quarta-feira, 9 de março de 2016

Morte que vem da Vida; Vida que vem da Morte.


“Se aferrados ao corpo, morremos com o corpo; se aferrados à alma, morremos com a alma”. J.A.Livrarga.



Seria outro conceito relativo a morte se não fôssemos tão apegados à vida corpórea. Não haveria sofrimentos ou menos que isso, brindaríamos a cada ida ao mistério. E isso seria um tanto quanto evoluído de nossa parte, ou meramente governados por um sentimento neutro, frio, que somente zumbis os sentem. Prefiro a evolução...

Assim como o Bem e o Mal, temos visões distorcidas em relação à morte, aos mistérios, a Deus, ao desconhecido, como se tivéssemos uma lei que nos desse a possibilidade natural de rotular o que não conhecemos. É preciso conhecer, no entanto, o Desconhecido para que não nos assustamos, ou nos deparamos como nossa própria ignorância, e na tentativa de revertê-la nos tornamos ridículos.

Temos que nos basear, contudo, em algo que, em razão da seriedade como tratavam os assuntos relativos ao desconhecidos, na Tradição. E quando me refiro à tradição, temos que olhar para trás com vistas ao futuro, a uma reeducação interna, buscando o Conhecimento.

Muitos do passado, pelo menos há dois mil anos antes de Cristo, seguiam preceitos que respeitavam um todo, a natureza, fosse ela humana ou não, e seguiam seus conceitos sagrados sem romper com seus antepassados (e assim por diante...). E nós, de alguma forma, filhos daqueles, temos que fazer o mesmo, ainda que nossos olhos estejam voltados a uma modernidade rompida com nossos Pais.

Bem e Mal

Somos obrigados a dizer que o bem e o mal, em tese, são relativos, ou melhor dizendo, são formas relativas, como opiniões que se desintegram com o tempo, porém necessárias são para o conceito de prováveis realidades que nos burlam física e psicologicamente. Mas se trouxermos à tona a teoria de um bem absoluto, somos obrigados a dizer que o mal não existe, simplesmente porque duas forças absolutas não podem coexistir (lembram-se do Gêneses? “Deus é Onipotente, Onipresente”), e assim extinguiríamos todo o mal relativo e teríamos um olhar mais profundo sobre tudo... Pois tudo estaria dentro de uma necessidade do Bem, ou seja, direcionado a conhecer o todo.

Morte e Vida

Também são relativos; para alguns, a morte nada mais é que o desaparecimento do corpo, como foi dito; para outros, vida nada mais é que o respirar, o existir... Enfim, aquilo que se encontra palpável. A morte em si não existe, se analisarmos como se fizesse parte de uma vida maior, da qual viemos, e para qual vamos.

Se começarmos com pensamentos existencialistas, desconsideramos fatores interessantes, os quais norteiam os princípios mais misteriosos do universo. Por exemplo, uma célula com outra, na maioria das vezes, forma uma terceira; um átomo com outro, o mesmo – um terceiro elemento... Mas nos esquecemos de dizer que, antes deles, célula e átomo, já existiam em vida, já existia a ideia daquelas partículas, ou seja, elas não vieram do nada...

Assim o somos, e assim seremos. Não viemos do nada, e para o nada não iremos; iremos para a vida mesmo depois que nosso corpo se desintegre ao som dos raios fúnebres de nossas lágrimas.

Culturas

Em determinadas culturas orientais, chora-se quando o individuo nasce; em outras, faz-se shows quando o individuo morre. A aceitação, enfim, depende do conhecimento até mesmo cultural de cada sociedade, ou mesmo do indivíduo. É provável que se chora (simbolicamente) em razão de o individuo encontrar, em vida, sofrimentos que o irão fazê-lo desvirtuar de seu caminho, ou não; e a alegria com a partida, com certeza, é da certeza de que há deuses que estão acima de nossas possibilidades, e que cuidam de cada um, quando nos  vamos... Caso contrário, não haveria deuses, nem homem, nem nada...

Em algumas culturas, como a do Egito, antes de o monarca se instalar como o todo-poderoso, ele tinha que conhecer, obrigatoriamente, o lugar em que iria descansar, ou seja, a cova na qual seria enterrado quando seu corpo não mais servisse...

Em alguns lugares desse país, ainda, era conhecido o amor à Vida, o amor não somente ao que se via, mas ao que era invisível também. E dentro desse âmbito, era mais fácil reconhecer a morte como algo necessário, correto, dentro de uma lei a que se obedecia por meio de uma deusa – Maat.

 

Filos.

 

Nosso aprendizado, com certeza, está bem longe dessas aceitações, que no passado foram mais que uma necessidade baseada em premissas naturais. Foram formas sagradas, universais das quais retiraram de outras civilizações, tão sábias quanto esta última, para o convívio entre humanos e seres em geral, sempre voltados aos mistérios, relatando o conhecimento por meio de mitos, lendas, histórias, contos, nos quais, até hoje, sobrevive, entrelinhas, o eterno.

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