"Não vou me deixar embrutecer, eu acredito nos meus ideais. Podem até maltratar meu coração, que meu espírito ninguém vai conseguir quebrar"
R. Russo
As duas possuem radicais idênticos, porém não semelhantes quando levados a analogia por meio do latim. Solidão vem de solus, só, sozinho; solidariedade, do latim solidus, firme, forte, ou seja, analisando friamente, com nossos olhares duvidosos em relação aos seus significados, não têm nada a ver uma com a outra, correto? - correto.
No entanto, se analisarmos filosoficamente, de maneira que tenhamos as duas em mãos, no sentido de tentar encontrar uma linha imaginária que as faça religar uma com a outra, podemos sim. Mesmo porque, semanticamente, todas as palavras, a depender do contexto em que se encontram, podem se ligar e dar significado completo ao que nos referirmos.
Nesse caso, para dar sentido aos dois termos, temos que falar de um terceiro, de um que tenha a natureza maior, mais forte e que se tangencie, mas não muito, do significado das duas -- solidão e solidariedade. Essas duas, imaginem, em seus lugares opostos, e a terceira a qual vamos nos referir ficaria acima das duas, como que finalizasse um triângulo.
Falemos do Ideal
Uma palavra que é confundida com idealismo relativo, cheia das amarrações em projetos, em consecuções naturais do homem moderno em aprender algo, ou buscar algo que lhe interessa, de modo a resolver suas pendências materiais ou psicológicas, nunca espirituais. Grande erro.
O ideal está acima do homem, e dentro dele. O ideal, como diria um filósofo moderno, com vistas à tradição, "O Ideal pode ser encontrado em uma borra de café". E entender que nesse ato simples podemos vê-lo e contemplá-lo, ter pelo menos uma visão do que pode ser, já seria de bom grado à nossa espécie, mas não somos presenteados com essa visão, ou somos e não temos tempo, assim como aquele rei que procurava pelo graal loucamente e acabou descobrindo que estava a seu lado.
O ideal faz isso conosco, nos chamando todo o tempo, sempre nos levando a acreditar que podemos ser humanos, no sentido mais belo da palavra, porém, com a desvirtuação natural de conceitos sagrados, como o da própria solidão, sobre a que já falamos, ficamos um pouco distante do que podemos saber e do que somos.
Voltando à solidão...
Depois de refletir acerca desse mundo, das pessoas, dos sistemas, dos conceitos profanos que nos atordoam incessantemente; depois de entender que a vida nada mais é que uma junção de teias naturais que nos emendam, e que precisamos ter o mínimo de sabedoria para compreender o que somos dentro desse meio, nosso papel, ideais (!), levantamos -- na prática -- e partimos com a firmeza de um guerreiro em função daquilo que podemos mudar. Aqui cabe, enfim, a palavra Solidariedade.
Nessa ligação, que não pode ser construída sem valores, sem a internalização, sem amor, sem a vontade divina, a firmeza em uma personalidade refeita se religando vem como a concretude de um homem que sabe mudar seu mundo, por meio de atos simples -- não novos --, os quais são renovados a partir de uma dedicação além corpo -- aqui aparece o Ideal.
Feita a triangulação, naquele pequeno ato, ou em atos consecutivos, porém ainda mais simples, sentimos a realização em nossa alma, em nosso ser. Levamos a diante, persistimos, não deixamos cair, e prosseguimos como se fosse uma batalha, ou mesmo uma grande guerra -- mesmo porque lutar contra opiniões, conceitos arcaicos, vãos, renovados por estruturas frias, com vistas a matar o real homem em nós, é algo que nos faz mais determinados a viver para sempre em nome desse mistério.
Esse triângulo deve ser mantido em nós.
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