quarta-feira, 28 de julho de 2010

Medo é bom (!) (?)

QUANDO criança, tudo se aflora. Ao viver do instinto, sentimos o medo mais forte, as dores, a tensão... Mesmo porque estamos em um mundo do qual não nos lembramos mais. Um mundo novo, no qual temos que nos readaptar. Assim, depois de muito tempo, nos tornando mais familiar a ele, vamos perdendo as características de criança medrosa, instintiva... Nunca deixamos tal sentimento de lado, pois ele nos acompanhará sempre.

Na fase adulta – depois de amadurecidos – perdemos a grande oportunidade de lidar com esse sentimento que nos vem adjunto tal qual “pêlos de um cachorro”, como diria um filósofo. Saber direcioná-lo, concatená-lo aos nossos elementos físicos, psicológicos, de maneira que saibamos dele usufruir é a nossa vida.

O medo, pois, diz a tradição, é bom. Ao contrário do que aprendemos, o medo não é aquele sentimento que nos faz estáticos frente às situações mais difíceis; não é, ainda, o temor em escala maior ou menor, o qual nos faz correr de nossos problemas – sejam eles concretos, abstratos...

O medo seria uma energia que corre o seu corpo, tal qual uma adrenalina (hormônio) pura, o qual nos direciona em favor de nossos caminhos, como se tentasse nos ensinar a nos lidar com o livre arbítrio a que estamos acostumados a vivenciar de forma esporádica.

O medo, assim, nos faz encarar a vida de forma prática. Em passos simples, olhando para um lado e para o outro, como se estivéssemos pisando em cascas de ovos, o medo te diz, às vezes, por meio de uma dor pequena abaixo do fígado, por meio de uma tensão que te toma repentinamente, ou mesmo por um pequeno assombro... “É por aqui, é por ali”...

Um exemplo típico de aprender acerca do medo é tentar visualizar (imaginar) uma criança em frente a uma montanha-russa, levada pelo pai ao parque de diversão. Ao se deparar com aquela coisa toda, cheia de ferros, com pessoas gritando desesperadas, mas sorrindo... A criança, por incrível que pareça, tem o corpo travado, dizendo “não vá, não vá...”, pois, para ela, é um dos maiores mistérios a ser desvendados. Todavia há uma voz maior que diz “vai”.

E ela chora, pede, lacrimeja piedosamente dizendo “pai, eu quero ir”. Sabendo que há a possibilidade de se machucar, apesar do seu pai estar com ela; sabendo que, apesar dos sustos, vai se divertir tanto quanto qualquer pessoa de lá de cima; porém, sabendo que, vencendo esta etapa, vencerá outras... Os primeiros passos dela são dados, para frente (não para trás). Isso é o medo.

O medo a fez questionar acerca do momento e não voltar a ideia de subir a montanha-russa. Nela devemos nos espelhar. Pequenos exemplos nos tornam heróis; pois há situações em que o próprio herói teme, no entanto prefere dar os passos frente à batalha, a vencendo.

Há situações, no entanto, em que confundimos medo com pavor, medo com desespero. Sim, há essa possibilidade. Contudo, em maior escala, o medo deixar de ser medo, para ser pavor, desespero, o que é uma realidade para a maioria das pessoas que se trancam dentro de casa com medo de assaltos. É o caso de milhões de pessoas desarmadas em uma sociedade em que somente assaltantes, criminosos, traficantes e chefes de milícias têm “direito” a andar armados.

Um dia encontrei uma senhora que ia pegar um elevador. Ao descer dele, deparei-me com ela dizendo “você vai subir?”. Eu, educadamente disse “Não, fico por aqui mesmo”. Olhando para mim, meio triste, ela disse “Ah, que pena, eu pego a escada, então”. Encucado, perguntei para qual andar ela iria. Ela tornou: “vou para o segundo”.
“É apenas um andar, daqui para cima, pois estamos no primeiro, por de ficar sossegada, nada vai acontecer”, disse eu em tom aprazível. “Não, não...!”, disse ela. “Eu tenho problemas em ficar em lugares fechados!”. Era a síndrome do pânico...

Assim, entre milhões de pessoas que têm o mesmo problema, a humanidade se vai com doenças criadas pelo século do pavor.

Hoje, por muito menos, há adultos que dormem com a luz ligada; há ainda aqueles que, mesmo adolescentes, dormem ao lado da mãe ou da avó; há aqueles que não conseguem viver sozinho, por isso, não conseguem se afastar da família. E muitos outros exemplos de que não se tem notícia no passado.

Assim, como uma criança que pula na piscina no ombro do adulto, confiando em si mesma; assim como uma pequena águia que desce desconfigurada da árvore; como um menino que vai para escola sem a presença dos pais, pela primeira vez... Assim como em outros exemplos, o medo vai nos direcionar em nossa caminhada rumo aos nossos ideais.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Nas Profundezas...



Dizem as grandes civilizações que temos um Universo regido por uma lei, a lei do Darma. É um legado do qual devíamos tirar lições, as quais, referenciadas pelo ser humano, nos submete a um pensamento divino, porque, ao falar dessa lei, para muitos, estaríamos nos referindo a Deus.

O Darma, em sua menor escala, nos leva ao pensamento mais minucioso de que as partículas naturais do átomo também são regidas pela grande lei. Assim, mais um pensamento nos toma conta, e nos atravessa a mente, revelando que somos apenas (por assim dizer) partículas em meio ao infinito do uno.

Darma, a principio, seria a reta ação, a linha imaginaria cósmica na qual está toda matéria ou não matéria, humano ou não. Nessa linha – a linha que rege todo uno – o homem passa naturalmente despercebido, mas que sente, em cada vitoria, pensamento reto; em cada flor plantada, ou mesmo em cada ato bom colhido, sua presença.

O pensamento ocidental, porém, ao não compreender a lição dármica da vida, a nomeia, sustentando, há séculos, o modo antropomórfico de lidar com a sensação de bem-aventurança, a que religiões dão o nome de Deus – um assunto perigoso, no entanto. O Darma nao é bondade, nem maldade, é simplesmente uma Ordem Universal.

Contudo, antes de se tornarem religiões oficialmente falando, de forma quase didática, fomos um povo que compreendia, em sua totalidade, o próprio sentido da vida, que levemente era empregado pelos camponeses e que por gerações e gerações – antes mesmo dos peripatéticos de Platão e de Socrates --, éramos educados.

A natureza se fazia em todos os cantos – não apenas aos olhos do homem descrente – e que milagre não era divino, mas tudo era divino, pois tudo era milagre, porque inserir na alma humana a espiritualidade da beleza de uma rosa era tão complexo quanto subir à lua com escada magiros. Assim era a lei dármica, a qual em tudo se fazia.

Hoje não se estuda com afinco a tradição e, em consequência disso, nos distanciamos dos conceitos divinos. E Darma, em sua totalidade, é Deus. Buda, por exemplo, nos relata que a experiência humana, ainda que coberta de naturalidade, não é o suficiente para entender a lei dármica, porque esta não é a contradição ou oposição ao karma, outra lei pela qual vivemos – e com mais afinco, mais força, Darma seria a ausencia de conflitos -- em nossa visao restrita.

E Karma seria universal também e teria os seus níveis entre todos os seres do universo. Nele, podemos, em nível humano, dizer que a memória da alma deve se levar em questão. Os grandes do passado dizem que as encarnações existem em razão dessa memória que possuímos, e que, graças as imperfeições adquiridas durante todas elas, o homem precisa, naturalmente, reencarnar para se aperfeiçoar– ou seja, por muitos e muitos anos. Não que a lei cármica não funcione aqui e agora, muito pelo contrario. A lei cármica faz os ciclos.

Por isso, o darma existe como ponto de evolução do próprio uno. Com a finalidade de ser entendida como elemento maior em qualquer sentido, a grande lei chega a ser incompreensível. Apenas o sábios a arranham, e os avathares a tocam; todavia, por meio simbólicos, tentam nos aproximar dela.

Assim, dentro dessa profundeza, ainda existem os ciclos, os quais nos relatam a ida e a volta do universo, das grandes civilizações, das grandes sociedades, nas quais poderia se falar em deus de maneira indiscriminada, sem medo, temor, sem ser manipulado... Porque a lei dármica estaria em tudo e ao mesmo tempo em nada. Uma inexplicável e ao mesmo tempo maravilhosa maneira de falar de Deus e sentir Deus.

Os ciclos, continuando, estão na concepção humana, social, universal. Os ciclos seriam a maior prova da existência das duas leis – a lei cármica e dármica, sendo a primeira uma necessidade da segunda. Prova disso seriam os mitos desenvolvidos em épocas douradas e respeitados em sua essência. Cada mito desenvolvia, espetacularmente, uma realidade universal e nele, é claro, a humana.

Em nós, os mitos nos ensinavam o valor de conhecer a reta ação, como nos lembram as asas de Ícaro, quando cai em meio a um oceano por ter subido demais ao sol. Antes disso, lembra-nos a filosofia grega que o minotauro – metade touro, metade humano --, aqui metaforizando o próprio homem e seu mal criado há tempos dentro labirinto construdio por Dédalo – que teve o filho morto no oceano, o monstro seria o mal do homem em si mesmo-- . Ali, no grande labirinto, o grande herói, Teseu, com o fio de Ariadine, nos revela a forma da filosofia prática em nos retirar do nosso próprio mal, desenrolando o fio até o fim da arquitetura de Dédalo, na qual mora o monstro, a fim de que o próprio homem nasça com outros valores, quase um novo nascimento – uma iniciação.

No distanciamento dos valores, a humanidade, ainda que ignorante de seu passado quase enterrado pelo modernismo e novas leis criadas, passa pelas mesmas leis, passa pelos mesmos mitos, se revela manipulada pelos grandes homens do presente, os quais se tornam evidentes reis que rasgam os livros do passado para iniciar um novo tempo, cheio de sistemas.

Todavia, as civilizações antigas sabiam que isso iria acontecer, em razão da decadência tão visível quanto nuvens em tempo chuvoso. Sabiam que os deuses – potencialidades naturais, responsáveis pela formação do uno – desapareceriam e que um novo deus estaria entre nos.

Sabiam que darma e karma seriam apenas palavras tais quais fogueira numa tarde quente de verão. Contudo, jamais deixariam de existir naturalmente como leis.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Alegria, Felicidade, Bons momentos...

Muitos dizem que a felicidade não existe e que somente os ricos a possuem. A experiência comprova que todos possuem a felicidade, seja de bons momentos, seja de alegria... Até mesmo o amor em suas devidas proporções é aceito.

Hoje, mais do que nunca, aprendi que alegria pode ser os bons momentos e vive-versa, mas que em sua maior intensidade pode ser chamada de felicidade. Muitos filósofos discordariam de mim, pois há relatos de Aristoteles, Platão, Plotino, Sócrates e muitos outros que traduzem felicidade como uma condição além-humana, para não dizer difícil de obter. "Só o homem virtuoso é feliz", dizia Platão. Virtuoso significaria o próprio homem no processo de autoconhecimento bem acelerado.

Felicidade seria, ainda, ao ver dos grandes dos passado, uma forma arquetípica pela qual somente os sábios “tem direito” de passar, pois já estão (e são) realizados espiritualmente. E o exemplo de Platão, no Amor, quando o homem se encontra no nows, ou seja, espírito em si, no qual reside a felicidade, a justiça a bondade... De maneira que o homem comum jamais o poderia obter se não se realizasse da mesma forma, ou seja, espiritualmente...

A discordância ao filósofo vem daí. Porque, em nossas possibilidades, encontramos o nows não de maneira real, filosófica, concreta, mas, sim, em nosso nível, digo eu. E não precisa ser o nows (o ápice da alma), mas nas pequenas coisas, ou nas grandes coisas, seja lá como queira o homem comum; quer dizer... que seja uma realização prática baseada em algo simples e sincero.

Não precisamos olhar sempre para cima – pelo menos nesse caso – para conceituar felicidade. Saber lidar com esse sentimento é a realidade nossa de cada dia, sendo ou não temporal. O que mais importa é que a lágrima não seja vã; aquela lagrima que se esvai no corpo suado de tanto trabalho, aquele sorriso fértil que contagia cada ser humano quando em nosso rosto se olha; o que vale, em nossa realidade, é sentir aquele degrau puro, sem falsidades, com amor e muita dedicação, cheio de idealismos.

Os bons momentos são sim um pouco dessa felicidade. São formas naturais, ainda que pequenas, de viver com os amigos, com a família, com o filho em particular, ou mesmo com um grupo que tem o mesmo idealismo – partidário ou não – que tenha o gosto de sorrir e seguir em frente em nome de algo maior que si. Pois o que mais há nesse mundo é o egoísmo – esse ser que resvala em nossas almas em forma de alegria, que não e.

A felicidade não e um bicho de sete cabeças, nem de oito nove ou dez. Mas quantas cabeças que queremos que tenha. Por mim, ela só tem uma. Não acredito que somente os sábios têm esse prazer humano. Não acredito que somente espiritualmente a tenhamos.

O nosso físico, quando cansado, quase morto, sabe que não está, pois e só resolver determinadas particularidades de nível psicológico que ele vota a sua forma, tão feliz quanto antes.

O psicológico, ao encontrar algo tão maior que a mente pode compreender, sente-se feliz. Pois revela a ansiedade desfeita, a expectativa, o temor, e até mesmo a dor premeditada no seu mais ínfimo início.

O espiritual, ainda que tentemos filosofar sobre ele, não conseguimos, portanto, logo que temos um desses elementos saciados, além do próprio astral, tudo nos remete a um estado quase – eu disse quase – que espiritual.

Hoje, como somos individualistas, materialistas, a correr atrás do capital – seja ele nosso ou não – o que nos resta e definir felicidade de acordo com os nossos parâmetros.

Mas, por favor, não deixemos vulgarizar tal conceito apenas porque o individualizamos. Se a temos um dia, que seja de forma bela, sem preconceitos, sem discriminação, ou mesmo sem interesse, pois, se vamos reconceituar algo como felicidade, o façamos de maneira que seja como que apagar um quadro e começar com uma letra mais bela ainda...


Regis

domingo, 18 de julho de 2010

Um pequeno sono.


(alguns termos estao sem acento; e preciso tomar cuidado)

UM DIA um professor nos disse “o mais importante da vida é nos lembrar da morte”. Não conseguimos. Pensamos que somos aquele guerreiro que um dia descobriu que era imortal – viveria, para sempre, todas as épocas, como se fosse uma maldição divina em seu rastro, pois não poderia se casar, ter filhos, amar...

Assim pensamos. Queriamos a todo custo ser abençoados por essa maldição. Viver eternamente. Assim, confesso, é a nossa educação. E não acreditamos que a morte nos vem sorrateiramente, em forma de dores, cabelos brancos, rugas... Nos revelando que o corpo físico – esse ser com o qual nos identificamos – morre como palha ao fogo. O fogo da vida.

Antes, na tradição, havia a filosofia da vida que incluía a morte como adjunta àquela; temos vários filósofos de épocas diferentes – temos heróis do passado e alguns do presente – que se foram com mensagens clássicas, nas quais a própria morte aparece como uma continuação natural da vida; contudo, o aprendizado deles não nos vem como algo sério, tanto que não aceitamos a maldita – como é conhecida – quando nos visita o corpo e nos leva a alma.

No enterro, tão frio, choramos a ida da pessoa amada ou não. Aqui, vários questionamentos nos aparecem com a finalidade de buscarmos a verdade daquele ritual, mas não o fazemos. E, quando o fazemos, o queremos de imediato, como se fosse fácil, natural, mas não é. Pelo menos para os ocidentais de hoje que se complicam, todos os dias, em uma vida enraizada de materialismos.

Claro que, até mesmo para os grandes homens, a certeza da morte só estava perto depois que a própria já rosnava em seu pescoço, pois o pensamento, por mais filosófico que fosse, ainda teria que se debruçar perante a realidade do pós-morten.

Apenas alguns – repito – alguns tiveram essa oportunidade. Entre eles, segundo a história, o mestre filosofo Sócrates e Cristo, que viram a realidade da continuação da vida antes do último suspiro. Os outros, talvez, pelas convicções que estes deixaram.

Hoje, depois de dois mil anos, as convicções não beiram nem mesmo o mínimo das de ontem – dos reais discípulos que um dia viveram com os mestres --, mesmo porque fica difícil acreditar em suas realidades, em suas filosofias, em suas vidas tão magníficas. Não temos homens mais com esse porte.

Entretanto, tivemos muitos depois de Sócrates e Cristo, que, na tentativa de elucidar o mistério da morte, não tiveram medo, e viram com os olhos do espírito a leveza do outro lado. E depois deles, outros vieram, mas ai a realidade daquelas convicções já não era mais a mesma – como se se perdessem um tesouro depois de carregá-lo durante muito tempo no deserto, contudo, o pouco que sobrou se desvirtua em mãos erradas.

Mesmo com todas as provas, não temos a certeza da morte. É preciso que nos roce o pescoço. E preciso que as goteiras do telhado nos pingue; é preciso que a luz se apague, que o banheiro acabe a água quente, é preciso que o mais amado de nossa raça se vá; que humanidade, sociedade, grupo, família... se vam para que sejamos mais humanos, para que preservemos nossas almas, para que amemos mais, para que a lua e sol, o mar, a terra em que plantamos, que o terremoto nos atinja... enfim, para que tenhamos que saber viver novamente dentro dos princípios pelos quais sempre vivemos.

Tudo isso porque não é a morte que nos faz mais humanos, mas o medo do mistério que vem depois dela. Em cima disso, a tradição trabalhou e nos legou a realidade que esta em nossas vistas. Uma realidade que fora desvirtuada com o tempo, mas que ainda sim balança ao som dos ventos como arvores em tempo de brisa forte; uma realidade que nasce e morre todos os dias em forma de luminosidade, em forma de um pequeno sono na noite e nos revigora pela manhã... Assim seria a morte.

Dessa realidade, correm os mais arcaicos pensamentos vindos de uma idade negra que afundou o pensamento filosófico em relação à morte. Pensamentos esses que se tornaram uma cortina negra – ou mesmo uma grande caverna – responsável pelas varias religiões suicidas ou mesmo políticas com as quais nos deparamos atualmente.

Por essas e outras, é preciso que essa cortina seja retirada urgentemente de nossas visões, de maneira que sejamos menos medrosos com a morte e que a recebamos de maneira natural, sem a dor que nos colocaram, ao mesmo tempo sempre com o espírito de buscar a verdade por trás desse grande ser misterioso...

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Palavras... Palavras...!


Nas palavras me encontro....

Quando penso e escrevo, instintivamente levo milhões de recordações à tona em um só ato. Levo milhões de partículas quentes do meu cérebro à alma, em ação, como vulcões à máxima violência, ao mesmo tempo.

Quando escrevo, sinto, porém, a brisa da vida bater-me frente nos olhos, no corpo, e tudo para.

A lua se modifica em sua intensidade noturna, muda de ângulo, sorri ainda sem estrelas, como uma menina boba na noite... E o sol. Tão pálido e amarelo que é, não discursa, não treme, não anda... Apenas ilumina o corpo universal do Sistema, contudo se debruça perante palavras que se desenrolam tão fortes quanto o seu dever.

Não há nada mais belo que escrever, dar o seu melhor nas lânguidas linhas, que se interpõem nas páginas, que se dão pelas palavras... Não há nada mais humano que transcrever, escrever, representar por meio de caracteres... descrever e elucidar em palavras a própria vida.

E nelas se vão os sonhos, a realidade, até mesmo o cheiro da rua molhada, do pomar, do bater das espumas nos pés, das minúcias de uma formiga que caminha à sua toca... Da corrida de uma gazela, na velocidade de um lince... Do estalo de um beijo... E assim, tudo sentido, como se estivessem tão perto quanto a própria realidade...

Não é surrealismo, não. São palavras que aproximam um do outro. Assim como uma rosa que nos aproxima de sua cor, a palavra – símbolo dos símbolos – nos nutre de liberdade, não aquela vulgar dos homens sem direção. A liberdade real que nos aproxima de Deus, e nos afasta do relativismo inútil das repartições, das gírias, da falta do que dizer...

Assim eu escrevo, assim devemos escrever: como se nada nos impedisse de sermos o que somos, tal qual aquela criança que assume seus erros num longo sorriso, dono de um perdão já embutido.

Então que fique claro que ainda somos humanos e não privados apenas do mal que assola esse mundo, tão refletidamente em nossos seres. Somos donos de um meio que pode nos aproximar, trazer o que sempre queremos – no bom sentido, é claro.. – usando como ponte o melhor dos símbolos, pelo qual o homem, somente ele, tem o poder de usar como fronteira entre dois corações.


quinta-feira, 8 de julho de 2010

É Tempo!


É tempo de repensar nossas atitudes frente aos céus. Perguntar a si mesmo “Por que que eu estou aqui, nesse imenso lugar chamado mundo...”. Viver experiências válidas, sempre voltadas à sacralidade das coisas – não das grandes, mas pequenas coisas – que nos são tão importantes quanto nossa própria vivência. O difícil é encontrá-las. Nosso mundo no-las tirou do foco. Tirou nossas energias. E nos abraçou com suas garras de ferro.

Mas é tempo de nos voltar (não nos revoltar). Pegar o caminho que tanto um dia nele caminhamos. Levantar, sorrir, trabalhar com afinco nossos desejos de melhorar o mundo, ou pelo menos o nosso. Retirar do chão aquelas raízes que nos transformaram em humanos e nos elevaram aos céus; nos transformaram em seres puros, divinos, vivos! – em todos os sentidos.

O tempo de amar está pronto. Os tijolos já criaram o grande castelo inexpugnável do grande amor. Não morrerá jamais. Os deuses se cansaram e nos abençoaram com suas vindas em forma de paz, beleza, canções e amor. Agora, só nos falta caminhar em linha reta. Ainda, ser mais atencioso com nossos atos, pensamentos, com nosso próximo, com aquele que precisa realmente de nós...

O inferno não existe mais. Os seres desqualificados já não mais existem. As dores dos assassínios, os horrendos homens que sobreviviam à custa do mal e que se sobrepujavam acima dos grandes homens... se foram. Hoje, agora, em nossa era, o mundo é nosso, dos grandes seres do Bem, dos homens que buscam a Verdade... a Justiça... a Beleza... enfim, daqueles que amam e fazem (e fizeram) sempre o possível para a Humanidade estivesse em suas pretensões.

É tempo de sonhar e realizar os sonhos! É tempo de se aproximar do impossível. Encarar os desafios naturais de cada um, encarar o maior deles – a si mesmo. Saber lidar com seus defeitos, canalizados, dar oportunidades a si mesmo, dar um tempo, a fim de que se possa – amanhã – sorrir o sorriso mais puro no invisível da vida.

Adeus esperança! Não volte mais. Você nos fazia esperar o que chegou: a bem-aventurança, a temperança, a virtude dos homens, o olhar sincero. Adeus, deusa das deusas, que nos deu, em um mundo cheio de loucuras, a possibilidade de pensar em um novo mundo aos nossos filhos, pelo simples fato de ser... Es-pe-ran-ça!

Agora é tempo de realizar, por as mãos na massa, sorrir com o vento no rosto, saborear cada partícula da vida, sentir no coração a vontade de chorar pelo sentimento mais puro que nasce e que em nós viverá eternamente...

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Na Terra dos Grandes Homens...


(O texto, em determinados vocabulos, nao apresenta o acento agudo, mas apresenta facilidade na leitura)

Rezam os mitos que o homem é imortal pelos seus atos, pela sua alma, pela sua busca. E somos. Mas, alem de imortais por tudo isso, somos muito mais porque não aprendemos a lidar com a matéria – leia-se: tudo que está a nossa volta, inclusive nós mesmos. Quando digo matéria, muitos pestanejam e refletem acerca do que em volta estamos; não é só isso. Até mesmo pensamentos, desejos, atos são totalizados como a pior forma de matéria possível a que estamos acostumados a vivenciar e, ao mesmo tempo, nem um pouquinho a entendê-los.

Todavia, os mitos nos dizem que a pior forma de matéria é aquela que nos faz encarnar, pois os grandes homens – os maiores --, os realmente espirituais, não encarnam. Diz a lenda que os faraós não encarnavam – pelo menos os grandes faraós --, eles iam para o lado dos deuses, ser o que somos, no fundo da alma: imortais. A questão é que ainda buscamos entender o lado religioso do homem em vez de praticá-lo.


Nessa perda tempo, os grandes homens se perdem, se vão como cinzas e suas filosofias de vida, idem, tudo por que somos anda questionadores em um mundo em que tudo é desconfiança, ignorância, falsidades, entre outras coisas.

No mundo dos grandes homens, até mesmo dos faraós, houve seres que não acreditavam na imortalidade, e sim em suas crenças – cada uma baseada em seus princípios, o que desmistificava a própria, pois todas elas vêm do mesmo principio – o da imortalidade das coisas, da própria vida.

Na terra dos grandes homens, aquele que se sobressaia frente às intempéries – leia-se todos os problemas humanos --, teria a possibilidade de ser um pouco imortal frente aos deuses, ou seja, um pouco melhor, a cada encarnação; assim, evolui-se, segundo essa lei. Assim, nasceriam os avathaves, seres iluminados que encarnariam no corpo físico, conscientemente, com a finalidade de nos trazer um pouco, às vezes, pouquíssimo, do segredo dessa evolução a que estamos empiricamente voltados e historicamente esquecidos.

Mas para nós, hoje que estamos acostumados a outra filosofia de vida, tudo isso soa como um grande conto “interessante” – no mínimo. O que nos faz meros transeuntes em um mundo cujo universo é imenso e ao mesmo tempo tão restrito. Ou seja, deixar de acreditar em algo, apenas porque, um dia, resolvera ser antropocentrista.

Claro que não foi assim. Mas nos parece que, ao longo do tempo, temos obedecido a um deus que se parece muito com o homem. Tudo começou em épocas decadentes, nas quais um grande referencial mitológico a que o povo escolhido se referenciou tornou-se meio literal de seguimento a todos, como se fosse a possibilidade futura da alma do homem. Nela, todos os escolhidos e os obedientes a palavra do deus-sombra-do-homem vão para o Céu.

A ilógica continua, até então, levando escritores de grande porte a repensarem, dentro dessa “possibilidade” impossível, o formato de uma crença que, mesmo sendo uma das mais aceitas em termos de confiança religiosa, mas não tendo embasamento para tanto, se sobressair. Pois, para se ter o formato, é preciso ter meios universais religando o homem com o uno, sem medo, sem temor, de maneira que não haja formato algum de qualquer ser vivo.

Uma autora esotérica um dia disse que, se o mundo fosse povoado por vacas, o deus delas seria um grande boi. Nada melhor ilustra o que a Igreja nos impõe dentro de uma grande caverna da qual ela tira elementos para sustentar tal filosofia e manter muitos. E até hoje, tem dado mais que certo. Grandes personagens, autores, modernistas e simpáticos com a causa fazem questão de ilustrar em forma de quadros, poesias, histórias o que se demonstrava simbolicamente por meio de pinturas egípcias, hindus, indianas, maias, célticas, enfim, tudo que se religava com a tradição e apagar, e criar uma verdade bem racional, fundamentada no passado. Assim vivemos uma mentira contada varias vezes que virou uma realidade.

Mas não estamos aqui para realizar uma pichação em uma irrealidade que se tornou real, mas tentar demonstrar o que faz do homem o que ele e. Um ser imortal por natureza.

Autores clássicos, como Platão Aristóteles, entre outros, sempre, de forma racional e mítica, demonstraram a metafísica que envolve a imortalidade como um todo. Em “A Republica”, e, principalmente, em “Apologia a Sócrates”, o primeiro filósofo – iniciado nos grandes mistérios – nos traz o grande mestre Sócrates envolvido com a democracia decadente ateniense, na qual qualquer um votaria, sem pensar, subornados pelos primeiros políticos.

Sócrates, por ensinar novas políticas, a da imortalidade, a do bem viver, a dos valores humanos, foi subjugado e morto pelos donos daquela “caverna”. Mas o que o grande Sócrates nos legou ficou entre vários filósofos, dentre eles, o mais louvável de todos, que continuou seus ensinamentos depois da morte do mestre.

Platão foi mais além. Traduziu em suas obras, na boca do Professor, tudo que em épocas vindouras seria questionado, até mesmo na sua: a imortalidade da alma. Nesse quesito, Platão recorreu aos grandes egípcios, os quais já tinham em sua vida a filosofia do bem-viver, o que significava saber lidar com a natureza e tirar dela o maximo de ensinamento. E isso com a ideia da imortalidade.

Em sua filosofia, Platão – depois de iniciar-se – tentou e conseguiu de forma minuciosa racionalizar ensinamentos que depois vieram a ser motivos de polêmica entre religiosos, políticos, enfim, entre todos, pois, além de não conseguirem entender a obra do grande filosofo, também não conseguiram mudar nenhuma virgula dela.

Assim, quem tem obras platônicas em sua biblioteca, com certeza, é por puro interesse de tentar entedê-lo e não porque o entendeu. Platão não é para nós, seres duvidosos, e sim para os mestres que seguem outros mestres que perseguem, buscam acima de tudo a compreensão da alma humana, ou seja, para poucos. E, principalmente, seguem a tradição – legado do conhecimento humano.

Uma prova disso é quando Platão fala do Amor no “Banquete”, obra que trata somente do assunto. Para os leigos, o autor fala de homossexualismo, paixão, e deixa uma lacuna imensa quando nos diz que o Amor é o primeiro deus de todos dos deuses; sem sabermos, o mestre nos fala de imortalidade...

Na “Republica”, Platão assombra a todos ao dizer que as mulheres devem doar seus filhos no dia do nascimento deles. Para uma democracia, Platão foi terrível, mas para um mundo espiritual o mestre nos diz muita coisa. Aqui nos revela que nossa educação não e algo direto, claro, palpável, mas algo que se internaliza a medida de nossos esforços frente a nossas experiências com a alma, a qual ultrapassa vários ciclos até entender que a evolução humana não é imediata.

Em “Apologia a Sócrates”, Platão descreve o martírio do mestre, que morrera em meio a uma democracia mentirosa, na qual somente os débeis poderiam dar palpites e ensinar o mal; em contradição a essa filosofia, Sócrates foi morto. Porém, antes de morrer, nos mostra o caminho da imortalidade, da bem aventurança, da coragem e do amor ao ser humano... Sócrates, antes de ser filosofo, fora um grande soldado que lutara ao lado dos grandes generais da época, mas preferiu morrer como filósofo – o que não passara pela sua cabeça, e sim demonstrar que morrer também faz parte da vida.

Platão soubera trazer a educação, a espiritualidade tão copiada por todos, e ainda, o grande amor pela verdade, tão bem quanto qualquer ser humano, antes e depois dele. Depois dele veio seu maior aluno, Aristoteles, o qual fundamentou os aspectos científicos em uma época em que a necessidade de estratégia era bem maior do que a da filosofia.

E na terra dos grandes homens, viveu o grande Aristóteles, que nos ensinou a selecionar, já não com a perspicácia de Platão, o que havia no universo material, tal qual um cientista. Dando a ideia de separar o que era necessário, o grande aluno, em algumas coisas, se sentia original, mas possuía um pouco do que fora seu mestre, principalmente no que se refere a ideia de forma do universo. Dizia que o universo era um grande motor, estático, mas que se movia – assim éramos nos, segundo ele.

Platão tinha em sua filosofia o mundo das ideias, que dizia que tudo que era matéria tinha uma sombra, uma forma, que dava a ideia de tudo aquilo que existia; ou seja, antes mesmo de existir, em algum lugar, já havia a ideia daquilo que está em nossa frente. Platão é contestado até mesmo pelo discípulo, que não o entendeu, mas não dizia que tudo que a se referia era algo profundo, mas sinalizava para tanto.

Na realidade, Platão demonstrava o lado espiritual das coisas, de maneira que o homem ocidental não tem conhecimento até hoje. O espiritual não pragmático, fanático, xiita, ou mesmo religioso, como se adestra hoje em dia todos fieis, e sim o espiritual no sentido sutil, tão sutil quanto qualquer matéria – qualquer pensamento.

Assim o foi Demócrito, pré-socrático, o qual demonstrara a subtilidade do átomo, mas não daquela partícula indivisível a que se referem os cientistas, mas um átomo muito mais sutil. Como demonstrar, em uma época tão ínfima de tecnologias? no entanto, mais difícil seria acreditar nesse átomo e na sua divisão – tão contestada atualmente, pois somente os grandes cientistas podem fazê-lo em uma época tecnológica...

O Espiritual na terra dos grandes homens não era propagandeado, comercializado, falado em feira ou em qualquer lugar. O espiritual era interiorizado, praticado, elevado em todas as funções, fosse no limpar de uma mera gaveta, fosse no lapidar de um tijolo, que, mais tarde, seria mais um em um grande templo.

Nessas terras, sabiam os grandes homens que a decadência da palavra espiritual chegaria e que o próprio homem mudaria seu caminho e levaria milhões com ele. Sabia que a fé em Deus também mudaria, que os deuses desapareciam e que o deus único apareceria sob a forma de uma grande sombra humana. Na terra dos grandes homens, o fim estava próximo, mas sabiam que a fé em saber que tudo voltaria em forma de uma grande alma no futuro – que os deuses voltariam, que a filosofia da disciplina, da ordem baseada no Uno --, sob o manto de figuras que tentariam resgatar a humanidade em cada um de nos... Voltaria.

Assim foi Roma. Construída por varias nações, misturadas com valores diferentes, mas que se laçavam ao ideal de sacralidade, não apenas a um, mas a todos que fossem romanos, ou seja, universais. Assim era na terra de Julio Cesar, na terra de Pitolomeu, Marcus Aurelius, Adriano, Epiteto... Todos por um ideal de fraternidade na alma, levando batalhas a outra nações de maneira a sustentar nelas esse ideal, tanto que muitas delas faziam questão de se abrir a Roma.

Assim foi o Egito - quando ainda era a Terra Vermelha -- onde faraós, designados a proteger seu povo, davam a alma para tanto; onde a majestade traduzia seu amor não apenas em seu trono, mas também nas lutas em batalhas promovidas pelo inimigo hitita, hicso, entre outros. Na Terra Vermelha, havia espaço para todas as religiões, havia espaço para as festas pagãs ou não, contanto que estivesse com o mesmo ideal de respeitar a tradição egípicia.


Assim foi Esparta, terra de grande guerreiros que praticavam a filosofia nas lutas intermináveis, de maneira que nasciam e cresciam sob o manto das batalhas, sempre, com disciplina, moral, ética e sacralidade. Alcebíades, guerreiro da época, disse, "É de chorar ao vê-los marchando. São perfeitos". Dalí, nasceu Leônidas e muitos outros generais imortais, que, hoje, são nada mais que nada menos, responsáveis pelo pouco de liberdade que temos.


Enfim, a Terra dos grandes homens se foi, e hoje se monta em algum lugar o resquício desse legado histórico à humanidade, mas que ainda engatinha na compreensão ou em sua tentativa de compreender como pudemos cair no fundo de um poço tão fundo a ponto de esquecermos tão facilmente a melhor parte de nossas vidas.

O homem de hoje vive na linha sutil da matéria e do espírito. Em tudo que pisa, faz e fala, nele predomina a dúvida do fazer, contudo faz. Ao fazer se depara com o céu ou com o inferno de seu ônus ou bônus; e ainda se deixa levar pela contramão do mal caminho ou do caminho certo, neste último cria o descaso e pula dele como um alpinista de sua montanha por não acreditar em si mesmo. No caminho do mal, busca ser o mandante, o chefe e ao mesmo tempo dono de suas consequências, porém não consegue lidar com elas quando chegam. Esse é o homem de hoje.

O homem de hoje não é sábio, mas, em si, busca também conceitos relativos a perfeição divina, mas não consegue se referenciar neles, pois se sente incapaz, pequeno e apenas um mero pó de uma grande areia jogada por Deus nesse infinito universo. Uma ínfima partícula de areia que não se religa com o uno, com o divino, mas que pode mudar seu meio ambiente, a partir de seus interesses sejam políticos ou pseudo-religiosos e cientifico, mas que no fundo será recompensado por tudo no grande céu.

Na terra dos grandes homens a perspectiva de vida não era muita, mas o espírito era a manifestação total que se transformava na maior das perspectivas, porque era a realidade comprovada, mesmo que poucos tivessem a realidade dos mitos nas mãos. O espírito estava em tudo, não apenas nos templos, nas águas e no céu. E espírito estava até mesmo no ser que não se via, nos elementos mais sutis da natureza.


Em nossa terra a perspectiva é de um mundo melhor baseado em premissas falsas, cheias de sistemas falhos, porque tão falhos quanto os sistemas temos o próprio homem moderno, que acredita no céu e no inferno; acredita nas artes modernas, na educação moderna, em palavras modernas, nos conceitos modernos, nas estatísticas... -- que desumanizam e animalizam qualquer ser que nasce e morre nessa terra de homens... pequenos.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Silêncio dos Inocentes

As mesquitas árabes e judaicas se mostram como grandes templos de oração no mundo inteiro e como criadouros de fanáticos por seus deuses. Repletos de gestos e mantras que variam de região para região, os xiitas se revezam em suas ginásticas pelo sagrado, em qualquer lugar, seja aqui no Brasil, seja lá na última região do mundo, a dobrar-se e lançar-se ao horizonte como forma de respeito à tradição que os faz o que são... Fanáticos.

Mas o fanatismo tem seu grau. Às vezes, defendendo uma ideia, seja qual for, somos tão fanáticos quanto qualquer árabe-judaico que se expressa com seu manto, a berrar o nome de seu deus, onde quer se encontre. O fanatismo pode uma ideia é natural, mas poderia ser menos natural se não fosse o desvirtuamento de ideias, em nossa época. Ou seja, quando a defendemos por inteiro, nos esquecemos de que há outras e outras ao redor da nossa – às vezes tão imatura, que não temos embasamento para defendê-la, mas o fazemos de imaturos que somos.

Na realidade, o fanatismo é isso, o trancamento frio e hediondo de ideias baseadas em algo que exclui qualquer outra. É quase uma reeducação (ou deseducação). E isso acontece geralmente com jovens que não conseguem se firmar em algo, sempre com ideias confusas em relação a tudo, principalmente família, sociedade, religião... Partidos. E quando a dúvida recai em sentimentos que exigem reflexão, como amor, verdade, paz... Enfim, naquilo que o vai nortear para o mundo?

Estamos cheios de convicções e nelas nos abastecemos para uma vida melhor, e as idéias perambulam como satélites em nossas mentes, em nossos sonhos, pedindo uma vaga para que sejamos flexíveis a ponto de aceitá-las. O perigo vem daí. Enquanto não tivermos convicções fortes, mas também abertas às idéias, a possibilidade de cairmos em qualquer abismo é muito grande.

Mais uma vez os jovens são as iscas. A própria televisão, com falsa ideologia, criando heróis de papel; os veículos em geral, numa determinação de levar, a qualquer preço, a mentes vazias, em nome da audiência, da pornografia, da mentira... da verdade maculada, dos sons que não são musicas, das musicas que não são nada... E aí vem a fuga para o mal maior, as drogas, ecstase, cocaína, e muitos outros meios que se julgam portas para um mundo “melhor”.

A distância de uma realidade mais leve, sadia e cheia de expectativa é bem maior. E ainda, se desfaz com a propaganda maciça de artistas, entidades em assuntos deveras racionais, todavia tão vazios quanto desertos.

Não é fácil desvincular-se de ideias fortes, mas também é fácil impor dúvidas quanto a sua utilidade. Um dia um filósofo nos disse que, se não houver um pensamento de Humanidade por trás de tudo que fazemos, é inútil pensar. Então, caímos sempre em pensamentos de terceiros, idéias hediondas, partidos, religião... Na própria democracia, que se esvai como o bem maior do mundo inteiro, justamente por não refletirmos acerca do que é bom ou mau à humanidade? Sim.

O parâmetro é um pouco além das expectativas de um jovem que ainda balbucia em seu trajeto fosco, meio brilhante, e que ainda não sabe nem mesmo o que é “parâmetro”. Essa é uma realidade, mas também temos que lutar contra ela. Saber ir de encontro – não ao encontro – dela. Enquanto houver a prática do questionamento, nossas convicções acerca do que é realmente bom, belo e verdadeiro serão sedimentadas ao passo bem lento, gradual mesmo, mas que criarão castelos imensos com pequenos tijolos, daqueles que levam milhares de anos para se corroerem.

Descobre-se com isso que temos heróis do passado que jamais deixarão de sê-lo apenas porque não são divulgados. Descobre-se que as palavras fazem sentido, quando pronunciadas sem a gíria; descobre-se que nossas almas têm luas e sóis e que podemos nos iluminar, adormecer em abrigos, ter amizades, descobrir o amor, descobrir... Descobrir... Enfim, criar castelos...
Descobre-se, além de tudo, que nossa alma tem um criadouro de experiências e por elas decidimos, ecolhemos o que podemos ter e temos. Contudo, pode-se dizer que esse criadouro pode ser um legado se voltado a novas experiências realmente úteis, daquelas que valham à pena contar aos nossos filhos, daquelas que, mesmo chegando a morte, não nos esquecemos delas... Assim se fazem as convicções, assim as ideologias são lembradas, assim podemos viver e morrer em paz.


A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....