sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Um pouco de sabedoria...




Um sábio que caminha nas montanhas, solitário como um gafanhoto, feliz como um beija-flor que respinga energia nas flores, e sussurra na brisa do dia suas verdades, a verdade que buscara com sua alma, em meio às complicações humanas, em meio à simplicidade universal.

A nós só nos resta questionar a beleza desse ser que, assemelhado aos outros, refaz as fases da lua, o nascimento do sol, de uma estrela, modifica batalhas com sorriso ligeiro e as transforma em campos de paz. Só nos resta questionar como e porquê tal homem, tal ser tão belo quanto nada no mundo, existe somente com o fim de nos direcionar ao céu... ao nosso céu.

Ele, esse homem que brilha no escuro, tão farto de sabedoria que dói, anda com seus pés, mas não parece. Pisa nas pedras como querer amaciá-las, tornando o ato como distinto e natural, miraculoso e especial. E quando as nuvens choram, a lhe trazer as lágrimas do tempo, não corre, não desiste, apenas sente cada gotícula em seu rosto como um bom vinho que desce no coração.

Esse homem, cultivador da beleza, da bondade e verdade, possui um jardim no qual flores e folhas, e insetos, e terras, são tão cuidados quanto o próprio mundo o é pelos agentes divinos; amante dos detalhes, da biologia que cerca seu cerrado, com pássaros, árvores frutíferas, animais selvagens à margem de seus olhos, mas sempre em sua comunicação com o sagrado, do qual nasce e para o qual se vai, todos os dias.

E nós, presos aos nossos âmagos vazios, como que retirados de um filme mudo, sem a breve legenda, cuja película se desfaz pelo mal uso da máquina que o faz ir à bendita parede, agimos como crianças eternas, sem o desenvolvimento interno, sem o crescimento natural, sem as batalhas naturais que a vida nos concede. 

Precisamos delas, dessas batalhas, pois os deuses, infinitos mestres, querem que sejamos um pouco mais divinos que somos, para isso, contudo, temos que avançar em nossas "provas", ou pequenos testes que nos dão. Se não passarmos em pequenos, não será em vão, mesmo porque haverá sempre outros que nos baterão à porta, em forma de paixão, de conflitos familiares, de dores que se encaixam na alma e nos transformam em pequenos professores da dor, e assim, caminhamos ou temos que caminhar, mesmo porque a sabedoria é apenas uma ponte pela qual passamos, e depois dela enxergamos as divindades, e enfim nos religamos ao todo.

O sábio, que caminha nas montanhas, que resguarda os mistérios mais profundos do homem em seu coração, está aqui, conosco, cheio de alegria, preso apenas por nossa teimosia em sermos ignorantes voluntários em um mundo moderno, caótico, sistêmico em todos os sentidos, e nos faz crer em valores frios tais quais os do passado. Armadilhas à frente.

Somos sábios em nosso modo de ser quando compreendemos alguém em seu lamento, em sua fuga para outra realidade, para o caos. Precisamos ouvir o próximo, sentir que somente o homem pode ouvir o próximo e dar conselhos, e com estes mudar um pouco a vida de alguém, e fazê-lo ver, com os olhos do coração, que a vida tem seus graus de iniciação, desde o momento em que se nasce ao último que se vive.

E se conseguimos passar pelo pouco que o céu nos dá, pode nos chamar de sábios.

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