segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

A Dor do Imediatismo



...Um dia um grande filósofo a palestrar, com sua versatilidade de sempre, me fez ouvir umas mais interessantes máximas que já passou pelos meus ouvidos... "O Imediatismo é perigoso". Falava de uma da pressa que temos em ter, ganhar, obter, apegar, pegar (sinônimos!) as coisas, de modo a tê-las simplesmente pelo fato de tê-las, nada mais.

Qual é o mal nisso?... A forma pela qual conseguimos. Nossa própria organização individual toda trabalhada para que a tenhamos em nossas mãos o objeto (do menor ao maior), e nos sentir.. bem. Isso pode, segundo explica o filósofo, desentranhar uma série de problemas pelos quais passaremos, como que abrir uma caixa na hora errada, e nos maravilharmos com o que tem dentro... 

Porém, não era a hora. Assim, se nos dedicamos a realizar nossos projeto de forma imediata, sem que saibamos exata, o momento certo, a forma como realizar, pode implicar uma série de mudanças em nossas vida. E não é para melhor.

Imagine darmos asas a uma formiga, ainda que um dia todas a tenham, mas que àquela pequena e pobrezinha formiga, pelo fato de sentirmos pena, temos o poder de a ela dar o melhor. A princípio, a nosso ver, nos sentimos bem, nosso ego se eleva, nossos sorrisos se fazem divinamente, graças ao nosso ato cristão, contudo esquecemos a parte natural da vida, que é deixar que cada um passe por seus problemas, ainda que visível em sua necessidade de ter e não conseguir seu quinhão, mas é um dia, por sua natureza -- nesse caso, a formiga -- é mais que provável que ela vai ter suas asas...

Se a ela damos asas, com certeza, pulará uma série de provas pelas quais o destino pensou em dar (não somente a ela, mas a todas que um dia passou ou passará). Nesse minuto, em um intervalo de tempo frágil, nos vem a compaixão, um dos sentimentos mais leais do cristianismo, entretanto que atrapalha em quase cem por cento o crescimento de muitos que precisam ir atrás de seus objetivos com suas próprias pernas e mãos.

Mas não estou aqui para falar da compaixão, e sim do imediatismo, que nos torna desorganizados futuramente, às vezes, muito mais rápido que imaginamos, pois sempre queremos tudo da maneira mais rápida, para sanarmos nossos desejos. Não somente no material, percebo. Na maioria das vezes, em orações, quando a pessoa está aflita, e pede a Deus que proteja seu filho, sua mãe, seu melhor amigo, sua familia enfim, todos aqueles que são dignos de proteção divina -- ou não! -- e não adianta dizer que existe uma organização natural em nossas vidas, que está religada com um processo tão desconhecido quanto o próprio espaço, e que se o adiantarmos, ou mesmo renegá-lo, sofrerá uma mudança -- ao meu ver também natural -- porém com consequências graves, pois quando se estica um elástico e depois desiste dele, umas pontas pode voltar com toda força em seus olhos.

O imediatismo também nos faz pensar que teremos um grande ano, cheio de bonanças, festas, e por isso desejamos satisfação financeira, dentre outras coisas. E, mesmo sabendo que é difícil, fazemos o possível para realizá-las o quanto antes, com o fim de sermos brevemente -- antes do vizinho -- "felizes". Esse é um mal que nos consome com o tempo.

E quando olhamos para cima, nos perguntamos acerca do desejo das estrelas, do sol, dos comentas... Será que, se tivessem desejos, o fariam mesmo que nós?.. E agora, será que desejam o quê? Nada. Querem apenas realizar seu trabalho com fins de transformar o universo um pouco melhor a partir do que são. Isso, talvez, seja a melhor coisa que podemos, de alguma forma desejar, e quem saber, realizar se realmente, do fundo de nossos corações desejássemos.

Sabemos que, materialmente, tudo é possível, pois trabalhamos com que vemos, apalpamos e, assim, vamos atrás, e queremos mais, quebrando todas as regras da vida. E quando desejamos um mundo melhor, o que teremos que fazer?... Buscar ter o que há de melhor nele ou ser um pouco melhor dentro dele?

Sejamos pacientes e teremos mais que tudo, seremos livres.


sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

A Vertente do Sonho




Um sonho que se preza não fala de ostentações, tiranias ou sistemas falhos. Um sonho que se julga sonho transforma nosso cotidiano, nossas vidas por completo... E quando atingindo, desconfie, não é ele, é apenas uma miragem de um interesse feliz, que se passa na mente e não no coração, no qual mergulha o mais puro dos sonhos, irrealizáveis por natureza e por isso belo por excelência...

Um sonho a se realizar somente em nossas mãos, donas de tatos, dos quais sai a terra, sai o ódio e alegrias passageiras, é nobre, mas não se pode confiar, mesmo porque onde mora a alegria, lá também reside a tristeza, como companheira de quarto... Aqui, ele, o sonho, se limita a ser a face do homem que acorda e vai para o campo assistir a chuva cair depois de tempos, e ao passo, em tempos quentes, ver seus sonhos se esvaírem como a própria água da chuva, que não veio...

Um sonho pequeno, ínfimo, filho de nossa grandeza pessoal, é realizável, pois possui elementos físicos e emocionais, trabalhando em função de nossos interesses em plasmá-lo, como fantasmas que se foram e nos aparecem no soprar de um vento forte. E por isso precisamos olhar para cima, para bem alto, onde nossas cabeças e sonhos não alcançam... Precisamos elevar nossa consciência e transformá-la em escrava de ideais, nos quais sonhos realizáveis são filhos de peças cuja cortina não se abre por completo...

Um sonho só é realmente verdadeiro e belo quando olhamos para o sol, no alto de nossas possibilidades, no alto de nossos sonhos; quando nos ajoelhamos e percebemos as formigas a transportar suas folhas, tão pesadas quanto seu corpo, para alimentar a rainha, a qual, para nós, pode ser, em uma metáfora maravilhosa, nossa alma...

Ao transportar o que de mais forte e necessário para a rainha, tão protegida em seu formigueiro, a formiga plasma a meu ver o seu sonho, e o transforma em algo eterno, com fins de realizações tão naturais, que nem percebe que é um sonho, não se alegrando, nem mesmo fazendo festas, apenas trabalhando em prol de todas aquelas que se parecem com ela, e de quebra a própria rainha...

Nossos pequenos sonhos nos barram a esperança de levarmos nossos reais princípios à alma – a rainha – e fortifica-la, simplesmente porque nossos interesses, arraigados de momentos “mágicos”, de hipocrisias escondidas em nossos espírito frio, não nos deixam sonhar. É como se limitássemos nossos sonhos a uma caverna em que tudo visualizássemos e nos referenciarmos nela, até mesmo nossos sonhos...

O real sonho nos faz andar em direção ao fim dela, retirar as fibras presas em nossa pele, os pesos de nossas costas, a dor de nossos eternos filhos, as pedras de nossa alma, e nos devolve mansidão natural... O real sonho nos faz sonhar com ele, e em seu caminho nos faz leais a ele, ainda que somente em possibilidades se encontre.

Que no próximo ano tenhamos em nossos caminhos mais que forças a nos conduzir em direção a sonhos reais, tenhamos fé -- não a fé forçosa, e sim simples e pura -- em prosseguir, pois todos os passos, todas as experiências nos faz conduzir a reflexões, pelas quais chegamos até o mais alto do monte, até mesmo ao céu.


O real sonho é o sol, inalcançável; porém, às vezes, conseguimos vê-lo e amá-lo.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Gotas de Felicidade...



Fingindo dormir

Fotogênicos! 



Em meio à descrença política, religiosa e social, vivo à passarinho, como queria dizer nosso querido compositor Tom Jobim (muitos passarão e eu, passarinho), em uma vida que só se iguala a de uma criança em fins de arco-íris, no qual seus sonhos, levemente, são realizados, sem pedir, sem força, sem afugentar os passarinhos...

Nessa descrença, em tons de ameaça ao mundo, à nossa ordem e civilização, corro em meio ao meu gramado, junto com meu filho e cachorro – cão pastor, -- que se renega, assim como eu, a encarar a vida dos cães furiosos, natos de sua raça, que protege os familiares e avança nos demais. Falcão, meu pastor, que completará um ano no mês que vem (capricorniano?), se envolve com todos, com tudo, como um urso de pelúcia que cheira o gramado todo, e a todos os transeuntes medrosos com seu tamanho...

No entanto, ao descobrir sua docilidade, por meio de seus olhos pidões, o sorriso lhes vem como gotículas de chuva repentina, que cobre o rosto em seguida. E em seu calcanhar, Pedro, meu filho, dono de uma temperança sem fim, se inicia a olhos nus, providenciando brincadeiras com o gigante de quatro patas, que ao lado dele parece um corcel!

Pedro tem oito, mas consegue ser puro, belo, educado, simples e dedicado a Falcão. Todos os dias questiona a respeito dele, e sempre quer mais nas brincadeiras de jogar gravetos, bolas, mangas pequenas (que caem do pé), as quais são objeto de adoração do comilão que desfaz em amor pela fruta quando a vê, e a devora até o fim do osso!...

E eu, paralisado pelo amor aos dois, choro de rir, a pensar nos pais que se enclausuram debaixo de suas camas, em busca de remédios para a vida que se vai lá fora. Penso, também, nos críticos de animais, de crianças, de alegrias passageiras que mais parecem eternas quando que deparadas no dia a dia, pertinho de mim.. . de nós: vivam o máximo que puder, em nome do belo, justo e verdadeiro!

A felicidade, penso, existe em gotas, e eu vivo recentemente um caso de amor constante entre meu filho e meu grande pastor, e isso posso considerar... é uma gotícula essencial a mim.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

O Infinito reticente de uma semântica incontida...




...Nas reticências que iniciam esse pensamento, há uma mensagem subliminar, a de que iniciamos, sempre, por meio de um corpo, uma semântica, seja ela qual for, que se encaixa nele -- nesse corpo -- sempre tentando traduzir, entrelinhas, o que o passado nos traz. E nessas palavras, nas quais resguardo um segredo, penso que há mais semânticas nelas do que em toda minha pobre vida...

E quando termino nas reticências, com um outro pensamento, sugiro que há um infinito de possibilidades que nos surge em tentar adivinhar o que vem pela frente.., E mais reticências se fazem em nome de questionamentos, em nome do que jamais cessará, que é o nosso mistério em relação ao que é o infinito -- que é o espaço-tempo cheio de um energia cósmica, mística, mas ao mesmo tempo tão natural quanto o ar que se respira.

As reticências são limitadas, no entanto, quando o poder do pensamento relativo e racional se faz. Ou quando o próprio ser humano se engana ou, como diriam os mais sábios, se apegam a ignorância... Nela, quando de maneira dúbia, se expressa, ou tenta se traduzir em meio a mais pensamentos, incrementos, sentimos que a reticência pode voltar, e nos fazer entender que ela, a ignorância, nada mais é que uma beleza de várias cores, das quais o sábio, em sua ignorância, diz preferi-la, amá-la, pois sabe que jamais terá o conhecimento eterno...

Nós, em nossa reticente ignorância, acreditamos que somos professores em tudo que fazemos, mesmo com a decrépita persona vaidosa e relativa, teórica e obtusa em seu jeito de ser e existir. Nos parece, assim, que a reticência, em nome da deusa Necessidade, irá existir plena em tudo que achamos transcender, pois não transcendemos, retroagimos, em nome de interesses que poderiam chegar aos céus, mas preferem beijar as raízes da deusa Nefthel, de onde nascera a palavra Hell, inferno, no qual nem mesmo o mais assombroso dos pensamentos consegue se ouvir...

As reticências jamais se extinguirão, pois iniciam uma busca e não conseguem terminá-la, ensinam no inicio e podem morrer sem aprender nada no final. É o Universo, sem inicio, sem fim, no qual estrelas nascem e morrem, energias são repassadas uma às outras, como irmãs heroínas com finalidade de transpassar o que de bom tem a outra que nasce, mas que não aprendera lidar com o que recebera, pois seria nova demais..

O infinito, filho dos das deusas que burlam o universo, vívidas no passado, mas mortas no presente, persiste em existir em forma de mensagens, não tão claras, mas que nos fazem repensar o que somos, o que fazemos e porquê. Nos ensinam que nosso trabalho, a depender do que fazemos, pode ter reflexos tão infinitos quanto o próprio deus. 

E hoje, nesse mergulho infinito de Brahma, nas linhas imaginárias do Darma, nessas formas e forças que se comungam em nome do Nada, penso em Maia, a mãe que de longe nos vê, nos protege e ao passo nos torna crianças que nascem e morrem, que nascem....

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Aos Buscadores




A verdade pode ser tudo que nos interessa, ou o que nos atinge friamente o âmago quando se ouve o inaudível. Pode ser muitas coisas, até mesmo o insondável, o mistério, o mítico, o sagrado, o profano, a própria criação.

Temos, no entanto, somente parte desse mistério, dentro qual só deduzimos, teorizamos a respeito do que é e ou pode ser. Já é o bastante para se entender estrelas, buracos de minhoca, desvendos de teorias einstenianas, velhice, etc...

Isso, dentro de nossas relatividades nas quais somos mestres, e tão mestres quanto aquele que vive soberbo no Tibete, em busca da realização do ideal maior. Esse é o mal da verdade, ela se disfarça -- ao nosso ver -- de fada madrinha do bem, realiza nossos sonhos pequenos, nos embriaga da famigerada alegria provisória, como príncipes de contos, e nos mata logo após...

A verdade, como se vê, é uma semântica perigosa, na qual nadamos e perdemos o fôlego quando não sabemos nadar pelo cansaço. Para prosseguirmos, a não verdade prevalece e nos faz de tubarões metafóricos, que não podem parar, se não se afogam. Mas o mar, esse o da verdade, nele nadamos...

Em nome de um querido amigo, quero fechar esse texto dizendo que a verdade que vemos é tal qual a projeção do filme, o próprio filme, até mesmo os personagens... Porém, a Verdade, aquela para qual damos as costas, é a luz que projeta o filme, e mais é da onde sai a própria luz.



Aos buscadores.


sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Um pouco de sabedoria...




Um sábio que caminha nas montanhas, solitário como um gafanhoto, feliz como um beija-flor que respinga energia nas flores, e sussurra na brisa do dia suas verdades, a verdade que buscara com sua alma, em meio às complicações humanas, em meio à simplicidade universal.

A nós só nos resta questionar a beleza desse ser que, assemelhado aos outros, refaz as fases da lua, o nascimento do sol, de uma estrela, modifica batalhas com sorriso ligeiro e as transforma em campos de paz. Só nos resta questionar como e porquê tal homem, tal ser tão belo quanto nada no mundo, existe somente com o fim de nos direcionar ao céu... ao nosso céu.

Ele, esse homem que brilha no escuro, tão farto de sabedoria que dói, anda com seus pés, mas não parece. Pisa nas pedras como querer amaciá-las, tornando o ato como distinto e natural, miraculoso e especial. E quando as nuvens choram, a lhe trazer as lágrimas do tempo, não corre, não desiste, apenas sente cada gotícula em seu rosto como um bom vinho que desce no coração.

Esse homem, cultivador da beleza, da bondade e verdade, possui um jardim no qual flores e folhas, e insetos, e terras, são tão cuidados quanto o próprio mundo o é pelos agentes divinos; amante dos detalhes, da biologia que cerca seu cerrado, com pássaros, árvores frutíferas, animais selvagens à margem de seus olhos, mas sempre em sua comunicação com o sagrado, do qual nasce e para o qual se vai, todos os dias.

E nós, presos aos nossos âmagos vazios, como que retirados de um filme mudo, sem a breve legenda, cuja película se desfaz pelo mal uso da máquina que o faz ir à bendita parede, agimos como crianças eternas, sem o desenvolvimento interno, sem o crescimento natural, sem as batalhas naturais que a vida nos concede. 

Precisamos delas, dessas batalhas, pois os deuses, infinitos mestres, querem que sejamos um pouco mais divinos que somos, para isso, contudo, temos que avançar em nossas "provas", ou pequenos testes que nos dão. Se não passarmos em pequenos, não será em vão, mesmo porque haverá sempre outros que nos baterão à porta, em forma de paixão, de conflitos familiares, de dores que se encaixam na alma e nos transformam em pequenos professores da dor, e assim, caminhamos ou temos que caminhar, mesmo porque a sabedoria é apenas uma ponte pela qual passamos, e depois dela enxergamos as divindades, e enfim nos religamos ao todo.

O sábio, que caminha nas montanhas, que resguarda os mistérios mais profundos do homem em seu coração, está aqui, conosco, cheio de alegria, preso apenas por nossa teimosia em sermos ignorantes voluntários em um mundo moderno, caótico, sistêmico em todos os sentidos, e nos faz crer em valores frios tais quais os do passado. Armadilhas à frente.

Somos sábios em nosso modo de ser quando compreendemos alguém em seu lamento, em sua fuga para outra realidade, para o caos. Precisamos ouvir o próximo, sentir que somente o homem pode ouvir o próximo e dar conselhos, e com estes mudar um pouco a vida de alguém, e fazê-lo ver, com os olhos do coração, que a vida tem seus graus de iniciação, desde o momento em que se nasce ao último que se vive.

E se conseguimos passar pelo pouco que o céu nos dá, pode nos chamar de sábios.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

No Intervalo do Tempo...


Refugiados: até quando?



No intervalo do tempo... há o tempo que se perde ou o tempo que se ganha. Nesse intervalo, choramos, rezamos, pedindo a Deus, nos debruçamos em orações, gritamos em nome de nossos filhos, de nossas famílias, de nosso amor maior -- de uma paixão. 

Até segurarmos o fio do próximo tempo, almejamos a paz, morremos e ressuscitamos em guerras, levantamos dos escombros feridos, e voltamos ao tempo das lembranças em que corríamos ao redor da vida, como planetas ao redor do sistema, envoltos em pensamentos que nos levam a lágrimas.
E depois de chorarmos novamente, nos entrincheiramos como vermes atrás do casulo, como tartarugas no seu casco, e observamos os estilhaços caírem como chuvas em nossa pele... E protegemos, e corremos, e em um minuto desse tempo as armas se calam.

Nesse intervalo, o paraíso se faz, a esperanças de dias melhores sobrevoa nossas mentes, e se infiltra em nossas almas, a retardar o sofrer de nossos dias -- por enquanto. A calma se vai, e imagens de parentes distantes, que clamam nossa presença, como vozes do além da vida, são mais ouvidas que a presença da fome, da dor e da incompreensão sem tempo para compreender.

Esquecemos, aqui, o sentido de religião, a qual fora responsável pela nossa união, e agora pelos desgastes emocionais nos quais a promessa divina se faz e desfaz com a morte de nossos anjos numa poeira sem fim. Eles se foram, e vão voltar em algum tempo. 

Voltarão com explosões que consumiram tempos, espaços, e como diria Augusto dos Anjos, "levar-me-á à frialdade inorgânica da terra", e daremos, enfim, graças a Deus, que se esconde nos detalhes, os quais não consigo enxergar, pois meus olhos, com o tempo, ou com o fim dele, não vê, e por isso me deixa um pouco em paz... Uma paz infantil que não cresceu no tempo.

No intervalo desse tempo, pensei que iria rever meus entes queridos que se foram. Mas uma voz, talvez  a de Deus, não sei, disse-me... "Ainda não... Ainda não". E nela penso todos os dias, como uma criança, que um dia fui, ou talvez ainda seja, quando seu presente estava por chegar, nos braços do bom velhinho, o qual, sabe-se por aqui, nunca existiu...

E o que deveras existe, em meio ao meu tempo de agora, são meus pensamentos, tão fugidios quanto balas que somem, contudo são minhas pérolas, minhas esperanças, o meu refúgio. Neles creio tanto quanto ao Criador, que não me leva, talvez porque eu tenha mais algo a dizer e viver, quando tudo isso acabar.



Aos Guerreiros que amam seu país. 


A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....