quinta-feira, 28 de abril de 2011

Vegetais Inconscientes

Ontem em uma conversa que tive com uma amiga, percebi que nós, pessoas de bem, temos um caminho longo a percorrer em termos de solução a uma sociedade que cai ao abismo sem que haja alguém que possa salvá-la.


Conversamos acerca de comportamento frente ao uso da internet – sites de relacionamentos, liberdade de expressão, de comportamento, vida alheia... – assunto este que não queria internalizar pelo fato de me causar um tremendo desconforto.


Ela, essa querida amiga, tem um site de relacionamento no qual há fotos dela com diversas poses sensuais, as quais são restritas “apenas” aos seus milhares de “seguidores”, o que, por ela, é algo normal – não só por ela, como também para a imensa maioria que já embutiu tais comportamentos em uma sociedade decadente que aceita qualquer coisa, menos o plausível.


Há de convir que essa amiga, hoje desempregada, com marido e uma filha, tem talentos para tanto e passa por situações que, no entender de muitos covardes, é conflituosa, e, por isso, se infiltra na rede mundial a conversar em bate-papos informais que geram, em mim, mais desconfortos ainda só de pensar em que se baseiam para “dialogar”.


Sem o segundo grau, sem experiência mínima em empregos formais, não tem muito que oferecer a não ser sua beleza externa, a qual está disponível em seu Orkut....


Lá, cheio de homens e mulheres com intenções aquém-maduras, se revezam em destruir ideologias, juventudes, inteligências, paz... com palavras chulas, pensamentos idem, regados a fotos – mais de quientas, com meias palavras, meio pensamentos, meio-humanos, como inteiros vegetais animados apodrecendo sem que o dono do jardim perceba.


Sem critérios ou mesmo sonhos, ela prossegue, temivelmente, em defesa de sua atitude em meio a um mal visível: “o Orkut não me faz mal, muito pelo contrário, me faz bem, pois o que me faz mal são as pessoas com quem vivo...”. Assim, ela se defende, levando os olhos ao céu tal quais patrícias da corte que não pisavam ao chão, sem que houvesse um tapete vermelho para tanto.


Se eu disser que esse é um caso à parte, estaria errado. A própria pessoa que não tem uma ideologia partidária, religiosa, familiar, filosófica a seguir pensa da mesma forma. O mundo para ela nada mais é que uma curtição, na qual se apronta de tudo, graças aos meios que dão a ela propriedade para transmitir sua “inteligência” física, a qual se desgastará com o tempo e a ela restará apenas poemas chulos de seguidores que manipulam a parte pélvica em nome de fotos que serão lembradas apenas em banheiros masculinos, pois nem em álbuns de família poderá mostrar... A mamãe dela, que a criou como a neném mais linda da família, esqueceu-se de educar a cria para o lado espiritual da vida...


Agora, como um lindo vegetal que anda, sai às festas sem a concessão do marido, sem se importar com a educação da filha, e se diz uma leoa, cujas garras não deixam ninguém domá-la... (?!).


Mas isso, infelizmente, faz parte de uma juventude revoltada, cheia de vícios vistos como virtudes, pois não cheiram maconha, mas bebem whisky até caírem ao chão; não se prostituem, mas se mostram em sites de relacionamentos como vendedoras de corpos; não se apaixonam, mas beijam qualquer garotão, e se deixam levar para a cama como em filmes americanos que dão corda à juventude que não pensa; falam em educação, em amor, falam de emoção, mas desprezam as palavras do pais, dos maridos, dos filhos, da família... São realmente onças, ou melhor, plantas.


Hoje, em detrimento de uma educação que não os leva a refletir seus comportamentos, uma educação na qual não se pode visualizar seus erros, na qual o correto é tão bambo que fica mais certo correr para o errado.


Não sei se a injustiça aos políticos soltos, aos religiosos corruptos, aos parentes pobres que são presos por roubarem balinhas em mercados fazem parte da revolta desses jovens, mas sei que a avalanche na qual estão me surpreende todos os dias, quando ligo o computador e vejo, em notícias, o que um adolescente de dezessete ou uma menina de vinte e oito anos são capazes... Não cabe aqui salientar.


Porém (graças às adversativas!), se se tem uma visão ampla do bem – não precisa ser do grande Bem --, temos condições, claudicantemente, claro, frente a esses jovens, que não engolem qualquer assunto “quadrado”, de trazê-los a esse mundo e dizer por que estão errados e que existe uma ordem a ser seguida. Caso contrário, tudo que fizessem não teriam consequências danosas...


Dizer a eles que a vida é uma lei a qual deve ser obedecida – aos poucos – e que, nas mínimas coisas, existem leis que regem aquele canto, em qualquer lugar. Dizer a eles que, embora haja interesse de outros de destruírem o mundo moralmente, não quer dizer que o temos da mesma forma, pois somos diferentes em evoluções, em crescimento – e crescimento não tem nada a ver com criticas exacerbadas ou mesmo desconfiguração física ao um mundo que já se deprecia demais por dar valor ao nu, ao sexo, às drogas, aos vícios em geral.


Dizer que somos mais que isso. E mostrar-lhes uma juventude em caráter quando se nega o mal aos sites, às revistas, aos filmes, aos maus homens, estes para os quais se trabalha quando dizemos não ao bem.


Ainda que morramos tentando, dizer-lhes que liberdade não tem nada a ver com viver a vida de qualquer maneira, dizer-lhes que justiça se sente, se eleva, se transforma e que nos faz dar valor ao próximo. Dizer-lhes que amor não é ser mesquinho, ao se ver no espelho triste a beleza de um corpo. Amor é expansão não restrição. Amor é vida, em todos os sentidos, não é morte em sites, por meio de diálogos que contaminam e geram desamor, tristeza, revolta, suicídio...


Eu amo, por isso escrevo. E tento levar às mentes fortes, ainda que utopicamente, ideias valorosas que sempre norteiam os fortes. Mas é dos fracos que precisamos, pois são eles que se julgam corretos em num mundo que também se julga correto – esse mundo velho.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A faca de dois gumes III (final)

...Os interesses humanos são como plásticos ao vento. Quando movimentados pelo desejo de ser alguém, ou mesmo no querer ter – manipulados por uma vontade personalistica a qual não vê nada além da matéria --, faz o que somos hoje: seres de visões limitadas.


Tal limitação nos faz vesgos na hora de escolher o que queremos ser, o que podemos ser, ou mesmo nosso lugar em meio a uma sociedade confusa tanto quanto nós. Daí surgem experiências do que eu posso ser, levando-me a provar o que não posso, trabalhar no que eu não sei, às vezes, assumindo papeis que não me cabem – tudo em nome de uma procura que iniciamos na tenra idade e termina em uma propaganda que diz que eu posso, que eu sou, que eu quero e vou ter...

Opinião

Há várias vozes que soam em nossos ouvidos nesse sentido, e damos ouvidos a elas todos os santos dias. As opiniões nossas de cada dia, por exemplo, são formas que nos burilam o ouvido e que nos transformam em seres de capacidade limitada, até o fim de nossos dias. Platão dizia que vivemos no Mundo da Opinião, e está certo. Nada é realmente nosso, até mesmo a educação que recebemos não é criação minha ou sua, ela foi repassada de pai em pai até chegar a mim!... Olha que eu não citei aqueles que se julgam donos de tudo.


Estes são mais perigosos, pois trazem à tona racionalismos bem fundamentados em premissas finas, sutis, agradáveis. Mas, no fundo, nada mais são do que portadores de opiniões que pelas quais vivem.


Mas se vivemos de opiniões e não queremos, como fazemos para sair desse mundo (da opinião)? – não tem jeito, não somos deuses. Todavia, como toda opinião cai no ostracismo, no relativismo, temos que procurar sempre aquelas que não se perdem em atmosferas vulgares ou de falsa ideologia.


Verdade

Dizia uma máxima “Cuidemos para que nossas palavras sejam melhores do que o silêncio”. Significa que todas as vezes que pronunciamos algo seja algo real, verdadeiro, assim como o silêncio.

A opinião, seja em textos, seja em palavras, seja em protestos, em sentimentos, traduz nossos sentimentos em relação às causas presentes, mas também pode cair nos ostracismo se não tiver uma pitada da essência da verdade, da verdade mesmo, não da nossa. Mas o que seria a verdade, então? Só em outro texto...


De volta à faca ii

A faca é maior do que pensamos... Ela está cortando possibilidades de crescimento humano, está matando seres que querem subir e entender a realidade da vida; está castrando questionamentos, assassinando gerações que, hoje, acreditam que se exibir em sites de relacionamentos é natural, é correto, porque não atingem a ninguém apenas a si próprio; a faca não está sendo faca, pois está violando o universo, redirecionando caminhos...

...

Terminei o texto anterior citando a internet. Essa rede mundial de computadores, na qual e para qual todos, ou pelo menos quase todos, vivem virtualmente se relacionando, pesquisando, etc.


E hoje por ser o que é, e por estar onde está – nesse mundo cheio de mentalidades horrendas, hediondas, cruéis, sem destino, vis, etc – nos faz ver de perto o que realmente pretendemos como seres humanos – será Platão me perdoa? – transformando o que poderia ser algo revolucionário em comunicação, em auxilio ao próximo, em humanidade, hoje transforma jovens em marginais, em pretensos atores pornôs, em criadores de comunidade preconceituosas, e entram em outra atmosfera, a da realidade virtual, da qual não se identificam, pois são, como eles dizem, apenas fotos, apenas poses, apenas palavras, apenas... Apenas...! E não conseguem se identificar com nada na vida real também, e são poços vazios de ideais, de amor, de carinho, de leituras, de pretensões etc.


A internet, como uma grande faca, não é igual aquela cadeira que, se usada de maneira errada pode-se, vamos dizer, voltar atrás, não, não é. Essa rede mundial de computadores se usada de maneira errada, em poucos segundos, por ser mundial, pode levar milhares de pessoas ao abismo antes que saibam o significado da palavra vida.





Às pessoas que amo.

terça-feira, 26 de abril de 2011

A faca de dois gumes II

Hoje, quando pegamos uma cadeira... Nos sentamos, mas há que se pode acrescentar que, na maioria das vezes, subimos nela e trocamos lâmpadas. Isso não a faz menos cadeira do que ela é. Dependendo da circunstância, pode sim nos servir de suporte para alcançar algo, ou mesmo consertar algo. Mas fazê-la sempre de suporte...


Assim, somos obrigados a trabalhar nossos conceitos. O que é uma cadeira? “Uma peça de mobília que é um assento apoiado sobre quatro pés, com braços – partes fixas para nos apoiars”, bem, na maioria das vezes, é assim. Com o advento de várias formas modernas, fica difícil dizer se ainda possuem quatro, três ou duas pernas, mas... cujo objetivo é nos acomodar confortavelmente.


Isso seria não só a definição de cadeira como, também, o objeto em sua justa natureza. Isso quer dizer que, se fugisse desse conceito, segundo a tradição, não seria mais cadeira. Aristóteles exagera quando diz que “quando o galo morre deixa de ser galo”, mas deixemos o Ari de lado. O mais importante é entender que tudo que se cria é criado a partir de uma necessidade justa, e para ela se adéqua. Platão sempre dizia que as coisas já estão feitas, apenas as plasmamos do Mundo Perfeito, do Mundo Real, o que seria, resumidamente, o Mundo das Ideias. Mas deixemos o mestre de lado também...


O que se faz na realidade é transformar a vida no que ela não é. A vida seria a nossa faca que está sendo usada de maneira desvirtuada, direcionada apenas aos nossos prazeres. Mas a vida não é nossa? Bem, se eu pudesse rejuvenescer, voltar aos vinte anos, pensar no que eu fiz, retardar meu envelhecimento... Se eu pudesse escolher as ferramentas da vida antes de nascer, se eu pudesse escolher as pessoas com quem eu trabalho – mas não sou patrão --; se eu enfim... colocasse o que eu poderia fazer, passar, viver.. etc, etc... a vida, sim, seria minha, mas não é... Eu apenas tenho um corpo, que se deteriorará com o tempo, tenho uma personalidade que vai se desenvolver, e, no máximo, passar por situações dantescas, humilhantes, errôneas, falhas, maravilhosas, mas sempre de acordo com o ponto de vista dela, pois tudo que passamos se torna relativo quando se está de acordo com nosso ponto de vista... Não de acordo com o que ela realmente é. Mas a personalidade pode ser ou não esquecida com o tempo, isso nos faz mais vaidosos, nos elevando ou nos depreciando de vez.


Já pensou nisso? Claro que sempre esbarramos, se seguirmos essa linha imaginária, com o conceito de liberdade, o qual já elucidei nos textos anteriores, pois sempre achamos que a vida é igual um presente dos deuses para fazermos o que bem entender dela, mas não é assim... Há, nela, uma evolução – e não estou me referindo apenas à vida humana – mas posso citar milhões de células que evoluem, de sistemas, de universos, cosmos dos quais somos parte e nem sabemos!


Posso salientar a evolução física em nossas vidas, a evolução da consciência humana, até mesmo de comportamentos, coisas que estão em nossa frente, mas não refletimos no sentido mais simples da palavra.


Se as coisas evoluem, por que não evoluímos em entendimento relação aos prazeres humanos?



Volto no próximo texto.

A faca de dois gumes

Alguém um dia me disse que “a faca será sempre uma faca, quando usada para seus devidos fins”. Nada melhor do que nos referenciar em máximas, sejam elas modernas ou não, para criarmos caminhos nessa via louca em que nos colocaram desde a infância... E uma delas, essa com a qual iniciei o texto, pode nos levar a várias máximas, há vários pensamentos, há vários caminhos...


O perigo é sempre de quem lê, interpreta e leva para si o que entendeu. Não sei qual a interpretação de cristãos, mulçumanos ortodoxos, xiitas, mas a minha, cuja filosofia ainda permeia como uma das menos preconceituosas (?), entende que a máxima acima nos ensina a respeitar as coisas como elas são. Sua finalidade, seus princípios, sua ideologia, filosofia... Para tudo aquilo que foi feita, dentro de sua natureza...


Também sei que a máxima fora baseada na filosofia clássica, daquela cujo teor sempre devemos ter o cuidado em interpretar, pois sempre se refere ao modo espiritual das coisas, e ao próprio comportamento humano – assim como nos mitos.


Se eu não me engano, já li algo em Platão, em Aristóteles, Plotino e em outros, dos quais saem entendimentos nos quais o homem deve ser o que É, no sentido mais interno possível. Fora desse nível, tornar-se-á um ser que vive de uma personalidade voltada às violações, aos vícios, aos preconceitos exacerbados, às paixões... Ou seja, algo parecido com animal, vegetal, mineral...


Humano é algo mais profundo, é algo a ser atingido. É como se nascêssemos em uma esfera na qual fôssemos lançados por várias vezes até encontrarmos o sentido desse “lançamento”. E quando descobrirmos, também descobrimos o sentido de ser ‘humanos’, porque não seriamos como tal, pois nossa compreensão estaria além-humana. Assim como os deuses que nos compreendem, mas não são humanos; e ao descobrirmos o mesmo, estaríamos em outra estratosfera, assim como eles. Por isso, dizem alguns que Cristo era Deus, que Buda não era humano apenas...


Nos mitos gregos, hindus, maias, astecas há figuras que rondam como seres que vieram ao mundo, se transformaram em humanos, deixaram suas mensagens e se foram, e mais tarde, quando a humanidade estivesse pronta, voltariam. Claro que, como mito, temos uma forma de interpretação, como eu disse no inicio, espiritual, pois estes mitos não foram feitos com base em relações pessoais ou materiais, mas universais.


De volta à faca...


“A faca será sempre uma faca...” nos faz pensar em condições nas quais ela pode estar. Ou seja, depende muito da forma que for usada. Se mato, se destruo, se a quebro usando-a como martelo, deixa de ser faca – um objeto que possui uma lâmina, grande ou pequena, dependendo de sua estrutura e para qual será usada, com um cabo, forte, fraco, usado ou não, mas que seja um cabo no qual possamos segurar e com ele manusear o objeto cortante seja em uma carne, seja em uma salada, seja em uma fruta... Enfim, fora disso não seria uma faca.


Mas a faca, aqui, pode ser um objeto simbólico também no sentido pessoal, destes que podemos visualizar situações em que estamos inseridos. Estou me referindo ao mundo em que nos encontramos, na avalanche de criações que são desvirtuadas pelo próprio homem no sentido de fazê-las objeto do seu próprio desejo... Assim como a internet.


Voltamos no próximo texto.



Em Seis Atos

Nas vias curvas em que passam as águas, lá estou eu correndo feito criança mansa, a sorrir sem parar. E lá estou eu, filho de uma natureza interminável, a gargalhar do pássaro belo que vai, da flor que nasce tão gêmea e desigual, floreando jardins mais desiguais e belos ainda. É a época de uma inocência, na qual me lembro de um ser tão vívido cujas esperanças batiam como ondas em rochas, e delas como em ribanceiras em que eu tomava banho, abrindo a alma a tudo que fosse bom e justo.


Até que as flores se foram, e mundo começou a me fazer sentido. E bradei como um herói que tivera o grito imbuído preso pelas dores que ainda não tinha. O sorriso era outro. O corpo se formava, a mente se expandia... E, como o sol que reluzia pela manhã, minhas ideias foram tomando caminho. E nesse mundo de olhos cerrados para a liberdade, para a justiça em massa, eu via o céu, nada mais.


Assim, chegou a verdade da dubiedade. Nada era certo, nada era completamente errado. Meus sonhos, minha vida, até mesmo os pássaros que amava possuíam sentidos dúbios. Era Deus entrando nas frestas de minha consciência, a pleno vapor. Cruz, espada, angústia, paixões, amores, espinhos e flores quedavam como neve em meu rosto pálido de homem que acabara de entender a sua existência...


O sol se fez novamente. Preceitos e preconceitos se foram para uma atmosfera além-dor. Os jardins de pedra ainda existiam, mas não doíam, eram formas de realidade nas quais eu pisava, sorria com lágrimas frias, mas sabia que a chuva chegaria, molharia a terra, e seu perfume, enfim, em mim ficaria.


Contudo, falhei com a natureza. Sua beleza em mim fora em vão. Correra caminhos longos em busca de união. E ao chegar em minha alma, estremeceu, adoeceu, e quase morreu em trauma....


Como eu queria viver de novo, saborear o ar puro que rondava meu coração. Cantar músicas líricas e ganhar o segredo do universo, sem verso; sentar às margens de um mar solitário, gaivotar a solidão. Ter esperanças de recomeçar sempre, em meio a batalhas, em meio a sofreguidão, pular n´água fria, correr sobre ela, e, quando escurecer, dormir o sono dos deuses, gargalhando ao som de Bach, com uma taça de vinho seco, tinto, fino, bêbado... Oh, meus princípios, onde estão?





R.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Tolo Guerreiro


Se me abre uma ferida na alma,

Choro quão criança em teu colo

Que me adormece, que me acalma,

Faz-me subir ao céu com pés no solo.


Como penso em ti, criatura!

Não há outro pensamento,

Apenas teu corpo em contento,

Sob o meu manto de ternura...


Parece-me uma música

Seguida de pranto,

Da qual tiro meu sustento,

A cada palavra que canto...


Mas teu corpo baila a terceiros,

A revelar sua intimidade...

Deixa-me mudo e frio,

A querer a mortandade...


Cria meios de vaidade da vida,

Sem degraus, sem nexo,

Sem querer se vandaliza,

Na mente dos caçadores de sexo,


Mas meu amor por ti me edifica,

Traz-me forças a ti exaltar,

Retira-te teu nome do mundo,

Eleva-te a outro altar...


Teu amor cria a vida, dá-me norte,

Não te vulgariza, dá-lhe brisa,

Teu amor traz-me vida,

Não busca a morte...


E dele sobrevivo como

[ aventureiro,

Escalando montanhas,

Desfazendo entranhas,

Como um obreiro...


Nada, porém, faz-te acreditar,

Que em meus sonhos sinto dor,

Ao ver-te ao olhar de terceiros,

Contaminando o teu amor...



Contudo, brigo pelo amor sem ninho.

Isso me faz um tolo guerreiro,

Cuja força peço a Deus que acabe,

E me torne um homem sem caminho...

terça-feira, 12 de abril de 2011

O melhor de nós.

Semana passada, nos aconteceu o mais triste episódio da história dos crimes no Brasil. Em Realengo, cidade do Rio de Janeiro, uma escola foi alvo de um fanático, lunático, sociopata, sei lá... que entrou nos corredores da instituição e conseguiu atirar a esmo dentro de salas de aula, assassinando várias crianças entre treze quatorze anos...

Houve em 2003, em uma escola, não sei em que bairro, mas algo parecido, contudo sem esse triste desfecho. Nessa escola, o assassino conseguiu atirar em professores, não deixando vitimas, contudo deixando sequelas em um deles...

Nos Estados Unidos, país em que a população já está “acostumada” com esse padrão louco de vida, há estados, como no Texas, onde alunos e professores podem ir armados... Estanho, não poderiam simplesmente implantar um reforço policial ou mesmo um detector de metal?! A violência bestial, se eles não sabem, vem da falta de inteligência para lidar com o problema...

E o Brasil inteiro chorou lágrimas de ódio, de dor, de falta de esperança; lágrimas de sangue, de vingança, seja em relação ao assassino, seja em relação à incompetência das instituições que só pensam em melhorar suas estruturas quando algo cruel acontece.

Mas às vezes, não tem como adivinhar. Até mesmo o objetivo de um cruel ser como esse, que se apoia em bases “religiosas” para fundamentar o que fez, não pode ser parado, ainda que haja arames e bombas ao redor de colégios, igrejas, mesquitas... O que podemos fazer?

Ser solidário com as famílias. Orar por elas. Tentar entender a nossa religião, não tentar se autoeleger o escolhido, o elevado. Assim, nessa grande e estreita estrada da vida, aproveitar e usar o melhor que nós temos: o amor ao próximo.

Que assim seja.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O Pico da Montanha



Há tanto o que dizer acerca deste assunto que como formiga me burla a alma desde pequeno e me faz mover meu destino, minha vida; um assunto que, embora abstrato na visão de muitos, mas a de muitos outros, principalmente na minha, torna-se tão concreto e necessário quanto à água que bebemos.


Estou falando daquele ser que se manifesta tão somente quando falamos nele, em suas características e ao passo na sua profundidade e qualidade natural de buscar, de se realizar e realizar a vontade humana mais simples e bela.

É ele, o idealista. Pronto!... Disse. Agora, em meio a essa crise pela qual passamos, e pela falta deste ser, tenho, ainda sim, que dizer algo, ainda que me falte argumentos para tanto.


É como se fosse falar do ponto mais alto de uma montanha que se esconde entre as nuvens, mas, contudo, graças às reverberações humanas, não preciso tanto, mas devo respeitar esse legado humano às gerações que, suponho, saibam o que é, mas não são o que deveriam ser.


Passado, presente e futuro...


No lavar de uma louça, no esfregar de um chão, no bater de um lençol de cama, quando zangados estamos ou mesmo pensativos, parece-nos que tais atividades nos passam despercebidas, como se nada fizéssemos. Assim como outras atividades que nos perpassam o cérebro tão rápido quanto o ar que nos passa as narinas...


Todavia, quando sintetizamos nossas atividades, observamos o que fazemos, retirando os excessos, moldando, podando, tentando levar à perfeição com o pouco que temos, ou mesmo com a ferramenta que nascemos... Fica claro que estamos presos a um ideal, o de aperfeiçoar aquela atividade, ou aperfeiçoar a nós mesmos.


Contudo, haverá sempre algo que nos “incrimine”, seja no âmbito profissional, familiar, pessoal, pois a perfeição humana só existe longe de nossas possibilidades, mas que a enxergamos como um sol que brilha mansamente nas águas de nossos desejos – ou seja, ainda não é a figura do sol.


E dessa figura vivemos, e dessa figura devemos viver, interpretá-la, e nunca sucumbir aos desejos da sombra da noite que chega vazia aos nossos olhos, não. Elevar as forças, assim como o ódio transformado em alegria, em potência máxima, tal qual em guerras que gritamos na hora do confronto físico, mas transformado em desejo de amar o próximo, ou mesmo a própria humanidade...


Para tanto, olhar dentro de si é precípuo, pois a humanidade não pode ser nosso objetivo se não temos nem mesmo o que dizer a ela quando a vitória chegar. Não temos nem bandeira a fincar na terra conquistada; um hino sequer! Precisamos, assim, ser verdadeiros – no sentido de ser reais detentores de soluções concretas, claras ao um futuro --; sermos bons, mas no sentido guerreiro do termo, ou seja, disciplinados, éticos, morais, pois de falsos heróis vive o povo de hoje, e sem referenciais...; precisamos saber que a morte é apenas um paliativo, pois, se temos armas, escudos, guerras, é claro que não iremos para uma igreja, mas sim, provavelmente para um cemitério...


E o mais importante, não deixar de ser o que somos. Saber de nossas origens, ter orgulho de onde viemos, porque, para onde vamos, temos que entender que pode ser um trono ou mesmo amarrados a chamas queimando nossos traseiros...


Falar da beleza de nossos atos não nos é inerente, pois nunca paramos para dizer o que somos ou o que queremos ser, mas o que podemos conseguir com o pouco que temos. E se conseguirmos mudar nossas vidas com pequenas palavras ou pequenos atos, já podemos partir para o Hades, Nirvana, Céu, Inferno... sei lá, quando quiserem ou quisermos...


Nosso presente já é nosso passado, pois não paramos para relembrar o que não se fez; sempre respiramos em função de desejos maiores que nossos físicos, nossas pretensões quentes contrárias a governos corruptos, ou a qualquer governo com finalidade destrutiva em um mundo no qual crianças clamam comida, jovens, educação, idosos, respeito, pais exigem paz, mulheres, canções...


Um mundo no qual poucos possuem Back, Mozart, Beethoven; onde poucos conseguem levar seus filhos à escola e virar as costas e deixar de preocupar-se com a educação, professores, etc. Enfim, não há como respirar, descansar, quando poucos confundem a cabeça de muitos com relação a seus objetivos, e quando o sabem desmancham em meio a opiniões acerca do que posso ou não posso ser em função do que vou receber... Aqui cabem os "grandes" advogados que nasceram para ser garis. Não que estes sejam menos que aqueles, pois é melhor uma rua bela e limpa do que um advogado que mata gerações com sua vocação desvirtuada, agora, com tendências corruptas.


Não há de salvar o mundo, mas as pessoas. Em cada palavra, em cada gesto, olhar, ainda quando este perder o foco, voltar e... Em cada abraço, em cada esquina, ainda que não possamos fazer nada pelo pedinte, mas... Em cada acordar, dormir, viver, sentir e morrer...


Ave, companheiros do eterno!

sexta-feira, 1 de abril de 2011

T r a v e s s i a


E na frialdade da terra me vou,

Sorrateiro e casto,

Ruminando em meu pasto

O que a vida me deixou.

Nas várzeas sujas do passado,

Busco ainda sonhos fadados,

E, no entanto, cheio do pranto,

Mergulho firme no meu rastro...

E a busca ao nada perpetua,

Não há mais vida em meu andar,

Em meus olhos lânguidos-pesados,

O brilho há de continuar...

E caio no lodo dos meus pensamentos,

Na lamúria do chamado viver,

Bebo esgotos a céu aberto,

Desgovernado foi o meu saber...

E no presente frio que me inclino,

Os ideais hão de nascer,

Ainda que pisem meu coração fértil,

Não tenho razões para morrer...

Pois nas flores que renascem,

O pólen é semelhante a mim.

Pequenos, ocultos e belos,

E se elevam mesmo em capins...

E no horizonte que se desfaz,

Trazendo a lua como solteira,

Caso-me com a noite,

E durmo na cama alheia.

A felicidade ainda era distante,

Como amor que sentia por mim,

Eu cantava com os corvos,

Esperando o meu fim...

Persevero hoje a andorinha divina,

Que pousa em minha alma errante,

Que canta forte tal criança nascitura,

Elevando o meu ser amante.

Hoje tão belo o dia me vem,

A clamar mais um pouco a filosofia do grão,

Esta que pela janela me adentrou,

Como um deus a me doar um perdão.


A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....