Obrigado, filhão. |
Ainda ontem fui presenteado pelo
meu filho com uma pequena pasta, cheia de exercícios que fizera durante o ano
inteiro. Eram pastas, na realidade, que continham deveres – como ditados,
pinturas de desenhos didáticos, enfim, tudo que uma criança de primário tem
como obrigação de fazer, e ele fez da melhor maneira possível.
Por que ele fez isso, me dando como presente? Meu filho
tem um pequeno problema de inteiração com as pessoas, e por isso claudica um
pouco nas palavras, nos atos e fica recluso quando pequenas coisas lhe acontecem.
Mas ele sabe que nós dois, o ano inteiro, juntamente com sua mãe, trabalhamos
esse lado dele, por várias vezes, e sabíamos que não seria fácil,
principalmente a ele, que, assim como pai, de vez em quando sabe que o mais certo
é ficar sozinho a digladiar em meio a palavras maldosas, sem sentido...
Contudo, ele, com seis anos de
idade, teria que iniciar um processo de fala, de integração o mais rápido
possível se quisesse criar alguma catapulta para seus sentidos, e conseguiu.
Naquelas páginas que me presenteara, cheias de palavras bem feitas, de ditados
com palavras corretas em cada sequencia, Pedro dizia... “obrigado, pai”.
Mais que isso, saltitante, por
conseguir lidar com seu jeito menino de encaixador
de palavras rápidas, porém com algumas consoantes mal fadadas, meu filho
mostrara que nossa didática, nosso jeito pai-e-filho funcionara muito mais que
professor-e-aluno, que colégio desestruturado versus revolta, que doença versus
objetivo, que tudo que um dia nascera para nos frear ao nosso ideal... Que era
desfazer de suas pequenas desconfianças puras, de seu jeito irrefreável de ser
nas horas do estudo, e transformá-lo em um menino falante, elegante, educado, e
mais, que, entre os vinte pequenos alunos de sua sala, fora um dos três que soubera
ler e escrever...
Eu, mais uma vez, lacrimejei. Mas
desta vez, não muito. Lembrei-me de meu irmão, o que sobrou, que um dia, em sua
sala de estar, emocionado, fora questionado por mim acerca de sua emoção que
ali se mostrava tão clara... “É meu filho, o Bruno”, disse em prantos, “Ele é
tão obediente, tão perfeito...”, e desabou a chorar novamente...
Naquela época, seu filho tinha a
mesma idade que o meu, e eu, o mais jovem dos irmãos, guardei aquela cena até
então, como forma de me precaver em relação aos filhos, os quais, em meio a
elogios profundos, cheios de conotações maternais, paternais, nos aprontam
muito, quer dizer aprontam muito... (ainda não a minha pessoa, mesmo porque só
tenho o Pedro...).
Precaução por quê?
Depois daquele episódio, um drama
à mexicana, muitos se fizeram. Mas dessa vez, com pimentas mais amargas. Houve
uma série de infortúnios com muitos de meus sobrinhos, principalmente o Bruno.
E após perceber que dentre os treze sobrinhos que possuo, ainda que alguns
tenham nascido longe de mim, observei e ainda observo que nenhum deles escapa
ao que faz, ou melhor, ao que não faz.
A maioria, cheia de desejos,
desfaz de seu pudor antigo, cresce, desenvolve uma mentalidade além-pai,
além-mãe, e outros, além-Deus, e acreditam piamente que podem alcançar o céu
sem ao menos entender o básico da vida. O respeito.
É natural que cresçam, queiram
ser independentes, que tomem conta de suas vidas, se alimentem do mundo, de suas
informações úteis e outras, a maioria, inúteis, ajam como homens e mulheres, ou
pretendem pelo menos, tomando suas cervejas, seus uísques, vodcas, se rebelando
contra os pais, mas se esquecendo de que, se querem ser diferentes, sejam coerentes.
Meus sobrinhos, independência, na maioria
dos casos, rima com inconsequência, demência, imprudência... Jamais com
respeito!
Se houvesse respeito a si mesmo,
entenderia que suas vidas nada mais que nuvens breves, e que quanto antes encontrarem
um lugar ao sol – ou como diria dona Josefa, “se lutassem por sua sombra”, amariam,
respeitariam e ouviriam a voz da vida quando em seus leitos estivessem
lacrimejando de raiva dos pais...
E Hoje, após aquele presente de
anjo que recebi, olhei meu filho, dei-lhe um grande abraço, um grande beijo, e
a ele também agradeci porque sei que, depois de tempos, pude perceber que estou
no caminho certo, e se Deus quiser, ele também.
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