Opinião
Sem Palavras |
Quem aprende
as primeiras palavras, balbuciando as primeiras sílabas, unindo todas elas e perfazendo
uma série de caminhos psicológicos, sabe o quanto letras, sílabas e palavras,
ao fim, são jornadas naturais pelas
quais se passa – e para muitos, aventuras.
Nelas, nas
palavras, que um dia foram monumentos naturais como expressividade humana e
divina, nas quais, hoje, formas
revestidas de linhas e símbolos se perpetuam, tudo foi (e é) necessário para
uma conexão com o outro e com o Todo.
E nós, ao
abrir nosso órgão expressivo de voz, nossos pensamentos se traduzem – algumas vezes
de maneira simples, outras complexas, no entanto, sempre com o objetivo de
sintetizar o que sentimos ou o que racionalizamos em torno de um objeto.
E das
palavras, ordenadas em forma de rima, tão complexas na escrita, com um ritmo
acelerado, outras vezes lento, em suas junções, harmonizadas belamente por meio
de sons, cantamos, e trazemos à tona, desafinados ou não, o que pensamos,
passamos, ou mesmo a história de alguém, senão a nossa própria.
Aqui,
traduções de um coração magoado, de uma
sociedade indignada, de um povo injustiçado, revelam mais, que chegamos ao
nosso céu particular em minutos... E as palavras, mãe dos primeiros artifícios,
são esquecidas, ou pelo menos seu papel. Entre loucuras abstratas criadas pelo
pensamento humano, por sonhos jogados ao mundo, elas perdem seu valor.
Seu papel,
filho das escritas cuneiformes, dos antigos sumérios; ou mesmo dos hieróglifos egípcios,
haveria de transmitir um universo maior
que o de agora, que se resume em explicações eternas de algo que não nos
interessa na maioria das vezes, e assim, por isso, não conseguem realizar o que
há muito se conseguiu. Traduzir, por sua semântica, o papel do homem no mundo,
ou interpretar uma natureza que se esvai bela e doce ao nascer na manhã, ao se
ir na tarde plena de crianças nas praças e parques.
Não há
palavras para sintetizar o que sentimos. Apenas um olhar como tentativa de
elucidar os mistérios que se escondem por detrás da grande consciência, que faz
questão de ser misteriosa em nome de Deus. Por quê?
Claro que há
uma necessidade de traduzirmos tudo, mesmo porque somos céticos por natureza, e
duvidamos até mesmo de nossa existência, se deixar. Mas não podemos encontrar
termos literais a todo preço, simplesmente porque é impossível. E aí caímos em
nossa indignação primeira.
Mas é
preciso. Podemos, contudo, chegar perto do objeto, tentar clarear a bruma espessa
que fora jogada de propósito pelos homens do passado e aprender que devemos
deixar a rica bruma em seu lugar. Ou seja, nem tudo podemos interpretar, mexer,
levar ao homem, pois há quem se beneficie de verdades para criar a sua própria,
usando as mesmas palavras que um sábio um dia usou para nos trazer o
conhecimento.
E as
palavras, como símbolos perfeitos, como pontes naturais entre o universo e o
homem, sorriem, trabalham em perfeita harmonia como formigas em nossa mente, cantam
divinamente, acima de nossas cabeças, o som das esferas, de Pitágoras, das
Musas, de Platão.
As palavras,
em algum lugar desse universo o qual somente os poetas têm acesso, se reservam
e se manifestam, ao ponto de criar meios de nos locomover quando citadas. São
as palavras de fogo, quando vêm do coração em chamas, as quais queimam o ser humano por dentro,
dando-lhe motivos, e ao passo indignação com o Injusto.
Por outro
lado, palavras há que descem ao rio, caem como folhas, e são levadas pela dor do
grande mar que criamos. Tais palavras não nos elucidam nada, nem mesmo nos
servem, são parcas de sabedoria, mas nos revelam nosso mais pobre ser, nossa
alma envelhecida por nossas buscas vãs.
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