Nas vias curvas em que passam as águas, lá estou eu correndo feito criança mansa, a sorrir sem parar. E lá estou eu, filho de uma natureza interminável, a gargalhar do pássaro belo que vai, da flor que nasce tão gêmea e desigual, floreando jardins mais desiguais e belos ainda. É a época de uma inocência, na qual me lembro de um ser tão vívido cujas esperanças batiam como ondas em rochas, e delas como em ribanceiras em que eu tomava banho, abrindo a alma a tudo que fosse bom e justo.
Até que as flores se foram, e mundo começou a me fazer sentido. E bradei como um herói que tivera o grito imbuído preso pelas dores que ainda não tinha. O sorriso era outro. O corpo se formava, a mente se expandia... E, como o sol que reluzia pela manhã, minhas ideias foram tomando caminho. E nesse mundo de olhos cerrados para a liberdade, para a justiça em massa, eu via o céu, nada mais.
Assim, chegou a verdade da dubiedade. Nada era certo, nada era completamente errado. Meus sonhos, minha vida, até mesmo os pássaros que amava possuíam sentidos dúbios. Era Deus entrando nas frestas de minha consciência, a pleno vapor. Cruz, espada, angústia, paixões, amores, espinhos e flores quedavam como neve em meu rosto pálido de homem que acabara de entender a sua existência...
O sol se fez novamente. Preceitos e preconceitos se foram para uma atmosfera além-dor. Os jardins de pedra ainda existiam, mas não doíam, eram formas de realidade nas quais eu pisava, sorria com lágrimas frias, mas sabia que a chuva chegaria, molharia a terra, e seu perfume, enfim, em mim ficaria.
Contudo, falhei com a natureza. Sua beleza em mim fora em vão. Correra caminhos longos em busca de união. E ao chegar em minha alma, estremeceu, adoeceu, e quase morreu em trauma....
Como eu queria viver de novo, saborear o ar puro que rondava meu coração. Cantar músicas líricas e ganhar o segredo do universo, sem verso; sentar às margens de um mar solitário, gaivotar a solidão. Ter esperanças de recomeçar sempre, em meio a batalhas, em meio a sofreguidão, pular n´água fria, correr sobre ela, e, quando escurecer, dormir o sono dos deuses, gargalhando ao som de Bach, com uma taça de vinho seco, tinto, fino, bêbado... Oh, meus princípios, onde estão?
R.
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