quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Justiça Invisível

Sabemos que a Justiça é invisível e que todo ponto de vista baseado em justiças relativas nada mais é que uma opinião baseada em premissas necessárias a quem a defende. Ou seja, sabe-se, de pronto, que não a temos, mas reverberamos acerca dela, nos propomos a falar sobre ela, mas estamos longe em entendê-la, por isso, nossas  palavras vãs quanto ao assunto Justiça.

Todavia, é preciso que busquemos referenciais fortes quanto ao que salientamos nesse caso. Porque nada mais sonoro do que frases do tipo "Acho isso uma injustiça", "Quero meus direitos", enfim, de modo que não nos sintamos afastados do real significado desse ser chamado Justiça.

Platão (filósofo grego) faz uma bela abordagem em seu livro A República, no qual, na boca de seu mestre Sócrates, com lastro em vários outros conceitos tradicionais, chama de Justiça a natureza como um todo e seu papel junto aos seres, sejam humanos ou não. Para o grego, Justiça seria cada um exercer ser papel no universo, sempre, de acordo com sua natureza e ou capacidade junto às circunstâncias nas quais é ou foi proposto, assim como o sol, a sombra, a terra, e passando para os personagens de sua Filos Cidade, do guardião ao sapateiro, da cadeira à cama.

Se observarmos bem, não é tão simples entender tal conceito, mesmo porque, saliento, temos a mania de relativizar tudo da maneira que nos convém. Nossa mente, na qual se infiltram definições a cada segundo, é preparada para olhar para fora, não para dentro; preparada para cometer gafes, duvidar, alegar, racionalizar em nome do egoísmo, etc. Nada melhor do que partirmos do ponto filosófico, com a consciência centralizada em descobrir rumos diferentes, sem que sejam os nossos, porque podemos cair no ostracismo, no frio mundo da pedra que não se move.

E para não cair nesse erro, na tentativa de nos trazer à tona valores nos quais mergulhamos diariamente sem nos afundar, Platão nos traz racionalmente, como um ser normal (que não é), entre eles, o real valor do ser Justiça -- pelo menos concordo -- quando ele parte do simples ao complexo, ou seja, da ponta de uma célula humana à alma que se instalou em nosso corpo, há milhares de anos...

Platão diz que não devemos confundir justiças relativas (ele diz isso o tempo todo) com a Justiça que nos transcende; a olhar para horizontes, para o universo, perceber o papel de cada esfera, e antes disso de cada molécula fria, de cada átomo a ser formar concreto, até a formação da vida organizada no micro e no macro universo, não enxergar como casual, nem mesmo distante -- o que nos atrapalha a compreensão na maioria da vezes dos reais valores humanos e universais. Cita mitos fantásticos como o de Er e de Gizes, nos quais devemos, antes de tudo, praticar o que é justo sem que haja necessariamente seres a nossa volta.

Dar a cada um o que lhe é necessário de acordo com sua natureza e capacidade hoje em dia não é fácil, mesmo porque somos obrigados a nos desviar do que somos, para suprir necessidades básicas que nos insistem bater à porta todos os dias. Mas Platão, com seu mundo, nos deu a porta e a chave para perceber que somos justos sim, mas para isso é preciso que tenhamos que olhar para dentro com vistas a descobrir o sentido de nossa alma.




Abraços, mestres;

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