segunda-feira, 5 de julho de 2010

Na Terra dos Grandes Homens...


(O texto, em determinados vocabulos, nao apresenta o acento agudo, mas apresenta facilidade na leitura)

Rezam os mitos que o homem é imortal pelos seus atos, pela sua alma, pela sua busca. E somos. Mas, alem de imortais por tudo isso, somos muito mais porque não aprendemos a lidar com a matéria – leia-se: tudo que está a nossa volta, inclusive nós mesmos. Quando digo matéria, muitos pestanejam e refletem acerca do que em volta estamos; não é só isso. Até mesmo pensamentos, desejos, atos são totalizados como a pior forma de matéria possível a que estamos acostumados a vivenciar e, ao mesmo tempo, nem um pouquinho a entendê-los.

Todavia, os mitos nos dizem que a pior forma de matéria é aquela que nos faz encarnar, pois os grandes homens – os maiores --, os realmente espirituais, não encarnam. Diz a lenda que os faraós não encarnavam – pelo menos os grandes faraós --, eles iam para o lado dos deuses, ser o que somos, no fundo da alma: imortais. A questão é que ainda buscamos entender o lado religioso do homem em vez de praticá-lo.


Nessa perda tempo, os grandes homens se perdem, se vão como cinzas e suas filosofias de vida, idem, tudo por que somos anda questionadores em um mundo em que tudo é desconfiança, ignorância, falsidades, entre outras coisas.

No mundo dos grandes homens, até mesmo dos faraós, houve seres que não acreditavam na imortalidade, e sim em suas crenças – cada uma baseada em seus princípios, o que desmistificava a própria, pois todas elas vêm do mesmo principio – o da imortalidade das coisas, da própria vida.

Na terra dos grandes homens, aquele que se sobressaia frente às intempéries – leia-se todos os problemas humanos --, teria a possibilidade de ser um pouco imortal frente aos deuses, ou seja, um pouco melhor, a cada encarnação; assim, evolui-se, segundo essa lei. Assim, nasceriam os avathaves, seres iluminados que encarnariam no corpo físico, conscientemente, com a finalidade de nos trazer um pouco, às vezes, pouquíssimo, do segredo dessa evolução a que estamos empiricamente voltados e historicamente esquecidos.

Mas para nós, hoje que estamos acostumados a outra filosofia de vida, tudo isso soa como um grande conto “interessante” – no mínimo. O que nos faz meros transeuntes em um mundo cujo universo é imenso e ao mesmo tempo tão restrito. Ou seja, deixar de acreditar em algo, apenas porque, um dia, resolvera ser antropocentrista.

Claro que não foi assim. Mas nos parece que, ao longo do tempo, temos obedecido a um deus que se parece muito com o homem. Tudo começou em épocas decadentes, nas quais um grande referencial mitológico a que o povo escolhido se referenciou tornou-se meio literal de seguimento a todos, como se fosse a possibilidade futura da alma do homem. Nela, todos os escolhidos e os obedientes a palavra do deus-sombra-do-homem vão para o Céu.

A ilógica continua, até então, levando escritores de grande porte a repensarem, dentro dessa “possibilidade” impossível, o formato de uma crença que, mesmo sendo uma das mais aceitas em termos de confiança religiosa, mas não tendo embasamento para tanto, se sobressair. Pois, para se ter o formato, é preciso ter meios universais religando o homem com o uno, sem medo, sem temor, de maneira que não haja formato algum de qualquer ser vivo.

Uma autora esotérica um dia disse que, se o mundo fosse povoado por vacas, o deus delas seria um grande boi. Nada melhor ilustra o que a Igreja nos impõe dentro de uma grande caverna da qual ela tira elementos para sustentar tal filosofia e manter muitos. E até hoje, tem dado mais que certo. Grandes personagens, autores, modernistas e simpáticos com a causa fazem questão de ilustrar em forma de quadros, poesias, histórias o que se demonstrava simbolicamente por meio de pinturas egípcias, hindus, indianas, maias, célticas, enfim, tudo que se religava com a tradição e apagar, e criar uma verdade bem racional, fundamentada no passado. Assim vivemos uma mentira contada varias vezes que virou uma realidade.

Mas não estamos aqui para realizar uma pichação em uma irrealidade que se tornou real, mas tentar demonstrar o que faz do homem o que ele e. Um ser imortal por natureza.

Autores clássicos, como Platão Aristóteles, entre outros, sempre, de forma racional e mítica, demonstraram a metafísica que envolve a imortalidade como um todo. Em “A Republica”, e, principalmente, em “Apologia a Sócrates”, o primeiro filósofo – iniciado nos grandes mistérios – nos traz o grande mestre Sócrates envolvido com a democracia decadente ateniense, na qual qualquer um votaria, sem pensar, subornados pelos primeiros políticos.

Sócrates, por ensinar novas políticas, a da imortalidade, a do bem viver, a dos valores humanos, foi subjugado e morto pelos donos daquela “caverna”. Mas o que o grande Sócrates nos legou ficou entre vários filósofos, dentre eles, o mais louvável de todos, que continuou seus ensinamentos depois da morte do mestre.

Platão foi mais além. Traduziu em suas obras, na boca do Professor, tudo que em épocas vindouras seria questionado, até mesmo na sua: a imortalidade da alma. Nesse quesito, Platão recorreu aos grandes egípcios, os quais já tinham em sua vida a filosofia do bem-viver, o que significava saber lidar com a natureza e tirar dela o maximo de ensinamento. E isso com a ideia da imortalidade.

Em sua filosofia, Platão – depois de iniciar-se – tentou e conseguiu de forma minuciosa racionalizar ensinamentos que depois vieram a ser motivos de polêmica entre religiosos, políticos, enfim, entre todos, pois, além de não conseguirem entender a obra do grande filosofo, também não conseguiram mudar nenhuma virgula dela.

Assim, quem tem obras platônicas em sua biblioteca, com certeza, é por puro interesse de tentar entedê-lo e não porque o entendeu. Platão não é para nós, seres duvidosos, e sim para os mestres que seguem outros mestres que perseguem, buscam acima de tudo a compreensão da alma humana, ou seja, para poucos. E, principalmente, seguem a tradição – legado do conhecimento humano.

Uma prova disso é quando Platão fala do Amor no “Banquete”, obra que trata somente do assunto. Para os leigos, o autor fala de homossexualismo, paixão, e deixa uma lacuna imensa quando nos diz que o Amor é o primeiro deus de todos dos deuses; sem sabermos, o mestre nos fala de imortalidade...

Na “Republica”, Platão assombra a todos ao dizer que as mulheres devem doar seus filhos no dia do nascimento deles. Para uma democracia, Platão foi terrível, mas para um mundo espiritual o mestre nos diz muita coisa. Aqui nos revela que nossa educação não e algo direto, claro, palpável, mas algo que se internaliza a medida de nossos esforços frente a nossas experiências com a alma, a qual ultrapassa vários ciclos até entender que a evolução humana não é imediata.

Em “Apologia a Sócrates”, Platão descreve o martírio do mestre, que morrera em meio a uma democracia mentirosa, na qual somente os débeis poderiam dar palpites e ensinar o mal; em contradição a essa filosofia, Sócrates foi morto. Porém, antes de morrer, nos mostra o caminho da imortalidade, da bem aventurança, da coragem e do amor ao ser humano... Sócrates, antes de ser filosofo, fora um grande soldado que lutara ao lado dos grandes generais da época, mas preferiu morrer como filósofo – o que não passara pela sua cabeça, e sim demonstrar que morrer também faz parte da vida.

Platão soubera trazer a educação, a espiritualidade tão copiada por todos, e ainda, o grande amor pela verdade, tão bem quanto qualquer ser humano, antes e depois dele. Depois dele veio seu maior aluno, Aristoteles, o qual fundamentou os aspectos científicos em uma época em que a necessidade de estratégia era bem maior do que a da filosofia.

E na terra dos grandes homens, viveu o grande Aristóteles, que nos ensinou a selecionar, já não com a perspicácia de Platão, o que havia no universo material, tal qual um cientista. Dando a ideia de separar o que era necessário, o grande aluno, em algumas coisas, se sentia original, mas possuía um pouco do que fora seu mestre, principalmente no que se refere a ideia de forma do universo. Dizia que o universo era um grande motor, estático, mas que se movia – assim éramos nos, segundo ele.

Platão tinha em sua filosofia o mundo das ideias, que dizia que tudo que era matéria tinha uma sombra, uma forma, que dava a ideia de tudo aquilo que existia; ou seja, antes mesmo de existir, em algum lugar, já havia a ideia daquilo que está em nossa frente. Platão é contestado até mesmo pelo discípulo, que não o entendeu, mas não dizia que tudo que a se referia era algo profundo, mas sinalizava para tanto.

Na realidade, Platão demonstrava o lado espiritual das coisas, de maneira que o homem ocidental não tem conhecimento até hoje. O espiritual não pragmático, fanático, xiita, ou mesmo religioso, como se adestra hoje em dia todos fieis, e sim o espiritual no sentido sutil, tão sutil quanto qualquer matéria – qualquer pensamento.

Assim o foi Demócrito, pré-socrático, o qual demonstrara a subtilidade do átomo, mas não daquela partícula indivisível a que se referem os cientistas, mas um átomo muito mais sutil. Como demonstrar, em uma época tão ínfima de tecnologias? no entanto, mais difícil seria acreditar nesse átomo e na sua divisão – tão contestada atualmente, pois somente os grandes cientistas podem fazê-lo em uma época tecnológica...

O Espiritual na terra dos grandes homens não era propagandeado, comercializado, falado em feira ou em qualquer lugar. O espiritual era interiorizado, praticado, elevado em todas as funções, fosse no limpar de uma mera gaveta, fosse no lapidar de um tijolo, que, mais tarde, seria mais um em um grande templo.

Nessas terras, sabiam os grandes homens que a decadência da palavra espiritual chegaria e que o próprio homem mudaria seu caminho e levaria milhões com ele. Sabia que a fé em Deus também mudaria, que os deuses desapareciam e que o deus único apareceria sob a forma de uma grande sombra humana. Na terra dos grandes homens, o fim estava próximo, mas sabiam que a fé em saber que tudo voltaria em forma de uma grande alma no futuro – que os deuses voltariam, que a filosofia da disciplina, da ordem baseada no Uno --, sob o manto de figuras que tentariam resgatar a humanidade em cada um de nos... Voltaria.

Assim foi Roma. Construída por varias nações, misturadas com valores diferentes, mas que se laçavam ao ideal de sacralidade, não apenas a um, mas a todos que fossem romanos, ou seja, universais. Assim era na terra de Julio Cesar, na terra de Pitolomeu, Marcus Aurelius, Adriano, Epiteto... Todos por um ideal de fraternidade na alma, levando batalhas a outra nações de maneira a sustentar nelas esse ideal, tanto que muitas delas faziam questão de se abrir a Roma.

Assim foi o Egito - quando ainda era a Terra Vermelha -- onde faraós, designados a proteger seu povo, davam a alma para tanto; onde a majestade traduzia seu amor não apenas em seu trono, mas também nas lutas em batalhas promovidas pelo inimigo hitita, hicso, entre outros. Na Terra Vermelha, havia espaço para todas as religiões, havia espaço para as festas pagãs ou não, contanto que estivesse com o mesmo ideal de respeitar a tradição egípicia.


Assim foi Esparta, terra de grande guerreiros que praticavam a filosofia nas lutas intermináveis, de maneira que nasciam e cresciam sob o manto das batalhas, sempre, com disciplina, moral, ética e sacralidade. Alcebíades, guerreiro da época, disse, "É de chorar ao vê-los marchando. São perfeitos". Dalí, nasceu Leônidas e muitos outros generais imortais, que, hoje, são nada mais que nada menos, responsáveis pelo pouco de liberdade que temos.


Enfim, a Terra dos grandes homens se foi, e hoje se monta em algum lugar o resquício desse legado histórico à humanidade, mas que ainda engatinha na compreensão ou em sua tentativa de compreender como pudemos cair no fundo de um poço tão fundo a ponto de esquecermos tão facilmente a melhor parte de nossas vidas.

O homem de hoje vive na linha sutil da matéria e do espírito. Em tudo que pisa, faz e fala, nele predomina a dúvida do fazer, contudo faz. Ao fazer se depara com o céu ou com o inferno de seu ônus ou bônus; e ainda se deixa levar pela contramão do mal caminho ou do caminho certo, neste último cria o descaso e pula dele como um alpinista de sua montanha por não acreditar em si mesmo. No caminho do mal, busca ser o mandante, o chefe e ao mesmo tempo dono de suas consequências, porém não consegue lidar com elas quando chegam. Esse é o homem de hoje.

O homem de hoje não é sábio, mas, em si, busca também conceitos relativos a perfeição divina, mas não consegue se referenciar neles, pois se sente incapaz, pequeno e apenas um mero pó de uma grande areia jogada por Deus nesse infinito universo. Uma ínfima partícula de areia que não se religa com o uno, com o divino, mas que pode mudar seu meio ambiente, a partir de seus interesses sejam políticos ou pseudo-religiosos e cientifico, mas que no fundo será recompensado por tudo no grande céu.

Na terra dos grandes homens a perspectiva de vida não era muita, mas o espírito era a manifestação total que se transformava na maior das perspectivas, porque era a realidade comprovada, mesmo que poucos tivessem a realidade dos mitos nas mãos. O espírito estava em tudo, não apenas nos templos, nas águas e no céu. E espírito estava até mesmo no ser que não se via, nos elementos mais sutis da natureza.


Em nossa terra a perspectiva é de um mundo melhor baseado em premissas falsas, cheias de sistemas falhos, porque tão falhos quanto os sistemas temos o próprio homem moderno, que acredita no céu e no inferno; acredita nas artes modernas, na educação moderna, em palavras modernas, nos conceitos modernos, nas estatísticas... -- que desumanizam e animalizam qualquer ser que nasce e morre nessa terra de homens... pequenos.

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