sexta-feira, 1 de abril de 2011

T r a v e s s i a


E na frialdade da terra me vou,

Sorrateiro e casto,

Ruminando em meu pasto

O que a vida me deixou.

Nas várzeas sujas do passado,

Busco ainda sonhos fadados,

E, no entanto, cheio do pranto,

Mergulho firme no meu rastro...

E a busca ao nada perpetua,

Não há mais vida em meu andar,

Em meus olhos lânguidos-pesados,

O brilho há de continuar...

E caio no lodo dos meus pensamentos,

Na lamúria do chamado viver,

Bebo esgotos a céu aberto,

Desgovernado foi o meu saber...

E no presente frio que me inclino,

Os ideais hão de nascer,

Ainda que pisem meu coração fértil,

Não tenho razões para morrer...

Pois nas flores que renascem,

O pólen é semelhante a mim.

Pequenos, ocultos e belos,

E se elevam mesmo em capins...

E no horizonte que se desfaz,

Trazendo a lua como solteira,

Caso-me com a noite,

E durmo na cama alheia.

A felicidade ainda era distante,

Como amor que sentia por mim,

Eu cantava com os corvos,

Esperando o meu fim...

Persevero hoje a andorinha divina,

Que pousa em minha alma errante,

Que canta forte tal criança nascitura,

Elevando o meu ser amante.

Hoje tão belo o dia me vem,

A clamar mais um pouco a filosofia do grão,

Esta que pela janela me adentrou,

Como um deus a me doar um perdão.


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