quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

No Intervalo do Tempo...


Refugiados: até quando?



No intervalo do tempo... há o tempo que se perde ou o tempo que se ganha. Nesse intervalo, choramos, rezamos, pedindo a Deus, nos debruçamos em orações, gritamos em nome de nossos filhos, de nossas famílias, de nosso amor maior -- de uma paixão. 

Até segurarmos o fio do próximo tempo, almejamos a paz, morremos e ressuscitamos em guerras, levantamos dos escombros feridos, e voltamos ao tempo das lembranças em que corríamos ao redor da vida, como planetas ao redor do sistema, envoltos em pensamentos que nos levam a lágrimas.
E depois de chorarmos novamente, nos entrincheiramos como vermes atrás do casulo, como tartarugas no seu casco, e observamos os estilhaços caírem como chuvas em nossa pele... E protegemos, e corremos, e em um minuto desse tempo as armas se calam.

Nesse intervalo, o paraíso se faz, a esperanças de dias melhores sobrevoa nossas mentes, e se infiltra em nossas almas, a retardar o sofrer de nossos dias -- por enquanto. A calma se vai, e imagens de parentes distantes, que clamam nossa presença, como vozes do além da vida, são mais ouvidas que a presença da fome, da dor e da incompreensão sem tempo para compreender.

Esquecemos, aqui, o sentido de religião, a qual fora responsável pela nossa união, e agora pelos desgastes emocionais nos quais a promessa divina se faz e desfaz com a morte de nossos anjos numa poeira sem fim. Eles se foram, e vão voltar em algum tempo. 

Voltarão com explosões que consumiram tempos, espaços, e como diria Augusto dos Anjos, "levar-me-á à frialdade inorgânica da terra", e daremos, enfim, graças a Deus, que se esconde nos detalhes, os quais não consigo enxergar, pois meus olhos, com o tempo, ou com o fim dele, não vê, e por isso me deixa um pouco em paz... Uma paz infantil que não cresceu no tempo.

No intervalo desse tempo, pensei que iria rever meus entes queridos que se foram. Mas uma voz, talvez  a de Deus, não sei, disse-me... "Ainda não... Ainda não". E nela penso todos os dias, como uma criança, que um dia fui, ou talvez ainda seja, quando seu presente estava por chegar, nos braços do bom velhinho, o qual, sabe-se por aqui, nunca existiu...

E o que deveras existe, em meio ao meu tempo de agora, são meus pensamentos, tão fugidios quanto balas que somem, contudo são minhas pérolas, minhas esperanças, o meu refúgio. Neles creio tanto quanto ao Criador, que não me leva, talvez porque eu tenha mais algo a dizer e viver, quando tudo isso acabar.



Aos Guerreiros que amam seu país. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....