continuemos...
Noutro texto, falamos sobre o grande "Fio de Ariádne", do Mito de Teseu e Minotauro, ao qual se referiam os gregos, ao observar a profundidade da problemática humana, que é a tentativa eterna de encontrar meios para resolver seus problemas internos. Mais profundamente, esse mito nos relata -- além de observar os eternos conflitos diários com seu Eu -- e, mais provavelmente, a vontade humana de encontrar o fio condutor para a eterna juventude...
Não a juventude bela, que desfaz compromissos, realidade e finda com a morte prematura em ideais relativos e falhos, não. A juventude a que alude o grande mito é mais uma obra de arte, que se formata no humano quando do seu despertar para o ideal, para o espírito, para si mesmo -- para a parte a que Platão chamaria de Nows no homem. Um pedaço do universo sobrevoando sua consciência e por consequência seus atos, seu caminho.
O Fio da história justifica-se por ser a vida, a passar pelos mais misteriosos poros do mundo, inclusive do próprio ser humano, que, como uma pérola marinha trazida pelos exploradores, é colocada junto a outras, formando um colar. Esse mesmo fio, delicadamente, passa por dentro de nós, a religar-nos com outras pérolas, diferentes, porém, com o mesmo ideal, conhecer-se a si mesmo, dentro do que a natureza a elas legou (ou a nós).
A beleza de encontrar o minotauro, enganá-lo, dissuadi-lo, ou mesmo matá-lo, faz parte de uma prática natural e humana, quando buscamos entender o que somos e nosso papel junto às divindades; quando se percebe que tal busca, ainda que claudicante, às vezes desenfreada, é uma realidade, ou seja, ainda que não a vemos, a sentimos com alma, e nos revitalizamos à medida que enganamos esse eu animal (mino), que, em tradições, se esconde dentro de cada um.
De volta à prática
É prática habitual observar o próximo, de modo a obter opiniões sobre ele; é prática, ainda, nos submeter a temperamentos e comportamentos, baseados em premissas falsas, das quais não podemos aprender nada, mas, ainda sim, batemos na mesma tecla. Se escolhermos nos deter apenas no que podemos mudar -- como escolhas pessoais, opiniões, compras de objetos, sentimentos fúteis, estaremos inclinados a derrotar o mal que nos assola desde o dia em que nascemos.
Por que isso? A felicidade não é uma conjectura, nem mesmo uma aposta abstrata; porém, é preciso que tenhamos em mãos elementos básicos para progredir em direção a ela. O fato de continuar com preocupações vis, pueris, natas de uma família ou sociedade que ama sofrer, seremos apenas mais um em meio a uma multidão que se arrasta pelo vento de um sistema que toca uma flauta enfeitiçando a todos, em nome de tudo que é frio e escuro.
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