sexta-feira, 23 de julho de 2010

Nas Profundezas...



Dizem as grandes civilizações que temos um Universo regido por uma lei, a lei do Darma. É um legado do qual devíamos tirar lições, as quais, referenciadas pelo ser humano, nos submete a um pensamento divino, porque, ao falar dessa lei, para muitos, estaríamos nos referindo a Deus.

O Darma, em sua menor escala, nos leva ao pensamento mais minucioso de que as partículas naturais do átomo também são regidas pela grande lei. Assim, mais um pensamento nos toma conta, e nos atravessa a mente, revelando que somos apenas (por assim dizer) partículas em meio ao infinito do uno.

Darma, a principio, seria a reta ação, a linha imaginaria cósmica na qual está toda matéria ou não matéria, humano ou não. Nessa linha – a linha que rege todo uno – o homem passa naturalmente despercebido, mas que sente, em cada vitoria, pensamento reto; em cada flor plantada, ou mesmo em cada ato bom colhido, sua presença.

O pensamento ocidental, porém, ao não compreender a lição dármica da vida, a nomeia, sustentando, há séculos, o modo antropomórfico de lidar com a sensação de bem-aventurança, a que religiões dão o nome de Deus – um assunto perigoso, no entanto. O Darma nao é bondade, nem maldade, é simplesmente uma Ordem Universal.

Contudo, antes de se tornarem religiões oficialmente falando, de forma quase didática, fomos um povo que compreendia, em sua totalidade, o próprio sentido da vida, que levemente era empregado pelos camponeses e que por gerações e gerações – antes mesmo dos peripatéticos de Platão e de Socrates --, éramos educados.

A natureza se fazia em todos os cantos – não apenas aos olhos do homem descrente – e que milagre não era divino, mas tudo era divino, pois tudo era milagre, porque inserir na alma humana a espiritualidade da beleza de uma rosa era tão complexo quanto subir à lua com escada magiros. Assim era a lei dármica, a qual em tudo se fazia.

Hoje não se estuda com afinco a tradição e, em consequência disso, nos distanciamos dos conceitos divinos. E Darma, em sua totalidade, é Deus. Buda, por exemplo, nos relata que a experiência humana, ainda que coberta de naturalidade, não é o suficiente para entender a lei dármica, porque esta não é a contradição ou oposição ao karma, outra lei pela qual vivemos – e com mais afinco, mais força, Darma seria a ausencia de conflitos -- em nossa visao restrita.

E Karma seria universal também e teria os seus níveis entre todos os seres do universo. Nele, podemos, em nível humano, dizer que a memória da alma deve se levar em questão. Os grandes do passado dizem que as encarnações existem em razão dessa memória que possuímos, e que, graças as imperfeições adquiridas durante todas elas, o homem precisa, naturalmente, reencarnar para se aperfeiçoar– ou seja, por muitos e muitos anos. Não que a lei cármica não funcione aqui e agora, muito pelo contrario. A lei cármica faz os ciclos.

Por isso, o darma existe como ponto de evolução do próprio uno. Com a finalidade de ser entendida como elemento maior em qualquer sentido, a grande lei chega a ser incompreensível. Apenas o sábios a arranham, e os avathares a tocam; todavia, por meio simbólicos, tentam nos aproximar dela.

Assim, dentro dessa profundeza, ainda existem os ciclos, os quais nos relatam a ida e a volta do universo, das grandes civilizações, das grandes sociedades, nas quais poderia se falar em deus de maneira indiscriminada, sem medo, temor, sem ser manipulado... Porque a lei dármica estaria em tudo e ao mesmo tempo em nada. Uma inexplicável e ao mesmo tempo maravilhosa maneira de falar de Deus e sentir Deus.

Os ciclos, continuando, estão na concepção humana, social, universal. Os ciclos seriam a maior prova da existência das duas leis – a lei cármica e dármica, sendo a primeira uma necessidade da segunda. Prova disso seriam os mitos desenvolvidos em épocas douradas e respeitados em sua essência. Cada mito desenvolvia, espetacularmente, uma realidade universal e nele, é claro, a humana.

Em nós, os mitos nos ensinavam o valor de conhecer a reta ação, como nos lembram as asas de Ícaro, quando cai em meio a um oceano por ter subido demais ao sol. Antes disso, lembra-nos a filosofia grega que o minotauro – metade touro, metade humano --, aqui metaforizando o próprio homem e seu mal criado há tempos dentro labirinto construdio por Dédalo – que teve o filho morto no oceano, o monstro seria o mal do homem em si mesmo-- . Ali, no grande labirinto, o grande herói, Teseu, com o fio de Ariadine, nos revela a forma da filosofia prática em nos retirar do nosso próprio mal, desenrolando o fio até o fim da arquitetura de Dédalo, na qual mora o monstro, a fim de que o próprio homem nasça com outros valores, quase um novo nascimento – uma iniciação.

No distanciamento dos valores, a humanidade, ainda que ignorante de seu passado quase enterrado pelo modernismo e novas leis criadas, passa pelas mesmas leis, passa pelos mesmos mitos, se revela manipulada pelos grandes homens do presente, os quais se tornam evidentes reis que rasgam os livros do passado para iniciar um novo tempo, cheio de sistemas.

Todavia, as civilizações antigas sabiam que isso iria acontecer, em razão da decadência tão visível quanto nuvens em tempo chuvoso. Sabiam que os deuses – potencialidades naturais, responsáveis pela formação do uno – desapareceriam e que um novo deus estaria entre nos.

Sabiam que darma e karma seriam apenas palavras tais quais fogueira numa tarde quente de verão. Contudo, jamais deixariam de existir naturalmente como leis.

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