sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Involução Humana


Sabe, há determinados fatos que me chamam a atenção quando, por si só, independem da Imprensa, quero dizer... Falam alto, gritam aos nossos ouvidos, bradam “O que que está havendo conosco?!”, e me incitam mais um texto. Claro que o blog não chega a ser um diário das histórias pelas quais passo, mas... Mas... Vamos à historieta.

Bem, segundo a mardita imprensa foi assim, um senhor de mais de setenta anos chegou a uma agência de uma instituição – um tribunal – e foi fazer suas transações bancárias, assim como qualquer ser mortal. Ali mesmo, na agência, havia um estagiário que trabalhava na mesma instituição em que o velhinho aparentemente simpático trabalhava. O menino, inocente, com o mesmo intuito do senhor septuagenário, entrou em uma fila, mas nesta não poderia ficar porque o caixa, segundo o segurança, estava fechado – ou com problemas; então resolveu o menino ficar atrás do ‘humilde velhinho’ (não se enganem!), e pronto.

A partir dali, o inferno em forma de pessoa se fez na frente do pobre estagiário, que, na qualidade de cidadão comum, esperava o próximo a resolver seus imbróglios no caixa, mas, perdão, esqueci-me de dizer... O velhinho, além de trabalhar na mesma instituição que o garoto, era dono dela (!). Aproveitando seu cargo, sua idade, sua lucidez, ainda que medíocre, o presidente da Instituição, virou-se para o menino e começou a questioná-lo sobre a sua existência na terra.. “O que você está fazendo aqui? Por que não vai para outra fila ou fazer o que deve ser feito em outro lugar” – mais ou menos isso --, e o humilhado, quase sem voz... “Eu estou atrás da linha amarela, senhor”... O que nos pareceu uma simples forma de dizer ao senhor que não havia nada errado, ao velho foi como se fosse uma afronta ao poder... Ao poder dele.

Depois de meditar... meditar sobre o fato, tirei a seguinte conclusão: mais uma vez, estamos passando por uma transformação psico-material-involuida, na qual seres se confundem com cargos que ocupam, com carros que compram, com o lápis que escrevem, e, antes de mais nada, com as pessoas que vivem, porém nunca com seus atos, pensamentos, enfim, com elas mesmas.

De certa forma, chega a ser natural tal comportamento. Mas ser educado dentro dele como se fosse um refúgio da própria identidade, não é natural, e sim o inicio de uma avalanche decadencial na qual estão inseridas a política, a família, a religião, a ciência, a filosofia... a sociedade como um todo, enfim, a possibilidade de isso se transformar em uma extinção humana (não literal, claro) é muito grande!

Mas não estamos percebendo isso. Pelo contrário. A educação, desde a mais precoce idade, à fase adulta, nos conduz a esse pensamento torto – e arcaico. A criança, desde já, entende, isso na visão moderna, que, ao crescer, deve ter muito dinheiro, com uma profissão não humilhante, como sempre foram vistas as de gari, garçom, balconista, etc, e sobreviver em função disso, dessa desidentificação, ou seja, idealizar algo desde o inicio de sua vida até sua morte, como se fosse a maior busca que se faz enquanto vivo!...

O pior, teorizamos, fazemos palestras, concordamos com o fato de que realmente estamos sendo levado por essa avalanche, porém, ao passar pela porta, nos esquecemos completamente daquilo que somos! E o que somos? Somos seres humanos, e podemos nos identificar com o que fazemos, com o que pensamos, com a dor que sentimos, com o amor que damos e recebemos, etc... E mais, com sol que vemos e chuva que ouvimos; com a poeira molhada e seu cheiro... Com rosa, com lágrima que nos cai ao rosto quando nos emocionamos, com nossos atos elevados!... Mas nunca com o que temos. Talvez pela maneira como o conseguimos --, honestamente ou não; com lutas ou não... Assim: nenhum carro sou eu, nenhum cargo, nenhum lápis, borracha, nem mesmo o meu filho sou eu! – digo pelo exemplo de muitos pais se encontrarem na figura do filho e restringirem seus atos baseados em suas vidas.

Temos nossas características individuais, já perceberam? Cada um levando em si a personalidade que se preparou, educou... E o próprio caráter. Os aspectos físicos são relevantes, e é compreensível se identificar com ele, mas isso é milenar, ou seja, por falta de uma educação psico-filosófica e prática, sempre nos identificaremos com nosso corpo... Nada mais natural. Agora, uma educação que está aquém do que somos pode nos tornar animais no poder, cheios de instintos, cheios de falas racionais, contudo, apenas animais disputando vagas, disputando o que não somos.

- Volto no próximo texto...

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