E na frialdade da terra me vou,
Sorrateiro e casto,
Ruminando em meu pasto
O que a vida me deixou.
Nas várzeas sujas do passado,
Busco ainda sonhos fadados,
E, no entanto, cheio do pranto,
Mergulho firme no meu rastro...
E a busca ao nada perpetua,
Não há mais vida em meu andar,
Em meus olhos lânguidos-pesados,
O brilho há de continuar...
E caio no lodo dos meus pensamentos,
Na lamúria do chamado viver,
Bebo esgotos a céu aberto,
Desgovernado foi o meu saber...
E no presente frio que me inclino,
Os ideais hão de nascer,
Ainda que pisem meu coração fértil,
Não tenho razões para morrer...
Pois nas flores que renascem,
O pólen é semelhante a mim.
Pequenos, ocultos e belos,
E se elevam mesmo em capins...
E no horizonte que se desfaz,
Trazendo a lua como solteira,
Caso-me com a noite,
E durmo na cama alheia.
A felicidade ainda era distante,
Como amor que sentia por mim,
Eu cantava com os corvos,
Esperando o meu fim...
Persevero hoje a andorinha divina,
Que pousa em minha alma errante,
Que canta forte tal criança nascitura,
Elevando o meu ser amante.
Hoje tão belo o dia me vem,
A clamar mais um pouco a filosofia do grão,
Esta que pela janela me adentrou,
Como um deus a me doar um perdão.
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