terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Falcão nada Azul

Continuação: "Um Ano de Cão"

Falcão, com seis meses.


Alguém se lembra daquele desenho animado maravilhoso em que um homem vestido de pássaro e seu cachorro ciborgue combatiam o crime? Falcão Azul e Bionicão! Oh, saudade! Mas o meu Falcão, cachorro, não tem nada de azul e não combate qualquer o crime, mesmo sendo um cão polcial. Muito pelo contrário. Ele provoca a ira humana até fazer da gente assassinos de cães!

Mas isso está longe de acontecer, claro. Foi apenas uma maneira de dizer o quanto ele tem dado trabalho. Normal, como dizem os "especialistas" de plantão, assim como os de vinho, que não bebem, e se sentem o máximo, apenas com uma taça na mão. É o início de um fim de um tempo em que fazíamos a questão de dizer "só sei que nada sei", mesmo sabendo algo.

Deixando de lado os racionalistas, vamos nos ater ao dog que levei para casa com três meses. Um cãozinho que, como diria as crianças mais atentas, por analogia, "um Taz"!, mais uma vez me deslocando ao passado dos desenhos de Hanna & Barbera, os quais eram os melhores do mundo. Sim, Falcão nos parecia um demônio da Tasmânia, a rasgar tudo, a levar tudo, e sorrir com seu rapo grosso a deixar a todos em pane.

Minha esposa, que fora desde o inicio contra o projeto adotarmos um cão, estava à espreita em todos os sentidos, sempre a denunciar o pequeno rasgador de panos. Mas não tinha jeito, depois de o colocarmos em uma área de serviço, provisoriamente, ficamos com receio de acordar com todas as roupas, inclusive a dos varais internos, detonadas, o que era uma realidade...

Porém, isso só vinha a ocorrer com aquelas que estavam no chão, e nós, que não tínhamos conhecimento completo da natureza do pequeno demônio, esquecíamos de vez em quando, e aí, dá-lhe reclamações em minha cabeça.

Se fosse somente os panos, eu ficaria feliz, mas Falcão me impressionara com sua força, ainda com três meses, e amarrado a uma mesa com pernas de ferro, sustentada por uma pedra retangular de mais ou mesmo um metro e meio, a pesar mais de trinta quilos, a arrastava fogosamente... Dava medo, confesso.

Mais tarde, Falcão viria a fazer suas necessidades... E adivinha... Não dava um tempo! era praticamente a cada duas horas! E isso me incomodava, me deixava angustiado, com muita raiva, além, é  claro, das reclamações da esposa, que praticava seus melhores verbetes em minha pobre pessoa...

Eu não sabia quem eu matava.
Meus pensamentos, graças a Deus, foram substituídos pelas máximas dos grandes homens que viveram suas vidas em prol da humanidade, em prol de tudo que é vivo, em nome de grandes ideais, dos quais jamais deixaram sair de seus espíritos. E Falcão, penso, no início, foi fruto de meu vaidosismo, de minha vontade pessoal -- não ideal -- em ficar com um cachorro bonito que espelhasse meu modo de vida -- e isso me deu medo de novo --, além de tentar resgatar minha alta estima junto a mim mesmo, porque sempre penso que nada é possível a mim, limitado por natureza... (mas quem não é, certo?).

Transformei com o tempo, aquelas reclamações, em forças para trabalhar em prol de um ser vivo, que, com certeza, me faria (um dia) um grande favor. Assim, até então. Minhas forças, porém, se perdem e se atrofiam com o tempo, e começo a ouvir ruídos fortes do presente (reclamações!), fraquejando por vez.

O tempo foi se passando. Falcão só se especializava em minar minhas forças, tal qual minha esposa, Alimentava-se de minha raiva, mas eu sempre voltava meus pensamentos aos meus lobos internos, os quais somente os bons eram alimentados, não os maus. E por falar em lobo, o pequeno dog não estava mais com cara de três ou quatro meses, mas de muitos meses, o que fazia as pessoas me afirmarem "Você não vai dar conta dele". 


Parecia-me um futuro incerto e ao mesmo tempo obscuro, contudo, eu contava com meus ensinamentos -- mas só depois fui ter a certeza daquela expressão nada amistosa. 



Continuo no próximo texto.

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