quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Anjos na Terra

Batalha de Achilles
     Epílogo







Em meio a tudo isso, percebi que uma singularidade estava se formando em minha mente: um padrão meio terrível de crianças gritando por onde quer que eu passasse. Desde os primeiros dias da virose, até o último dia na UTI, em razão do frio problema, anjos gritavam, corriam, sumiam nos corredores do hospital. Voavam baixo! Era encantador, e ao mesmo tempo aterrador. Suas vozes finas, outras rôcas, de tanto pedir aos médicos para não tocá-las com suas agulhas; mais algumas, enganadas por necessidade pelos pais, não sabiam se choravam ou corriam, torturadas pelo mesmo desenho na tevê dos recintos especiais.

Ali, descobri pequenos anjos com problemas os quais só posso admitir que eram ´cármicos', em razão de não terem o porquê de não ter uma explicação médica-científica para que tivessem aquilo que chamamos doença do nada, ou mesmo biológica ("normal"). Crianças com sintomas de apendicite, dores no coração, infartos, entre outros. Eu me entregaria a primeira igreja se não tivesse feito a matéria Filosofia de forma aprofundada...

Meu filho, infelizmente, depois que se prostrou naquela mesa de procedimentos, na qual crianças com risco de morte passaram, também estava entre os seres os quais pude perceber tinham a mesma razão, ou melhor, explicação por ter tido aquele rompimento... 

Depois de uma hora e meia -- em meio a choros meus e rezas de minha esposa e família, que estavam ali prostrados junto a mim -- o médico nos disse que o que fez com que Pedro tivesse o AVC foi a má formação interna de veias no cérebro, a qual já havia desde seu nascimento, descoberta agora, depois de nove anos, e que rompeu-se nesse mesmo tempo. Meu coração perdeu o rumo, e o da minha esposa saiu pela boca.

O doutor -- mais sério que agentes da Polícia Federal -- nos explicou, por a mais b, desenhando na mesa, nos mostrando em seu celular, que nosso filho já tinha passado pelo pior. Quer dizer, já não havia mais riscos, o que descartava qualquer insinuação nossa em relação à sua vida mais na frente. Foi o que nos deixou claro.

Depois de passados mais de quinze dias no tratamento intensivo, cheio de dores na cabeça, regado a remédios fortíssimos, cuidados por enfermeiras excelentes, por profissionais incríveis -- especialistas em fonoaudiologia, terapia e terapia ocupacional. Depois de ficarmos atentos a todos os seus momentos mais difíceis, não apenas o dele, mas ao nosso também; depois de repetirmos, todos os dias a todos os colegas e amigos o seu estado de recuperação junto àquela instituição fantástica; depois de tanto escutar a respeito de dores, de doenças, de sobrevidas, de vidas, de passar por um sentimento que nem mesmo adolescentes suportariam... Pedro voltou para casa.

E aqui, eu gostaria de agradecer a todos os crentes e não crentes. aos meus amigos filósofos ou não, aos seres que já andam em sentido celeste pelas orações e apego à causa que se desfizera (ou está para se desfazer) com o tempo, e dizer que somos Um em todos os sentidos, e que nesse sentido a essência humana foi por mim descoberta, e dei o nome a ela de Deus. 






QUE TENHAMOS UM ANO CHEIO DE FLORES COM MENOS ESPINHOS.

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