criaturas misteriosas, as quais Platão chama de Amos da Caverna.

Os amos da caverna podem ser os políticos de sua época, que condenaram Sócrates; podem ser nossos políticos, que fazem questão de nos puxar para o mundo relativo, objetivo, cheios de nuances, espertezas, racionalismos exacerbados – não estou falando somente de congressistas! – e ao mesmo tempo falácias.

Mas Platão não queria apenas servir este presente ao grande homem apenas, seu objetivo era deixar claro que seguimos uma educação paralela à Real – ou seja, aquela que nos é de direito do dia em que nascemos ao dia em que morremos: o conhecer a si mesmo.







Continua...

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