“Se aferrados ao corpo, morremos
com o corpo; se aferrados à alma, morremos com a alma”. J.A.Livrarga.
Seria outro conceito relativo a
morte se não fôssemos tão apegados à vida corpórea. Não haveria sofrimentos ou
menos que isso, brindaríamos a cada ida ao mistério. E isso seria um tanto
quanto evoluído de nossa parte, ou meramente governados por um sentimento
neutro, frio, que somente zumbis os sentem. Prefiro a evolução...
Assim como o Bem e o Mal, temos
visões distorcidas em relação à morte, aos mistérios, a Deus, ao desconhecido,
como se tivéssemos uma lei que nos desse a possibilidade natural de rotular o
que não conhecemos. É preciso conhecer, no entanto, o Desconhecido para que não
nos assustamos, ou nos deparamos como nossa própria ignorância, e na tentativa
de revertê-la nos tornamos ridículos.
Temos que nos basear, contudo, em
algo que, em razão da seriedade como tratavam os assuntos relativos ao
desconhecidos, na Tradição. E quando me refiro à tradição, temos que olhar para
trás com vistas ao futuro, a uma reeducação interna, buscando o Conhecimento.
Muitos do passado, pelo menos há
dois mil anos antes de Cristo, seguiam preceitos que respeitavam um todo, a
natureza, fosse ela humana ou não, e seguiam seus conceitos sagrados sem romper
com seus antepassados (e assim por diante...). E nós, de alguma forma, filhos
daqueles, temos que fazer o mesmo, ainda que nossos olhos estejam voltados a
uma modernidade rompida com nossos Pais.
Bem e Mal
Somos obrigados a dizer que o bem
e o mal, em tese, são relativos, ou melhor dizendo, são formas relativas, como
opiniões que se desintegram com o tempo, porém necessárias são para o conceito
de prováveis realidades que nos burlam física e psicologicamente. Mas se
trouxermos à tona a teoria de um bem absoluto, somos obrigados a dizer que o
mal não existe, simplesmente porque duas forças absolutas não podem coexistir (lembram-se
do Gêneses? “Deus é Onipotente,
Onipresente”), e assim extinguiríamos todo o mal relativo e teríamos um olhar
mais profundo sobre tudo... Pois tudo estaria dentro de uma necessidade do Bem,
ou seja, direcionado a conhecer o todo.
Morte e Vida
Também são relativos; para
alguns, a morte nada mais é que o desaparecimento do corpo, como foi dito; para
outros, vida nada mais é que o respirar, o existir... Enfim, aquilo que se
encontra palpável. A morte em si não existe, se analisarmos como se fizesse
parte de uma vida maior, da qual viemos, e para qual vamos.
Se começarmos com pensamentos
existencialistas, desconsideramos fatores interessantes, os quais norteiam os princípios
mais misteriosos do universo. Por exemplo, uma célula com outra, na maioria das
vezes, forma uma terceira; um átomo com outro, o mesmo – um terceiro
elemento... Mas nos esquecemos de dizer que, antes deles, célula e átomo, já
existiam em vida, já existia a ideia daquelas partículas, ou seja, elas não
vieram do nada...
Assim o somos, e assim seremos.
Não viemos do nada, e para o nada não iremos; iremos para a vida mesmo depois
que nosso corpo se desintegre ao som dos raios fúnebres de nossas lágrimas.
Culturas
Em determinadas culturas
orientais, chora-se quando o individuo nasce; em outras, faz-se shows quando o
individuo morre. A aceitação, enfim, depende do conhecimento até mesmo cultural
de cada sociedade, ou mesmo do indivíduo. É provável que se chora
(simbolicamente) em razão de o individuo encontrar, em vida, sofrimentos que o
irão fazê-lo desvirtuar de seu caminho, ou não; e a alegria com a partida, com
certeza, é da certeza de que há deuses que estão acima de nossas
possibilidades, e que cuidam de cada um, quando nos vamos... Caso contrário, não haveria deuses,
nem homem, nem nada...
Em algumas culturas, como a do
Egito, antes de o monarca se instalar como o todo-poderoso, ele tinha que
conhecer, obrigatoriamente, o lugar em que iria descansar, ou seja, a cova na qual seria enterrado quando seu corpo
não mais servisse...
Em alguns lugares desse país, ainda,
era conhecido o amor à Vida, o amor não somente ao que se via, mas ao que era
invisível também. E dentro desse âmbito, era mais fácil reconhecer a morte como
algo necessário, correto, dentro de uma lei a que se obedecia por meio de uma
deusa – Maat.
Filos.
Nosso aprendizado, com certeza,
está bem longe dessas aceitações, que no passado foram mais que uma necessidade
baseada em premissas naturais. Foram formas sagradas, universais das quais
retiraram de outras civilizações, tão sábias quanto esta última, para o
convívio entre humanos e seres em geral, sempre voltados aos mistérios,
relatando o conhecimento por meio de mitos, lendas, histórias, contos, nos
quais, até hoje, sobrevive, entrelinhas, o eterno.
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