sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Desconhecido


Está chegando o Natal, e as comemorações do fim de ano também. Não é de hoje que o espírito grandioso das festas em fim de ano, décadas, séculos... Fazem parte da vida humana. Não, não é. Sei o quanto é piegas falar sobre isso, mas é preciso. Tudo que se refere ao comportamento humano tinha que ser falado, descrito, narrado, dissertado.. Sei lá... teria que ser lido e praticado por todos.

No entanto, não somos assim. Não mudamos de uma hora para outra, nem mesmo de um século para outro, pois possuímos raízes profundas com as quais nos apegamos, e por elas lutamos, e com elas nos identificamos – estou falando de vida humana, e de tudo porque passamos, e se há alguma mudança em nós, graças a elas... e somente nelas.

As mudanças, ais quais me refiro, são baseadas em algo muito profundo. Mudanças que não precisam nos dizer o que nossas personalidades são – mesmo porque somos muito mais que um agrupamento de ossos, emoções, paixões.. Somos seres que se elevam com o simples, com a poesia... Com a música, e isso, claro, faz com que nossas emoções fiquem mais altas, no cimo, no topo...

Mas não há como deixá-las plantadas nessa montanha, como alpinista que finca a bandeira, e, às vezes, por lá acampa. Nossas emoções só duram o momento em que estamos ouvindo, lendo, recitando o belo poema, ou sentindo o por do sol em nossos corações, iluminando o resto de nossas entranhas...

As mudanças são para nós assim como são as partículas de um carvão a se transformar em ouro. É um processo belo, no entanto minucioso, vagaroso, mas valoroso... Desde a célula intima de nossos corações até o cume de nossas almas, desde a unha de nossos pés às raízes de nossos cabelos... As mudanças são naturais.

Do processo biológico esperamos modificações até nossas velhices, e ainda não aceitamos, pois retrata, às vezes, o que não somos em emoções, em determinações, enfim, em idade interna. Porém, a real mudança pela qual passamos, a espiritual, a que tanto almejamos, não se consegue como no físico; é preciso nos basear nas estrelas, nos sóis que nos rodeiam.

Do espírito, desse desconhecido e misterioso mundo, apenas ouvimos dizer e ainda achamos que sabemos muito dele. Ouvimos vozes, nos comunicamos com outro mundo, sonhamos, choramos... E já somos espiritualizados...!

Acredito que a imagem maior do grande espírito não nos cabe ver (revelar!) nem sentir, apenas buscar em nossas raízes mais profundas seu sentido, e dele tentar, pelo menos, ser mais prático, no sentido mais humano da palavra, nem que seja em respeito à palavra espírito, esta que nos ronda, e nos faz perceber que existe um objetivo, um ideal a realizar em torno de nossas esferas, sem que precisamos vê-la de perto.

A palavra espírito já nos é o bastante para se ter uma divindade em nosso norte. E, em frente a ela, nos ajoelharmos, agradecendo nossas tentativas de vencer batalhas, em meio a frágil coragem que temos, sem sucumbir numa terra em que, se cairmos, podemos ser pisoteados...

Assim, em uma vida tão bela, que está sempre continuando, evoluindo, independente de nossos conceitos, a única mudança natural é ir ao encontro dela, aceitando nossas idades, nossas velhices, nossos problemas, e que sem eles a grande roda não gira. A única mudança a ser feita é entender que não somos perfeitos, mas que nossos universos giram para esse final.

Nesse natal, como em outros que virão, nossas mudanças serão mínimas, mas nosso comportamento diante da grande vida mudará, pois possuímos uma personalidade que, às vezes, aprende com seus erros, mas depois desconhece seu caminho, mas para isso temos o grande espírito, o misterioso, que nos inclina a reta sagrada, mesmo que seja por alguns momentos.


Ao Meu filho, Pedro, que cresce ao meus olhos.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Convivência, segunda parte.

Na antiguidade, no antigo Egito, para ser mais especifico, se uma esposa deixasse de arrumar as vestes do marido, sua sandália, seu ouro, seus apetrechos de homem, não seria perdoada. Para os olhares modernos, isso seria a prova de um machismo extremista, advindo de uma era cujas mulheres não tiveram espaço nem para respirar... Errado. Não só no Egito, mas, em todas as civilizações, como Grécia, Roma, a mulher era tão valorizada quanto o homem. Ainda há quem discorde, pois há coisas pelas quais a mulher passava que o homem nem mesmo sabia, e vice-versa.

A questão é polêmica. Mas para traduzirmos o sentimento da época é preciso estudarmos um pouco a visão dela e daqueles que nela passaram, e seu comportamento...

No Inicio...

No inicio de nossa civilização, quando não havia esse partidarismo ou mesmo esse fosso religioso em que vivemos, porém em uma época em que o sentimento de religião era maior e mais universal que o nosso, tanto que, em tudo, cabia esse pilar da antiguidade, a mulher e o homem sabiam lidar um com o outro e com Deus. Havia a síntese sa tríade em tudo.

A religião estava no ar, no mar, no céu, no fogo, no homem, em tudo (e ainda está!...). E cada ser, sociedade, civilização entendia isso da sua forma, cabendo-lhes traduzir de maneira simbólica o que religava o homem a Deus. Isso pode ser apreciado em civilizações até mesmo distantes, como a do Peru e do Egito, quão distante são, mas cada qual com seus ornamentos semelhantes, já perceberam?

O simbolismo era fruto de algo misterioso que, regado a lendas e mitos, transportava os seres da época a um conhecimento brando e ao passo fechado, mas que, com o tempo, veio a ser desmistificado por alguns sacerdotes que não conseguiram manter o segredo. Razão: o materialismo era mais forte e o espiritualismo profundo, sem citar a razão de vários filósofos modernos, sendo transformado em algo palpável – como o céu dos cristãos, judeus, etc, os quais não mais se revestem de véus simbólicos, mas de uma realidade tão forte quanto à própria.

E assim, tudo nos emancipava a uma semântica natural, no passado, e nos fazia crer no sagrado de maneira ordenada, harmônica, isto é, todos diferentes e necessários um ao outro, sem distinção de raças, cores, sociedade... Hoje até podemos entender, mas acreditar, de verdade, como a pele do nosso corpo que reveste os ossos, não, não acreditamos, e nisso eles acreditavam e disso viviam.

Deus, para terminar o assunto, era representado, dependendo da civilização, como um Peixe, com o número Zero, com, com o Infinito, e o restante – o que nos cercava – emancipações, formas, geometrias, etc, era o fruto dessa divindade, ou seja, tudo era diferente, mas possuía, na semente, a característica sagrada.

Enfim, a convivência era ordenada por disciplinas universais. O homem com o seu Logus, e a mulher, com o dela. Cada qual com sua essência e característica. Hoje, no entanto, temos outra ordem a ‘iluminar’ nossos passos, e é aí que nos perdemos. O materialismo, o capitalismo, o comunismo, o desenfreado modo reliogioso-político, e demais ismos, além do machismo, feminismo, com os quais lidamos e vivemos, podem ter levado o homem a essa bola de neve, cheia de valores contrários à cortesia, ao amor ao próximo, ao cavalheirismo, mas é difícil de dizer, mesmo porque há uma grande necessidade por trás de tudo por que passamos, inclusive o mal de uma civilização.

O espiritualismo egípcio, a hombridade romana, a filosofia grega, o misticismo maia, hindu... Tudo, de alguma forma, teve seu ápice como cultura, e delas aprendemos muito, contudo não o bastante e, de acordo com as últimas, não aprenderemos tão cedo... E tais culturas tiveram sua decadência, e dela somente nos lembramos.

O homem e a mulher egípcia não foram seres perfeitos, mas sabiam que havia uma ordem universal com a finalidade de organizar o universo, ou melhor, uma ordem total na qual estariam incluídos o homem e a mulher e os seres em sua volta, sem que qualquer ser racional fosse dono disso ou daquilo, nem mesmo dono ou senhor da mulher com quem ele casasse ou tivesse qualquer tipo de união.

Contudo, sabiam de seus papeis. Graças a esses conceitos praticados, todos comungavam os mesmo valores, não precisando de qualquer religião para nortear princípios humanos – a religião era respirada.

A união do homem e dos seus semelhantes está dentro dessa filosofia de vida. Em tudo que se fazia, olhava-se para essa ordem; assim, ao organizar os apetrechos do homem, a mulher não estaria trabalhando para ele, mas sim para o uno, para Deus, de forma que se religasse aquele ato com tudo. O homem se realizava, a mulher idem. Tanto que um dos papeis mais cobiçados pela mulher antiga era fazer as honras ao homem, pois este representava a ponte entre o sagrado e o profano, e fazer as honras aos deuses. Ao homem, cultivar o fogo simbólico da casa, sempre brando, puro, e ser cortês, traduzia um pouco da ordem à qual era obedecida...

E conviver sob esse manto seria o ideal de todo o homem e mulher. O filósofo estava certo, de novo...

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Convivência - a iniciação humana.

Um dia um filósofo tradicional-modernista nos disse “conviver talvez seja a parte mais difícil pela qual temos que passar”. E, com o passar de minhas experiências, ainda não tão prático quanto, contudo sempre perto de me sujeitar a defini-las, posso dizer... “Existe uma graaande verdade no que ele diz”.

Depois que me casei, pude perceber o quanto somos seres difíceis, sempre tentando defender aquilo que nos apraz, sempre. O que quer dizer isso? Significa defender apenas o que nos interessa... O homem a defender aquilo que lhe é inerente como tal, a mulher, como mulher, idem.

Assim, em um contexto maior, posso entender com mais facilidade (essa complexidade!) o que realmente nos faz perder a cabeça, a serenidade, a paciência... Tudo pelo simples fato de sermos inflexíveis ao que “somos”. Se sou homem, defendo minha ida aos bares, sou a favor das amizades femininas, das leituras, da cultura, dos diálogos informais... da beira do mar, dos quiosques... De chegar tarde sem dar satisfações a ninguém, enfim, uma série de individualidades sem caráter algum social, mas que podem transformar uma família, uma sociedade em flagelos interesseiros, a partir de um ponto – nós.

A mulher, o direito de falar de suas amigas, de sair em busca do sapato perdido – ainda que tenha milhares em casa; da bolsa nova, mesmo com três ou quatro penduradas no ‘bolseiro’, porém nenhuma parecida com a de sua amiga (!), ou com a da moda da novela...

E no plano emocional, quando o filho nasce, adeus esposo, adeus carinhos, ou mesmo a reserva deles na despensa. Ela se joga em uma vida paralela e dela não sai enquanto não descobrir um terapeuta ou uma amante do marido correndo entre os três – marido, filho e ela! Esse é um dos males em viver de interesses restritos, não sociais. Perde-se quem te escuta, quem te ama, quem sempre se inclinou a lhe fazer o bem... Perde-se o significado até mesmo na união entre os dois.

Os interesses da mãe, ao se declinar para o filho como único, desfaz o que o sagrado iniciou: a tríade. Entre os três – pai, mãe e filho – haveria de ter a harmonia sem dor, a sabedoria sem dono, o conhecimento diário, a paz que tanto se busca quando se une, e enfim, a consecução do amor... Por isso, convivência é difícil entre casais. Há sempre algo que os direciona ao caminho oposto.

Um dia, o mesmo filósofo disse “Se não há ideal entre os dois, não há união”. Hoje, temos casais unidos pela mesma crença, ideologia partidária e outras ideologias criadas dentro de uma sociedade necessitada de tudo isso. Porém, ideologias, ainda que belas ao olhar social, não enriquecem internamente – no sentido mais profundo – o ser humano. Quer dizer, tais, ainda que brilhem como estrelas, mas não modifiquem o ser humano, são apenas livretos de bancas, e mais, historietas de heróis que se corrompem facilmente...

A ideologia deve transpassar o valor social, estar acima de si mesmo, assim como o sol que se vê, todos os dias, ainda que nuvens o tapem, mas que sobrevoa o céu humano, como forma simbólica do que devemos ser – sóis a iluminar um ao outro.

Todavia, há em nosso mundo a psicologia. Mãe a qual recorremos nas horas chorosas, e que se vê como a última das saídas – pelo menos àqueles mais inclinados a ouvir outros além de padres, pastores... pais e mães sábios. Assim, a psicologia se torna dona do ser humano. O perigo se torna maior, pois acreditamos ter superado todos nossos dilemas, problemas, e todos os “emas”, até mesmo o apego à matéria (!), e recorremos ao divã, sempre que a dualidade física nos vem à alma...

Pobre de nós, pois a solução de nossos problemas estão longe a cada dia... a cada ano... enfim, somos perfuradores de cimento duro na busca de um tesouro do outro lado da terra (entenderam?). Claro que, em terrenos menores, a psicologia nos ajuda a trabalhar mais nossa consciência em relação às pessoas, e, dependendo do doutor, de nós mesmos. Essa última baseada em preceitos freudianos, lincados à psicologia modernista, nos deixa mais abertos, no entanto mais dispersos ao nosso caminho natural – o de ser um pouquinho melhor todos os dias.

Mas o convívio dentro desse parâmetro (psicológico) nos leva, na maioria das vezes, a achar que encontramos o self junguiano (C. G. Jung), mas a realidade é outra... A psicologia – seja entre casais, entre seres da mesma família, sociedade... – revela-se filha e não mãe de um problema tão maior quanto o do convívio... revela-se dona das resposta ao mundo...

Assim, graças à psicologia, a ideologia humana se desfaz. Vem aí o feminismo! A mulher se torna dona de si mesma e se torna a dona do cosmos, sem mesmo observar o sol. O homem, já machista, começa acreditar que ter amantes, amigos em botequim, amigas a qualquer preço, é algo de sua natureza divina... A ideologia se desfaz em mídias, em forma de novelas, filmes, desenhos, como resposta ao que o homem e mulher sentem um em relação ao outro...

A morte da humanidade está anunciada.


Voltamos em outro texto.


















sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Natal, puro sentimento


Fico pálido quando escrevo algo acerca dessa época maravilhosa, tão bela e cheia de paz aos homens, à natureza, à vida, ao cosmos, enfim, a tudo... É o Natal. Tão esperado quanto uma criança que vem com amor, lá de dentro do infinito da barriguinha da mamãe... Tão exotérico! Dizia um amigo meu. Tão fora do comum que chegamos sentir um aperto no peito e dar um berro de vida, Aaaaaaahhhhh!!!!, sair abraçando senhores, senhoras, crianças, todos, sem o mínimo de razão para nos atrapalhar esse ato tão incompreensível e ao mesmo tempo tão simples...

Esse é o Natal... Há muito criado para nos remeter à esperança de paz entre os homens, a fraternidade, a confraternização! Sem aquele pensamento frio e desgostoso de separatividade que nos incutam desde o inicio do ano, até o dia em que o momento é falado, lembrado e enfim executado: começam os enfeites, as lindas canções, os sorrisos sinceros, os papais noéis de todos os jeitos, e os presentes chegando, chegando... Tudo porque o Natal está vindo como um navio a atracar em nossas almas, todo o dia vinte e cinco de dezembro, a partir da meia-noite, com sua ceia, cheia de pães e vinhos, nozes, frutas e mais pães e muito mais!

A felicidade está instalada. A família se acolhe no seio do abrigo, numa mesa graaaannnde, e todos a conversar, morrendo de rir das histórias de cada um, sem malicia, e, a cada minuto, uma reflexão, uma interiorização do que se fez no ano todo, e atrás dela o pedido de perdão ao grande Deus, que sempre nos perdoa.

A alegria dói de tão grande que é o momento. Músicas, danças, abraços, brincadeiras, presentes, até mesmo aos ausentes, são distribuídos, abertos, e lá vêm mais sorrisos de surpresas! Lá vem o amigo que deixou a mãe para ver você, lá vem o irmão que faltara na festa passada, lá vem o cunhado que nunca na festa esteve; lá vem... a lembrança de quem se foi... e que sempre estará em nossos corações... Mas a alegria continua... A lua continua, as estrelas continuam... O amor em sua plenitude continua...

Não há nada que possa parar essa roda gigante chamada Natal. Ela passa por cima de todos, deixa-nos marcados no físico, no coração, mas também, como um perfume que chega, seduz a todos pela paz que se edifica nos homens de todas as espécies, até mesmo os maus homens. Tenho a certeza.

E dele, depois que se vai, ficam apenas lembranças, saudades, o gosto na boca, o sorriso, o choro, a luz de todos. Depois, só no ano que vem.

Não importa a história do Natal, se ele é comercial ou não; se empresários ganham, o vendedor, o comprador, o presidente, governador, não, não importa! O importante nessa festa majestosa é que somos mais humanos, mais quentes interiormente, por isso abrimos mais nossos corações, damos mais atenção ao próximo...ao distante. Escrevemos cartas, damos presentes de coração – seja à criança, seja ao velhinho, ao cachorrinho... sempre com lágrimas ricas de sentimento sinceros.

E para finalizar o que não se finaliza, deixo meu último conceito do Natal: é como uma brisa que nasce de uma necessidade de amar, estar próximo, ser alguém, ser melhor... Ter paz. Um ‘basta’ provisório nos conflitos, essas guerras pessoais que progridem em nossas almas e que refletem em nossos rostos...





Tenhamos um belo Natal. Sempre.





Aos homens

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Real e não Real




Hoje, em razão de nossas culturas vagas, em cujas entrelinhas vagam o saber irrisório e o não saber, depositamos toda a nossa confiança no presente, nunca no passado. Em determinados pontos estamos corretos, em outros – na maioria – errados. Quero dizer que nossa razão, aquela que deveria unir o céu e a terra, hoje burla sensações relativas, ao ponto de sentirmos o que é e, mais, achar que é real, mesmo sabendo de sua relatividade...

Estranho, não? Já perceberam o quanto somos insensatos e, às vezes, entre aspas, defendendo teses frias nas quais nós nem nos cabemos? É, deixa pra lá. Buscar razões dentro da razão é mexer com as mãos, fazendo com que elas, voluntariamente, se cortem com facas afiadas...

Mesmo assim, mexamos um pouco com a razão...
Ao perceber a perda de algo, sentimos a relação de falta, ainda que ela seja mínima. A sensação aumenta, buscamos enfim sanar a perda, pois, de alguma forma, aquela coisa fazia parte de nosso contexto... Será que ela pode ser trocada por outra? – sim, claro, no entanto, apenas ela tinha a sua característica, e, apesar de ser ‘trocável’, fazia parte de um universo relativo – ou seja, poderia se extinguir...

Daí vem a pergunta: que universo é esse? Criado ou incriado? Com certeza criado, para sanar as necessidades humanas, não a do universo incriado – não criado pelos humanos... Se fosse do Incriado, não se acabaria, estaria ali para todo o sempre, e desaparecia de forma relativa, mas sem a compreensão humana, mas universal.


Na Prática



Um dia, em meu escritório, quando imprimi um papel cheio de cores que torneavam uma foto, quando o peguei, percebi que não havia mais tinta na impressora... Fiquei naquela ocasião com vários questionamentos na minha cabeça. Do tipo: a tinta acabou, portanto terei que comprar um novo cartucho; e se não houvesse mais cartuchos, e se não houvesse mais lojas, mais shoppings, mais árvores, mais tudo... Por fim, cheguei a ficar sem mim mesmo. Desapareci da terra e fui parar na necessidade.

Será que tudo se esbarra na necessidade? Necessidade de estar ali, em algum lugar, ainda que não seja para uma eventual necessidade humana. Parei no verme que piso na grama, na barata da cozinha, no bico do pássaro que se alimenta do resto dos dentes do jacaré; subi um pouco e fui até a gaivota que imita os humanos na pescaria, ao jogar seu bico como vara de pescar, puxando o peixe até a margem do rio, beliscando-o até ele, o peixe, virar almoço.

Parei na nossa necessidade de estar vivo. Por quê? Como? Para que estamos andando, respirando, vivendo....? Claro que, no universo, somos de partículas irrisórias e todas elas, por mais semelhantes que sejam, são completamente diferentes! Assim, o ser humano teria que saber que, por mais incrível que nos assemelhamos, cada um tem o seu papel dentro desse cosmos... Mas qual?

“Há vários caminhos, mas só um leva a mim”, como diria Krishina, no Bagavagita, quando Arjuna, o discípulo, perdido no meio da batalha, o questiona acerca de seu papel no Universo. Na realidade, ainda nos vaga essa pergunta, em todos os lugares, em todas as batalhas que lutamos. Arjuna, personagem simbólico, representa a Humanidade perdida entre o céu e a terra, entre o que é perecível e o que eterno – entre o espírito e a matéria...

Na batalha, Arjuna vence, apesar de ir ao encontro de seus valores que se diziam reais, e consegue seguir com outros completamente diferentes, os espirituais. Que valores são esses? Teríamos que navegar na cultura egípcia, celta, maia, grega, romana, e principalmente indiana para conceber tal conceito e responder essa pergunta.

Contudo, o que nos resta é estabelecer sempre contato com questionamentos acerca desse assunto – o que é real e o que não é --, e sermos Arjunas, e na medida do possível encontrar referenciais baseados na natureza, não naquilo que inventamos mesmo que seja para a maior das necessidades...

O Fator Humano

Arjuna – continuando – também digladia consigo mesmo quando fala da morte. Questiona seu mestre, e este abre seu Coração lembrando que a morte não existe. Que todas as coisas vão para onde devem ir, e que sua essência vai ao encontro da grande essência – Deus.

Isso acontece porque o discípulo tem que lutar com todos aqueles que um dia o criaram, amaram e com ele viveram, como amigos, irmãos, pai... Assim somos nós.

Todavia, quanto se trata de pai, mãe, irmãos, amigos... o que é relativo se torna real, pois nossos corações e almas, ainda dentro daquela cultura falha por natureza e ao mesmo tempo bela, sentem suas ausências, tal como fosse parte de nossos corpos, vidas, e universo... do nosso universo.

O fator humano clama explicações à natureza pela dor que nos faz, e ao mesmo tempo ao Tempo que nos dá ânimo para viver mesmo sem eles. Os deuses são realmente necessários! E na busca pelas explicações, nos debruçamos às religiões, partidos, seitas... Sem mesmo consultar a rica Natureza, que, ao nosso redor, nasce, cresce e morre em essência, e se vai em relatividades sem que percebamos... Por tanto dizia Heráclito: “nunca nos banhamos no mesmo rio” – a filosofia já tratava da nossa doença maior !

Tudo se vai...

Assim como o cartucho de tinta que se foi, tudo um dia se vai. Cada um dentro de suas proporções, claro! Não vamos nem comentar então acerca da vida em nosso planeta, do apocalipse, das mortes em excesso, da terra...do sol... da nossa vida...

Acostumar-se com a ideia de que tudo é relativo... que coisa, hein! Não, nem tudo é relativo, pois o que nos faz humanos não é algo relativo, e sim real: o Amor, a Justiça, o Verdadeiro... Isso nuuuuuunca morre.



Ao mestre L.C.

Cartão a um irmão tricolor


E aí, meu querido, como vão as coisas por aí? “Por aí” que eu falo não quer dizer pelas redondezas, não, e sim pelos caminhos cármicos além-vida por onde passas agora. Claro que não podes me dizer, gesticular, me transferir pensamentos... Enfim, apenas a tua imagem bela de irmão saudável pipoca em nossas mentes como forma de comunicação; apenas a imagem de um guerreiro em seus últimos dias no hospital diz-nos o que realmente fora: um servo, um discípulo da luta, tentando nos passar a alegria que o acompanhou durante toda a sua vida... Esse é o maior legado de um homem que passou a vida tendo como espelho seu pai – o velho ‘Piaba’.

Mas, amigão – assim me chamava, então assim o chamo agora – quando se fora (não sei se tu se lembras), o nosso time querido, o Fluminense, tinha conseguido vencer o Coritiba, no campo deles, em uma jornada espetacular que o fez o melhor time de dois mil e nove, ainda que fosse contra o rebaixamento, mas espetacular pelo fato de que não conseguira perder uma partida, em dezessete, e se perdesse um vinte cinco avos de alguma delas, estaríamos hoje presos no mundo desconhecido da maioria: a segunda divisão!

Fomos patriotas de um time, pois fizemos naquele dia, no domingo, em nosso ultimo jogo, o símbolo do clube como a um país. Lutamos, morremos, ressuscitamos, sangramos, renascemos... Foi como se fosse a era dos romanos na qual a vida era sinônimo de batalha, e dentro dela os símbolos como referenciais. A camisa, o escudo; os jogadores, guerreiros imortais, à beira de enlouquecer para que o país não caísse e que seus indivíduos – a torcida – não caísse ou morresse junto.

As “gladiações” até o fim se mostraram cheias de técnicas, de uma qualidade grega; em seus ataques, nem mesmo o conjunto persa poderia se igualar, contudo, foi semelhante à frota grega que o Fluminense percorreu todo o trajeto de seu mar de fúrias, em meio a times fantásticos, cuja destreza em honraria não se toca, porém não tinham a força e a beleza de seu escudo, que os cegava, e às vezes os fazia se entregar antes da partida...

Assim, o nosso time, no ano em que você, meu irmão, se fora, conseguiu se levantar e dar mais uma lição a todos. Pena que não estavas por perto para sentir a beleza dos gols e da juventude de cada ataque... Pena que você se foi.

Hoje, meu querido amigo-irmão, embora ausente, nos lembramos de você como se ainda estivesses aqui, do nosso lado, a torcer feito louco por nosso time. Conheço muitos que torcem, que vão à loucura, mas você era o único que tinha a cara do Fluminense-guerreiro, de jovem, de um ser belo que brilhava ao longe sem ter o sol por perto, assim você era. Todavia, sua estrela se foi, e brilhas sorrindo ao longe em algum lugar e em nosso coração...

E o Fluminense? – vou te contar!
Depois de despedirmos um dos melhores técnicos do campeonato pasado, contratamos um ranzinza, cachorro, mau caráter, contudo de uma disciplina fora do comum. Seu nome Muricy Ramalho; é, aquele mesmo que derrotamos na Libertadores quando técnico do São Paulo, com o gol do Washington, que, esse ano... Pelo amor de Deus! Contratamos também Deco, o luso-jogador, que, após dez anos fora do Brasil fazendo festas na Europa, veio mostrar sua elegância. Trouxemos a pedido o chutador de grama Washington, que fora para o São Paulo, e retornou para chutar o gramado do Maracanã (por isso, em reforma!), mas que nos deu valentia em seu jogo.

Não terminei. Trouxemos da Europa Beletti, ou Delletti !, sei lá... Não sei por quê! De todas as partidas que participou empurrou, caiu, sai, tomou cartão, ficou no banco e pronto. Mas Muricy sabia das coisas...!

De todos os times que estavam no Brasileirão, o Flu foi o único que fez belas contratações a pedido do novo técnico e conseguiu fincar o pé no topo até o fim. Seguido por Corínthias e Cruzeiro, este último com o nosso Cuca, ou ex-nosso como diria Vicente Matheus, comendo pelas beiradas e quase, no fim, levando o caneco. O time de Ronaldo ‘Gorducho’, o menino prodígio da Globo e demais emissoras, veio com os seus cem anos de corrupção e besteirol como o time favorito para vencer a competição. Mesmo assim, com toda a festa, com toda a mídia a favor... Com corrupção à vista e a prazo, saltando os olhos do torcedor, ficaram com o terceiro lugar... Esqueceram que, na ponta, um dos maiores times do século estava despontando de novo, só que agora para vencer o campeonato, não para deixar o rebaixamento... Esse foi o mal da mídia: apoiaram o time errado, novamente...

Com Conca – o melhor centro-esquerda, atacante, meio-campista do planeta – o fluminense acendeu a chama da vitória antes de receber o prêmio. O brilho do argentino cegou todos os outros, em cada passe, em cada drible, e em cada gol. Ele tinha na veia a alma de um jogador brasileiro, a força argentina e a simplicidade de um pequeno mestre. Claro que não fora o único... Temos Mariano, o craque da meia-direita, contratado para a Seleção; na meio-esquerda, Carlinhos, que gosta de partir para cima dos zagueiros; Gum, Leandro Euzébio e o novato Bob, da base do Flu, ricos em sabedoria. Não nos esquecendo do Tartá, que caía na grande área apenas para cravar nosso bendito pênalti... Que mala maravilhoso; Rodriguinho, o atacante que passava por todos, mas que fingia dores quando chegava perto da meia-lua, Washington, o coração valente, que surtava com a bola, todo confuso, semelhante a crianças quando se enrola em fios de telefone.. Mas que merecia todo o respeito por ter sido o grande goleador de dois mil e oito pelo clube.

Havia outros, mas um, apenas um me fazia lembrar de você o tempo todo, meu querido João de Deus. Lembra-se de nossa última conversa por telefone, quando estavas enfermo em São Paulo? Pois é... Mesmo cheio de fios nas narinas, com a voz rouca de tantos remédios e cansaço... Você disse bem baixinho “O Fred vai pegar! O Fred vai pegar”!! – foi a deixa, naquele ano, para que eu nunca mais esquecesse o quanto você era o símbolo das batalhas gloriosas. E Fred, o grande atacante vindo para nos defender em dois mil e oito, não esteve presente em noventa e oito por cento das partidas; entretanto, para lembrar de você, o colocaram nas últimas partidas, “cheio do gás” (quase acabando...!), saltitando feito garoto no meio de índios Guaranis, atormentando a tribo, levando à loucura a torcida tricolor. Ali você estava, meu amigo.

O campo, não o mesmo de antes, era o Engenhão, campo do Botafogo, que botamos fogo a cada jogo, lotado. Nele, bandeiras tricolores com os grandes nomes pediam até mesmo a benção do papa João Paulo II para o time não descarrilar de novo como na copa Libertadores, como na Sul Americana, enfim, não saísse do trilho e caminhasse, como caminhou, com suas próprias pernas...


Vinte e seis anos depois, o Flu, meu querido irmão, não como naquela época, mil novecentos e oitenta e quatro, veio como um furacão cheio de vinganças na veia; cheio de ressentimentos de um passado que o fez descer até a terceirona – ganhando, claro, todos de lá pra cá; mas que, apesar de suas vitórias incontestáveis, sofreu com injustiças advindas de falatórios invejosos; mas o Flu renasce. Faz das injustiças degraus para a sua ascensão e glória, que hoje o fez ser o time estrela guia de todos os outros... Assim, vencemos o Brasileirão, superamos as dores, superamos a nós mesmos...

E nessa festa que se inicia, a lembrança do Flu é a sua lembrança. Em cada esquina, de carro ou não, com a camisa tricolor suja ou não, retrô ou não, iniciamos a era de um novo sol que nasce, agora, com três cores – Tricolor – ardendo de tanto sorrir, obrigando a todos olhar para cima e sentir esse sol, e como tatuagem ficar em nossos corações para sempre – semelhante a você, irmão.


Estamos todos com saudades.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Amigos de Plástico

Sabe... Durante anos eu venho percebendo a necessidade de amigos aos homens de boa vontade. Mas apenas de boa vontade. E reais amigos! Porém, até mesmo nesse aspecto, não podemos ser claros, pois estão se formando, no decorrer do tempo, indivíduos capazes de formar “amizades” apenas para compor seu quadro social. Para estes, é um luxo. Para os mais tradicionais, é um lixo...

Não sei se esse fator Amizade faz parte da nossa criação, da educação alçada em preceitos naturais, talvez, mas acredito que não. Somos todos voltados a esse meio em que todos necessitam um do outro. E, dentro desse contexto, há aqueles que se emanam mais que outros, dando início a amizades – duradouras ou não. As duradouras, sempre voltadas a referenciais dignos; as não duráveis ficam sujeitas à reflexão humana...

Mas o que mais (me) nos machuca internamente é que uma das mais dignas formas de humanizar-se – porque não há animais que o façam --; uma das mais nobres e belas arte de se agrupar, sem que haja interferência de terceiros – pelo menos não era; uma das mais necessárias e universais maneira de se viver bem um com os outros... A amizade está sendo levada, como objeto da consecução humana, a compor quadros sociais, assim tal quais bonecos a preencher arquibancadas no lugar de torcedores, como frutas de plástico a preencher fruteiras para enfeite (já percebeu o quanto são belas, brilhantes, e que en-fei-tam a mesa?), está-se criando o amigo de plástico...

Assim estão sendo os caríssimos humanos, solitários, sem amor a si mesmo, portanto sem amor ao próximo. Às vezes, até com amor próprio, mas sem características naturais para encontrar amizades de forma natural... Assim, dentro de seus interesses, buscam trazer ao seu meio aqueles que se interessam por algo que ela – a pessoa que ‘convida’ – não é. E os dois, pelos motivos finitos, não se abrem, se abraçam, mas não amistosamente, não possuem assuntos louváveis das grandes amizades, não se unem, mas sempre estão perto um do outro; são risonhos, mas não possuem alegria; são amigos, mas não possuem a amizade...

Dessa forma, criam-se agendas lotadas de “amigos”, e seus telefones celulares, idem. Porém, não se liga para nenhum. Dezenas e dezenas de ‘amigos’ vão lotando agendas, telefones, estádios, festas, mas apenas um está ali a sua espera para se abrir de coração ou chorar em momentos difíceis. Apenas um deles irá a sua casa e simpatizará com sua família, apenas um amará você semelhante a um irmão. Apenas um verá sua mãe como uma segunda mãe, brincará com seu filho, com se fosse filho dele, apenas um deles terá a sua confiança. Esse é o seu amigo real.

Encontrá-lo não é difícil. Estará a sua espera nas situações mais inusitadas. Estará a sua espera, te admirando de longe, esperando uma conversa para dar inicio a uma longa jornada... E vai te respeitar como a um nobre, ainda que não pareça; fará brincadeiras sem graça, mas irá sempre pedir desculpas, dar-lhe-á um abraço e vai chamá-lo para um almoço na casa dele. Vai chamá-lo de irmão, pedir conselhos, e será uma torre a te observar sempre.

Mas as “frutas de plástico” ganham espaço na mídia, nas primeiras páginas dos jornais, abraçando um senador, uma deputado... um governador. Estes amigos plásticos serão contactados em nome da falta de reais amigos, destes que não se exibem por qualquer coisa, pois chamá-los a se mostrarem em imagens frias é como transformá-los em uma estátua cheia de fezes de pombos. E deste tipo de amizade, o mundo está cheio...

O real amigo escuta e leva consigo ensinamento nossos, ainda que não sejam ensinamentos raros; o amigo de plástico ouve, mas não escuta; fala, mas não a você, e sim a ele mesmo. O real amigo sempre renova sua amizade, o falso amigo, por ser falso, não se interessa em renovar nem mesmo as roupas que veste, quiça suas amizades. O real amigo está prestes a te fazer favores até mesmo debaixo de tempestades; o falso amigo está prestes para te pelas costas e sair correndo. O real amigo pode alçar voos, mas está sempre com os pés no chão; o amigo de plástico é racional, e não sabe a diferença entre céu e terra, por isso flutua no mau-caratismo.

Há inúmeras diferenças nas quais podemos identificar nossos queridos amigos, mas também os não leais amigos. E delas podemos tirar experiências incríveis, como, ao descobrir o não amigo, podemos torná-lo amigo real, algum dia.


A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....