sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

A Solidão no Homem

"Enquanto não atravessamos a dor de nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes, é preciso ser um."

Fernando Pessoa





Muitos chegam a dizer que é o mal que assola nosso século, e por isso a chamam de doença. Uma doença natural daqueles que odeiam multidões, perseguições psicológicas, e que têm medo do mundo e da vida. Assim, presos a sentimentos como o medo, o qual mais tarde se assoma ao desespero, torna a solidão uma ponte para uma tragédia... É a realidade de muitos.

Outros, em meio a insanidade política na qual se encontra o mundo, tentam refugiar-se em si mesmo, sem pensamentos construtivos, sem objetivos que o façam reerguer-se por falta de idéias. Sem falar naqueles que se julgam minorias, graças a uma sociedade que se julga -- dentro dos parâmetros robóticos, sem sê-lo -- perfeita, sem problemas, sejam eles físicos ou não. E aquele, mergulhando em si mesmo, com vastos preconceitos embutidos pelo pragmatismo humano, não consegue extrair de seu "martírio interior" força para sair dele... É a solidão, mais uma vez, usada como ponte para a confecção de abismos.

A Solidão de Nietzsche

... Para o filósofo alemão, a solidão ocidental, vazia de sentidos, desencoraja os indivíduos à moral natural à qual se tem direito. A solidão  para Nietzsche teria que ser voltada para a virtude, para a moral. como uma consequência natural do crescimento humano, em busca de valores os quais a própria sociedade, com os seus gregários, se separa de si mesmo. Muito pelo contrário até. Se distancia de soluções para o próprio homem. 

A necessidade da solidão, segundo o filósofo, tem tudo a ver com liberdade, ou seja, com a busca divina em si. Não se pode falar em liberdade, sem solidão, sem tentar reconciliar com leis internas das quais o próprio homem no passado, em forma de conhecimento, sabedoria, conseguiu nela o entendimento do universo.

É uma purificação. 
Quando nascemos, crescemos e desenvolvemos nosso raciocínio em prol de uma sociedade fria e sem soluções, nos distanciamos de nós mesmos, da sabedoria, e mergulhamos em opiniões que geram mais desconforto em nós. Mas não paramos, e desenvolvemos projetos, com idéias sem nexo, sem sentido, nos proclamando idealistas de um novo mundo. 

Sem nos conhecer, sem a busca natural de uma moral transcendente, dentro da qual encontramos não somente a solução para o homem, mas também para muitas doenças, não podemos mergulhar em projetos, em ideais falsos. Ele, esse ideal, dorme em nós como uma criança que quer ser lembrada, e só assim acordará e será nosso guia nas horas de ócio.

Não podemos, por isso, como verbaliza o filósofo, "ser adestrados" pela massificação dos conceitos que nos levam como carneiros à tosa. Temos que repensar o que somos e para onde vamos, tomar iniciativas, sempre dotadas de moral, virtude e muita espiritualidade. Vamos nos aproximar de nós mesmos.

Em seu livro, "O Anticristo", o filósofo alemão nos faz subentender que a moral do rebanho (povo) tem a sua realização em Deus, motivo que deixa alguns domesticados e adoecidos, por temerem a grande sombra do homem, que se aloja no meio do céu, a os vigiar eternamente. A morte de Deus, disse ele, seria a melhor maneira de lidar com a solidão, pois abre ao ser humano a oportunidade de reconquistar a si mesmo, a liberdade, a moral, a virtude... Conhecer a si próprio.

Para Platão

Platão falava do ócio, não da maneira como o vemos, mas um ócio voltado a repensar nossos valores, nossos ideais, em uma hora do dia exclusiva para isso, E a solidão, como diria, faria parte desse ócio como a forma principal para desenvolver pensamentos com vistas a se conhecer. 

O filósofo grego falava em contemplar a Beleza em si, trabalhando a matéria prima, que seria o próprio indivíduo. Falava em refletir acerca da Verdade, que seria uma pedra bruta dilapidada aos poucos até se transformar em algo visível, em forma de atos. 

Dizia que o o homem virtuoso bastava a si mesmo. E hoje, quando nos remetemos a frases como essa, percebemos que há algo de errado quanto ao que o filósofo quis dizer, isso se observarmos com os olhos de uma sociedade que não se basta, sempre se quer estar acompanhada, cheia de amigos, parentes, pessoas de diversos tipos do seu lado, ou seja, medo de estar só (solidão vem da palavra (l)sulus, só), sem ninguém. Solitário.






Continuamos no próximo texto.








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