quinta-feira, 1 de julho de 2010

Silêncio dos Inocentes

As mesquitas árabes e judaicas se mostram como grandes templos de oração no mundo inteiro e como criadouros de fanáticos por seus deuses. Repletos de gestos e mantras que variam de região para região, os xiitas se revezam em suas ginásticas pelo sagrado, em qualquer lugar, seja aqui no Brasil, seja lá na última região do mundo, a dobrar-se e lançar-se ao horizonte como forma de respeito à tradição que os faz o que são... Fanáticos.

Mas o fanatismo tem seu grau. Às vezes, defendendo uma ideia, seja qual for, somos tão fanáticos quanto qualquer árabe-judaico que se expressa com seu manto, a berrar o nome de seu deus, onde quer se encontre. O fanatismo pode uma ideia é natural, mas poderia ser menos natural se não fosse o desvirtuamento de ideias, em nossa época. Ou seja, quando a defendemos por inteiro, nos esquecemos de que há outras e outras ao redor da nossa – às vezes tão imatura, que não temos embasamento para defendê-la, mas o fazemos de imaturos que somos.

Na realidade, o fanatismo é isso, o trancamento frio e hediondo de ideias baseadas em algo que exclui qualquer outra. É quase uma reeducação (ou deseducação). E isso acontece geralmente com jovens que não conseguem se firmar em algo, sempre com ideias confusas em relação a tudo, principalmente família, sociedade, religião... Partidos. E quando a dúvida recai em sentimentos que exigem reflexão, como amor, verdade, paz... Enfim, naquilo que o vai nortear para o mundo?

Estamos cheios de convicções e nelas nos abastecemos para uma vida melhor, e as idéias perambulam como satélites em nossas mentes, em nossos sonhos, pedindo uma vaga para que sejamos flexíveis a ponto de aceitá-las. O perigo vem daí. Enquanto não tivermos convicções fortes, mas também abertas às idéias, a possibilidade de cairmos em qualquer abismo é muito grande.

Mais uma vez os jovens são as iscas. A própria televisão, com falsa ideologia, criando heróis de papel; os veículos em geral, numa determinação de levar, a qualquer preço, a mentes vazias, em nome da audiência, da pornografia, da mentira... da verdade maculada, dos sons que não são musicas, das musicas que não são nada... E aí vem a fuga para o mal maior, as drogas, ecstase, cocaína, e muitos outros meios que se julgam portas para um mundo “melhor”.

A distância de uma realidade mais leve, sadia e cheia de expectativa é bem maior. E ainda, se desfaz com a propaganda maciça de artistas, entidades em assuntos deveras racionais, todavia tão vazios quanto desertos.

Não é fácil desvincular-se de ideias fortes, mas também é fácil impor dúvidas quanto a sua utilidade. Um dia um filósofo nos disse que, se não houver um pensamento de Humanidade por trás de tudo que fazemos, é inútil pensar. Então, caímos sempre em pensamentos de terceiros, idéias hediondas, partidos, religião... Na própria democracia, que se esvai como o bem maior do mundo inteiro, justamente por não refletirmos acerca do que é bom ou mau à humanidade? Sim.

O parâmetro é um pouco além das expectativas de um jovem que ainda balbucia em seu trajeto fosco, meio brilhante, e que ainda não sabe nem mesmo o que é “parâmetro”. Essa é uma realidade, mas também temos que lutar contra ela. Saber ir de encontro – não ao encontro – dela. Enquanto houver a prática do questionamento, nossas convicções acerca do que é realmente bom, belo e verdadeiro serão sedimentadas ao passo bem lento, gradual mesmo, mas que criarão castelos imensos com pequenos tijolos, daqueles que levam milhares de anos para se corroerem.

Descobre-se com isso que temos heróis do passado que jamais deixarão de sê-lo apenas porque não são divulgados. Descobre-se que as palavras fazem sentido, quando pronunciadas sem a gíria; descobre-se que nossas almas têm luas e sóis e que podemos nos iluminar, adormecer em abrigos, ter amizades, descobrir o amor, descobrir... Descobrir... Enfim, criar castelos...
Descobre-se, além de tudo, que nossa alma tem um criadouro de experiências e por elas decidimos, ecolhemos o que podemos ter e temos. Contudo, pode-se dizer que esse criadouro pode ser um legado se voltado a novas experiências realmente úteis, daquelas que valham à pena contar aos nossos filhos, daquelas que, mesmo chegando a morte, não nos esquecemos delas... Assim se fazem as convicções, assim as ideologias são lembradas, assim podemos viver e morrer em paz.


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"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....