terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Real e não Real




Hoje, em razão de nossas culturas vagas, em cujas entrelinhas vagam o saber irrisório e o não saber, depositamos toda a nossa confiança no presente, nunca no passado. Em determinados pontos estamos corretos, em outros – na maioria – errados. Quero dizer que nossa razão, aquela que deveria unir o céu e a terra, hoje burla sensações relativas, ao ponto de sentirmos o que é e, mais, achar que é real, mesmo sabendo de sua relatividade...

Estranho, não? Já perceberam o quanto somos insensatos e, às vezes, entre aspas, defendendo teses frias nas quais nós nem nos cabemos? É, deixa pra lá. Buscar razões dentro da razão é mexer com as mãos, fazendo com que elas, voluntariamente, se cortem com facas afiadas...

Mesmo assim, mexamos um pouco com a razão...
Ao perceber a perda de algo, sentimos a relação de falta, ainda que ela seja mínima. A sensação aumenta, buscamos enfim sanar a perda, pois, de alguma forma, aquela coisa fazia parte de nosso contexto... Será que ela pode ser trocada por outra? – sim, claro, no entanto, apenas ela tinha a sua característica, e, apesar de ser ‘trocável’, fazia parte de um universo relativo – ou seja, poderia se extinguir...

Daí vem a pergunta: que universo é esse? Criado ou incriado? Com certeza criado, para sanar as necessidades humanas, não a do universo incriado – não criado pelos humanos... Se fosse do Incriado, não se acabaria, estaria ali para todo o sempre, e desaparecia de forma relativa, mas sem a compreensão humana, mas universal.


Na Prática



Um dia, em meu escritório, quando imprimi um papel cheio de cores que torneavam uma foto, quando o peguei, percebi que não havia mais tinta na impressora... Fiquei naquela ocasião com vários questionamentos na minha cabeça. Do tipo: a tinta acabou, portanto terei que comprar um novo cartucho; e se não houvesse mais cartuchos, e se não houvesse mais lojas, mais shoppings, mais árvores, mais tudo... Por fim, cheguei a ficar sem mim mesmo. Desapareci da terra e fui parar na necessidade.

Será que tudo se esbarra na necessidade? Necessidade de estar ali, em algum lugar, ainda que não seja para uma eventual necessidade humana. Parei no verme que piso na grama, na barata da cozinha, no bico do pássaro que se alimenta do resto dos dentes do jacaré; subi um pouco e fui até a gaivota que imita os humanos na pescaria, ao jogar seu bico como vara de pescar, puxando o peixe até a margem do rio, beliscando-o até ele, o peixe, virar almoço.

Parei na nossa necessidade de estar vivo. Por quê? Como? Para que estamos andando, respirando, vivendo....? Claro que, no universo, somos de partículas irrisórias e todas elas, por mais semelhantes que sejam, são completamente diferentes! Assim, o ser humano teria que saber que, por mais incrível que nos assemelhamos, cada um tem o seu papel dentro desse cosmos... Mas qual?

“Há vários caminhos, mas só um leva a mim”, como diria Krishina, no Bagavagita, quando Arjuna, o discípulo, perdido no meio da batalha, o questiona acerca de seu papel no Universo. Na realidade, ainda nos vaga essa pergunta, em todos os lugares, em todas as batalhas que lutamos. Arjuna, personagem simbólico, representa a Humanidade perdida entre o céu e a terra, entre o que é perecível e o que eterno – entre o espírito e a matéria...

Na batalha, Arjuna vence, apesar de ir ao encontro de seus valores que se diziam reais, e consegue seguir com outros completamente diferentes, os espirituais. Que valores são esses? Teríamos que navegar na cultura egípcia, celta, maia, grega, romana, e principalmente indiana para conceber tal conceito e responder essa pergunta.

Contudo, o que nos resta é estabelecer sempre contato com questionamentos acerca desse assunto – o que é real e o que não é --, e sermos Arjunas, e na medida do possível encontrar referenciais baseados na natureza, não naquilo que inventamos mesmo que seja para a maior das necessidades...

O Fator Humano

Arjuna – continuando – também digladia consigo mesmo quando fala da morte. Questiona seu mestre, e este abre seu Coração lembrando que a morte não existe. Que todas as coisas vão para onde devem ir, e que sua essência vai ao encontro da grande essência – Deus.

Isso acontece porque o discípulo tem que lutar com todos aqueles que um dia o criaram, amaram e com ele viveram, como amigos, irmãos, pai... Assim somos nós.

Todavia, quanto se trata de pai, mãe, irmãos, amigos... o que é relativo se torna real, pois nossos corações e almas, ainda dentro daquela cultura falha por natureza e ao mesmo tempo bela, sentem suas ausências, tal como fosse parte de nossos corpos, vidas, e universo... do nosso universo.

O fator humano clama explicações à natureza pela dor que nos faz, e ao mesmo tempo ao Tempo que nos dá ânimo para viver mesmo sem eles. Os deuses são realmente necessários! E na busca pelas explicações, nos debruçamos às religiões, partidos, seitas... Sem mesmo consultar a rica Natureza, que, ao nosso redor, nasce, cresce e morre em essência, e se vai em relatividades sem que percebamos... Por tanto dizia Heráclito: “nunca nos banhamos no mesmo rio” – a filosofia já tratava da nossa doença maior !

Tudo se vai...

Assim como o cartucho de tinta que se foi, tudo um dia se vai. Cada um dentro de suas proporções, claro! Não vamos nem comentar então acerca da vida em nosso planeta, do apocalipse, das mortes em excesso, da terra...do sol... da nossa vida...

Acostumar-se com a ideia de que tudo é relativo... que coisa, hein! Não, nem tudo é relativo, pois o que nos faz humanos não é algo relativo, e sim real: o Amor, a Justiça, o Verdadeiro... Isso nuuuuuunca morre.



Ao mestre L.C.

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"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....